O ETOS DA NINFETA NO DISCURSO DA PROSTITUIÇÃO

Wagner Alexandre dos Santos Costa (Universidade Federal Fluminense)


RESUMO: Pretende-se, neste artigo, analisar ? sobretudo pelo ângulo qualitativo ? os classificados referentes a "garotas de programa", denominados "classificados sexuais", publicados em jornais do Rio de Janeiro. Em tais classificados, procuramos fazer o levantamento da estratégia lingüística e discursiva de criação de um etos (Maingueneau, 2002) específico pelo enunciador, o da "ninfeta", para o seu TU-interpretante/destinatário (Charaudeau, 1996). Esse recurso associa-se, ainda, à criação de cenografias (Maingueneau, 2002) variadas, como as da "namoradinha", "patricinha", "gatinha shopping" etc. que, segundo Costa (2007), envolvem e corroboram o etos em questão. Assim, o EU-comunicante forma a imagem do seu EU-enunciador, conforme um perfil presente no imaginário comum eficazmente reproduzido e incorporado por ele nos anúncios.

PALAVRAS-CHAVE: Análise do discurso; Semiologia (Lingüística), Garotas de programa, Anúncios em jornais, Sexo.


SUMMARY: The aim of this article, analyze - especially with qualitative angle - the classified for "girls of program, called" classified sex, "published in newspapers of Rio de Janeiro. In such classified, trying to do the lifting of linguistics and discursive strategy of creating an ethos (Maingueneau, 2002) by enunciador specific, "the ninfeta" for its TU-interpretante/destinatário (Charaudeau, 1996). It was found that this feature associates is also the creation of cenografias (Maingueneau, 2002) varied by enunciador, such as "namoradinha", "patricinha", "gatinha shopping" etc. That according Costa (2007), and involve corroborate the ethos concerned. Thus, the EU-way communicating the image of its EU-enunciador, as a profile in this imaginary common, effectively played by him and built the ads.

EYWORDS: Analysis of the speech; semiology (Linguistics), Girls program, ads in newspapers, Gender.


1. INTRODUÇÃO
Qualquer ato de tomar a palavra, segundo Amossy (2005) leva à construção de uma imagem de si. Além do estatuto (do papel) discursivo do sujeito, há uma instância subjetiva que se manifesta como "voz" e como "corpo enunciante" (MAINGUENEAU, apud Amossy, 2005). Ela pode ser recuperada a partir de indícios textuais variados que formam o etos, que é "a imagem de si que o locutor constrói em seu discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário" (CHARAUDEAU & MANGUENEAU, 2004). Assim, o etos corresponderá à imagem necessária ao locutor para conquistar credibilidade junto ao seu interlocutor.
A partir dessa orientação teórica, em que o etos decorreria de um efeito discursivo (MAINGUENEAU 2002 e 2005), analisamos a construção do "etos da ninfeta" em anúncios específicos para a oferta de serviço sexual ? os classificados sexuais. O material analisado neste artigo conta com sete anúncios que exemplificam o tipo de etos em questão e foi selecionado de cadernos específicos dos jornais cariocas O Dia e O Globo.
Neste contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 1996), as garotas de programa, no intento de persuadir o leitor (cliente em potencial), criam sobre si a imagem discursiva da "ninfeta". Recorrem, ainda, à estratégia da criação de diversas "cenografias" (MAINGUENEAU, 2002): as da "namoradinha", da "patricinha", entre outras.
A adoção desses recursos argumentativos pela garota de programa vai-se justificar, por um lado, pelo gosto sexual que ela crê ter o seu co-enunciador (a preferência por mulheres jovens) ? daí o "etos da ninfeta" e, por outro, pela tentativa de dissociar-se do estereótipo estigmatizado da prostituta ? por isso, as referidas cenografias.
Então, encontra-se, a seguir, a fundamentação teórica, em que se explica e discute os conceitos de etos e de cenografia, recorrendo a vários autores, porém dando relevo às considerações de Manigueneau (2002 e 2005). Na seqüência, procede-se à análise do corpus, com os exemplos devidamente apresentados no texto. Após esta seção, seguem as considerações finais do artigo, as referências e o anexo.


