Sérgio Begnini

RESUMO
Não se pode afirmar com toda certeza, contudo, ao que parece, o país do oriente que deu maior importância à educação, foi o Egito. O lugar onde as crianças tinham a base educacional era em casa com a família. Era função das mães proporcionar os brinquedos aos filhos, para sua recreação, contar-lhes histórias, instruí-los na religião e em elementos dos costumes morais. Havia, para instrução do ensino elementar, as chamadas casas de instrução. Nessas casas foram criados e colocados os silábicos. Estes eram como que grandes cartazes onde haviam desenhados diversos sinais com a respectiva pronúncia e a indicação dos principais significados. Os alunos decoravam tais sinais e copiavam-nos, num incansável exercício para tê-los sempre a mente. Conforme evoluíam nos estudos, os alunos recebiam alguns incentivos. Assim, quando sabiam ler e reproduzir trechos dos livros sagrados, a eles era concedido o uso do papiro. Neste, os aprendizes escreviam trechos ditados, que os mestres corrigiam. O mestre escrevia à margem, em vermelho, as partes incorretas ou mal desenhadas, sendo que o aprendiz devia refazer o exercício até decorá-lo. Os alunos que tinham melhor desempenho eram considerados adiantados e podiam copiar máximas de moral que os mais jovens, iniciantes, aproveitavam para seus estudos. Além da escrita era comum a pratica da educação física. Para a classe superior, era depois da escola elementar, momento de ingressar na escola superior. Aqueles que ingressavam neste ensino e o completavam eram chamados de escribas. Estes recebiam formação aprofundada, contudo rígida e severa que custava privações de várias atividades, comuns aos outros jovens. Depois de formados, estavam em uma posição elevada da sociedade. A grande parte da população, contudo, não tinha acesso a essa formação.
Palavras-Chave: Egito; Educação; Formação; Sociedade.



Egypt: culture and education of ancient people

ABSTRACT
One can not say with any certainty, however, it seems, the country's east who gave more importance to education, was Egypt. The place where the children had a basic education was at home with family. Was a function of mothers deliver toys to children for their recreation, tell them stories, instruct them in religion and morals of the elements. There were, for elementary school instruction, called houses of instruction. In these houses form created and placed the syllables. These were like large posters which were designed several signs with their pronunciation and an indication of the main meanings. Students decorate such signs and ripped them in a relentless pursuit to have them always to mind. As in the studies progressed, students were given some incentives. So when they could read and play excerpts of the sacred books, students could receive and use the papyrus. In this, the students write passages dictated that the teachers corrected. The teacher wrote on the margin, in red, the parties incorrect or poorly designed, and the student must redo the exercise to decorate it. Students who had the best performance were considered early and could copy the moral maxims that younger starters, took advantage for their studies. Besides writing was also a common practice to physical education. Through surveys, students from elementary school had access to higher education. Those who joined this school completed and were called scribes. They received thorough training, yet rigid and severe deprivation of that cost several activities common to other youth. After graduation, they were in an elevated position in society. The large population, however, had no access to such training.
Keywords: Egypt; Education; Training; Society.



Um povo, uma história, vários ensinamentos

As ciências e principalmente a arqueologia, de tempos em tempos, descobrem civilizações que habitaram a terra. Dentre várias, foi na civilização do Egito Antigo que se descobriu indícios de uma estrutura educacional montada. "As descobertas arqueológicas e os estudos da epigrafia egípcia constituem atualmente a principal fonte para o estudo da História Antiga do Egito" (GIORDANI, 2003, p. 56). Os estudos apontam para o fato de que possivelmente alguns povos reconhecem no Egito a origem de sua própria cultura e citam a "estrutura escolar" como exemplo.
"Não somente a Fenícia, mas também a Mesopotâmia parece reconhecer no Egito a origem da própria cultura, pelo menos a se crer na opinião que nos foi transmitida por Diodoro da Sicília, um escritor grego muito mais recente". (MANACORDA, 2010, p. 21).

