O JOGO E SUA CONTRIBUIÇÃO NA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

         O aparecimento dos jogos é muito mais antigo do que podemos imaginar. Algumas atividades como a caça e a pesca, adotadas nos primeiros séculos estão ligadas diretamente com o jogo, o que contribuiu, também na origem da poesia, música, dança, ritos religiosos e até as convenções sociais (HUIZINGA, 1943).

         Para Huizinga (1943), a partir da observação do comportamento animal, várias situações manifestavam o lúdico, distinguidos em três modalidades:

          1º - Jogo de modalidade, observado nos filhotes que procuram enrijecer sua musculatura, buscando mais equilíbrio.

         2º - Jogo de pares ou comportamentos especializados ou sexual, comuns na época do acasalamento das diferentes espécies.

         3ª - Jogos sociais, praticados entre animais jovens e adultos.

         Huizinga (1943) chegou a afirmar que: ..."antes de a espécie humana tornar-se Faber ou Sapiens, ele já era Ludens". Entretanto existe uma grande diferença entre a atividade humana e a manifestada pelos animais. Na atividade humana se destaca o aparecimento do simbolismo e a regra, características de atividades dos seres humanos. 

         Foi entre os gregos que a prática do jogo passou a ser mais sistematizadas. Marrou (1978, p. 187) afirma que: "A ginástica grega foi fixada muito cedo com sua forma definitiva e não profundamente modificada sob a influência do desenvolvimento ulterior da civilização" O atletismo, o jogo de bola e outros esportes eram considerados distrações na Antiga Grécia.

         O jogo por motivos religiosos deixou de fazer parte da vida dos diferentes povos, por ser considerado pecaminoso (Concilio de Trento 1545). Esse fato pode ser considerado o principal responsável pelo desprezo do jogo, que não priorizava o desenvolvimento cognitivo e psicosocial em detrimento do desenvolvimento físico.

         De acordo com Brougere (1990) o jogo é sinônimo de lúdico e que não há um conceito claro e objetivo sobre o mesmo. Para o ser humano, jogo pode se tornar inicialmente, um grande fator de socialização, desenvolvimento e aprendizagem.

         A criança continua o autor, em situação de jogo utiliza seu corpo como símbolo de expressão e assim consegue relacionar-se com o mundo que a cerca, percebê-lo, compreendê-lo e significá-lo.

         O jogo, como também a brincadeira, quando acontecem na infância são estruturados no momento das ações realizadas e tem como função a exploração do próprio corpo, entrar em relação com o outro, explorar os objetos e principalmente sentir emoções (BROUGERE, 1990).

         Piaget (1976) escreve que é por meio da ação, que a criança estabelece conceito, interage com o objeto e pessoas, favorecendo o aparecimento da fala. Seus estudos contribuíram para demonstrar o aparecimento e o desenvolvimento da inteligência na criança, quando esta utiliza suas próprias ações e o jogo proporciona diversas situações em que a criança pode colocar em prática o seu agir.

         As atividades estruturadas preparam os pequenos, para avanços do pensamento e desse exercício privilegia-los podendo assim, valer-se o ensino dessas estruturas que podem estar presente no jogo.

         A criança se educa durante o brincar e à medida que se relaciona e repetem experiências, elas se tornam úteis para o seu desenvolvimento. O fazer novamente dá a sensação de familiaridade, de segurança e o jogo se rege pela lei da repetição (PIAGET, 1976).

         Quando a imitação ocorre na ausência de um objetivo, sugere o jogo simbólico, também chamado de jogo de faz de conta, demonstrando uma assimilação do real com os desejos e interesses da criança, que resulta no vencer, angustiar, solucionar problemas e exercitar a imaginação (VYGOTSKY, 1984).

         Para Vygotsky (1984), no mundo do "faz de conta" há um predomínio do significado sobre a ação. Não é o objetivo que determina o que a criança deve fazer. Com o tempo o símbolo sede lugar as regras.

         De acordo com Piaget (1976) a combinação do sensório e do motor (características dos seres socializados), prepara a criança para a vida e as faz superar obstáculos e aprender a esperar sua vez.

         As regras indicam que existem coisas a serem descobertas, obstáculos devem ser vencidos, o que estimula a investigação, a análise e estabelecimento de relações. Há jogos com regras já claras e em outros elas são criadas durante a ação.

         Para Wallon, citado por Negrine (1994, p. 29 e 30), o jogo para as crianças é expansão e nesse sentido se opõe a atividade "séria" que é o trabalho, (...). A compreensão infantil é tão somente uma simulação que vai do outro a si mesmo, e de si mesmo ao outro. A imitação como instrumento dessa fusão representa uma ambivalência que explica certos contrastes nos quais o jogo encontra alimento.

