O PARADIGMA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL
Magda Helena Borges


RESUMO

Pesquisas sobre educação em saúde apresentam hoje abundantes constatações sobre promoção em saúde com qualidade para todos. Este trabalho se concentra em aspectos selecionados das diferenças entre a forma de realizar educação em saúde e a real compreensão dos usuários deste aprendizado, com base na literatura nacional, embora mencionando a importância das origens sociais dos usuários, gestão em saúde, e de cultura da população. A estrutura peculiar dos sistemas de saúde se assemelha a uma cebola, com sucessivas camadas que influenciam a aprendizagem e compreensão. A busca exercida na construção deste texto está voltada para o ato de sistematizar um conjunto de contribuições significativas à nossa reflexão sobre a importância dos novos paradigmas na práxis educacional. Trata-se de um tema complexo, cuja leitura envolve nossos esforços para a compreensão. O que teço aqui é uma colcha de alguns significativos retalhos, a todos nós disponibilizados em diferentes fontes de informação que, em seu todo, aproxima nosso pensar a um enfoque reflexivo sobre a prática de educação em saúde.

Palavras-chave: Educação, Paradigma, Saúde.

TEACH IN THE PARADIGM OF HEALTH IN BRAZIL
ABSTRACT
Surveys educate on health have today abundant constataes development fee on quality in health for all. This paper focuses on selected aspects of the differences between how to realize educate on health and real understanding of the users of learning, based on the national literature, while mentioning the importance of the social origins from users, health and cultural gesture from the population. The peculiar structure of the health system is like an onion, with successive layers that influence learning and understanding. The search conducted in the construction of this text estvoltada for the act of a systematic set of significant contribuies our reflection on the importance of new paradigms in educational prxis. It is a complex issue, involving the reading of which our efforts for understanding. What teo here a patchwork quilt of some significant, we made available to all on different sources of information, in whole, approaching our thinking to a focus on reflective practice to educate on health.

Key-words: Teach, Paradigm, Sade.

