O DOCENTE UNIVERSITÁRIO, NOVOS ESPAÇOS EDUCACIONAIS E TECNOLOGIAS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

 

 Andréia Guimarães Moura

Graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP-EC; Pós-Graduadaem Docência Universitária: Métodos e Técnicas, pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP-EC

Email: [email protected]

 

Resumo: Este trabalho tem como objetivo discursar sobre as mudanças provocadas pelas tecnologias na sociedade, na maneira como ela faz e encara a educação, no espaço universitário e no perfil dos alunos que freqüentam as instituições superiores. Pretende abordar também os novos espaços educativos que se configuram frente a estas mudanças. Por ultimo tratará do novo papel do professor nesta realidade e de que forma ele se prepara para estar inserido neste novo contexto.

 Palavras-chave: tecnologias; educação a distância; docência universitária; novos espaços educacionais.

 

Abstract: This paper aims to speak about the changes brought by technology on society, the way it sees and participates in education, in the university area and the profile of students who attend institutions of higher education. It also aims to address the new educative spaces that take shape front of these changes. Finally it will deal with the new teacher’s role in this reality and how he prepares himself to be inserted in this new context.

 Keywords: technology; distance education; university teaching; new educational spaces.

 

Introdução

 

O mundo está em constante transformação. A maneira como as pessoas agem, pensam, se organizam, trabalham, reagem, enfim, lidam com a realidade, muda a todo tempo. Essa dinâmica é provocada pela presença das tecnologias na vida. O surgimento permanente de novas ciências, técnicas, modifica o homem e sua realidade, suas perspectivas. Para entender a natureza destas mudanças e o porquê de serem provocadas pelas tecnologias, primeiramente, precisamos entender o que é tecnologia. Para Kenski (1998), tecnologia é qualquer coisa que o homem cria e utiliza para garantir sua sobrevivência e uma melhor qualidade de vida. Portanto, quando o homem criou o fogo ou a roda, por exemplo, estava disponibilizando à seus contemporâneos uma tecnologia que, mais que facilitar sua sobrevivência, modificaria completamente a realidade daquela sociedade.

Cada tecnologia criada muda a maneira de o homem ver o mundo porque afeta diretamente suas memórias e conseqüentemente seus conhecimentos. A memória é a maneira como o homem movimenta seus conhecimentos. É através do que foi preservado que o homem analisa seu próprio passado e determina, reformula, cria parâmetros de comportamentos futuros. Portanto, a maneira como este conhecimento foi preservado, memorizado, a tecnologia utilizada para imortalizar fatos e realidades é absolutamente fundamental para definir as mudanças pelas quais determinada sociedade vai passar. Quando o homem deposita suas memórias nas tecnologias “desde as mais primitivas – como cerâmica, o barro, o ferro, o bronze, a pedra – até os mais atuais – como a fotografia, a gravação em vídeo ou por meio do computador, o homem altera as suas próprias formas de se lembrar do passado” (KENSKI, 1998, p. 59). É um ciclo vicioso. A memória preservada por certa tecnologia acaba possibilitando a criação de novas tecnologias que, conseqüentemente, mudam a realidade da época e criam novas maneiras de memorizar o conhecimento. Este novo conhecimento preservado vai proporcionar a criação de outras tecnologias, que produzirão outros conhecimentos, outros comportamentos, valores, ideologias e assim o ciclo se repete.

Não se pode dizer, portanto, que se vive hoje uma “era tecnológica”. Cada época da história humana teve sua tecnologia correspondente. Em todo o tempo que se passou para que a sociedade chegasse ao momento atual, houve para ela, respectivamente, uma série de tecnologias que fizeram do homem daquele momento o mais evoluído, o mais esperto. “Tudo o que utilizamos em nossa vida diária, pessoal e profissional – utensílios, livros, giz, apagador, papel, canetas, lápis, sabonetes, talheres... – são formas diferenciadas de ferramentas tecnológicas” (KENSKI, 2010, p.19).