2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Etos

De acordo com Perelman e Tyteca (1999) etos resume-se "à impressão que o orador, por suas palavras, dá de si mesmo". Em perspectiva semelhante, Mangueneau (2002) entende-o pelo fenômeno em que "por meio da enunciação, revela-se a personalidade do enunciador". Assim, não estamos tratando das coisas que o orador poderia dizer sobre si, seu corpo e suas habilidades sexuais, visto que estas informações diriam respeito ao sujeito comunicante (sujeito do fazer), e não ao sujeito da enunciação (sujeito do dizer). Referimo-nos, por exemplo, à sua maneira de estruturar as frases, à sua seleção vocabular, a seus conhecimentos enciclopédicos demonstrados no discurso e ao seu estilo, que podem fornecer informações sobre a sua pessoa, podem "falar" por ele.
Por isso, importa verificar, também, além do estatuto (do papel) discursivo, a instância subjetiva que se manifesta como "voz" e como "corpo enunciante", como sublinha Maingueneau (apud Amossy, 2005:70). Ela pode ser recuperada a partir de indícios textuais variados que formam o etos, que é "a imagem de si que o locutor constrói em seu discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário". (CHARAUDEAU & MANGUENEAU, 2004)
Os antigos já se dedicavam ao estudo do etos. Eggs (apud Amossy, 2005:32), retomando Aristóteles, lembra que os oradores inspiram confiança "(a) se seus argumentos e conselhos são sábios e razoáveis, (b) se argumentam honesta e sinceramente, e (c) se são solidários e amáveis com seus ouvintes". Para tanto, o sujeito falante precisa tomar conhecimento das idéias e valores pertencentes ao imaginário do destinatário. Somente assim poderá eleger a maneira mais apropriada de se expressar, condizente com o seu projeto de fala. Dessa forma, o etos corresponderá à imagem necessária ao locutor para conquistar credibilidade junto ao seu interlocutor.
Perelman & Tyteca (1999) resumem etos "à impressão que o orador, por suas palavras, dá de si mesmo". Maingueneau (2002), por sua vez, reconhece-o como o fenômeno em que, "por meio da enunciação, revela-se a personalidade do enunciador" e Barthes (1966, apud Maingueneau, 2002) destaca que
"São os traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório (pouco importa sua sinceridade) para causar boa impressão: são os ares que assume ao se apresentar [...] O orador enuncia uma informação, e ao mesmo tempo diz: eu sou isto, eu não sou aquilo".
Assim, segundo Maingueneau (2005, apud Amossy), nossa opção teórica, a eficácia do etos deve-se ao fato de que, sem estar explicitado no enunciado, ele envolve de alguma forma a enunciação. Trata-se das escolhas das palavras, dos argumentos, do ritmo e da entonação de seu discurso.
O autor (op.cit.) privilegia a visão aristotélica1 de etos, segundo a qual ele decorreria de um efeito discursivo, e não de um juízo prévio sobre o caráter do orador.

Com efeito, segundo Maingueneau (idem), a noção de etos abarca, além da vocalidade, as características físicas e psicológicas atribuídas ao enunciador a partir de representações coletivas, que participam de um conhecimento compartilhado. Ressalte-se, entretanto, que o enfoque dado por ele não recai sobre a dimensão sociológica em que se situa o sujeito (inserido em um dado grupo social, em um tipo físico e em determinada ideologia), em detrimento da linguagem, tal como o faz Bourdieu (2005), já que, para este (1982, apud Amossy, 2005: 138), a linguagem apenas simbolizaria a autoridade institucional do sujeito.
Ora, se a pessoa do orador pode exercer alguma influência na opinião do co-enunciador a seu respeito, o discurso, por sua vez, poderá validá-la ou não. É nele que está a conquista da credibilidade, portanto "é nele que se faz reconhecer a legitimidade" (COSTA, 2007).
No etos do tipo "ninfeta", o modo como o enunciador elabora o seu dizer apresenta pistas textuais de seu caráter e de sua corporalidade. Mangueneau (2002 e 2005), para quem o grau de precisão do caráter e da corporalidade varia conforme os textos, define os dois conceitos: "O ?caráter?2 corresponde a uma gama de traços psicológicos. Já a ?corporalidade? corresponde a uma compleição3 corporal, mas também a uma maneira de se vestir e de se movimentar no espaço social."
Dessa forma, caráter e corporalidade do enunciador, nos CS, fundam-se em representações sociais compartilhadas (sempre valorativas), às quais o destinatário é remetido. Nas palavras de Amossy (2005:126), "o orador adapta sua apresentação de si aos esquemas coletivos que ele crê interiorizados e valorizados por seu público-alvo."

