O PRAZER E O SOFRIMENTO NO TRABALHO DOCENTE

Ana Lúcia da Silva Ribeiro

O tema em questão nos remete a uma reflexão pessoal, onde hoje somos docentes trabalhadores de uma escola do SUS, e estamos inseridos num curso de formação profissional na área da saúde, buscando alcançar uma finalidade, que é a de educar os trabalhadores através de uma pedagogia que seja significativa para que estes cuidem de outros seres humanos.
Percebemos em nossa vivência de educadores a necessidade de nos apropriarmos da união do conhecimento em três dimensões que são:
- dimensão conceitual, que esta relacionado às competências técnicas que o próprio aluno constrói dentro de um conteúdo programático e de princípios científicos,
- dimensões técnicas, ou habilidades em lidar com certas situações,
- dimensão ético política (valores), quando o aluno incorpora os saberes e se posiciona frente ao processo de trabalho, participando desse processo com postura reflexiva e visão crítica.
Essa união leva efetivamente a transformação da realidade com autonomia intelectual social e ética. Mas, mesmo inseridos nessa escola dos trabalhadores do SUS, percebemos a dificuldade dessa dinâmica, pois viemos de uma metodologia de ensino tradicionalista, onde a ação educativa não tinha um significado social.
Partimos, portanto para decifrar três importantes papeis inseridos dentro deste contexto social que incorpora a essencialidade do aluno trabalhador, onde a principal característica é a sua valorização como cidadão e capital humano para o mundo do trabalho: o papel do educador; o papel da escola, e o significado dos conteúdos.
O papel do educador esta relacionado com o ensinar ao aluno a pensar, a pesquisar, ser uma pessoa crítica e que propõe ações, é fazer com que ele se torne uma pessoa com autonomia intelectual social e ética. Como é do educador a responsabilidade de formar profissionais, ele deverá trabalhar com uma aprendizagem que seja significativa.
Podemos, portanto considerar a prática educativa como uma prática social, porque ela ocorre através de uma interação intencional do ser humano com o mundo.
Essa realidade educacional vem sofrendo várias transformações ao longo da história, nos diferentes espaços e tempos educacionais.
Ser um educador nos dias de hoje, é ser um desafiador, que requer uma busca incessante de conhecimentos novos, dentro de uma dinâmica metodológica e pedagógica que também cresce e se transforma dentro dessa realidade social, política e de consumo, ou seja, uma realidade capitalista em que vivemos.
O papel da escola, dentro dos seus respectivos projetos, deve contemplar uma forma pedagógica mais eficiente, pensando na construção do conhecimento entre professor e aluno. Afinal a favor do que e de quem a escola desenvolve sua ação pedagógica?
Portanto dentro dessa reflexão do processo educativo ela deve também apresentar uma aprendizagem significativa para seus alunos.
Dentro do significado dos conteúdos, a proposta é a de trabalhar com o conhecimento que o aluno tem e traz para a sala de aula, não no sentido de anular o conhecimento do professor, e sim de juntar conhecimentos e levar o aluno a criar suas próprias definições. Pensamos que dessa forma o aluno nunca mais vai esquecer o tema que entrou em discussão; isso parte de experiências vividas em sala de aula. Passamos por essa experiência na classe em que estamos atuando. Pensamos que o conhecimento não se consegue através de "depósitos" de informações, como na forma da pedagogia tradicional.
E dentro dessas experiências vividas em sala de aula, passamos por momentos de alegria e também de tristeza/sofrimento. Alegrias quando sentimos que por tudo aquilo em que lutamos e trouxemos pra sala de aula, que é esse método pedagógico das inter relações humanas sociais dos conteúdos, deu certo, surgiu efeito positivo no aprendizado do aluno.
Ficamos também, às vezes desapontados, quando ouvimos de alguns alunos perguntas do tipo: "a que horas acaba a aula?", ou "essa matéria cai em prova?", "posso desistir do curso e continuar numa próxima turma, com carga horária menor?" Mas devemos considerar essa atitude por parte do aluno como um desafio para nós docentes, relacionando essa questão com uma possibilidade de uma mudança em nosso modo de encarar uma "nova docência", pensando na utilização de recursos didático pedagógicos, permitindo ao aluno possibilidade dele próprio criar, e não só receber as idéias prontas, incentivá-lo á busca da construção do conhecimento, e logo perceberemos que esses alunos estarão abandonando o modelo tradicional. Devemos pensar em construção de novas perspectivas de futuro a nível educacional para esses alunos.