Voltando ao ponto, a evolução social do homem se mescla completamente com sua evolução tecnológica. A medida em que ele avança cientificamente, muda seus comportamentos sociais. Estes novos comportamentos trazem novos olhares para as tecnologias que, consequentemente, acabam evoluindo, se reconstruindo. O homem evolui socialmente por causa da tecnologia e sua evolução social possibilita nova evolução tecnológica.

O que acontece hoje é uma sucessão meteórica de tecnologias a cada minuto. O ciclo existente entre o surgimento de novas tecnologias e evolução social do homem caminha em uma velocidade surpreendente. Há o que Kenski (1998) chamou de banalização das tecnologias eletrônicas e de informação. O fácil acesso que as pessoas tem à tecnologias como celulares, emails e internet muda radicalmente a maneira como elas pensam e vêem o mundo e principalmente como encaram a educação. Muda a forma de se comunicar, de buscar e adquirir conhecimentos.

Os pontos que este artigo procurará discutir estão intimamente relacionados a esta dinâmica das tecnologias e sua influencia na educação universitária. Como as tecnologias mudaram o ambiente educacional e suas necessidades, como o perfil dos estudantes universitários se modificou por influência das tecnologias e como o professor universitário deve se portar neste novo ambiente e se preparar para atender às novas demandas desta educação tecnológica.

 

O novo perfil universitário e os novos ambientes educacionais

 

Até pouco tempo atrás a educação era limitada a um período de tempo específico. Tempo em ambiente educacional e tempo de vida. Ou seja, as pessoas frequentavam a escola por um período diário apenas e durante alguns anos de sua existência. Passado este tempo a educação era considerada finalizada. A pessoa já estava em posse de todo o conhecimento possível.  Hoje, a velocidade com que a tecnologia se transforma impõe novos ritmos para o ensinar e o aprender. Se está constantemente aprendendo. Não se pode parar no tempo, é preciso estar em constante aprendizado.

Kenski (1998) afirma que, antes, o estudante se movimentava até o conhecimento. Ele se deslocava até a escola, a fonte do saber, ele ia até a informação. Hoje quem se movimenta é o conhecimento.

 

E estes novos conhecimentos deslocam-se em dois sentidos: o primeiro, o da espacialidade física, em tempo real, sendo possível serem acessados através das tecnologias mediáticas de ultima geração. O segundo, pela sua alteração constante, transformações permanentes e sua temporalidade intensiva e fugaz. (KENSKI, 1998, p. 60)

 

Os novos métodos, modelos de acesso ao conhecimento, à informação também modificam o perfil de estudantes que passam a frequentar as universidades. Até então costumava-se classificar o universitário como um indivíduo em primeira formação e entre 18 e 24 anos. Nóvoa (2000) explica que no futuro cada vez mais isso se transformará. No ambiente universitário serão encontradas pessoas de 30, 40 e 50 anos buscando formação. Não haverá, também, uma mudança apenas na faixa etária. Os interesses de quem busca a universidade também serão diferentes. As pessoas buscarão a instituição para formação continuada, para valorizar-se profissionalmente, para atualização, entre outras coisas.

Consequentemente a universidade precisará mudar seus métodos e seu discurso. Só assim conseguirá atender uma demanda tão diversa de pensamentos, interesses, um grupo de pessoas cada vez mais conectada e que pode ter (e tem) acesso a informação por diversos mecanismos. Moran (2007) acredita que há um descompasso crescente entre os modelos tradicionais de ensino e as novas possibilidades que a sociedade já desenvolve informalmente e que as tecnologias atuais permitem. Para ele, as mudanças que acontecem na sociedade são tão imensas que é preciso reinventar a educação em todos os níveis e em todas as formas.

