O PROFESSOR EM CONSTRUÇÃO

Tiago Bolognesi de Andrade

       O objetivo da presente resenha é descrever a inovadora pesquisa na área da Educação desenvolvida por Maria da Glória Pimentel. Creio que o grande mérito desse trabalho é ter elucidado de forma tão viva e concisa, as dimensões nas quais o Professor atua, ou nas quais deveria atuar. Ao mesmo tempo em que traça o perfil real dos Professores pesquisados, vislumbra um modelo ideal deste profissional tão importante nas nossas vidas acadêmicas. Denuncia os velhos paradigmas que impedem o progresso das ciências e nos mostra o caminho emergente do modelo de ciência que se busca na atualidade.

       Afinal ensinar é uma ciência, uma arte ou conjunto de técnicas? Pergunta Newton César Balzan. A pesquisa é feita com quatorze Professores da Unicamp, realizado em pouco mais de três anos. Maria Pimentel desnuda o real trazendo a tona o professor e traçando um perfil inovador sobre o modelo deste que se necessita no presente. É um estudo ao mesmo tempo pedagógico e antropológico à medida em que visa ao mesmo tempo, tanto as relações de ensino e aprendizagem, quanto a análise de como se constitui este ser humano chamado professor. A análise se constitui na pergunta, o que é um bom professor e quais são as dimensões que o definem como tal?      

       Os alunos de graduação valorizam as aprendizagens que realizam na Universidade como um todo, atribuindo a ela, sua autonomia intelectual e a propedêutica que a universidade pressupõe para a vida do graduando. Os elogios e críticas dos alunos que participaram da pesquisa, se referem a três dimensões essenciais de um bom professor: dimensão dos conteúdos, que se refere ao domínio do conhecimento, dimensão das habilidades, que se refere à didática e domínio dos instrumentos técnicos e metodológicos, e a dimensão das relações situacionais, versando sobre a vivência universitária. Consiste numa visão social que o professor deve manter para o funcionamento humanístico do ensino e de suas relações. Sobre esta última a autora diz:

Eu diria que ao falar de cursos, aulas e professores, as duas primeiras dimensões são claramente expressas e valorizadas. Mas alegria e entusiasmo e sentimento de pertencer, só aparecem quando o aluno fala de sua vivência universitária [...]. (PIMENTEL, 2001, pag. 21).

       A pesquisa em certo momento se debruça sobre a questão do Professor na transição do paradigma científico dominante, nas posições emergentes e tradicionais, e também sobre as motivações primeiras do professor, buscando sentido na experiência do ser. A autora usa a definição de Kuhn, o qual define paradigma como sendo realizações científicas universalmente reconhecidas, além de crenças e valores da comunidade científica. Geralmente o paradigma exclui aquilo que não é passível de sua investigação, questões sociais foram afastadas dele. Ela percebe em todos os professores pesquisados, uma crise do paradigma científico moderno, o qual tende a separar ensino e pesquisa e teoria e prática e uni-los na pós-graduação, obedecendo a uma lógica de que a graduação é a “base” para algo mais aprofundado, valorizando a pós-graduação em detrimento da própria graduação.

       Alguns rompem com a ciência moderna, criam seus próprios paradigmas emergentes e questionam seus conhecimentos na práxis do cotidiano, inovam e criam. Vêem o conhecimento como algo a ser construído no presente e não como algo pronto, como o fazem no paradigma tradicional, nesta categoria ela enquadra três professores, chamando-os de representativos. Entre estes dois pólos vêem professores nos quais coexistem os paradigmas dominante e emergente, vivem na transição dos paradigmas, rompem com o paradigma dominante, mas ainda se apóiam nele.

       A autora percebe nos professores pesquisados, uma profunda experiência do ser, como algo intensamente vivido, sentido e experimentado nas duas esferas do indivíduo, a saber, o “Eu” e o “Nós”, particularidade e genericidade. Percebe-se nesses professores um grande sentimento de coragem revolucionária para superar os desafios do ensino. Sobre eles conclui que: “Ao reler o relato da prática educativa dos professores pesquisados percebi que estávamos todos lá, inteiros, vivos e presentes, como se a nossa existência fosse um texto a ser lido” (Pimentel, 2001, pag. 75). Concluo que esta pesquisa contribuiu e muito, não só para elucidar os perfis dos professores universitários e as relações de ensino, mas também constitui um desafio para os alunos de Licenciatura, que vêem na universidade uma constante construção de si e o meio de superar o paradigma dominante, encarando os desafios da universidade e buscando a inovação desafiadora do paradigma emergente.

Referência Bibliográfica

PIMENTEL, Maria da Glória B. O professor em construção. 7. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.