Os "ensinamentos" mais antigos remontam ao período arcaico, anterior ao antigo reino de Mênfis, se é exato que o primeiro destes, data da 3ª dinastia (século XXVII a.). Eles contêm preceitos morais e comportamentais rigorosamente harmonizados com as estruturas e as conveniências sociais ou, mais diretamente, com o modo de viver próprio das castas dominantes. (MANACORDA, 2010, p. 23).

Como afirma o autor, e revelam muitos escritos, a formação, para os povos antigos, faz-se referência especialmente entre os egípcios, não estava voltada para o intelectual e profissional. Na verdade voltava-se especificamente para as classes dominantes e o objeto principal era à introdução aos comportamentos e à moral do poder.
A formação era transmitida do mestre para o discípulo ou do pai para o filho. Desta forma os ensinamentos eram conduzidos de geração para geração, onde os mais velhos eram vistos como detentores da sabedoria e consequentemente do poder.
Manacorda (2010, p. 24) traz um trecho transmitido de pai para filho, no caso, do Vizir, escrito entre 3654 ? 2600 a. C., contendo preceitos comportamentais:

Então o vizir mandou chamar seus filhos... E no fim disse-lhes: Tudo aquilo que escrevi neste livro, ouçam-no assim como falei. Não negligenciem nada daquilo que foi ordenado. Então eles se prostraram como ventre no chão e o recitaram em alta voz como esta escrito, e isso foi agradável ao seu coração mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Os egípcios tinham uma educação mnemônica, repetitiva com base na escrita e repassada de pai para filho, autoritariamente. Essa forma de ensino/educação visava que o estudante decorasse todo o conteúdo apresentado, pois se entendia que a pessoa viveria aquilo que soubesse de cor.
A forma de educar mostra duas realidades. Primeiramente a submissão ao poder do faraó. Segundo a transmissão dos ensinamentos vindo dos mais velhos para os mais novos. No Egito Antigo (2450 a. C.), por exemplo, quanto um pai queria transmitir um ensinamento a seu filho, primeiramente dirigia-se ao faraó, que caso concordasse, dava uma ordem, segundo a qual o ensinamento em questão podia ser disseminado.
O Egito fica localizado no nordeste do continente africano. Nele fica o rio Nilo que nasce no coração da África e depois de percorrer mais de seis mil e quinhentos quilômetros, deságua no mar Mediterrâneo. Quando é verão o rio transborda, contudo, quando chega o fim desta estação o rio volta ao seu leito deixando a terra fértil para plantação. Os antigos Egípcios explicavam esse fenômeno, com uma lenda:

Osíris, um sábio rei do Egito, foi assassinado por seu irmão, Seth, o rei da escuridão. Ísis, mulher e irmã de Osíris, chorou sua morte durante a noite toda e pediu que o filho, Hórus, vingasse a morte do pai. Depois de uma luta muito dura, Seth foi derrotado e Osíris ressuscitou. Era assim que os egípcios explicavam os dias e as noites, e também explicavam as enchentes do Nilo. Osíris era o Sol, que é derrotado pela noite (Seth). O choro de Ísis se transforma nas enchentes do Nilo, enquanto o amanhecer (Hórus) traz o sol de volta. (O EGITO ANTIGO, 2011, p. 01).

Contudo, não foi somente o rio Nilo o responsável pelo próspero desenvolvimento do Egito. Outros fatores também tiveram importância nesta história. Foi a força das pessoas, que se uniram e começaram a criar métodos para aproveitar aquilo que o rio trazia que fez a diferença. O rio continuaria a transbordar e voltar ao normal a cada estação, e nada mudaria, entretanto, ação dos egípcios em aproveitar o que o Nilo trazia, fez a diferença.

