O diabo (Poesia)
Publicado em 01 de fevereiro de 2013 por Lázaro Justo Jacinto
O DIABO
Num dado momento da História,
Onde a mente finita não alcança,
Quando jubilava a casta espiritual
Na égide de indescritível bonança,
Não poderia essa classe imaginar
Que estava prestes a vivenciar
Uma existencial e notória mudança.
O nosso Altíssimo e Eterno Criador
Tudo fez com absoluta perfeição,
Criou todos os seres espirituais
No princípio de sua sublime Criação;
E, mesmo nessa dispensação luzidia,
Quando o Homem ainda não existia,
Desenhava-se a iminente modificação.
Então estava no Éden, Jardim de Deus,
A estrela da manhã, d'alva a filha,
Que cobria-se de toda pedra preciosa,
Tendo o monte de Deus como sua trilha;
No meio das pedras afogueadas ele andava,
Quando o querubim da guarda o guardava
No resplendor de toda aquela maravilha!
Era, pois, ele o selo da perfeição,
Cheio de sabedoria e perfeito em formosura;
Sim, perfeito era nos seus caminhos,
Quando sua conduta mostrava-se pura;
Nele se faziam os seus instrumentos musicais,
Que certamente outros não se fizeram iguais;
Era ele, de fato, uma formosa criatura!
Entretanto, nele se achou iniquidade,
Porquanto elevou-se, e dizia em seu coração:
“Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono;
E me assentarei no monte da congregação,
Acima das alturas das nuvens serei grandíssimo,
E serei outrossim semelhante ao Altíssimo”;
Contudo, ele foi levado ao mais profundo chão!
Certo dia, o Senhor Jesus Cristo enviou
Setenta de seus discípulos ao povo incréu,
Para anunciar-lhe o Santo Evangelho do Reino,
Objetivando resgatá-lo deste mundo cruel;
E, em meio à alegria dos discípulos, ali exposta,
Jesus dá-lhes a sua sapientíssima resposta,
Dizendo: “Eu via satanás, como raio, cair do céu.”
Caído do céu, com extrema velocidade,
O antanho distinto e amado anjo de luz
Transformou-se, em seu novo hábitat,
No arqui-inimigo de Cristo Jesus;
E, amargando o mais profundo menoscabo,
Metamorfoseou-se para sempre no diabo,
O odiento inimigo da mensagem da cruz.
Sua inocultável precipitação conferiu-lhe
O desditoso título de príncipe deste mundo,
No momento em que seu empedernido coração
Abrigou o ódio em seu senso mais profundo;
Agora, tamanha é a malignidade que ele abarca,
Que tresanda do seu ser a indelével marca
De para sempre sentenciado espírito imundo.
Ele é o dragão, a antiga serpente,
Que é o diabo e satanás;
Príncipe do mundo das trevas,
Porquanto da luz ele é fugaz;
É possuidor de um forte signo
Que o assinala como maligno,
E nele o mundo inteiro jaz.
Por isso ele é o pai da mentira,
Sobretudo da mentira religiosa,
Pois no âmbito espiritual ele atua
De forma deveras insidiosa;
Sobremaneira funesta é sua ação
No insipiente campo da religião,
Onde ele inflige obra danosa.
Está escrito que ele é o deus deste século,
Que cega o entendimento dos incréus,
Corrompe a compreensão dos ignaros
Cobrindo-a com seus negrejantes véus;
É ele a ave que arrebata a semente
Do coração que deseja ser crente,
Obstando-o de entrar no Reino dos Céus.
Ele é o malquisto ladrão que veio
Para roubar, matar e destruir,
Causando inópia aos indefensos,
Não os deixando nada possuir;
Por essa forma ele é abadom,
E com idêntica forma é apoliom,
Aquele que tenta o bem extinguir.
Como o mais vil dos seres ele é belial,
Cuja maldade precípua é o homem tentar;
No exercício contínuo da falsa acusação,
Diante de Deus ele comparece para nos acusar;
Da horda de demônios é ele a potestade-mor,
E, rugindo como leão, ele anda em derredor,
Procurando a quem possa tragar.
Bem ao contrário do que se ensina,
O diabo não tem chifres nem tridente,
E encontra-se hoje mui distante
Do terrível lago de fogo ardente;
Seu atual domicílio é o firmamento,
E ele também povoa o pensamento
Do coração do homem descrente.
A mente que raciocina erradamente,
E no mal envereda quando mal raciocina;
A mente que divaga desocupadamente,
É sem dúvida do diabo mera oficina;
Pois ela se compraz em maquinar o mal,
E, no devaneio de um intento letal,
Envida a maldade enquanto a maquina.
Mas aquele que nasceu de Deus,
E o seu Nome sempre invoca,
Visto que já venceu o maligno,
E o Livro Santo sempre enfoca;
Sim, o que de Deus é nascido,
Está absolutamente protegido,
E o maligno não lhe toca.
Ora, o maligno não toca o crente
Porque o seu poder é cerceado,
Mesmo que tetricamente lhe pertence
Do recôndito das trevas o principado;
Destarte, para fomentar o seu engano,
Inevitavelmente todo ser humano
É por ele amiúde tentado.
Como adversário ele é o diabo,
Como satanás é ele o tentador;
Já tentou os homens mais santos,
Para a obra de Deus inste se opor;
E na sua mais cruel tentação,
Visando estorvar a Suprema Missão
Ele tentou até mesmo o Senhor!
Porém nessa batalha renhida
Saiu derrotado o anjo sem luz,
Pois os principados e potestades
Foram despojados por Cristo Jesus,
Visto que, em sua Vitória evidente,
Ele os exibiu publicamente
E deles triunfou na mesma cruz!
Em breve, debaixo dos nossos pés
Será esmagado satanás,
Segundo a Palavra revelada
Pelo nosso Deus de Paz;
E esta é uma fiel revelação
Que regozija o nosso coração,
E grande esperança nos traz!
Por fim, o lago de fogo e enxofre encerrará
A triste história desse desditoso ser;
Ora, quanto à terribilidade desse lugar,
A mente humana é incapaz de descrever;
Diz-nos ainda o bendito Livro Sagrado,
Que para todo o sempre ele será atormentado
E, com ele, todo o que se submete ao seu poder.
Então Deus enxugará de nossos olhos toda lágrima;
E não haverá mais morte, nem haverá mais pranto,
Lamento e dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
Só haverá, nesse inefável lugar, o mais perfeito canto;
Na Glória, diante do trono de Deus e do Bendito Cordeiro,
Entoaremos o Hino de Louvor mais perfeito e verdadeiro,
Dizendo, por toda a Eternidade: Tu és Santo, Santo, Santo!
Lázaro Justo Jacinto