Será que o homem conhece totalmente a si mesmo? Esta questão caminha com o homem por toda história da humanidade, porém, naquele contexto histórico, o ser humano, através da evolução foi conhecendo tudo o que estava ao seu redor, buscando o conhecimento de si mesmo. Com certeza é uma pergunta que já foi feita por muitas pessoas, que procurando conhecer o homem, está procurando também conhecer a si mesmo.

Esta questão assombra a humanidade, com isso o ser humano conquistou vários objetivos, a ciência está cada vez mais evoluída e trazendo novos experimentos, enfim, a humanidade busca a cada instante conhecer algo novo, uma nova descoberta, conhece outros universos, planetas, pode até fazer previsões do futuro ,ou seja, conhece muito, mas, não o suficiente para esgotar ou limitar o conhecimento sobre si mesmo.

Segundo Ernst Cassirer o homem:

"é a criatura que está em contínua procura de si mesmo e que todos os momentos de sua existência, precisa escrutar as condições da mesma" (CASSIRER, 1997,p.22)

A cada dia o homem deve se fazer uma auto-análise de sua vida e de si mesmo, estar buscando através da procura de si uma realização para o seu próprio Eu, como diz Sócrates que "uma vida que não é examinada não vale a pena ser vivida". O conhecimento de si é a primeira condição da auto realização. Precisamos tentar desatar as amarras que nos traz atados ao mundo exterior para podermos gozar de nossa verdadeira liberdade. Mas para adquirir o conhecimento de si mesmo, é necessário a convivência com o próprio ser humano, que para compreender-se e compreendê-lo é necessário defronta-lo face a face.

O auto conhecimento é uma das verdades ensinada pelos filósofos antigos como, por exemplo, Sócrates, que na frase: " conhece-te a ti mesmo", cujo pensamento representa desenvolver a consciência de si mesmo, observação, reconhecimento, aceitação, transformação e harmonização dos próprios sentimentos, corpo, pensamentos e relembrar o sentido e significado da própria vida para poder direciona-las. Fazer uma reflexão realista das próprias capacidades, talentos, dificuldades e bloqueios, de modo a desenvolver um encontro consigo mesmo elevando sua auto-estima e autoconfiança.

É através do conhecer-se que existe a capacidade e as possibilidades de realização dos seus sonhos, porque a pessoa se descobre e entra em contato com sua natureza essencial, resgata seu propósito de vida e fortalece a sua vontade.

Ao desenvolver o auto conhecimento, o homem pode atrair e conquistar o que almeja, assumindo a responsabilidade, conseqüências e usufruindo destas vantagens, pois sabe o que quer e traçar planos e metas de como realizar.

Na verdade não existe outro caminho que possamos conhecer o homem, se não for pela compreensão de si mesmo, sem compreendê-lo, sem compreender a sua vida e seu comportamento. Portanto, o ser humano é compreendido à medida que se deixa relacionar com o outro, sendo que cada qual faz parte da vida de cada Ser, de forma direta ou indireta. Não é permitido que, filosoficamente falando, possa se construir um homem artificial, mas pode-se procurar descrever um ser humano verdadeiro.

Voltando a questão inicial, uma das grandes dificuldades do ser humano é conhecer a si mesmo, pois para isso é necessário uma viagem interior,navegar em si mesmo é procurar dentro de si quem realmente é. É mergulhar nas profundezas do seu ser. Esta viagem às vezes pode ser angustiante, quando você começa questionar a si mesmo, fazer perguntas que nem você e ninguém possa responder, surgindo a partir daí uma série de questionamentos, podendo chegar a uma crise ontológica existencial, quando se questiona: Quem sou eu? De onde eu vim? Para onde eu vou?