O milagre egípcio, o único, é que o Nilo fornece, simultaneamente, a água e a terra arável, tudo o mais é devido ao homem. Falou-se muito rápida e superficialmente das condições únicas da vida às margens do Nilo, mas esqueceu-se que essas condições foram criadas pelos próprios homens por meio da irrigação. Indubitavelmente como não nos cansamos de repetir, com base em Heródoto, o Egito é "um presente do Nilo", mas é acima de tudo uma invenção humana. (VERCOUTTER, 1986, p. 17)

Os primeiros habitantes do Egito foram pastores nômades que com o passar do tempo se juntaram e formaram clãs. Os clãs estavam instalados ao redor do Nilo e para aproveitar melhor as águas das enchentes, tinham de construir represas e canais. Tal atividade exigia grande quantidade de pessoas. Desta forma os clãs cresceram e acabaram formando pequenas aldeias, chamados de nomos, onde um monarca governava. Com o decorrer da história a concentração dessas aldeias formou grupos étnicos diversos que se organizaram em torno da instituição polícia dos faraós. Certamente, sem o rio Nilo e ação das pessoas, o Egito seria somente um deserto.
Os egípcios festejavam as cheias por que com elas, vinha o húmus, isto é, o fertilizante deixado na terra. Com o solo revolvido e fertilizado pela ação das águas, os camponeses conseguiam abundantes colheitas. O próprio nome do país explica bem o milagre da colheita. "O nome Egito quer dizer "terra negra", que se contrapõe à terra vermelha do deserto" (CAMPOS, 1988, p. 23). Ao todo, uma área de aproximadamente 3000 km de comprimento e 15 km de largura era alimentada pela produção, graças as chuvas e ao rio Nilo.
Quem controlava os trabalhos de represa e construção de canais era o Estado. Os escribas e outros funcionários do faraó, mediam as águas, faziam estimativas quanto as colheitas, cuidavam dos armazéns, da distribuição dos produtos e do recolhimento dos impostos. "O chamado felá (trabalhador rural) era obrigado a entregar de dez a vinte por cento da colheita ao faraó, devendo ainda outros impostos a nobreza e sacerdotes". (CAMPOS, 1988, p. 26). Isso acontecia porque o faraó, embora estivesse subordinado às leis, tinha imenso poder. Era tido como um deus, filho do deus Sol (Amom Rá), assim juridicamente, a ele pertenciam todas as terras do país e dele emanava todo o poder e as leis.

À medida que as colheitas foram se tornando cada vez mais abundantes, os nomos se juntaram e formaram dois reinos: o reino do Alto Egito e o reino do Baixo Egito. Finalmente, os dois reinos formaram um reino unificado e governando por um rei, o faraó. (O EGITO ANTIGO, 2011, p. 01).