2.2. Cenografia

Para Maingueneau (2002), "um texto não é um conjunto de signos inertes, mas o rastro deixado por um discurso em que cada fala é encenada.4" Assim, o discurso pressupõe uma cena de enunciação, tripartida pelo autor em cena englobante, cena genérica e cenografia.
A cena englobante refere-se ao tipo de discurso, dando a ele seu estatuto pragmático (literário, religioso, publicitário...), ao qual se vincula. A cena genérica é aquela que diz respeito ao gênero discursivo (poema, carta, anúncio...). Essas duas cenas (englobante e genérica) compõem o que o autor (op.cit.) chama de quadro cênico do texto. A cenografia, por seu turno, fica a cargo do estilo do enunciador, ela é particular e faz parte da sua estratégia. Ele pode realizar uma "conversão" no interior do quadro cênico e enunciá-lo, sub-repticiamente, de um lugar enunciativo diferente do habitual.
Um político, por exemplo, pode falar ao povo como um conselheiro (Tenham cuidado ao escolher em quem vão votar...); como um trabalhador igual a todos (Eu também sou trabalhador como você, estou aqui para representar a nossa classe x ou y).
De fato, determinados gêneros apresentam maior flexibilidade em relação à cenografia, como os panfletos políticos ou o discurso de palanque ou televisão. A publicidade também possui gêneros bastante variáveis quanto à cenografia: anúncios, out-doors... Como diz Maingueneau (2002), discursos como o político e o publicitário mobilizam cenografias variadas, já que desejam persuadir seu co-enunciador. Sendo assim, "devem captar seu imaginário e atribuir-lhe uma identidade, por meio de uma cena de fala valorizada."
No entanto, os classificados, em geral, têm uma cenografia mais restrita. No caso específico dos "classificado sexual", as possibilidades de alterações são maiores, ainda que não muito amplas. No corpus, a cena englobante, a nosso ver, é a do discurso publicitário e a cena genérica é a dos "classificados sexuais", não havendo distinção entre um anúncio e outro, apresentando-se ela muito básica.

Para validar o discurso, o enunciador vale-se de estereótipos para compor a cenografia. Estereótipos, segundo Carrascoza (2002) são fórmulas já consagradas, empregadas tanto nos códigos visuais (uma mulher bonita, de avental, remete a uma zelosa dona-de-casa), quanto ao lingüístico ("a união faz a força", "ser mãe é padecer no paraíso" etc.).
Quanto à cenografia, destacamos várias estratégias de construção pela "garota" de uma cenografia em que ora é uma "gatinha shopping", ora é uma "namoradinha" ou uma "patricinha", entre outras mais.

3. ANÁLISE DO CORPUS

De um modo geral, já que as "profissionais" oferecem serviços sexuais, a descrição do seu corpo (da forma que é feita) e a referência ao atendimento são, em si, um comportamento discursivo que transmite um etos necessário de liberalidade e de objetividade diante do sexo, identidade compatível ao mundo construído no seu enunciado. No anúncio a seguir,


CLAUDINHA JACAREPAGUÁ
Morena assanhadíssima! Seios durinhos, cinturinha pilão, quadrilzão enlouquecedor! Escultural!
Fernanda morenaça! Lábios suculentíssimos (finalizador)! Rebolando inesgotavelmente! Privê/ R$35,00. 9967-6824/ 9842-5314.


a maneira de se descrever utilizando os adjetivos axiológicos assanhadíssima, durinhos, enlouquecedor, suculentíssimos e "finalizador" valida a finalidade do gênero textual ? negociar sexo. Além disso, apela-se aos sentimentos do seu público-alvo, visando atingi-lo em seus desejos e completar a sua busca (como que a finalizá-la).
Observe-se, ainda, neste outro, a construção do etos de liberalidade sexual a partir dos adjetivos (extremamente) "safada" e (quadril) "guloso".