Para estas perguntas não existem respostas pronta e definida por ninguém, é cada qual construir o seu caminho, mas vale dizer que o homem cresce a partir da observação de si mesmo, é voltar para si, para o seu Eu interior. No entanto, é possível encontrar na filosofia de Heráclito esta reflexão sobre o auto conhecimento na seguinte frase: "procurei por mim mesmo". É procurar por você e se encontrar dentro de você mesmo, sendo que este encontro seja harmonioso, que após encontrar-se exista uma realização, particular e mútua.

Observando-se interiormente o ser humano passa a se conhecer e a partir do momento que o homem se conhece, ele começa a se identificar como um ser que vive em comunidade numa relação. Esta convivência comunitária ajuda o homem na sua procura interior onde ele possa se identificar com o outro e assim, ocorre um processo mútuo de transformação recíproca, onde comprova que, para conhecer a si mesmo também é necessário conhecer o outro, respeitando sua originalidade, não querendo ser o outro e nem querer que o outro seja você.

As vezes é necessário também que o ser humano seja também individual, onde ele reflete através de suas angústias dores e sofrimentos podendo assim haver uma intimidade, uma liberdade com ele mesmo, no qual contribuirá para o conhecimento de si.

O homem é um Ser que questiona as coisas e também a si mesmo. É questionante e questionado.

Este Ser questiona e se questiona porque ele existe. É capaz de pensar, e por isso tem a capacidade de questionar e de procurar o sentido do Ser. Ao se questionar o homem entra em um ritmo de autoconhecimento, levando em consideração: O que é? E quem ele é? Para quem é? Para chegar a descoberta do seu próprio Eu é necessário às vezes fazer e seguir estes, e outros questionamentos no qual ele traz um reflexão inteiramente pessoal que contribui nesta auto-descoberta de si. Para isso também é importante haver uma abertura, é estar aberto para conhecer-se. Na medida em que esta abertura para si ocorre à abertura para o outro, é abrir espaço para si, para fazer parte da própria vida e história.

Mas o que é de fundamental importância é que o processo de conhecimento do homem também é um processo de construção. É construir a si mesmo, não como um processo tecnológico, onde a máquina já deixa tudo pronto, um igual ao outro, é um processo "artesanal", onde o artesão constrói a escultura com todo cuidado, observando todos os detalhes, corrigindo a cada defeito modelando o Ser, ofertando um pouco de si para o outro, para que este outro seja também parte dele, é como se o homem se construísse, e ainda não se definisse. Na medida em que vai se descobrindo, vai havendo uma transformação que o Ser vai acompanhando de forma bem próxima, partindo de si mesmo. Este que se constrói, que se transforma, se descobre, se faz parte de si, é também aquela obra inacabada, que a cada instante tem algo a ser modificado e transformado.

Mas sabemos que existem vários tipos de esculturas, como aquelas que são construídas de maneira suave e delicada, ou também aquelas que são de forma mais rígida grosseira, às vezes é necessário alguns instrumentos rígidos que só utilizando a forma pode-se fazer a obra. É como se a cada instante de nossa vida e a cada martelada fossemos aos poucos dando forma ao Ser. Este tipo de construção pode às vezes ser até dolorosa, mas é compensador o resultado da obra acabada.

A cada instante em que o homem se descobre, ele também vai se construindo, transformando-se, partindo de uma matéria bruta, para uma obra prima. Esta construção vai sendo formada aos poucos, sem tempo determinado. É deixar que o tempo faça o seu trabalho.

Volta-se a pergunta: Será que o homem conhece totalmente a si mesmo? O ser humano é o Ser que está em constante construção, é uma obra inacabada. Sempre existe algo a ser retocado, remodelado, ou às vezes até reconstruído. Mas, para isso acontecer é necessário deixar-se construir para assim aproximar-se ao máximo de sua realização como Ser, por isso o ser humano jamais conhece a si mesmo como totalidade, mas vai se conhecendo à medida que vai se construindo.


REFERÊNCIA

- CASSIRER, Ernst. Antropologia Filosófica :ensaio sobre o homem. Trad. Dr. Vicente Félix de Queiroz. 2.ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977.