Foi realizada uma enquete de natureza qualitativa, com abordagem descritiva e reflexiva, que teve como questão norteadora o prazer e sofrimento do trabalhador docente, com a finalidade de ajudar na reflexão do dia-a-dia do docente em educação profissional e ajudar a entender sua realidade. Reuniu expressões de um grupo de cindo docentes profissionais de enfermagem que estão atuando como docentes da escola do SUS ? TEC SAÚDE -2009/2010.

Na análise interpretativa dos dados obtidos, estamos indicando duas questões que consideramos importante: a escola que os profissionais trabalham, e se esses profissionais possuem o curso de formação pedagógica.
Dentro de uma questão ética, os cinco participantes serão identificados com números de um a cinco, concebendo o direito a privacidade, baseado em uma questão verdadeiramente social concebida dentro da colaboração de cada profissional participante.
Encontramos então dois desses profissionais, nº 01 e nº 04, que trabalham em escolas públicas e que não possuem o curso de formação;
Um profissional, nº 02 que trabalha em escola pública e que possui o curso de formação;
Um profissional, nº 05 que atua em escola particular, com o curso de formação;
Um profissional, nº 03 que atua tanto em escola pública com em escola particular com o curso de formação.
Na reflexão das respostas dos participantes quanto à questão norteadora solicitada, percebemos que todos colocam como uma situação agradável a atuação na prática de ensino, e mesmo os que não possuem o curso de formação possuem a visão da escola dos trabalhadores do SUS, ou seja, ensinar o aluno a pensar e a criar dentro das três dimensões do saber, vê isso na fala do participante de nº 04, "... a satisfação de poder colaborar com ensino e formação de novos profissionais e fazê-los pensar de forma ética, humana, responsável e crítica..."
Suas ações se baseiam em não apenas memorização, como cita o participante de nº 03: "Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos!"
"A educação como uma experiência de grande prazer, conforme o que vemos do nº 05, "meu prazer é poder transmitir conhecimentos para aqueles alunos interessados, esforçados, que buscam a enfermagem como vocação", e do participante de nº 01"... o prazer é uma situação inerente à própria atividade, se estou desenvolvendo a docência, estou feliz"
Ainda dentro da questão norteadora, no tocante ao sofrimento, os participantes foram unânimes em dizer que os educadores sofrem devido à desvalorização e a falta de reconhecimento por parte de alguns alunos, e também que a categoria não é reconhecida. São citações dos números 02, 04 e 05: nº02 "... quando o educador não é valorizado e reconhecido ao desempenhar suas atividades ou não seja percebido pelos outros... "nº 04 "... a falta de reconhecimento.", e o nº 05 "... é a falta de reconhecimento da área de enfermagem em todas as categorias e acima de tudo a desvalorização do docente de enfermagem". Apresentamos ainda o participante de nº03, que trabalha como docente tanto na escola pública como na escola particular com a fala do que lhe trás sofrimento: "poucas instituições educacionais adotam esta filosofia". Podemos perceber que este participante com vinculo em duas instituições diferentes, tem em seus sentimentos de pesar, a falta da pedagogia participativa, e que esse educador realmente incorporou na sua didática a busca da autonomia de seus alunos.



Portanto o trecho a seguir finaliza quanto às questões da enquete realizada através de um resumo, citando o paralelo entre paixão e sofrimento:
Com efeito, paixão significa envolvimento afetivo, amor profundo, entusiasmo muito vivo, dedicação extremada a uma causa, compromisso radical carregado de afetividade. Mas significa, também, padecimento, sofrimento. Ser professor hoje em dia envolve esses dois significados e, parece mesmo, que a própria política governamental manifesta esse entendimento ao cobrar dos professores extrema dedicação, responsabilizando-os pelo fracasso escolar e, ao mesmo tempo, submetendo-os a condições precárias de trabalho com salários aviltantes (EAD/ENSP. FIOCRUZ, 2009, p.37).