Embora o faraó fosse considerado um deus vestido de humano e responsável pela harmonia entre os homens e os deuses, não governada sozinho, consigo haviam os sacerdotes e muitos funcionários que participavam do governo.
Os egípcios criaram uma cultura particular onde alguns dos costumes permanecem até hoje presentes nos hábitos de outros povos. Por exemplo, o ato de maquiar-se foi iniciado pelos egípcios e hoje está presente na cultura de muitas nações. A crença na vida depois da morte originou-se com esse povo. Outro fator que merece atenção é a figura da mulher. "Na família egípcia, a mulher tinha direitos iguais aos dos homens: podia exigir divórcio, reaver seu dote, administrar seus bens e educar os filhos." (O EGITO ANTIGO, 2011, p. 04).
Os egípcios ainda tiveram outas invenções que ficaram como legado: a moeda, o calendário agrícola, o arado, a escrita hieroglífica, a fabricação do papiro e principalmente uma avançada medicina. Isso foi possível, porque embora, antes da unificação, existisse o baixo e o alto Egito, o povo sempre falou a mesma língua e compartilhou da mesma visão de mundo. A unificação do Alto e do Baixo Egito aconteceu por volta de 3200 a. C.
A sociedade estava dividida em camadas. Cada uma tinha suas funções bem definidas. No topo estava o faraó, com poderes ilimitados. Depois vinham os sacerdotes que mantinham grande prestígio e poder tanto espiritual como material. Em seguida a nobreza formada pelos parentes do faraó e ricos senhores de terra. Em seguida os escribas que aprendiam a ler e a escrever, usando isso para documentar as atividades da vida do Egito. Os escribas eram as pessoas de maior instrução dentre toda a sociedade. Depois os artesãos e comerciantes que se dedicavam a trabalhos em prol da nobreza e do templo. Os camponeses que realizavam os trabalhos do campo sendo controlados pelos funcionários do faraó, pois todas as terras pertenciam ao governo. Por último os escravos que capturados nas guerras eram forçados a trabalhos de grande monta como a construção das pirâmides. (O Egito Antigo, 2011).
Além de vários aspectos específicos, é por meio da escrita que o Egito se distingue. Mas de onde veio a língua egípcia? Segundo Vercoutter (1986), muitos especialistas questionaram se a origem era semítica ou africana. Sem tem certeza concluíram que desde meados do ano 3000 a. C. a língua egípcia foi escrita. Assim, é uma das primeiras escritas humanas de que se sabe.
Diferente da maioria das línguas, a egípcia, utilizava somente figuras e não letras como hoje é costume. Durante muito tempo os estudiosos não entendiam o que significavam os desenhos e somente após muitos estudos é que se começou a entender que se tratava de uma língua.



Os primeiros rudimentos da escrita egípcia remontam à época pré-dinástica. Dessa primitiva escrita de caráter simbólico, que não podia, evidentemente, expressar com precisão o pensamento, os egípcios começaram a usar determinados ideogramas de acordo com seu valor fonético. Fazemos algo semelhante quando nas chamadas cartas enigmáticas, representamos a palavra soldado desenhando a figura do sol ao lado de um dado. (GIORDANI, 1992, p. 59).

A paleta de Narmer apresenta procedimento da comunicação escrita que estão presentes ao longo de toda a história do Egito, fundamentais quando se tenta entender os princípios básicos para a transmissão de valores (BAKOS, 2001, p. 119).
Os desenhos descobertos e estudados representam importantes fundamentos históricos, pois são os primeiros registros em hieróglifos de que se tem conhecimento. Os desenhos expressam figuras humanas grandes em relação a outras figuras, fazendo menção a posição social, no caso o Faraó que estava no comando. Contudo no século IV d.C. os desenhos foram proibidos, por serem consideradas práticas pagas.
O estudo do processo histórico dos Egípcios é muito rico, pois denota a formação e transmissão dos valores e habilidades, de geração à geração.

O primeiro princípio é a utilização da escrita para marcar a existência de forte hierarquia social e consolidar o lugar dos poderosos, o que se configura, obviamente, pelo tamanho concedido às imagens. O segundo é o estímulo à imitação, tendo as representações de obrigatoriedade instigar o respeito à ordem social e, pedagogicamente, ensinar a fazer isso, assim cos conhecimentos eram transmitidos de geração em geração. O terceiro é a metodologia de ensino, que consistia na cópia e na repetição. (BAKOS, 2001, p. 121).

Na educação egípcia, a família exercia fundamental importância na educação, pois ela era a responsável pela transmissão dos valores. Sobre a forma como as pessoas eram ensinadas tem-se pouco conhecimento. Entretanto sabe-se que nas primeiras etapas do desenvolvimento da linguagem, as palavras só tinham significado quando interagiam com as atividades práticas.
A vida, ao redor do Nilo, levou as pessoas a adquirirem e transmitirem alguns conhecimentos específicos, tais como a agrimensura, a matemática, a astronomia e a geometria. Desde pequenas as crianças iniciavam, da forma estruturada na cultura egípcia, a educação aliando a teoria à prática.