GABRIELA LINDÍSSIMA!!!
"Extremamente safada", 20 aninhos, morena gostosa!!! 1.70alt. (seios grandes) estilo mulherão (103 quadril guloso)!!! Atendimento carinhoso R$20,00. Copacabana 3820-9887.


Poder-se-ia afirmar a existência de um tom que conduziria a um etos de garota de programa. Esse tom é o que daria, como explica Maingueneau (2002) "autoridade ao que é dito", conferindo ao enunciador um status de "fiador" desse dito. Segundo ele, todo discurso, mesmo os escritos, possui uma vocalidade específica que o vincula a uma fonte enunciativa.
Entretanto, o etos (maior) da sensualidade e sexo, que pode ser adquirido como produto, é reforçado por vários outros que se desdobram a partir dele. Dentre eles, destacamos o etos da ninfeta, que se caracteriza, por exemplo, pela presença constante do sufixo ?inha, de qualificadores como meiga e carinhosa, entre outros elementos, reforçados pela referência à idade ? quase todas tem dez- na idade: dezoito, dezenove anos. Vejam-se os classificados em questão:


(1) LOLITA 18 ANINHOS (Novidade) Beleza jamais anunciada estilo namoradinha, completamente inesquecível, carinhosa, discretíssima apartamento aconchegante. Atendimento relaxante. Tel. (0xx21) 3903-0916/ 9445-9099 24hs Copacabana


O próprio nome do enunciador remete a uma personagem infantil do cinema (filme "Lolita") ao qual se soma o sintagma "18 aninhos", donde se destaca o sufixo ?inho (constante no vocabulário infantil). Também a referência ao estereótipo da "namoradinha" contribui para a construção da imagem da garotinha meiga que passeia de mãos dadas com o namorado pelo calçadão da praia. Não é à toa que ela se diz "discretíssima"; leia-se: "não atende ao estereótipo da prostituta".


(2) IOKO!!!
Princesinha oriental, 19, cabelos longos, toda delicada, combinando beleza/ sensualidade!!! Agrada com seu jeitinho carinhoso!!! Verdadeiramente linda!!! 2255-4983/ 22554532


Destaque-se que "Ioko" é uma "princesinha" (-inha), além de ser "delicada" e de ter "jeitinho carinhoso". O substantivo "princesa" remete a algo que está aquém da maturidade, sentido acentuado pelo sufixo ?inha. "Princesinha" também é uma forma carinhosa de se tratar uma criança "linda" ("Verdadeiramente linda!").


(3) MEL LINDA gatinha de praia cab. cacheados, pele dourada, delicada carinhosa at. Completo (s/limites) (perfeita) Venha brincar comigo!!! 8222-3341 Barra 24h.


Pelo seu nome, "Mel", este enunciador já nos remete à doçura infantil. Além disso, seus cabelos são "cacheados", ela é "delicada" e "carinhosa", o que reforça essa idéia. A "impressão" (e, aqui, impressão é palavra determinada) que "Mel" transmite é de ser uma adolescente que oferece aventura, pois é "sem limites", é "gatinha de praia".
Ela não informa a idade, mas pelo conjunto dos elementos que remetem ao universo juvenil, deve-se tratar de uma jovem de 18 anos aproximadamente. Ao final do seu texto, a opção pelo verbo "brincar" contribui para a criação da imagem de que, para esta garota, o sexo é diversão.


(4) BIANCA GAUCHINHA, olhos verdes naturais, loirinha, 1.72 alt. /19 anos, patricinha Z.Sul, Rio, marquinha audaciosa. Linda! Totalmente atrevida! T. 2259-3516 /2259-3526 Ac/cartões Leblon (Speack English) www.ellegance.com.br


Neste anúncio, o enunciador transmite a imagem de uma garota classe média do Rio de Janeiro, pois fala inglês, tem site e mora (ou atende) na área nobre da cidade. Some-se a isso a referência ao estereótipo da "patricinha", que resume bem a imagem dessa adolescente. Merece destaque, o adjetivo "atrevida", bem como "audaciosa", qualificações que, neste contrato de comunicação (Charaudeau, 1996), são valorativas, segundo a intencionalidade do enunciador. Há, inclusive, uma revista feminina, destinada ao público adolescente, intitulada "Atrevida".
Por fim, ela inicia anunciando-se por "gauchinha", em vez de "gaúcha". Ora, ela tem 1.72, por isso o sufixo ?inha não denota exatamente grau, já que não é uma mulher pequena, mas remete sim à linguagem infantil.
Também no anúncio que segue é a abundância do prefixo ?inha (oito ocorrências) que se destaca na composição do etos da ninfeta. Veja-se:


(5) JULIANA (IPANEMA) loirinha, 19 aninhos rostinho e n c a n t a d o r, s/ empinadinhos, cinturinha fininha, gatinha shopping, c o m p l e t í s s i m a, s/ frescuras. Atendo c/ amiguinha. Promoção R$70,00. Tel.: (0xx21) 2227-4618 (0xx21) 8768-9985.


Note-se que ela não tem 19 anos, mas 19 "aninhos", ou seja, é "novinha". Sendo uma garota de programa, espera-se que preencha requisitos necessários ao ofício, um deles é ser bonita ou, ao menos, atraente. No entanto, as referências à sua beleza são bem diferentes daquelas feitas por "Gabriela" no anúncio que, novamente, podemos conferir:


GABRIELA LINDÍSSIMA!!!
"Extremamente safada", 20 aninhos, morena gostosa!!! 1.70alt. (seios grandes) estilo mulherão (103 quadril guloso)!!! Atendimento carinhoso R$20,00. Copacabana 3820-9887.


Em seu anúncio (5), "Juliana" descreve-se, por exemplo, com "cinturinha fininha", ao invés de "quadril guloso" como "Gabriela", o que não atenderia imagem da "ninfeta", recurso adotado
por aquela. Além disso, o referido etos é reforçado por "atendo com amiguinha", em que "amiguinha" lembra o comportamento de algumas adolescentes de estar sempre juntas a outra jovem, companheira e cúmplice.
Nos anúncios (6) e (7), além de o enunciador apelar para a imagem da "ninfeta", recorre também à cenografia (MAINGUENEAU, 2002) da "namoradinha", oferecendo ao cliente uma relação dotada de maior proximidade afetiva. Vejam-se os classificados:


(6) LÍVIA TIJUCA loirinha , 22aninhos, olhos verdes, namoradinha, carinhosa, paciente, envolvente, excelente companhia, especialmente senhores (1H (sic) =RS70 2:30 = R$100) Tel: 2565-5646


(7) PRYSCILINHA IPANEMA, 18 aninhos, olhos castanhos, moreninha, toda gatinha, lindíssima. 1.65 alt., namoradinha, meiga e carinhosa para você! Tel. 9181-2387/ 8752-3450.


O enunciador "Lívia", por exemplo, contrapõe seus "22 aninhos" à palavra "senhores" (público-alvo de seu anúncio). Culturalmente, o homem mais maduro desejaria a mulher mais jovem, hipótese confirmada pela antropóloga Mirian Goldenberg (In: Revista O Globo, 10/09/2006) que , em suas entrevistas, verificou que os atributos femininos que mais atraíam os homens eram os físicos, como seios e nádegas "durinhos". Também Hite (1981) registrou uma série de depoimentos de homens com mais de 50 anos que expressaram sua preferência por mulheres jovens, especialmente por "ninfetas", como o seguinte: "Só gosto de mulheres mais jovens, se possível uma virgem intocada, com um ar bem inocente." (Idade: cinqüenta e um.) (HITE, 1981)


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No "contrato de comunicação" (Charaudeau 1996) dos classificados sexuais, o Tu-interpretante sabe tratar-se o enunciador de uma garota de programa e entende a finalidade do gênero textual, negociar sexo. A opção pela estratégia da criação de um etos de "garotinha" ? ou seja, de "ninfeta" ? vem atender à intencionalidade de seduzir dada parcela de interessados em tal perfil. Isto significa que a descrição pura e simples por si só não é eficaz nessa situação, pois beleza e juventude, sobretudo, são qualidades afirmadas por quase todas. Então, o enunciador adota, paralelamente, o recurso de falar como uma "garotinha", ao mesmo tempo em que cria uma encenação de sua fala, abordando o "público-alvo" não pelo lugar enunciativo de uma "garota de programa" ou "prostituta", mas, sub-repticiamente, como uma "namoradinha", uma "gatinha shopping" etc.
Estas cenografias são motivadas pelo fato de a atividade, mesmo sendo reconhecida como profissão pelo Ministério do Trabalho, sofrer estigma social. Daí constituírem maneira de a garota de programa demonstrar que não aparenta possuir traços ou marcas da prostituição, ou seja, diferenciar-se daquela imagem da prostituta clássica, do que decorre, então, um conceito menos estigmatizado de prostituta, a "garota de programa", visualmente comum, como qualquer mulher dos estereótipos (esteticamente privilegiados) recuperados por elas.