Antes existiam espaços específicos onde estava o conhecimento. Campus universitário, bibliotecas, laboratórios. Hoje o saber viaja para qualquer lugar. Enquanto isso, a universidade se distancia cada vez mais rapidamente da sociedade, das demandas atuais. Sobrevive em seu atual formato, apenas porque é um espaço obrigatório legitimado pelo estado (MORAN, 2007, p. 22). As pessoas quebram com a lógica do conhecimento estruturado, o conhecimento disponibilizado tradicionalmente pela universidade. As tecnologias as viciam em uma busca desenfreada por informação. Isso muda completamente a maneira como elas buscarão aprender as coisas. Formam uma massa que está em constante atualização, aprendizagem, onde os limites do “ser professor” e do “ser aluno” já não existem mais (KENSKI, 2003, p. 101).

Portanto, é necessário mudar o ambiente tradicional da universidade: a sala de aula. Moran (2007), Nóvoa (2000) e Kenski (2003), acreditam que no futuro a sala de aula, como a conhecemos, deixará de existir. Consequentemente as aulas presenciais no formato utilizado até agora também.

 

Os métodos de organização da aprendizagem precisam ser urgentemente repensados, modificados, com coragem e efetividade, porque sua inadequação às possibilidades, aos tipos de aluno e às necessidades torna-se cada vez mais dramática. (MORAN, 2011, p. 21).

 

            Moran (2007) acredita também que em um futuro muito próximo a universidade se estruturará oferecendo todo tipo de cursos. Individuais online, cooperativos online, semi-presenciais, etc. A única coisa que não deve continuar a mesma são os modelos atuais utilizados. Estes modelos não sobreviverão. Exatamente porque não atenderão mais as necessidades de um público que surge da efervescência tecnológica. “Com as tecnologias podemos flexibilizar o currículo, multiplicar os espaços, os tempos de aprendizagem e as formas de fazê-lo” (MORAN, 2007, p. 45).

Nesta nova realidade é preciso integrar presencial e virtual. Diminuir as distâncias entre os dois métodos. Se conduzidos separadamente são incompletos. As universidades precisam estar abertas ao processo de aproximação e integração entre virtual e presencial. Nesta tentativa a universidade se depara com fortes obstáculos. Inicialmente porque há um preconceito muito grande atualmente com a Educação a Distância. Acredita-se que a aplicação do conteúdo é fraca, há pouca disciplina na aferição dos resultados, o estudo é solitário. Existe um permanente conflito entre educadores humanistas e educadores tecnológicos. Os primeiros defendem a interação pessoal no ensino, o olho no olho, a sala de aula. O segundo tipo defende a rapidez, facilidade e baixos custos da Educação a Distância. O ponto em questão não é apoiar nenhuma destas vertentes, mas encontrar o equilíbrio entre os métodos. Para as duas linhas de pensamento Kenski (2003, p.75) responde que “novas tecnologias e velhos hábitos de ensino não combinam”. Segundo a autora (2003) a idéia não é adaptar o ensino tradicional as tecnologias, ou abandonar completamente o estilo conservador. Toda a educação é que precisa ser mudada radicalmente, é preciso encontrar o meio termo.

É preciso trazer os humanistas para o ensino virtual e vice versa. Na educação presencial morre a idéia de que só é possível aprender em lugar e espaço pré-definido. Já na educação a distância perde-se pouco a pouco o conceito de que esta é uma atividade solitária que exige grande auto-disciplina. A cada dia há mais interação em ambos os métodos. Chats, videoconferências, salas de estudo organizado, entre outros. A educação presencial incorpora técnicas da EAD (Educação a Distância) e a EAD passa a conduzir um ensino menos individualista, mais colaborativo, interativo, flexível (MORAN, 2007, p. 93).

As tecnologias redimensionam o espaço “sala de aula”. Primeiro, porque ela se torna mais coadjuvante e não protagonista. Competindo com ela estariam outros locais de acesso ao conhecimento. Museus, bibliotecas, laboratórios, centros de pesquisa, a própria internet. Segundo, porque seu próprio espaço físico começa a ser dividido com ambientes tecnológicos. Uma sala com computadores, uso de notebooks, ipads, etc.