Há indícios de que, desde os três anos de idade, os meninos já eram ensinados a levar recados e alimentar os animais. Se no ano seguinte eles não fossem encaminhados para aprender a ler e a escrever, tais responsabilidades aumentavam paulatinamente até que, aos doze anos, eles recebiam efetivas tarefas nas lides do campo. Da mesma forma, as meninas, desde cedo eram levadas a participar das atividades da família. Aos sete anos já ajudavam na feitura do pão e na coleta de combustível para o forno. (BAKOS, 2001, p. 125).

Sobressaíram os egípcios em todas as artes práticas, como a engenharia, a agricultura etc., mas também se distinguiram nas ciências, especialmente nas matemáticas, na medicina, na astronomia. Cultivaram ainda com grande êxito as belas artes, como o demonstram a magnifica arquitetura, escultura e pintura dos templos e catacumbas. (LIZURIAGA, 2001, p. 27).

Na história do Egito Antigo, não aparecem escolas, não há evidencias de que elas existiram. O que se sabe, realmente, é que os pais eram responsáveis por ensinar seus filhos. Foi no Médio Reino ? 2040 a. C. a 1780 a. C ? que começaram a aparecer locais próprios para ensinar, chamados "casas de instrução", onde as crianças passaram a estudar e receber formação.
Sabe-se que os estudos compreendiam duas partes. Na primeira o estudante na memorização, através da cópia de listas de hieróglifos, numerados e classificados na categoria, juntamente com seus significados. Depois de passarem por esta primeira parte, os jovens iniciavam o exercício da composição e tinham acesso à cartas privadas e administrativas e finalmente aos textos religiosos, especialmente aqueles do deus da sabedoria, Thot, o qual era invocado no início de cada estudo. Depois eram iniciados nos textos literários, os de sabedoria e encerravam o ciclo copiando os romances e os contos. (BAKOS, 2001).
Na educação Egípcia era necessário decorar. A sabedoria estava condicionada ao domínio das fórmulas e não ao saber pelo saber. Ao que tudo indica a principal "arma" na educação deste povo era a de decorar tudo o que se podia, além de estar intimamente ligada com a religião. Vale ressaltar que essa educação, boa ou não, estava reservada aos filhos das classes superiores que comandavam as atividades, e tinham uma vida abonada, com várias regalias.
Com o tempo criou-se uma divisão na forma de ensinar. As escolas elementares ensinavam a ler, escrever e contar, estando destinadas ao povo. As escolas eruditas/superiores, exercendo formação integral, recolhiam os alunos nos templos até os dezesseis anos. Tais instituições estavam destinadas aos filhos dos funcionários, para formação de escribas, onde se ensinava todas as técnicas e artes necessárias à vida do país, assim como as normas da administração. Além disso, ensinava-se também a escrita, a astronomia, a matemática a agricultura, a música, a poesia e a dança. Era uma forma educação integral, visto que abrangia vários conhecimentos e atividades. (LUZURIAGA, 2001).

... O aluno ingressava com a idade de quatro anos e de onde saída, com o título, simples de escriba, apenas, aos dezesseis anos. O aprendizado da escrita era lento e servia apenas para expressar uma língua literária, arcaica e diferente da linguagem falada. Sobre os métodos de ensino pouco sabemos. (BAKOS, 2001, p. 126).