         Brougere (1981 p. 114) escreve que são duas as concepções presentes na recreação escolar. Na primeira reconhece-se um valor educativo ao jogo, sob a reserva de deixá-lo a espontaneidade da criança. Na segunda consiste em receber este momento de liberdade concedida à criança como um momento educativo, enquanto tal e sem qualquer intervenção adulta, especialmente nos níveis físicos e sociais.

         Influenciado pelas dinâmicas de grupo, em que o jogo foi introduzido, muitos foram os casos de crianças que elevaram consideravelmente seu vocabulário e suas manifestações orais junto aos colegas, não apenas em casos de crianças incluídas, mas também aquelas que geralmente pouco se manifestam dentro da sala de aula.

         A timidez de um aluno, que muitas vezes é reforçada pelo professor, como atitudes de chamar sua atenção frente aos colegas da classe, pode ser reduzida em grande parcela, pois por meio do jogo a criança não se sente constrangida e nem ameaçada, afinal ela está simplesmente participando de uma brincadeira com seus colegas e não há motivo algum para se envergonhar (BROUGERE, 1981).

         De acordo com VYGOTSKY (l984), o jogo facilita o desenvolvimento da imaginação e da criatividade. A criança em idade pré-escolar experimenta necessidades irrealizáveis e essa atividade torna-se lúdica para ela e assim possibilitara a realização dessas necessidades.

         A obra de Huizinga (1946) salienta que ele toma o jogo em sua dimensão cultural e não biológica, estudando-o de um ponto de vista histórico e não científico. Para ele, nas raízes do homem está o gosto de se relacionar com o acaso, com o imponderável.

         O homem é "dado a brincar", mas acaba concluindo que o homem lúdico, que floresce até o século XVII, entrou em declínio, surgindo agora, na madrugada do século do lazer (HUIZINGA, 1946).

         O autor ainda faz uma relação entre cultura e jogo: "o jogo se estabelece logo como forma de cultura (...). As características do jogo são as mesmas da cultura, por conseguinte, a cultura desde a Antiguidade, manifesta-se como jogo".

         Com relação ao jogo, Piaget (1998) acredita que ele é essencial na vida da criança. De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer e como resultado a apreciação dos seus efeitos.

         Em torno dos 2 ao 6 anos, continua o autor, nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança e não somente relembrar mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.

         Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos socialmente de criança para criança e por consequência vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social  (PIAGET 1998).

         De acordo com Piaget (1998),o jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil já que as crianças, quando jogam assimilam e podem transformar a realidade.

         Já Vigotsky (1984) diferentemente de Piaget (1998), considera que o desenvolvimento da criança ocorre ao longo da vida e que as funções superiores são construídas ao processo dela. Ele não estabelece fazes para explicar o desenvolvimento como Piaget. De acordo com Vigotsky o sujeito não é ativo nem passivo, é interativo.

         Vigotsky (1984) escreve ainda, que a criança usa as interações sociais como formas privilegiadas de acesso a informações. Aprende a regra do jogo, por exemplo, por meio de outros sujeitos e não como o resultado de um engajamento individual a solução de problema. Desta maneira, aprende a regular seu comportamento pelas reações, quer elas pareçam agradáveis ou não.

         Dessa forma, podemos concluir que esses estudos demonstram a importância que o jogo assume na aprendizagem, no desenvolvimento do ser humano, portanto eles podem corroborar com determinadas atividades utilizadas pela escola, objetivando um aprendizado mais completo, pois aprender é saltar barreiras, ultrapassar obstáculos e isso supõe estabelecer como as coisas se relacionam, combinando processos cognitivos, afetivos e psicomotores, associados à maneira de viver e todas essas atividades que se apresentam no jogo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR. Olivette Rufino Borges Prado, FROTA. Paulo Romulo de Oliveira. Educação Física em Questão: Resgate Histórico e Evolução Conceitual. 2002.

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BROUGERE. G. Brinquedo e Cultura. São Paulo. Cortez. 1995.

BROUGERE. G. Jogo e Educação. Porto Alegre. Artes Médicas. 1997.

NEGRINE. A. Aprendizagem e Desenvolvimento infantil. Porto Alegre. Prodil, 1994. Vol. I.

PIAGET. Jean. Jogos e Brincadeiras: A Lógica na Educação Infantil. 1976.

www.coladaweb.com/pedagogia/jeanpiaget. Disponível em 08/082006.

REVISTA, Legado-Esporte. Educação, Marketing & História. Ano II - Ed. 07

VELOSO. Rosangela Ramos. SÁ, Antonio Villar Marques. Reflexões sobre o Jogo: Conceitos, Definições e Possibilidades, 2007.

www.efdeportes.com./efd132/reflexõe-sobre-ojogo.htm.

VYGOTSKY.L.S. Formação Social da Mente. São Paulo.Martins Fontes. 1984 e 1989.