Portanto, este ambiente (a sala de aula) como local de ensino, precisa ser redefinido. Com o tempo ele passará apenas a ser o lugar de encontro inicial e final. Haverá a reunião no começo do curso para discutir propostas e métodos da matéria. Na sequencia o aluno passará a diversos tipos de ambientes onde desenvolverá o conhecimento por meio de pesquisa e experimentação. Num ultimo momento ele volta a sala de aula para discutir os resultados obtidos durante o processo de construção deste conhecimento. Os encontros, apesar de menos freqüentes passam a ter mais qualidade, a ser mais intensos. Perde-se a dispersão causada pela obrigação constante de estar naquele local em determinado período. Os encontros passam a ser marcados por maior interação, mais conteúdo, mais atenção, mais qualidade. Há maior satisfação por parte dos alunos e uma troca mais rica de conhecimentos (MORAN, 2007, p. 95).

Para Moran (2007) a própria sala de aula deixa de ser aquele espaço cru para se tornar mais preparada, mais tecnológica. É preciso que ela esteja equipada com recursos necessários para que o professor conduza com sucesso o ensino. Computador, projetor multimídia, acesso a internet, etc. Isso transforma completamente a idéia de sala de aula como concebemos hoje. Muda a sala de aula e o próprio campus universitário (KENSKI, 1998, p. 68). Neste novo conceito, uma sala onde o aluno deixa de ser mero espectador e passa a ser participante ativo na construção do conhecimento, a sala de aula se transforma em um espaço em que se dá a construção da “inteligência coletiva” (LEVY apud KENSKI, 1998, p. 69). Nesta nova sala nada é fixo, mas tudo se ordena. Há um equilíbrio de métodos. Há conteúdo a ser explanado, mas ele está aberto as interferências externas.

Moran (2007) acredita que ao manter os processos burocratizados e engessados utilizados atualmente, a universidade não poderá formar cidadãos aptos para a sociedade da informação. Pessoas empreendedoras, comunicativas, pró-ativas e criativas. Essas qualidades estão intimamente ligadas ao processo de incentivar o aluno a construir seu próprio conhecimento. Isso, na nova universidade e na nova sala de aula é feito pelo aluno por meio de uma relação colaborativa com professores, colegas e com as tecnologias disponíveis. “O ensino deve ser focado em projetos, pesquisa, colaboração presencial-virtual, individual-grupal” (MORAN, 2007, p. 71).

O resultado de todas estas mudanças se refletirá no surgimento de diversos espaços onde se dará a relação do aluno com o conhecimento. Os próprios prédios universitários passam a se reestruturar para atender este novo perfil de alunos, os novos métodos de aulas. Haverão menos salas de aula, melhores equipadas. Neste locais os alunos terão acesso às tecnologias facilmente. Poderão utilizar todo o tempo seus notebooks. A aula presencial deixa de ser a constante. Bibliotecas passam a ser novos espaços para encontros grupais de pesquisa e aprofundamento (MORAN, 2000, p. 55).

O aluno se relacionará constantemente de maneira virtual com o professor. O próprio mestre se encarregará de criar estes espaços online onde haverá debate, apresentação de resultados das pesquisas, espaço para tirar dúvidas ou para abordar aspectos mais tangenciais ao conteúdo propriamente dito. Quando as aulas presenciais se tornarem mais esparsas e, consequentemente, mais ricas, o aluno usará seu tempo em outros espaços educativos. Se reunirá com os colegas em grupos de estudo, pesquisará sozinho em bibliotecas e na internet, visitará locais em que possa observar a aplicação prática do conteúdo que está estudando, enfim, a gama de atividades relacionadas à sua construção de conhecimentos será enorme e diversa. Os espaços educacionais se multiplicarão, contemplando principalmente o ensino a distância. Quanto mais a sociedade se conecta através da internet, mais reais vão se tornar os ambientes educacionais a distância. Não vai haver mais necessidade de todos estarem no mesmo ambiente, ao mesmo tempo para que o aprendizado seja conduzido.

