O DOCENTE DO ENSINO SUPERIOR E AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Rosangela de Abreu Guimarães
Pós graduada em Psicopedagogia, Pós graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FEFIS), Professora do 1º e 2º Segmentos do Ensino Fundamental
[email protected]


Resumo: O presente trabalho analisa o docente do Ensino Superior, destacando a importância do conhecimento e da utilização das relações interpessoais no ambiente de ensino-aprendizagem.Destaca também a importância de saber o que é o multiculturalismo e da necessidade de desenvolver nos educandos o respeito às diferenças. Palavras-chave: Docente do Ensino Superior ? multiculturalismo ? relações interpessoais.

Abstract: The present study examines the teaching of higher education, highlighting the importance of knowledge and use of interpersonal relationships in the education environment-aprendizagem.Destaca the importance of knowing what is multiculturalism and the need to develop in students respect for differences .
Key-words: The Teacher or Higher Education ? mlticulturalism ? interpernonal relationships



Quando leio a palavra "docente" minha mente me reporta à palavra "doce". E não consigo pensar num docente que não seja ...doce. Ou, pelo menos deveria ser. Não o doce enjoativo que nos repugna, mas o doce pelo qual salivamos de vez em quando; sim, por mais estranho que pareça, salivamos por explorar o nosso prazer de aprender, de aumentar o nosso conhecimento, incentivando-nos a transformá-lo em saber. E penso, pronunciando para mim mesma: "cente", que em meus pensamentos me faz lembrar "sente"(do verbo sentir, e não do verbo sentar"). Porque ensinar e aprender requerem sentir. Um sentimento profundo de vontade de aprender, de vontade de ensinar, de compartilhar experiências, informações, conhecimentos e da vontade de quebrar o pré-conceito do sentar para aprender. Da vontade de não aceitar o "ensino "bancário", que deforma a necessária criatividade do educando e do educador" (FREIRE, 1996, p. 25).
Não nos descobrimos docentes por acaso. Nos transformamos em docentes gradativamente, à medida que estudamos, aprendemos, nos dispomos a "ensinar" e que aceitamos fazer parte dessa via de mão dupla que é o aprender  ensinar. Nos transformamos à medida que nos preparamos e acreditamos naquilo que somos e no que queremos ser.
Para ser um docente é necessário, antes de mais nada, uma formação acadêmica adequada à responsabilidade a ser assumida; que nos dê a competência que transformaremos em habilidade: a de ser docente do Ensino Superior.
Entretanto, não basta ter a formação acadêmica. É preciso aprender a lidar com o imprevisível, conhecer estratégias diversificadas, saber e desenvolver relações interpessoais, ter sensibilidade, saber ser líder, entre outras habilidades. É lembrar-se que "a prática educativa tem de ser, em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza" (FREIRE, 1996, p. 33, sem esquecer-se do seu "caráter formador" (FREIRE, 1996, p. 33). É preciso saber ser mais que professor, é preciso aprender a ser mestre pois "O professor impõe o aprendizado, precisa cobrar a matéria. O mestre desperta a vontade de aprender" (TIBA, 1998, p.62).
Ser docente do Ensino Superior requer, aliado ao estudo contínuo, uma vontade de estabelecer vínculos com seus aprendizes. E "Quanto melhor for a integração relacional, maior será o desejo de aprender o que não se sabe" (TIBA, 1998, p.49). Estabelecidos esses vínculos, essa integração relacional, estará aberto um "canal facilitador" da aprendizagem. Estarão estabelecidas relações interpessoais, "(...)facilitando a comunicação e as linguagens(...)" (ANTUNES, 2003, p.9). Não é possível pensar a prática docente, em qualquer nível que ela aconteça sem que se desenvolva a "indispensável amorosidade aos educandos com que me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte" (FREIRE, 1996, p. 67).
Estabelecer essas relações interpessoais não significa perder o foco do ensinar, mas adequá-lo a um ensinar mais humano, mais comprometido com o crescimento integral dos seres humanos.
Defendo, por fim, que todo professor deveria, ao menos, experimentar o tratamento humano para verificar, facilmente, que os alunos reagem de modo sempre positivo. Relacionar-se com o aluno de centelha humana para centelha humana é o melhor que se pode fazer em termos da relação entre professor e aluno, afirmo, com conhecimento de causa. (SIMKA, 2010, pp.13-14).