Os egípcios desenvolveram o estudo da matemática para uma finalidade prática, isto é, a construção das pirâmides e de obras públicas. Os egípcios "conheciam diversas operações matemáticas, entre elas a soma, a subtração, a extração da raiz quadrada e o emprego dos números fracionários". (ARRUDA, 1990, p. 63).
Segundo Arruda (1990) os egípcios calcularam a área do círculo e do trapézio, mostrando-se muito além das civilizações existentes naquele período da história. A astronomia ganhou valor, devido às preocupações com os fenômenos da natureza, levando-os a localizar alguns planetas e constelações. Foram responsáveis por organizar um relógio d´agua e um calendário solar, cujos princípios básicos são adotados até hoje. Dividiram o dia em 24 horas, a hora em minutos, segundos. Para eles, uma semana era composta por dez dias e um mês por três semanas. O ano possuía 365 dias e devido a necessidade de calcular as cheias do Nilo, desenvolveram a capacidade de precisão.
Quase tudo daquilo que se sabe sobre o Egito veio por meio da escrita que segundo Arruda (1990) apresenta três modalidades básicas diferentes: A hieroglífica, a hierática e a demótica. A hieroglífica era a escrita sagrada, encontradas nos túmulos e nos templos. A hierática aparece nos textos dos sacerdotes, constituindo uma simplificação da primeira. Por fim a terceira, a demótica era uma escrita popular, usada nos contratos redigidos pelos escribas.
O fato do Egito está isolado dos outros povos, pela própria localização geográfica, contribuiu para o desenvolvimento sem interferência externa. Não se sabe se isso foi positivo ou negativo. Como escreve Arruda (1990, p. 64) "O que caracteriza a cultura egípcia é sua profunda originalidade... De fato, a ligação egípcia era profundamente condicionada pelo quadro geográfico da região em que se desenvolveu, não podendo, por isso, ajustar-se ao meio ambiente de outras religiões".
A escrita egípcia, por ser baseada em figuras, permaneceu por longo tempo sem ser estudada, chegando até ser considerada uma forma de paganismo, pela Igreja. Entretanto alguns estudiosos conseguiram decifrar e entender que os símbolos expostos se tratavam de uma linguagem utilizada pelos egípcios.
Pode-se dizer como visto anteriormente, que o Egito Antigo prosperou devido a existência de alguns fatores: Rio Nilo, cheias, organização da sociedade, isolamento de outras culturas entre outros. Contudo, uma classe em especial ganha destaque: os escribas. "O escriba egípcio é uma peça indispensável da administração" (GIORDANI, 1992, p. 81).

...estudar o processo educativo dos escribas leva a refletir sobre as suas representações e necessidades, bem como nos procedimentos técnicos e no universo material presente no seu dia-a-dia e em valorizá-los. Assim, o estudo das suas práticas didáticas pode revelar aspectos importantes da cosmovisão dos antigos Egípcios. (BAKOS, CASTRO, PIRES, 2000, p. 142).