E apresenta ainda a paixão entrelaçada com a desvalorização social da profissão:

Percorrendo a história da educação vamos constatar que a trajetória do educador tem sido marcada, desde as origens, pela desvalorização social de sua profissão, acompanhada, ao mesmo tempo, pela exigência, por parte da sociedade, de que ele exerça a sua atividade com extrema dedicação. Em suma, poderíamos dizer que a vida do professor sintetiza os dois sentidos contraditórios, encerrados na palavra paixão [...] (EAD/ENSP. FIOCRUZ, 2009, p. 37).





























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FORMAÇÃO DOCENTE EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DA ÁREA DA SAÚDE ? EAD/ENSP. FIOCRUZ


Tema: O prazer e o sofrimento do trabalhador docente.

Motivo: Tem a finalidade de ajudar na reflexão do dia-a-dia do docente em educação profissional e ajudar a entender sua realidade.

Questionário nº: 01

1º- Dados de Identificação
Idade: 55 anos
Professor de educação profissional na área da saúde?
( ) sim ( X ) não
Tempo de docência: 10 anos
Tempo de formação: 30 anos
Curso superior de formação na área:
(X ) enfermagem ( ) nutrição ( ) fisioterapia ( ) _________
Possui o curso de formação didático-pedagógico/licenciatura?
( ) sim ( X ) não
Tipo de escola que atua:
(X ) publica
( ) particular
( ) sindical
( ) publica e particular


2º - Questão Norteadora
"O que traz prazer ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
O que promove sofrimento pra mim como educadora (assim me considero), é a sensação de impotência para enfrentar as atividades do dia-a-dia diante de algumas situações que os educando apresentam (fora da nossa governabilidade). Nem sempre é possível prepará-lo para o enfrentamento das situações de injustiças que vivenciam. Essa situação me torna vulnerável e infeliz!
"O que promove sofrimento ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
Já o prazer é uma situação inerente à própria atividade, se estou desenvolvendo a docência, estou feliz. A importância do meu trabalho se traduz na criação, no despertar e na preparação das pessoas para se empoderarem de seus próprios destinos e de sua comunidade.






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Tema: O prazer e o sofrimento do trabalhador docente.

Motivo: Tem a finalidade de ajudar na reflexão do dia-a-dia do docente em educação profissional e ajudar a entender sua realidade.

Questionário nº: 02

1º- Dados de Identificação
Idade: 41 anos
Curso superior de formação na área:
( x ) enfermagem ( ) nutrição ( ) fisioterapia ( ) __________
Tempo de docência: 08 anos
Tempo de formado: 14 anos _
Possui o curso de formação didático-pedagógico/licenciatura?
( x ) sim ( ) não
Tipo de escola que atua:
( x ) publica
( ) particular
( ) sindical
( ) publica e particular
Tipo de contrato com essa escola: CLT por tempo indeterminado.

2º - Questão Norteadora
"O que traz prazer ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
O prazer é o grande desafio deste século, o homem deve superar-se a si por meio da cooperação, afetividade e o uso dos talentos esquecidos. No ambiente do trabalho o reconhecimento do que eu faço é a chave para um ambiente harmonioso, e com respeito mútuo, com conflitos sim, mas, com as janelas abertas para o uso da palavra e também para ouvir. É um trabalho onde o desafio foi e tem sido incessante, porém é também um espaço favorável para descobertas e criações socialmente úteis, com trocas de experiências e vivencias entre o educador e o aluno.
É muito gratificante quando tomamos conhecimento do sucesso de ex-alunos e principalmente quando estes expressam sua gratidão através de mensagens ou comentários.


"O que promove sofrimento ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
Todo trabalho é geralmente fruto de esforços que exigem concentração, gasto de energia e investimento pessoal. Portanto, quando o educador não é valorizado e reconhecido ao desempenhar suas atividades ou não seja percebido pelos outros pode então ser desencadeado o sentimento de sofrimento ao invés de sentimento de prazer.
Apesar de todos os esforços despendidos é dolorido saber que determinados alunos, que escolheram a profissão errada, denigrem a imagem dos docentes quando de seus insucessos.


















































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Tema: O prazer e o sofrimento do trabalhador docente.

