Se fizéssemos uma viagem retrospectiva pela Educação Infantil no Brasil, nas décadas de 70, 80 e 90, encontraríamos uma caminhada sinuosa entre momentos, concepções, autores e propostas pedagógicas.
Ainda nos anos 90, embora o ingresso das mulheres no mercado de trabalho tenha aumentado espantosamente, e muitas delas necessitem de um espaço para que seus filhos fiquem cuidados, a Escola de Educação Infantil começa a ser reconhecida como lugar de "educação". E de lá para cá, cada vez mais vem sendo modificada a concepção de que a Instituição destinada a Educação Infantil, seja um espaço assistencialista, como vinha sendo pensada desde suas raízes nos Jardins de Infância franceses.
No século XXI, surge a concepção da relação indissociável entre educar/cuidar.
Embora muitas escolas e profissionais ainda separem os momentos "pedagógicos" dos momentos de "cuidado", como se as crianças pudessem separar também o aspecto afetivo, do cognitivo e do físico, atualmente, a Educação Infantil vem se consolidando como área de pesquisa. Tem-se ampliado o interesse nessa área, o que favorece a formação e aperfeiçoamento dos pedagogos para as especificidades desse trabalho.
A partir de pesquisas, vem sendo apurada a forma de compreensão do mundo das crianças, e suas necessidades, atividades, brincadeiras, atitudes, etc., então começam a ser repensados os espaços de cuidado e educação dos pequenos alunos nas escolas de Educação Infantil.
Se pensarmos no quão importante é a primeira experiência de inserção das crianças nos espaços coletivos de Educação Infantil, e no quanto seus reflexos permanecem "vivos" durante toda a vida escolar, precisamos compreender os aspectos que a distinguem e buscar formas de torná-la uma experiência positiva.
Seja pela necessidade de ter "um lugar para deixar", porque querem "convívio social com outras crianças", ou porque realmente acreditam na importância da inserção de seus filhos em contextos escolares, muitos pais confiam seus filhos aos educadores, e esperam deles atitudes que ajudarão as crianças a desenvolverem-se. Além disso, o espaço da creche, que é o adequado a crianças de 0 a 3 anos, muitas vezes é o primeiro contato social da criança diferente do ambiente familiar. Por isso, a escola, na pessoa de seus profissionais, precisa estar preparada para receber tais crianças.
São muitos os aspectos a serem analisados para que a inserção das crianças ao ambiente escolar ocorra de maneira tranqüila e acolhedora. Estar preparada para receber as crianças, necessariamente implica em formação adequada dos profissionais, o que contradiz a realidade de muitas creches onde há insuficiência de profissionais e inserção de auxiliares sem nenhuma formação pedagógica para o trabalho considerado "pesado", como a higienização e alimentação dos bebês.
Segundo Gomes(2009: p.4), "(...)a preparação de um espaço de acolhida às crianças pequenas nas escolas pressupõe que também a relação entre escola e famílias seja estreitada.", para isso a autora sugere atividades na escola que envolvam os familiares. Segundo ela
"(...)é importante que sejam possibilitados momentos em que as famílias conheçam a escola, a equipe de profissionais, especialmente a professora que irá trabalhar com seu/sua filho/a, estabelecendo relações de afeto e compreensão mútua."
Porém, chamamos a atenção para o fato de que a escola não é uma instituição familiar.
Um fato importante a ser mencionado, é de que os bebês são seres em fase de desenvolvimento que os limita a uma dependência dos adultos; eles não conseguem por si mesmos lidar com questões de higiene, alimentação, saúde, locomoção, etc., por isso necessitam de cuidados para a sobrevivência, que inicialmente são providenciados pela família.
Froebel³, foi o primeiro teórico a significar a família. Ele a valorizou nos planos biológico, social, religioso e educacional. Na verdade, foi o primeiro educador a captar o significado da família nas relações humanas. Mas apesar de precisar reconhecer essa importância, a escola não é uma continuação da família, e portanto não pode dar continuidade ao trabalho que é feito pelos pais ou cuidadores "de casa". O "cuidar" da escola, necessariamente, tem fim pedagógico, ou seja, é feito com a intenção de educar, de promover e auxiliar no desenvolvimento integral da criança.
Froebel também dá muita importância ao brincar e aos significados que as crianças dão as brincadeiras. Podemos nos inspirar nesse autor e organizar um espaço e tempo propício a brincadeira, não só dirigida, mas espontânea, na Educação Infantil.
Através da brincadeira livre, é possível ao professor analisar aspectos do cotidiano da família, problemas enfrentados pela criança em casa ou na rua, etc., que a criança reproduz, e ajudá-la a superar traumas.
A diferença entre o brincar em casa com familiares e o brincar na escola, está no olhar do professor, no conhecimento que possui sobre o desenvolvimento infantil, na avaliação que ele faz dos progressos das crianças e no (re)direcionamento de atividades que ajudem no desenvolvimento integral das mesmas.
Um dos aspectos muito relevantes a serem considerados na inserção das crianças na creche, é o espaço. Montessori³, defende a necessidade de que a criança viva em um ambiente motivador, que a possibilite despertar e educar os sentidos que, segundo sua teoria, são a base de toda a educação. A concepção Montessoriana prima pela aquisição de conhecimento pela criança, que possibilite melhores condições para o desenvolvimento físico, psíquico, mental e espiritual em busca de uma educação para a vida, baseada em princípios do ensino intuitivo. Ela pode nos ajudar na organização de um espaço acolhedor que contenha cantos de atividades e brincadeiras, como: cabides com fantasias, mesinhas com livrinhos, espelho e objetos para pentear cabelo e enfeitar-se, ou simplesmente observar-se, no caso de bebês, entre outras propostas como o auxílio que crianças mais desenvolvidas já podem dar as menos, ou de menor idade.
Por fim, lembramos que os aspectos mencionados, são apenas pinceladas a respeito do que precisa ser considerado para que o espaço de inserção das crianças na vida escolar "possa tornar-se um lugar prazeroso e convidativo a aprendizagens."(GOMES, 2009: p. 2), e que a atitude do educador é fato decisivo para que a experiência seja positiva.





REFERÊNCIAS:


COUTINHO, Ângela Maria Scalabrin ? UFSC. Educação Infantil: Espaço de Educação e Cuidado. Trabalho apresentado na 25ª Reunião Anual da Anped, ano 2002. Disponível em www.anped.org.br/reunioes/25/angelascalabrincoutinhot07.rtf, acesso em 10/06/2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 9ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

GOMES, M. O. & PASCHOIM, A. S. Dialogando com o passado, construindo o futuro. Resenha da obra de OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko Morchida; PINAZZA, Mônica Apezzato (Orgs.). Pedagogias(s) da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n37/a11v17n37.pdf, acesso em 26/05/2009.


GOMES, Vanise dos Santos. Inserção na instituição educativa: enfocando crianças de zero a três anos. Texto Aula 4 - PTEEI, 4° sem ? Mód. 2, Pedagogia UAB/FURG. Disponível em http://www.uab.furg.br/mod/resource/view.php?id=6605, acesso em 25/05/09.

MOTA, Maria Renata Alonso. Algumas Reflexões sobre a Prática Pedagógica na Educação Infantil. Texto Aula 3 - PEIII, 4° sem ? Mód. 2, Pedagogia UAB/FURG. Disponível em http://www.uab.furg.br/mod/resource/view.php?id=6638, acesso em 28/05/2009.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. Disponível em http://www.komarca.com.br/diariodacreche/planejamento_na_educ.htm, acesso em 09/06/2009.