O SÉCULO XX ATÉ OS ANOS 50. "ESCOLAS NOVAS" E IDEOLOGIA DA EDUCAÇÃO

RESUMO: Este artigo tem como objetivo trabalhar as pluralidades das "escolas novas", o que estas vem a oferecer para o mundo moderno, suas transformações e propostas, e ainda as renovações educativas e pedagógicas que as mesmas promoveram para o campo educacional.


PALAVRAS-CHAVES: Escolas novas, renovação educativa e renovação pedagógica.


INTRODUÇÃO:

Falar em educação é sempre falar numa pluralidade de significados, pois abrange fatos sociais diversos, atos de educar variados de acordo com um contexto social e com as pessoas mediadoras desta ação.
A passagem das ações pedagógicas tradicionais para práticas educacionais renovadas, propõem à educação processos de esclarecimento em torno de fins e meios da mesma, para assim desenvolver e guiar seus saberes. Estas são as principais finalidades em comum entre as diversas "escolas novas", recriadas a partir do século XX, e que possuem em seu propósito inovar a educação, dar novos rumos à mesma, nutrindo-se de uma ideologia democrática e progressista, fazendo com que o ensino-aprendizagem seja muito além de moderno, seja de qualidade proporcionando a formação não apenas de alunos, mas de cidadãos preparados para a vida e que se utilizem de seus conhecimentos para melhorar a realidade.
Ainda procuramos nos embasar nas leituras de Franco Cambi "História da Pedagogia" e Francisco Larroyo "História geral da Pedagogia", para auxiliar e aprimorar nossa pesquisa em torno do assunto abordado.


DESENVOLVIMENTO:

Para Cambi (1999), as escolas novas¹ no século XX, juntamente com suas propostas radicais de transformação, rompiam com aquele antigo ideal de educação formal, disciplinar, do tipo positivista. Chamou-se este novo ato de educar de pedagogia ativista, que detinha este propósito liberal.
As novas práticas educativas diante da dialética do mundo, se renova projetando processos de socialização, a partir de interações comunicativas, pontos de apoio, para integrar o indivíduo ao meio social, ajudando-o a crescer e se desenvolver na capacidade física, intelectual e/ou moral.
Ainda na visão de Cambi (1999), a difusão destas escolas se deu de forma predominante na Europa ocidental e nos Estados Unidos, que se basearam, a priori, na criança para reformar os métodos e técnicas utilizados pelos professores nas escolas, além disso, o estabelecimento de ideais, com os quais as crianças são instruídas muito além da instituição e do ambiente familiar. Colocando assim, mudanças no aprendizado que deve ter contato com o meio social, práticas intelectuais (conhecimento/teorias/fundamento), fazendo disso uma simbiose para o melhor sistema de aprendizado.
Esta questão é discutida inicialmente na Inglaterra, segue para a França, Alemanha, Itália, Áustria, Espanha, entre outros. Nas pesquisas de Cambi(1999), as escolas novas e as novas ideologias de educação se repercutiram de canto à canto no mundo, percorrendo longos caminhos e não passando desapercebida por uma variedade de autores, assim, ganharam grandes proporções até os dias atuais.
Consequentemente, constatamos que este vasto percurso da educação promoveu diversificadas visões em relação ao campo educacional, assim são citados diversos autores de extrema contribuição para esta propagação, que obtiveram em comum o objeto de estudo, renovação pedagógica, propostas das escolas novas e o estudo da criança. Porém, se utilizaram de metodologias independentes, que os diferenciavam e os destacavam em maior ou menor proporção.

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¹ Escolas novas inspiradas em ideais de participação ativa na vida social e política. (CAMBI, 1999)


Consideramos assim, importante salientar Cecil Reddie², que fundamentava no ensino mudanças necessárias para que, o indivíduo se tornasse adequado às regras da sociedade moderna. Para isso (Reddie, 1999, p.515, in: CAMBI) afirma:
A instituição formal, a escola, deve tornar-se um mundo real e prático, associando a capacidade intelectual, energia, força física,
agilidade e habilidade manual. Afim de, formar um cidadão capaz
de cumprir com todas as exigências da sociedade e os objetivos
da vida.

Assim, ele nos esclarece não só a extrema importância da função escolar para a formação do indivíduo, no sentido epistemológico e moral do mesmo, partindo da idéia de que se torna necessário estarmos sempre em dialética assim como o universo, como é tanto quanto necessário modificarmos por completo, ou pelo menos tentar modificar. É necessário inovar as instituições, as relações entre professor e aluno, assim como de modo geral indivíduo-sociedade.
Para isso, é também necessário um trabalho árduo e contínuo, para que a preparação das novas gerações seja feita de maneira satisfatória, tornando o homem mais conhecedor de si e preparado o suficiente para lhe dar com a realidade. Ratificando, portanto, o que é exposto mais acima, "a escola deve tornar-se um mundo real e prático".
Mas, ainda nos permite inferir a significativa influência que o professor não só pode, como exerce para com o aluno. Desta forma, o seu papel torna-se cada vez mais desafiador no sentido de tentar inovar suas aulas, suas metodologias e mais além, de maneira qualitativa a construção da criança, do jovem e do adulto.
Outro aspecto que acreditamos ser relevante, é lembrado por Cambi (1999), quando destaca as propostas de socialização e de ativa colaboração entre os próprios indivíduos, nas escolas fundadas por Edmond Demolins³.