INTRODUÇÃO
A atividade de enfermagem ainda é, preponderantemente, realizada no espaço hospitalar, público ou privado, sob a determinação do modelo médico assistencial hegemônico do país. Entretanto, frente à complexidade das políticas da Saúde e a diversidade nos avanços e recursos do SUS, a enfermagem em seus mais diferentes níveis de inserção cotidiana no sistema vive uma situação contraditória. De um lado, uma parcela de profissionais contribuindo para a manutenção das atuais estruturas, cooperando, algumas vezes acriticamente, com o modelo vigente e com os programas verticais, e de outro, a parcela que vem conquistando espaços de poder na gestão do sistema, buscando construir o SUS e transformar os programas compensatórios.
Calcado nas observações de Alvin Toffler, segundo o qual o sistema de ensino que possuímos já não é mais adequado ao nosso tempo, por ter sido construído de acordo com o modelo da sociedade industrial, afirma que será impossível manter intacto o sistema educacional tradicional: "Precisamos examinar cuidadosamente a sociedade que está emergindo para definir a educação adequada a ela. (?) É necessário substituir o ensino centrado em conteúdos pela criação de ambientes ricos em possibilidades de aprendizagem, em que os educandos possam analisar os processos, desenvolver as competências, compreender os valores que, em seu conjunto, os capacitarão para um aprendizado permanente, numa sociedade em constante mudança. E isso deve ser feito de uma forma que desafie, envolva e motive os educandos".
De Comenius a Darci Ribeiro, de Rousseau a Anísio Teixeira, de Sócrates a Paulo Freire, entre outros tantos educadores, com suas diferentes propostas, esse grupo anseia um amplo processo nacional de discussão/reflexão e produção de conhecimentos para ajudar também a enfermagem a traçar um caminho próprio ancorado em postulados das ciências humanas e sociais.
Na formação acadêmica de enfermagem são preparados profissionais para atuar nas diversas subáreas da enfermagem que estabelece interface com as ciências da natureza, da educação básica, nos estudos de biologia, anatomia e fisiologia humana, psicologia, sociologia, antropologia, filosofia, higiene, microbiologia e parasitologia, química, física e da matemática e suas técnicas peculiares de onde se extrai bases científicas pertinentes para o processo de assistência e educador. Porém, pode-se observar um déficit desse preparo no que diz respeito ao educar onde o enfermeiro exerce esse educar para o paciente no autocuidado e enquanto formações profissionais, desprovidas de conhecimentos científicos específicos da área para lecionar e educar em saúde.
Estas questões propiciam um maior conhecimento das necessidades de cada população a ser educada e permite ao enfermeiro desenvolver habilidades que facilitará esta transmissão de informações pertinentes a saúde.
Atualmente no Brasil se discute muito sobre educação em saúde e os diversos aspectos que o desfavorece, contudo o aprendizado é subjetivo e peculiar a cada indivíduo e hoje lançamos mão de estratégias que objetivam a coletividade e não a individualidade.
Quando pensamos em educar não levamos em consideração que para isso é preciso ter competência e não somente ter o dom de ensinar, o qual é construído através do conhecimento.
Segundo Philippe Perrenoud para ser professor é preciso ter competência e não somente ter o dom de ensinar, o qual é construído através do conhecimento. Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para enfrentar com pertinência e eficácia uma série de situações (PERRENOUD, 2000, p.23-66).
O educador brasileiro Paulo Freire ressaltou em seus estudos a importância da contextualização, ou seja, o fato de que é necessário que o educador sempre esteja adaptando o conhecimento a ser refletido à realidade do educando, pois quanto mais próximo se está do mundo real deste educando, maior será a sua aprendizagem acerca das habilidades que se pretende desenvolver e que se entendem como essenciais ao desenvolvimento da cidadania (FREIRE, 1996, p.26).
O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de intervindo no mundo, conhecer o mundo.
Contudo Freire considera que:
[...] ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos: o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente [...] (FREIRE, 1996, p.31).

Assim, é possível traçar um paralelo entre a prática do educador e a do enfermeiro educador, que se aproximam pelas semelhanças que possuem: ambas as práticas devem ser norteadas e pautadas pelo desenvolvimento de habilidades e competências que possibilitarão ao cidadão, seja na escola comum, seja nas dependências de instituição de privadas ou públicas.
A proposta desta investigação surgiu a partir da experiência da autora desta pesquisa como profissional atuante na educação em saúde que pode verificar o quanto é necessária a abordagem deste tema nos cursos de graduação em enfermagem.
A presente pesquisa tem o objetivo de verificar as dificuldades ou barreiras encontradas pelos enfermeiros para realizar a educação em saúde e obter uma compreensão pelo cliente de sua orientação, e avaliar o quanto os fatores humanos (origem, cultura, educação, trabalho, poder aquisitivo) são importantes para real compreensão pelos usuários das orientações dadas no dia-a-dia do atendimento ambulatorial, com o intuito de chamar a atenção dos educadores quanto à relevância deste tema para, desta feita, serem identificados os fatores inerentes e norteadores desta prática, possibilitando rever alguns conceitos de educação em saúde.
Sendo assim, o aprimoramento do conhecimento e a qualidade da educação desenvolvida pelo profissional serão alcançados, partindo do pressuposto de que o conhecimento teórico do enfermeiro sobre o tema é fundamental para a melhor prática do educar, além das vantagens para a equipe como um todo.
Trata-se de um tema relevante e fundamental para o desenvolvimento profissional dos futuros enfermeiros, contudo, poucos trabalhos desenvolvidos sobre o tema são realizados e/ou publicados.
O objetivo deste estudo é verificar quais são as dificuldades encontradas pelos profissionais enfermeiros no processo de educação em saúde, como base para construção do auto-cuidado e até mesmo prevenção de patologias, podendo assim obter o verdadeiro significado de saúde.
Diante da situação da saúde hoje no Brasil e a contextualização do SUS, foi verificado uma deficiência no processo de educação em saúde, entre o educador e o educando, uma real percepção e compressão por parte do educando e didática do educador para atingir os objetivos esperados neste processo.
Após uma reflexão desta problemática surgiu um interesse sobre o tema, e um auto-questionamento sobre quais os fatores que interferem no processo de educação em saúde e que limitam o alcance dos objetivos desejados.






















MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa, método que utiliza técnicas exploratórias para seu desenvolvimento que implica no levantamento bibliográfico do tema em questão. Os dados foram analisados criticamente e apresentados descritivamente e contextualmente.






























RESULTADOS

Mudar paradigmas não é tarefa fácil no espaço tempo da saúde. Entretanto, devemos continuar a caminhada utópica de muitos educadores ao longo da história que dedicaram suas vidas e trajetória no intuito de alimentar os desejos de construção de um outro modo de ser e estar em educação. Temos exemplos de sujeitos pensantes que observavam a realidade e não se contentavam com as permanências e com os modos de agir e fazer em educação em saúde. No pensamento humanista, muitas propostas de mudança à prática pedagógica foram instituídas e colocadas em discussão e experimentação.
Mesmo com as inovações, a educação em saúde ainda faz apenas cosmética em sua prática cotidiana. Hoje, talvez mais do que em qualquer outro tempo de nossa história, vivenciamos imensos desafios enquanto seres humanos. Mudar o modo de enfrentar tais desafios é questão a ser constantemente debatida: nossa experiência humana nos trouxe até este momento crucial da vida de todo o planeta. Os antigos paradigmas não conseguem mais explicar as diferentes facetas do mundo contemporâneo: é preciso a criação de outras e novas possibilidades.
Neste sentido, todos os que atuam e podem colaborar para a construção de um novo modo de ser e estar em educação necessitam renovar suas energias e continuarem a acreditar nas imensas potencialidades presentes no cotidiano das unidades de saúde. É essencial estarmos em movimento de abertura ao novo, indo além, acreditando na capacidade da mudança e nas alterações necessárias ao nosso fazer. É preciso compreender que a busca por novos paradigmas educacionais é um exercício de possibilidades, inovando e criando técnicas para tal e termos a exata consciência de que somos, todos e todas, diferentes.
