5. REFERÊNCIAS
AMOSSY, Ruth (org). Imagens de si no discurso. São Paulo: Contexto, 2005.
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
CARRASCOZA, J.A. A evolução do texto literário. São Paulo: Futura, 2002.
CHARAUDEAU, Patrick. Langage et discours: elements de sémiolinguistique (théorie et pratique). Paris: Hachette, 1983.
_____. Grammaire du sens et de l?expression. Paris: Hachette, 1992.
_____. Para uma nova análise do discurso. IN: CARNEIRO, Agostinho Dias (org.). O discurso da mídia. Rio de Janeiro: Oficina do autor, 1996.
_____. "De la Competencia Social de Comunicación a las Competencias Discursivas". IN: Revista Latinoamericana de Estudios del Discurso. Caracas, 1(1): 7-22, ago. 2001.
_____ & MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004.
______. Uma análise semiolingüística do texto e do discurso. IN: GAVAZZI, Sigrid & PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino (orgs.). Da língua ao discurso. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
COSTA, Wagner Alexandre dos Santos. O contrato de comunicação nos classificados sexuais: estratégias discursivas de legitimação do enunciador. (Dissertação de Mestrado) Niterói: UFF, 2007.
HITE, Shere. O relatório Hite sobre a sexualidade masculina. Edição integral. São Paulo: Círculo do Livro S.A, 1981
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2002.
PERELMAN, C. & OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da Argumentação ? A nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Revista O Globo ? Loucos por sexo, nº111, de 10 de setembro de 2006.
6. ANEXOS
(1) LOLITA 18 ANINHOS (Novidade) Beleza jamais anunciada estilo namoradinha, completamente inesquecível, carinhosa, discretíssima apartamento aconchegante. Atendimento relaxante. Tel. (0xx21) 3903-0916/ 9445-9099 24hs Copacabana (O Globo, mar. 2006)
(2) IOKO!!!
Princesinha oriental, 19, cabelos longos, toda delicada, combinando beleza/ sensualidade!!! Agrada com seu jeitinho carinhoso!!! Verdadeiramente linda!!! 2255-4983/ 22554532 (O Dia, mar.2006)
(3) MEL LINDA gatinha de praia cab. cacheados, pele dourada, delicada carinhosa at. Completo (s/limites) (perfeita) Venha brincar comigo!!! 8222-3341 Barra 24h. (O Dia, jul. 2006)
(4) BIANCA GAUCHINHA, olhos verdes naturais, loirinha, 1.72 alt. /19 anos, patricinha Z.Sul, Rio, marquinha audaciosa. Linda! Totalmente atrevida! T. 2259-3516 /2259-3526 Ac/cartões Leblon (Speack English) www.ellegance.com.br (O Dia, dez. 2006)
(5) JULIANA (IPANEMA) loirinha, 19 aninhos rostinho e n c a n t a d o r, s/ empinadinhos, cinturinha fininha, gatinha shopping, c o m p l e t í s s i m a, s/ frescuras. Atendo c/ amiguinha. Promoção R$70,00. Tel.: (0xx21) 2227-4618 (0xx21) 8768-9985. (O Globo, jan.2007)
(6) LÍVIA TIJUCA loirinha , 22aninhos, olhos verdes, namoradinha, carinhosa, paciente, envolvente, excelente companhia, especialmente senhores (1H (sic) =RS70 2:30 = R$100) Tel: 2565-5646 (O Globo, jan. 2007)
(7) PRYSCILINHA IPANEMA, 18 aninhos, olhos castanhos, moreninha, toda gatinha, lindíssima. 1.65 alt., namoradinha, meiga e carinhosa para você! Tel. 9181-2387/ 8752-3450. (O Dia, jan.2007)