O DIABO

 

Num dado momento da História,

Onde a mente finita não alcança,

Quando jubilava a casta espiritual

Na égide de indescritível bonança,

Não poderia essa classe imaginar

Que estava prestes a vivenciar

Uma existencial e notória mudança.

 

O nosso Altíssimo e Eterno Criador

Tudo fez com absoluta perfeição,

Criou todos os seres espirituais

No princípio de sua sublime Criação;

E, mesmo nessa dispensação luzidia,

Quando o Homem ainda não existia,

Desenhava-se a iminente modificação. 

 

Então estava no Éden, Jardim de Deus,

A estrela da manhã, d'alva a filha,

Que cobria-se de toda pedra preciosa,

Tendo o monte de Deus como sua trilha;

No meio das pedras afogueadas ele andava,

Quando o querubim da guarda o guardava

No resplendor de toda aquela maravilha!

 

Era, pois, ele o selo da perfeição,

Cheio de sabedoria e perfeito em formosura;

Sim, perfeito era nos seus caminhos,

Quando sua conduta mostrava-se pura;

Nele se faziam os seus instrumentos musicais,

Que certamente outros não se fizeram iguais;

Era ele, de fato, uma formosa criatura!

 

Entretanto, nele se achou iniquidade,

Porquanto elevou-se, e dizia em seu coração:

“Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono;

E me assentarei no monte da congregação,

Acima das alturas das nuvens serei grandíssimo,

E serei outrossim semelhante ao Altíssimo”;

Contudo, ele foi levado ao mais profundo chão!

 

Certo dia, o Senhor Jesus Cristo enviou

Setenta de seus discípulos ao povo incréu,

Para anunciar-lhe o Santo Evangelho do Reino,

Objetivando resgatá-lo deste mundo cruel;

E, em meio à alegria dos discípulos, ali exposta,

Jesus dá-lhes a sua sapientíssima resposta,

Dizendo: “Eu via satanás, como raio, cair do céu.”

 

Caído do céu, com extrema velocidade,

O antanho distinto e amado anjo de luz

Transformou-se, em seu novo hábitat,

No arqui-inimigo de Cristo Jesus;

E, amargando o mais profundo menoscabo,

Metamorfoseou-se para sempre no diabo,

O odiento inimigo da mensagem da cruz.

 

Sua inocultável precipitação conferiu-lhe

O desditoso título de príncipe deste mundo,

No momento em que seu empedernido coração

Abrigou o ódio em seu senso mais profundo;

Agora, tamanha é a malignidade que ele abarca,

Que tresanda do seu ser a indelével marca

De para sempre sentenciado espírito imundo.

 

Ele é o dragão, a antiga serpente,

Que é o diabo e satanás;

Príncipe do mundo das trevas,

Porquanto da luz ele é fugaz;

É possuidor de um forte signo

Que o assinala como maligno,

E nele o mundo inteiro jaz.

 

Por isso ele é o pai da mentira,

Sobretudo da mentira religiosa,

Pois no âmbito espiritual ele atua

De forma deveras insidiosa;

Sobremaneira funesta é sua ação

No insipiente campo da religião,

Onde ele inflige obra danosa.

 

Está escrito que ele é o deus deste século,

Que cega o entendimento dos incréus,

Corrompe a compreensão dos ignaros

Cobrindo-a com seus negrejantes véus;

É ele a ave que arrebata a semente

Do coração que deseja ser crente,

Obstando-o de entrar no Reino dos Céus.

 

Ele é o malquisto ladrão que veio

Para roubar, matar e destruir,

Causando inópia aos indefensos,

Não os deixando nada possuir;

Por essa forma ele é abadom,

E com idêntica forma é apoliom,

Aquele que tenta o bem extinguir.

 

Como o mais vil dos seres ele é belial,

Cuja maldade precípua é o homem tentar;

No exercício contínuo da falsa acusação,

Diante de Deus ele comparece para nos acusar;

Da horda de demônios é ele a potestade-mor,

E, rugindo como leão, ele anda em derredor,

Procurando a quem possa tragar.

 

Bem ao contrário do que se ensina,

O diabo não tem chifres nem tridente,

E encontra-se hoje mui distante

Do terrível lago de fogo ardente;

Seu atual domicílio é o firmamento,

E ele também povoa o pensamento

Do coração do homem descrente.

 

A mente que raciocina erradamente,

E no mal envereda quando mal raciocina;

A mente que divaga desocupadamente,

É sem dúvida do diabo mera oficina;

Pois ela se compraz em maquinar o mal,

E, no devaneio de um intento letal,

Envida a maldade enquanto a maquina.

 

Mas aquele que nasceu de Deus,

E o seu Nome sempre invoca,

Visto que já venceu o maligno,

E o Livro Santo sempre enfoca;

Sim, o que de Deus é nascido,

Está absolutamente protegido,

E o maligno não lhe toca.

 

Ora, o maligno não toca o crente

Porque o seu poder é cerceado,

Mesmo que tetricamente lhe pertence

Do recôndito das trevas o principado;

Destarte, para fomentar o seu engano,

Inevitavelmente todo ser humano

É por ele amiúde tentado.

 

Como adversário ele é o diabo,

Como satanás é ele o tentador;

Já tentou os homens mais santos,

Para a obra de Deus inste se opor;

E na sua mais cruel tentação,

Visando estorvar a Suprema Missão

Ele tentou até mesmo o Senhor!

 

Porém nessa batalha renhida

Saiu derrotado o anjo sem luz,

Pois os principados e potestades

Foram despojados por Cristo Jesus,

Visto que, em sua Vitória evidente,

Ele os exibiu publicamente

E deles triunfou na mesma cruz!

 

Em breve, debaixo dos nossos pés

Será esmagado satanás,

Segundo a Palavra revelada

Pelo nosso Deus de Paz;

E esta é uma fiel revelação

Que regozija o nosso coração,

E grande esperança nos traz!

 

Por fim, o lago de fogo e enxofre encerrará

A triste história desse desditoso ser;

Ora, quanto à terribilidade desse lugar,

A mente humana é incapaz de descrever;

Diz-nos ainda o bendito Livro Sagrado,

Que para todo o sempre ele será atormentado

E, com ele, todo o que se submete ao seu poder.

 

Então Deus enxugará de nossos olhos toda lágrima;

E não haverá mais morte, nem haverá mais pranto,

Lamento e dor; porque já as primeiras coisas são passadas.

Só haverá, nesse inefável lugar, o mais perfeito canto;

Na Glória, diante do trono de Deus e do Bendito Cordeiro,

Entoaremos o Hino de Louvor mais perfeito e verdadeiro,

Dizendo, por toda a Eternidade: Tu és Santo, Santo, Santo!

 

Lázaro Justo Jacinto