O currículo de história para a Educação Básica a partir dos textos "A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História" de Christian Laville e "Instaurando Maneiras de Ser, Conhecer e Interpretar" de Maria Stephanou.


Por Midiane Venceslau dos Santos



Os textos "Instaurando Maneiras de Ser, Conhecer e Interpretar" de Maria Stephanou e "A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História" de Christian Laville propõem discussões acerca do currículo - "aquilo que os estudantes têm a oportunidade de aprender na escola, oculta ou explicitamente, bem como aquilo que não lhes é oportunizado" (Stephanou, p.18) - no ensino da história. O primeiro texto apresenta uma visão sobre as propostas e concepções do currículo e a importância do ensino de história, principalmente no Ensino Fundamental, bem como a análise de conteúdos fechados e metodologias de ensino que não atendem à realidade do aluno; já o segundo texto, mostra um panorama sobre o ensino da história em grandes países do mundo, bem como a sua repercussão no processo de formação da sociedade.

A história permite ao individuo não apenas conhecer as inúmeras formas que o homem concebe a vida, mas as relações existentes entre si e a natureza, possibilitando-o compreender a sua realidade, bem como confrontá-la com as demais, pois a história é viva e dinâmica e inerente á vida de cada individuo.

O ensino de história tem exigido a necessidade de novas maneiras de ensino-aprendizagem que possibilite aos alunos a apreensão de variados conhecimentos, trabalhando não apenas o nível cognitivo, mas as ações concretas que venham dar significados à sua realidade. Segundo Stephanou,

a história invariavelmente apresenta-se como algo externo ao aluno, algo exótico ou como espetáculo, que não lhe diz respeito Resta aos estudantes, uma vez que se situam numa posição de não saber, memorizar, assimilar este conhecimento acumulado, cujos depositários fiéis são os manuais didáticos e a autoridade do professor. (1998, p.20)

Ao analisar os textos, observa-se que existe na prática pedagógica uma dualidade que influencia diretamente o ensino de história. De um lado encontra-se uma cultura etnocêntrica vinculada a conteúdos formais que se identificam com a classe dominante; do outro, a cultura de uma parcela - vista como insignificante-, camuflada no interior das escolas e dos currículos. Para Laville,
enquanto na maioria dos países se diz que o objetivo do ensino da história é desenvolver nos alunos as capacidades de que o cidadão precisa para participar da sociedade de maneira autônoma e refletida, o ensino da história, ainda é, muitas vezes, reduzido a uma narrativa fechada, destinada a moldar as consciências e a ditar as obrigações e os comportamentos para com a nação. (1999, p.135)


Mesmo apresentando uma imagem de neutralidade relativa a tais questionamentos, o discurso encontrado nas aulas de história tem intensificado a produção e reprodução de indivíduos que muitas vezes conhecem apenas o discurso da classe dominante; mesmo possuidor de um universo de conhecimentos, os alunos encontram na escola um mundo totalmente diferente do seu mundo de rua, "a história invariavelmente apresenta-se como algo externo ao aluno, algo exótico ou como espetáculo, que não lhe diz respeito"( Stephanou, p.20).


O conteúdo programático estabelecido no ensino de história tem se direcionado a uma visão eurocêntrica e monocultural. Como exemplo, no ensino da história no Brasil, ao se abordar o estudo da história brasileira, a presença dos índios no processo de conquista desse território é totalmente ignorada, assim como toda a forma de violência e crueldade praticadas contra esse grupo, dando importância apenas ao momento de chegada dos portugueses, engrandecendo o papel do colonizador, "homem branco" como o único responsável pela ocupação e conquista desse território.

Os métodos tradicionais têm sido amplamente questionados. Têm-se os livros didáticos enraizados nas práticas escolares que estão se mostrando insuficientes e questionáveis com relação aos conteúdos, prevalecendo os pacotes elaborados, recheados de padrões ideológicos, bem como de interesses particulares das instituições de ensino, negando as vozes, as experiências e histórias, reduzindo assim o ensino-aprendizagem à transmissão e imposição de informações.

O conhecimento histórico ao ser ensinado deve superar as formas de organização que tem prevalecido na sociedade, de caráter linear e cronológico, buscando propostas de currículos e programas que não confiram a história o status de verdade absoluta, mas que permita ao indivíduo adotar uma postura crítica frente aos conhecimentos desenvolvidos em sala, possibilitando aos alunos refletirem de maneira crítica sobre a realidade que os rodeiam, assim como todo o seu contexto histórico, debatendo as contradições, mudanças, conflitos e transpondo as explicações dadas como únicas e parciais.


Referência Bibliográfica


ABUD, Kátia. A construção de uma Didática da História: algumas sobre a utilização de filmes no ensino. In Revista de História, São Paulo, 22, v. 1, 2003.


ABUD, Kátia. Registro e representação do cotidiano: a música popular na aula de História. In caderno CEDES. Campinas, vol. 25, n. 67. pp. 275 a 276.


LAVILLE, Christian. A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.19, n°38, 1999, p.125 -138


STEPHANOU, Maria. Instaurando Maneiras de Ser, Conhecer e Interpretar. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.18, n°36, 1998, p.17-29