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² Dr. Cecil Reddie (1858-1932), cria em 1889 a primeira escola nova, na Inglaterra, chamada Abbotsholme, que traz por denominação justamente essa, "New School". Seu propósito era reformar a educação dos clássicos colégios ingleses, que detinham caráter acadêmico e clássico, disciplinas rígidas, baseada na competição individual, abandono de atividades manuais e de matérias científicas e técnicas. (LUZURIAGA, 1987, p.230)

³ Edmond Demolins (1852-1907), sociólogo francês, inspirador na França, por provocar um movimento com a obra "Em que consiste a superioridade dos anglo-saxões?" publicada em 1897; e fundador da "École des Roches". (LUZURIAGA, 1987, p.233)


Assim, estes processos de ações comunicativas devem sim, ser amplamente incentivado pelos homens e pelas instituições para a organização da vida comum, com propósito de vida harmônica entre os meios, que até nos divergem, e os indivíduos que acabam por se integrar no contexto social.
Desta forma o trabalho também é um instrumento importante para a construção gradativa do homem, livrando-o da ociosidade em meio à prática experimental como para as relações interpessoais, com aquele propósito de socialização. Por isso, é sempre de grande relevância salientar que as novas instituições inovem também neste sentido, de elaboração de atividades grupais, realização de práticas e teorias no ensino, mas sempre incentivando o trabalho coletivo.
O idealismo complementa com suas novas teorias pedagógicas, "capazes de repensar de modo novo e radical a identidade e o papel cultural e político da pedagogia" (CAMBI, 1999, p.534). Foi assim, proposto com este idealismo na Europa, modelos de pedagogia como saber histórico, crítico, dialético, científico e político. Modelos de educação que abrangessem a forma igualitária, libertária, baseada no trabalho, enfim, uma escola renovada por fins e estruturas.
A pedagogia, então, no século XX é reestruturada e renovada principalmente em seu plano teórico, fazendo surgir um novo modelo pedagógico onde a filosofia e a ciência, principalmente como pesquisa experimental ganham espaço. Portanto, educação nova consiste em uma "corrente que trata de mudar o rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo". (LUZURIAGA, 1987, p.227).
John Dewey se tornou um grande nome devido suas propostas a cerca de uma teoria empírica, e sua pedagogia caracterizada por um pragmatismo associado entre as teorias e as páticas.


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John Dewey, foi o maior pedagogo do século XX, o seu pensamento pedagógico foi o mais amplo possível, trabalhou a educação nova de forma crítica, delineando suas deficiências, e complexa por isso. (CAMBI, 1999, p.546)


Segundo Larroyo (1989), em suas referências também constatamos a educação nova, a partir da criação das escolas novas que superaram as escolas memoristas livrescas com seu conceito intelectualista da educação. As escolas novas se manifestaram promovendo importantes transformações sociais,mediante trabalhos manuais e técnicos, assim, elas tornaram-se órgão de coordenação de toda obra educativa, favoreceram a pedagogia experimental, os estudos da criança e a comprovação objetiva do trabalho escolar, entre outros.
Larroyo (1989), bem lembra que mesmo com o surgimento das escolas novas do século XIX / XX, não foram as primeiras instituições docentes criadas com este propósito de renovar a educação. Ele cita diversas escolas em sua pesquisa que haviam se manifestado para este fim, porém, se preocupou em estudar as instituições mais atuais sobre este assunto.
As escolas novas que obtiveram êxito em seus ensaios para tais modificações educacionais tinham objetivos em comum, propunham além das transformações radicais e progressistas da educação, o princípio de liberdade da criança e do adolescente, em contato com a vida, com o meio social fora mesmo do ambiente familiar.
Assim, foi criado o chamado boarding-house, onde a educação de grupos de alunos vivendo em casas separadas seria de extrema importância na ajuda da construção de um ser voltado para a sociedade, que tivesse uma visão de mundo abrangente, sem falar no processo de integração do indivíduo ao meio, devido a isto tornava-se cada vez mais contundente a perspectiva de acabar com os internatos da época. Desta forma, a citação abaixo bem justifica o que expomos acima:
"As mais importantes características das últimas escolas era a idéia de educação em comunidade sobre a base de um regime autônomo pelo qual se governavam mestres e alunos". (LARROYO, 1989, p.718)


Por fim, consideramos que a educação nova com sua proposta emancipatória, de preparar o indivíduo desde cedo para a vida em sociedade através dos processos de socialização, de tentativa de igualdade entre os membros, inclusos dentro de uma proposta democrática tem acarretado sim melhoras para o campo educacional. Mas, infelizmente, ainda sofremos com deficiências de ensino por uma série de fatores tanto econômicos, quanto sócio-políticos.
Esta nova roupagem das escolas vem promovendo uma redefinição na pedagogia tornando os processos educativos mais articulados, as finalidades pedagógicas destinadas a formar cidadãos críticos e conscientes, as instituições educativas estimuladoras do desenvolvimento e dos ideais formativos, sendo desta forma totalmente contrária aquele modelo de pedagogia tradicional, de educação conteúdista em que não há interação entre aluno-professor, menos ainda inovação em suas metodologias.
Compreende-se então, que a educação nova veio de forma a transformar o pensamentos dos próprios indivíduos de maneira à ser um grande ponto de partida para transformar não somente o campo educacional, mas também a sociedade. É a partir de uma junção destes aspectos sociais que ocorrerá o desenvolvimento do meio social, a evolução das técnicas, da modernidade e as transformações educativas

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Boarding-house: pensão. (Novo Minidicionário Escolar Inglês, David Conrad)



REFERÊNCIAS:

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999

LARROYO, Francisco. História geral da Pedagogia. São Paulo: Austre joy, 1989

LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1987.