O docente do Ensino Superior deverá utilizar-se de todas as ferramentas que estiverem ao seu alcance para facilitar o acesso dos seus alunos ao conhecimento, servindo-se das relações interpessoais, sem se esquecer da riqueza que a diferença poderá proporcionar, para desenvolver um ambiente agradável e propício à aprendizagem. "Não posso, por outro lado, negar que o meu papel fundamental é contribuir positivamente para que o educando vá sendo o artífice de sua formação com a ajuda necessária do educador". (FREIRE, 1996, p.70)
A riqueza que a diferença proporciona desenvolve um ambiente agradável e propício à aprendizagem sempre que o docente do Ensino Superior leva em consideração "...que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas ? mas que elas vão sempre mudando", pois uma das características necessárias ao ser humano é perceber-se e aceitar-se um ser inacabado. "Na verdade, o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente". (FREIRE, 1996, p.50).
E é a partir dessas diferenças que, através das relações interpessoais, as opiniões podem ser modificadas. A partir do convívio, da troca de experiências e da troca de conhecimentos, os seres ainda inacabados, vão se deixando aprimorar, vão buscando a evolução e a transformação desse novo conhecimento adquirido em saber, "a aceitação do novo, que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas cronológico" (FREIRE, 1996, p.34).
Não basta que o docente tenha em mente que a cultura é um processo contínuo. É necessário que reconheça que existem diferenças culturais e respeite-as, levando seus alunos a respeitarem também.
O multiculturalismo apregoa uma visão da vida e da fertilidade do espírito humano, na qual cada indivíduo transcende o marco estreito da sua própria formação cultural e é capaz de ver, sentir e interpretar por meio de outras tendências multiculturais. (MACHADO, 2002. p.37)

Nesse universo multicultural, o professor necessita aprender a lidar com as culturas que são diferentes da sua, não impondo sua cultura como a correta. E precisa incluir essas diferenças no seu planejamento, trazendo-as para a sala de aula onde, através da troca, serão disseminadas gradativamente, gerando modificações em quem se deixar modificar, pois "A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original" (EINSTEIN). Precisa propiciar aos alunos a possibilidade de se assumirem como seres, sem que excluam-se, por suas diferenças. "Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar" (FREIRE, 1996, p. 41).
Essa riqueza multicultural nos mostra que é na diversidade de pensamentos que novos vão surgindo, muitas vezes através da modificação de outros que já existiam. Nossas ideias vão se modificando constantemente sempre que estamos dispostos a aumentar nossos conhecimentos e sempre que estamos em contato com outros seres pensantes. E, quanto maior a diferença, maior a chance de uma grande modificação, considerando-se que novos pontos de vista são apresentados. Essa diversidade multicultural deverá ser aproveitada, desde que o docente não coloque sua cultura no centro de tudo e busque um equilíbrio entre as diversas culturas tendo o conhecimento que "(...) a cultura jamais pode ser entendida como harmoniosa ou consensual(...)" (SOARES, 2006).
Tendo a noção do tamanho das diferenças, cabe ao docente do Ensino Superior aproveitá-las no seu planejamento, tentando aproximá-las no que podem e tirando o máximo de informações para o aprimoramento de todos que fazem parte daquele grupo de aprendizagem. Cabe ao professor ter consciência que apesar da diversidade, as pessoas estão em constante aprimoramento e, em cada momento que se segue não estarão mais como no momento anterior porque vão sempre mudando. "Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela". (FREIRE, 1996 p. 77).


Considerações finais
Negar a repetição mecânica
Propiciar a assunção dos educandos
Não impor meu saber como verdadeiro
"Foi aprendendo que percebemos ser possível ensinar" p.44
Não é possível pensar educadores que se neguem o direito e o dever de comprometerem-se com uma educação que seja ética. E essa ética tem que estar presente no cotidiano do professor, nos seus gestos, na sua fala, na sua rotina. Não cabe uma educação, mesmo que no Ensino Superior, que não dê importância às experiências anteriores de quem aprende. Não cabe pensar em ajudar alguém a transformar-se sem a aceitação de que educar também é ser transformado.
É necessário que o docente do Ensino Superior perceba que sua prática não pode ser simples repetição de gestos, de falas, de comportamentos. Sua prática tem que ser constantemente permeada de atualização, estudo, pesquisa, porque não é possível desenvolver uma conduta científica em nossos alunos se não apresentamos a nossa como modelo. "Mudar é difícil mas é possível" (FREIRE, 1996, p. 79).
Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho ? a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, p. 47)

É necessário a conscientização de que, utilizando-nos das relações interpessoais e respeitando as diferenças culturais, é possível transformar a sala de aula num ambiente de aprendizagem prazerosa, onde a busca pelo conhecimento se dará a partir da curiosidade incentivada no educando, respeitando-o na sua individualidade.



























BIBLIOGRAFIA

ANTUNES, Celso. Relações interpessoais e auto-estima ? A sala de aula como um espaço do crescimento integral. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

EINSTEIN, Albert. Disponível em http://www.pensador.info/frase/MTQw/. Acesso em 03/09 /2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia ? Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo : Paz e Terra, 1996.

MACHADO, Cristina Gomes. Multiculturalismo: muito além da riqueza e da diferença. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

SIMKA, Sérgio. A Relação entre Professor e Aluno ? Um olhar interdisciplinar sobre o conteúdo e a dimensão humana. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

SOARES,Gloria Regina Graçano. Diálogos inter/multiculturais: rompendo a barreira do silêncio. 2006.


TIBA, Içami. Ensinar aprendendo ? Como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. 22ª ed. São Paulo: Editora Gente, 1998.