DISCUSSÃO

O Paradigma (do grego parádeigma = modelo, padrão) é a denominação que podemos dar para um conjunto de regras e regulamentos, que além de estabelecerem limites-nos mostra como tais regras e regulamentos possibilitaram alternativas para a solução de situações problemas, que dentro desses limites, vivenciamos. Podemos compreender paradigmas como sendo filtros selecionadores do que de fato percebemos e reconhecemos e, assim, podemos fazer recusas ou distorções vinculadas aos dados que não se aproximam das expectativas que com eles criamos.
O termo paradigma surge amplamente no contexto das ciências sociais e humanas depois da publicação de "A Estrutura das revoluções cientificas", onde Thomas Kuhn faz elaborado estudo sobre tal tema. Em "Introdução ao pensamento complexo" (1990), Edgar Morin, nos mostra os paradigmas como princípios "supralógicos" de organização do pensar, para ele tais princípios, escondidos e que, quer tenhamos consciência ou não, interferem em nossas visões de mundo e, assim, acabam por exercer forte controle na lógica de nossas ações e discursos. Ainda em Morin, tais paradigmas exercem comando nas nossas opções de dados e informações significativas e, ainda, no momento em que recusamos aqueles não-significativos. Em nossa vida cotidiana, os paradigmas representam papel importante.
Enraizados no inconsciente coletivo, distantes dos questionamentos e das atualizações presentes no mundo contemporâneo, muitos paradigmas permanecem e nossa tarefa hoje é propor caminhos para que os modelos que não conseguem mais compreender nosso mundo e suas múltiplas realidades sejam alterados. Se o mundo mudou, se as questões do nosso tempo são outras, se os caminhos e avanços das ciências e tecnologias também mudaram e se tantas inovações fazem parte de nossa cotidianidade, onde está o foco que mantém as estruturas educacionais ainda tão arraigadas e com tantas práticas sem significado, sem sentido?
Vasconcelos nos trás uma excelente citação vinculada a esta questão:
[...] o aspecto mais interessante da visão de mundo de uma sociedade é que os indivíduos que aderem a ela, na maior parte, são inconscientes de como ela afetas o seu modo de fazerem as coisas, de perceberem a realidade em torno deles. Uma visão de mundo só funciona, na medida em que é tão internalizada, desde a infância, que permanece não questionada. (...) somos tão presos no nosso paradigma que todos os outros modos de organizar nossos pensamentos parecem totalmente inaceitáveis [...] (VASCONCELOS, 2003, p.5).
Superar os paradigmas que não nos são úteis é tarefa humana essencial para nosso contínuo crescimento, para nossa busca por evolução. Alguns paradigmas, quando agrupados, formam nossas resistências às mudanças e nos colocam em posição de permanência e medo, impeditivos da criatividade e da ousadia de fazer diferente, envolvendo nosso pensar num labirinto onde, quase sempre, nos perdemos.
É preciso acreditar que podemos ir além daquilo que os outros sonharam para nós e pensarmos que, inevitavelmente, podermos ampliar nossas capacidades, recriar nossas competências e refazer nossas habilidades.
Assim se faz necessário o repensar de nossas idéias enquanto educadores em saúde e contextualizar a essência do ser humano nesse processo.
CONCLUSÃO

Sem dúvida é essencial que estes fatores sejam discutidos pelos profissionais da saúde, sendo que novas pesquisas nesta linha devem ser realizadas, com o objetivo de aprimorar cada vez mais o conhecimento.
Pude observar que é muito pequeno o número de trabalhos e pesquisa que abordam esse tema. Acredito que isso ocorre pelo fato de não conhecer exatamente o significado do educar e pela ausência da reflexão diária de suas atividades e mensuração dos resultados obtidos.
Acredito que todo e qualquer pesquisa nos proporciona conhecimento, crescimento profissional ou intelectual, assim pude através deste trabalho de pesquisa reforçar ainda mais minhas convicções, e o quanto se faz necessário, não somente ao educador enfermeiro, mas a todos os profissionais que de alguma forma exercem papel importante na sociedade como educadores em saúde, orientadores e formadores de opiniões; ampliar seus conhecimentos em relação à educação e seus fatores intrínsecos que o precede avaliando sua prática diária e reformulando seus paradigmas para que na busca desesperada de ter, o educador não se esqueça de ser.
A eficiência da prática docente envolve o conhecimento não só prático, mas teórico envolvendo as diversas teorias do educar que servem de subsídios para uma boa prática e melhor desempenho enquanto docente.
Espera-se que este trabalho possa servir de inspiração e incentivo a outros pesquisadores para que possamos assim desenvolver cada dia melhor a enfermagem, e que o ato de cuidar seja realmente visto como humanista e que possa fazer parte da enfermagem como essência para excelência na formação da educação em saúde.
























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre, Artmed, 2000.

2. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 2006.

3. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo, Paz e Terra, 1996.


4. MORIN, Edgar. O Paradigma Perdido: a Natureza Humana. 4ª ed. São Paulo ? SP, Publicações Europa-América, Portugal Editora, 1988.

5. VASCONCELLOS, Maria José Esteves. Pensamento Sistêmico - O Novo Paradigma da Ciência. Campinas ? SP, Papirus Editora, 2003, p. 5.


6. KUHN, Thomas Samuel. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª ed. São Paulo ? SP, Perspectiva Editora, 2003.

7. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. 5ª Ed. São Paulo ? SP, Atlas Editora, 2003.


8. SEVERINO. Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21ª ed. São Paulo ? SP, Cortez Editora, 2000.