Motivo: Tem a finalidade de ajudar na reflexão do dia-a-dia do docente em educação profissional e ajudar a entender sua realidade.

Questionário nº: três

1º- Dados de Identificação
Idade: 46
Curso superior de formação na área:
( x ) enfermagem ( ) nutrição ( ) fisioterapia ( ) __________
Tempo de docência: _______________
Tempo de formado:________________
Possui o curso de formação didático-pedagógico/licenciatura?
( x ) sim ( ) não
Tipo de escola que atua:
( ) publica
( ) particular
( ) sindical
( x ) publica e particular
Tipo de contrato com essa escola:______________________

2º - Questão Norteadora

"O que traz prazer ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
O trabalho com projetos onde tenho uma nova perspectiva para entendermos o processo de ensino aprendizagem.
Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura todo conhecimento é construído em estreita relação com os contextos em que são utilizados, sendo por isso mesmo impossível separar os aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. A formação dos alunos não pode ser pensada apenas como uma atividade intelectual.

"O que promove sofrimento ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
Poucas instituições educacionais adotam esta filosofia.







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Tema: O prazer e o sofrimento do trabalhador docente.

Motivo: Tem a finalidade de ajudar na reflexão do dia-a-dia do docente em educação profissional e ajudar a entender sua realidade.

Questionário nº: 04

1º- Dados de Identificação
Idade: 26 anos
Professor de educação profissional na área da saúde?
(x ) sim ( ) não
Curso superior de formação na área:
(x) enfermagem ( ) nutrição ( ) fisioterapia ( ) _________
Tempo de docência: 07 meses
Tempo de formado:
Possui o curso de formação didático-pedagógico/licenciatura?
( ) sim (x) não
Tipo de escola que atua:
(x) publica
( ) particular
( ) sindical
( ) publica e particular

2º - Questão Norteadora
"O que traz prazer ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
Prazer: Prazer em ensinar e aprender ao mesmo tempo; A necessidade de reciclagem e atualização constante; O amor a profissão; A satisfação de poder colaborar com ensino e formação de novos profissionais e fazê-los pensar de forma ética, humana, responsável e crítica; a consciência de saber que quanto mais a gente sabe nada se sabe; e em cima do conhecimento adquirido e ensinado poder colaborar com a melhoria da assistência de enfermagem e da qualidade de vida das pessoas que dependem de nossos esforços profissionais.

O que promove sofrimento ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"
Sofrimento: A falta de respeito de alguns alunos; a falta de interesse e participação, a preguiça mental; a falta de reconhecimento; a falta de empenho em aprender mais, achar que sabe tudo; achar que está velho demais e não sabe nem porque está fazendo este curso; os questionamentos "não sei o porquê tenho que saber isto, pois isto não compete a mim e sim ao médico ou ao enfermeiro.



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Tema: O prazer e o sofrimento do trabalhador docente.

Motivo: Tem a finalidade de ajudar na reflexão do dia-a-dia do docente em educação profissional e ajudar a entender sua realidade.

Questionário nº: 05

1º- Dados de Identificação
Idade: 32_________________
Curso superior de formação na área:
( x ) enfermagem ( ) nutrição ( ) fisioterapia ( ) __________
Tempo de docência: _08 anos
Tempo de formado:__09 anos
Possui o curso de formação didático-pedagógico/licenciatura?
( x ) sim ( ) não
Tipo de escola que atua:
( ) publica
( x) particular
( ) sindical
( ) publica e particular
Tipo de contrato com essa escola:__CLT__

2º - Questão Norteadora

"O que traz prazer ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde"
"
Meu prazer é poder transmitir conhecimento para aqueles alunos interessados, esforçados, que buscam a Enfermagem com vocação. É incrível poder ver nascer um individuo na enfermagem, depois vê-lo praticando a enfermagem com o conhecimento que você o transmitiu.Enfim, tenho prazer porque amo a enfermagem, e acima de tudo amo ensinar enfermagem, tenho vocação absoluta pra isso e me realizo ensinando enfermagem.


"O que promove sofrimento ao trabalhador docente em educação profissional na área da saúde?"

O que promove sofrimento é a falta de reconhecimento da área de Enfermagem em todas as categorias e acima de tudo a desvalorização do docente de Enfermagem.