Behrens (2000) acredita que esta nova realidade também provocará uma reflexão a respeito da atemporalidade da educação. A graduação não será o fim de uma educação. O aluno não poderá se considerar pronto para vida e para o mercado simplesmente por ter concluído este estágio. A educação passará a ser considerada como algo permanente. Nunca terminará. Sempre haverá conhecimento a ser ampliado, a ser reconstruído e os profissionais do futuro estarão nas universidades em constante processo de atualização.

Na nova universidade, o ponto em questão não é apenas tentar encaixar equipamentos tecnológicos na educação tradicional. Este contexto tecnológico exige uma pedagogia que favoreça aprendizados personalizados e cooperativos em rede. Então como conduzir um ensino de qualidade, que contemple o melhor da educação presencial e o melhor do ensino a distância, como saber o que ensinar em meio ao tsunami de informações disponíveis, enfim, como ser um docente universitário neste contexto? “Uma nova competência que precisa ser desenvolvida hoje é a de saber conviver nos espaços virtuais” (MORAN, 2007, p.67). E mais: “O ponto fundamental na nova lógica de ensinar utilizando-se das redes é a redefinição do papel do professor” (KENSKI, 2003, p.93).

 

O professor universitário neste contexto e a nova grade curricular

           

“O que” e “como” ensinar é a constante pergunta que domina a mente do educador universitário da atualidade. Mais que entender que o perfil do aluno está mudando é preciso mudar a própria perspectiva do ato de ensinar. Entender que o processo ensino-aprendizado tem inúmeras possibilidades, rotas. Neste caso, independentemente de usar ou não as tecnologias na aula é preciso mudar o jeito de dar aula. Mudar o procedimento didático. O professor não deve se posicionar como o detentor absoluto do conhecimento. Deve se considerar um pedagogo no sentido clássico da palavra. Aquele que conduz o aluno na viagem em direção às fontes do saber. Isso significa “orientar o aluno diante das múltiplas possibilidades e formas de alcançar o conhecimento e se relacionar com ele” (KENSKI, 1998, p.68).

            Com o avanço da sociedade da informação conhecer é um processo complexo. Ao mesmo tempo que se tem todo tipo de informações à mão, como classificar o que importa, o que é certo, válido? E apesar de tudo isso espera-se que o professor seja um especialista em conhecimento. É importante entender o que Paulo Freire dizia. Ensinar não é mera transmissão de conhecimentos, é possibilitar que este conhecimento se produza, se construa. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, apud, MORAN, 2007, p. 43)

            Moran (2007) acredita que a maioria dos professores que ingressa no Ensino Superior não está preparada didaticamente para o trabalho. Não sabem como inovar, como explorar talentos, como modificar o ensino, como avaliar, como incentivar. A sobrecarga de trabalho os obriga a formatar os métodos. Seguem apenas a velha receita da provinha e da repetição em sala de aula. Dão aulas superficiais. Há grande desmotivação no processo ensino-aprendizagem. Tanto professores quanto alunos se desanimam com a uniformidade, com as dificuldades de locomoção para estarem todos sempre na mesma sala de aula, nos mesmos horários, na mesma grade. Os docentes se tornam professores medíocres. Repetidores de pensamentos e idéias, mal interpretadores das teorias que utilizam, acomodados. “Como podem ensinar se não sabem aprender?” (MORAN, 2007, p. 19).

            É preciso, portanto, reinventar métodos para educar neste contexto tecnológico. Kenski (2003, p. 74) afirma que

 

As características dessas novas formas de ensinar baseiam-se na consciência sobre as alterações nos papéis dos professores e das escolas no oferecimento de oportunidades de ensino; na ampliação das possibilidades de aprendizagem em outros espaços, não escolares; possibilidade de oferecimento de ensino de qualidade em espaços, tempos e lugares diferenciados (presenciais e a distância); no oferecimento do ensino ao aluno, a qualquer momento e onde quer que eles estejam; e no envolvimento de todos para a construção individual e coletiva dos conhecimentos.