Os escribas tinham uma educação especial e rígida, visto que nem nos dias festivos era permitido folgar. No Antigo Império, 3500 a.C. a 2180 a.C., a escola destinada a formação dos escribas era chamada a casa da vida e ficava dentro da Corte. Era assim chamada porque os escribas, sábios nas ciências sagradas, interpretavam os velhos livros canônicos e compunham novos, formulando as legendas.
Os candidatos a escriba recebiam formação de funcionários com avançada instrução e vasta experiência na administração. Aqueles que se formavam nas escolas do Palácio, recebiam, ao final dos estudos, o título escribas do Rei. Aqueles que tinham sua formação nos templos, recebiam o título de escribas de Deus.
Segundo Giordani (1992) a disciplina severa tornava os castigos corporais frequentes, pois acreditavam que o adolescente escutava logo após apanhar. "Desde minha infância, estive junto de ti; tu batias no meu lombo e teu ensinamento entrou em minha orelha". (GIORDANI, 1992, p. 81). Os castigos podiam ser até com bastonadas.
Para realizar os exercícios que eram muitos e principalmente de caligrafia, cada aluno tinha um talo vegetal, uma tinta negra indestrutível, visto que as escritas permaneceram por milhares de anos, pedaços de argila, lâminas de pedra mole, pedaços de madeira. Para os alunos mais adiantados era concedido um pedaço de papiro. A prosperidade de cada escriba dependia de sua inteligência.
"As informações mais completas sobre o ensino dos escribas vem de Deir el Medina, uma vila de trabalhadores, situada no Alto Egito: em um pequeno e estreito vale, à margem esquerda no Nilo, em frente à cidade de Tebas". (BAKOS, CASTRO, PIRES, 2000, p. 155).
As escavações em Deir el Medina, mostraram que existiam escolas naquele espaço. Foram descobertos locais destinados ao ensino de uma pintura de tumba, numa sala de aula com uma estatua de Thot, deus da escrita e das ciências. Entretanto não se tem muitas informações de como realmente eram conduzidos os ensinamentos. (BAKOS, CASTRO, PIRES, 2000).
Por se tratar de uma educação bastante severa, era difícil atrair jovens para serem escribas. Embora estes tivessem uma posição elevada e cômoda na sociedade a formação era lenta, exaustiva e com grandes desafios, para os jovens que certamente tinham outras ambições além de copiar desenhos e estudar antigos documentos.
Além dos escribas, outros públicos, também recebiam formação especial, dado que eram necessário professores nos palácios, para ensinar os príncipes e as princesas e para filhos de outros monarcas, que eram enviados para estudar. (BAKOS, CASTRO, PIRES, 2000). Contudo, de modo geral, as meninas, assim como a grande maioria do povo, não recebiam instruções.
Os egípcios tiveram, assim como a maioria dos povos antigos, importantes contribuições na formação do "mundo social". Muito daquilo que eles criaram, sofreram algumas adaptações, e estão presentes nas culturas hodiernas.
Além dos aportes utilizados hoje, esse povo foi protagonista na educação, visto que soube estruturar-se e criar uma língua. É verdade que a educação estava direcionada para formação da elite e não disseminada entre todos. Entretanto esse aspecto permaneceu por muitos séculos em várias culturas, inclusive no ocidente.
É bem verdade que cometeram alguns equívocos ao pensar, por exemplo, que os alunos aprendiam mais e melhor após apanhar. Existem vários relatos de que a prática de castigos corporais eram aplicados tendo em vista o melhor aprendizado. Talvez não com esse intuito e sim como forma de coerção, essa prática tornou-se presente até bem pouco tempo atrás entre nós. Então, parece que não cabe aqui questionar, se eles agiam de forma correta ou não, sobre essa questão.
O Egito antigo destacou-se por vários fatores dentre eles a educação, a estrutura, a agricultura, a medicina, a matemática entre outros, porém chama a atenção o fato de terem criado uma escrita aceita e entendida. É bem verdade que por longo tempo as outras culturas não compreenderam o que significava e fizeram várias inferências errôneas. Mas ao descobrirem a riqueza que estava diante de seus olhos, começaram a estudar de forma aprofundada.
Cabe as pessoas que vivem aqui e agora, entenderem aquilo que aconteceu no passado tentando buscar melhorias para o presente e o futuro. Quem viveu no Egito antigo, bem ou mal, estava inserido naquele momento histórico. Cabe aquém vive no momento histórico presente, desenvolver e criar sua própria história que unida a outas, formar a sociedade.




Referencias


ARRUDA, José Jobson de A. História Antiga e Medieval. 13. ed. São Paulo: Átiva, 1990.

BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e Mitos do Antigo Egito. 2. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2001.

BAKOS, Margaret Marchiori. Origens do Ensino. Porto Alegre: Edipucrs, 2000.

CAMPOS, Raymundo. Estudos de História Antiga e Medieval. São Paulo: Atual,
1988.

GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 19. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.

MANACORDA, Mario Alighiero. Historia da Educação: da antiguidade aos nossos dias. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

O EGITO ANTIGO. Disponível em <http://www.fisgall.com/guia_do_estudante/Historia/Egito.pdf>. Acessado em 17/02/2011.

O EGITO ANTIGO. Disponível em <http://www.passei.com.br/tc2000/historiageral/hisger3.pdf>. Acessado em 15/02/2011.

VERCOUTTER, Jean. O Egito Antigo. 3. ed. São Paulo: Difel, 1986.