 

            Olhando a educação destas novas perspectivas, com a mente aberta, o próprio processo educativo se transforma. Professores deixam de ser transmissores e passam a compartilhar, interagir aprender e ensinar, ao passo que o aluno deixa de ser mero receptor e passa a participante ativo na construção do saber, na investigação, na troca de experiências. Os encontros presenciais importam, neste contexto, porque servem para que haja uma discussão mais profunda dos conceitos pesquisados e experimentados. Deixa de existir uma verdade absoluta (transmitida geralmente em aulas expositivas) e passa-se a olhar tudo como verdades em construção, conhecimentos relativos ao momento da pesquisa. A educação pelas tecnologias explora muito mais os diversos sentidos do que a tradicional (KENSKI, 2003, p. 74 e 75).

            “A aprendizagem na sociedade da informação não pode permanecer confinada à sala de aula, aos modelos convencionais. Um dos eixos fundamentais é mudar a configuração da escola, do currículo e do educador” (MORAN, 2007, p. 71). A educação deve adotar e lutar por espaços mais flexíveis, menos formatados e impositivos em que o professor se torne um tutor, um mediador, um orientador dos alunos.

            Para Moran (2004) os professores, em qualquer curso presencial, precisam aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. Na nova sala de aula o professor deixa de ser a babá que dá o conteúdo mastigado, para ser o instigador do conhecimento. O objetivo é “encontrar uma lógica dentro do caos de informações” e depois “questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, modificá-la”. Isso é feito através de diversos recursos tecnológicos. Video, áudios, acesso a internet para pesquisa, análise de experiências práticas, etc.

 

Antes o professor só se preocupava com o aluno em sala de aula. Agora continua com o aluno no laboratório (organizando a pesquisa), na internet (atividades a distância) e no acompanhamento dos projetos, das experiências que ligam o aluno à realidade, à sua profissão (ponto entre a teoria e prática) (MORAN, 2004, p. 247).

 

            Na nova universidade o professor conduzirá o que chamamos de ensino colaborativo. Uma educação onde ele deixa de ser o centro do conhecimento e passa a ser um mero participante (e também aprendiz) do processo de construção do saber. Moran (2007) explica que a aquisição de conhecimento dependerá cada vez menos do professor. Isso pode ser adquirido facilmente por meio das tecnologias. O principal papel do professor será ajudar o aluno a interpretar estes dados, relacionar e contextualizar este conhecimento. Para isso o professor precisará aprender a trabalhar com diversas tecnologias. Desde internet banda larga até videoconferências. “Ele precisa ter flexibilidade para adaptar-se a situações muito diferentes e sensibilidade para escolher as melhores soluções possíveis para cada momento” (MORAN, 2007, p. 36).

            Kenski (2003), afirma que na aprendizagem colaborativa não existe centro do saber. Cada um é um centro. O ensino não busca ser igualitário, massificador. Isso é o que os professores tradicionais são ensinados a fazer. Educam para que todos alcancem determinado patamar. Na educação colaborativa cada um aprende conforme seu interesse, habilidade, cada um faz as sinapses que lhe interessam. A informação, o conhecimento está em constante circulação, em constante mudança. Moran (2007) parte deste ponto ao afirmar que o currículo das instituições deve começar a se adaptar ao aluno. Cada estudante teria seu tutor, seu orientador, e juntos organizariam o estudo, as disciplinas, a grade, conforme a conveniência e habilidades do aluno. Ele também faz questão de deixar claro que “no modelo atual, massificador, essa proposta é ingênua, mas é possível viabilizá-la em instituições sérias com projetos pedagógicos avançados” (MORAN, 2007, p. 101).

            A cada dia mais as aulas na universidade se encaixarão em dois moldes. As “aulas-informação” e as “aulas-pesquisa”. Na primeira, o professor expõe sua síntese. Pode ser presencial, por tele ou videoconferência, para 1 ou mais salas. Na segunda, o aluno procura o conhecimento usando a internet e outras tecnologias para pesquisa. Uma pesquisa colaborativa. Todos vão construindo o conhecimento em colaboração. O professor orienta este procedimento. Os resultados são analisados em sala e podem ser publicados na internet. Nota-se que a Educação a Distância é a tendência. Para que esta educação funcione, obviamente o professor precisa entender e aceitar o que este tipo de ensino significa. Ele precisa ser preparado para ministrar estes tipos de aula e ao mesmo tempo precisa encontrar seus próprios métodos para gerenciar este tipo de educação.

            Essa nova reorganização modifica o conceito de tempo e trabalho docente. O trabalho do professor deixa de se concentrar apenas nas horas de sala de aula e de preparo em casa. Passa a compreender uma série de outras atividades. Discussões entre colegas sobre as novas metodologias, tempo em congressos e novos cursos de aperfeiçoamento, tempo para pesquisa nos ambientes tecnológicos, etc. (KENSKI, 1998, p.70)

            Moran (2007) comenta que educar a distância exige muito mais dedicação do professor. Ao mesmo tempo, facilita a vida do aluno porque, por ela, é possível adaptar currículos personalizando a aprendizagem ao ritmo de vida específico do estudante. Muda a relação do professor com o tempo e o espaço educativo. A comunicação pode se dar todo o tempo através de diversos meios (email, chats, sala de aula, fóruns, etc.). O professor se torna mais flexível. É expositor, mas também é gerenciador de novos conhecimentos.

            Na realidade brasileira o que mais será levado a cabo futuramente na educação são os cursos semipresenciais. Já se vive uma realidade semipresencial. Celulares, internet, ipads, a sociedade está constantemente conectada. Isso cria relações semipresenciais. Neste tipo de ensino, haverá um encontro inicial para conhecimento, passando para diversas atividades conduzidas a distância e, ao fim, um reencontro para troca de impressões e novos conhecimentos. A educação também deve caminhar, como já mencionado, para um viés mais personalizado. Os alunos poderão escolher (independentemente de ser presencial ou a distância) disciplinas que lhes interessem, que tenham a ver com seu perfil e que contribuam para uma formação única.

            Moran (2007) acredita que a Educação a Distância online liberta o ensino da idéia de que um professor e um pequeno grupo de alunos é o único modelo possível. Um professor pode gerenciar aulas a grupos enormes de alunos, pode palestrar, tutoriar, orientar, pode ser responsável por uma disciplina com milhares de alunos. A Educação a Distância online nos leva a um princípio tão enfatizado nos últimos tempos: o foco deve ser a aprendizagem e não o ensino. Na Educação a Distância online o papel do professor muda radicalmente. Ele deixa de ser o centro, o informador, o que tira as dúvidas. Ela passa a ser um gerenciador, supervisor, mais orienta que explica. A idéia é que isso passe a acontecer também na educação presencial. Mas para isso é preciso superar o modelo que prega a centralidade do professor.

Moran (2000) ainda enfatiza que os cursos presenciais devem a cada dia mais se encaixar neste modelo. O professor aplicará técnicas da educação a distância em suas aulas presenciais. Os alunos poderão realizar várias atividades fora da sala de aula, em cooperação mútua, por meio do acesso a internet. Não haverá mais a necessidade do encontro diário em sala de aula, da rotina dos horários. “A aprendizagem será mais tutorial, de apoio, ajuda. Será uma aprendizagem entre pares, entre colegas, entre mestre e discípulos, conectados em rede, trocando informações, experiências, vivências” (MORAN, 2007, p. 146). Se aprenderá em qualquer lugar, em qualquer tempo.

É claro que durante este processo de transição entre a educação tradicional e os novos caminhos do ensino impostos pela sociedade da informação, pela “era tecnológica”, nem tudo será um “mar de rosas”. Kenski (2003) ressalta que a grande frustração de muitos professores que se envolvem com os ambientes tecnológicos, que tentam migrar suas aulas para este universo, provém do fato de que continuam conduzindo uma aula tradicional, nos mesmos moldes expositivos, usando as tecnologias apenas como apoios tangenciais. Isso é um engano. A idéia não é que o professor aprenda simplesmente a mexer no computador. Ele precisa ser preparado para olhar o ensino sobre novas perspectivas. A tecnologia não é suporte, é o caminho.

Outro ponto que precisa ser enfatizado é que o primeiro passo para que a educação nestes moldes se concretize é quebrar o preconceito. Alguns alunos rechaçam esta nova realidade da educação tecnológica porque acreditam que o papel do professor ainda é ficar falando em sala de aula e o papel dos alunos ainda é apenas escutar. Rejeitam a idéia de construir o próprio conhecimento através da pesquisa direcionada. Ainda querem receber tudo pronto. Por outro lado, alguns professores, da mesma forma, se recusam a enquadrar-se neste novos métodos porque acreditam que isto é apenas desculpa para ficar “brincando” em sala de aula (MORAN, 2000, p. 54).

Os professores do futuro são aqueles que estarão preparados para lidar com os novos espaços educacionais, o novo perfil de alunos, enfim, com as novas demandas universitárias. Para aqueles que analisam estas novas necessidades e se inclinam a pensar que o papel do professor está perdendo sua importância, seu valor; para os que imaginam que a nobreza de educar se perde frente às novas funções que o mestre deve assumir; Moran (2007, p.150) responde sabiamente:

 

O professor continua sendo importante, não como informador, nem como papagaio repetidor de informações prontas, mas como mediador, como organizador de processos. Ele é um articulador de aprendizagens ativas, um conselheiro de pessoas diferentes, um avaliador de resultados. Seu papel é mais nobre, menos repetitivo e mais criativo do que na escola convencional.

 

Considerações finais

Em síntese, vive-se em uma sociedade que reconstrói seus comportamentos, valores, ideologias permanentemente. Resultado desta realidade em que as tecnologias surgem e se tornam obsoletas em um mínimo espaço de tempo. É a tecnologia evoluindo minuto a minuto e provocando na sociedade o mesmo movimento. O de transformação e reconstrução todo o tempo. Essa é a sociedade da informação. Uma sociedade voltada para as mídias, para as redes sociais, para o universo tecnológico. Uma sociedade em uma busca desenfreada por informação, conhecimentos. Esse comportamento muda radicalmente a maneira como as pessoas encaram a educação. Seus métodos, sua função, sua utilidade. Muda o perfil de quem procura o ensino universitário e as expectativas depositadas nos métodos das instituições. Para atender a esta nova demanda tanto universidade quanto docentes precisarão reconstruir suas práticas. Acompanhar as revoluções tecnológicas e as necessidades criadas por elas.

Caminha-se para uma realidade totalmente diferente da que conhecemos hoje. Será uma sociedade conectada, que se vai se comunicar, interagir e aprender de maneiras inimagináveis hoje. Todos estarão conectados à informação por diversos meios (celulares, ipads, TVs digitais, computadores portáteis). Com tanta informação disponível, as formas de aprender vão ser diversas e a maneira de organizar o ensino também. Cada sala de aula estará conectada, aberta ao mundo. Serão locais para pesquisa, publicação, debates presenciais e virtuais, avaliação. O professor perderá seu papel centralizador para se tornar uma peça muito mais importante. O elo que vai guiar o educando através dos caminhos do saber. O tutor, o gestor, o orientador, aquele que incentiva o debate necessário para a reconstrução do conhecimento. Seu trabalho será mais intenso, exigirá mais dedicação, mais reflexão, melhor preparo. O professor se torna o maestro. Esta sempre mobilizando orientando a orquestra, está sempre presente, mas o som resultante é feito pelos músicos sob sua batuta.

 

Referência bibliográfica

 

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