O COMPROMETIMENTO NA EFICIÊNCIA
DA COMUNICAÇÃO ESCRITA POR INTERFERÊNCIA DA FALA

Fabrícia Helena Bittencourt Senna1

RESUMO:
A comunicação entre os homens pode se realizar de diversas formas. Dentre elas, a escrita é uma das que apresenta maior dificuldade por se tratar de um ato mais elaborado e que exige o conhecimento de técnicas específicas. A influência da fala na escrita das línguas que usam o alfabeto fonético é constante, não só na grafia de palavras, como na organização do texto a ser produzido, levando ao comprometimento a eficiência da comunicação. O advento dos meios eletrônicos de comunicação acentuou tal prática, tornando ainda mais desafiador o ensino da Língua Portuguesa.

Palavras-chave: Comunicação; Escrita; Fala; Eficiência; Ensino.

A escrita é um sistema de representação gráfica que permite o registro de informações, além de ser uma das manifestações da comunicação humana, visto que pertence ao homem essa capacidade de produzir várias formas de transmissão de pensamento, necessidade e desejo.
Na Antiguidade, a escrita era a reprodução de conceitos e objetos, por meio de desenhos ? escrita pictórica. Ainda hoje, algumas línguas a representam de modo simbólico com ideogramas, como a japonesa com o emprego do kanji.
Contudo, mesmo na Antiguidade, em diferentes tipos de povos, buscou-se a criação de um alfabeto com símbolos distintivos que correspondessem a seus respectivos sons. O alfabeto chegou a ser silábico para mais tarde ser fonético, com isso a escrita passou a ser uma representação sonora ? escrita fonética.
Indubitavelmente, essa elaboração foi uma criação muito significante para humanidade. A escrita se aproximou mais da fala e sua codificação permitiu uma maior interação com a comunicação.
Este surgimento da língua escrita procedeu da língua falada que já era instituída na comunicação verbal e não impediu as transformações da língua falada advindas do processo de organização dos povos.
Para compreender o conceito de língua, Saussure (1916) a conceitua como um conjunto de signos verbais organizados entre si através de uma gramática, como um sistema organizado de normas na mente do indivíduo pertencente a uma determinada sociedade; homogênea, social e abstrata que se realiza na fala e na escrita. Esta procura oferecer unidade, enquanto aquela, inevitavelmente, diversidade.
No mundo atual, as línguas latinas exercem forte influência em diversas culturas devido ao grande império romano, que disseminou sua língua: o latim, com as mesmas variações presentes em toda língua.
A língua portuguesa, oriunda do latim vulgar ? estabelecida em Portugal e nos países por ele colonizados, no período das grandes navegações ?, vive sua unidade e diversidade. Dentro da diversidade, há a variante padrão que elege como correto o que a gramática normativa impõe não só na escrita como na fala, razão pela qual se constitui uma série de discussões.
Primeiramente, as regras gramaticais não fazem parte apenas das línguas inscritas, estão presentes na oralidade igualmente, haja vista que a oralidade foi que deu base para criação das normas gramaticais. Por um determinado tempo, acreditou-se que a grafia e a pronúncia, a fala e a escrita pudessem ser harmônicas, todavia, incontestavelmente, são diferentes tipos de realização da comunicação, embora existam similaridades. Ambas as expressões têm seu valor.
Destarte, não se pode sobrepor uma a outra. "A fala se desenrola no tempo e desaparece; a escrita tem como suporte o espaço, que a conserva." (DUBOIS, 1997). Logo, a fala é dinâmica, oferece mais liberdade por ser um ato espontâneo, sobre ela rege uma força de transformação muito maior que na escrita, que é padronizada e estável. Acabam sendo complementares.
Se a língua apresenta variações diatópicas (variantes regionais, falares locais etc.), variações diastráticas (nível culto, nível popular, língua padrão etc.) e variações diafásicas (língua escrita, língua falada, língua literária etc.), compete ao usuário intuir o contexto dentro dessas variações internas para a utilização da língua. Sabe-se que "a língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade". (CUNHA, 1985)
Atribuir ao usuário a responsabilidade do discernimento quanto à aplicação dessas variações com o conhecimento da norma culta, atinge-se a esfera do ensino de Língua Portuguesa, cuja função é capacitar discentes para autonomia de raciocínio na comunicação verbal, explorando leitura e escrita. A leitura proporciona a internalização de regras gramaticais básicas e "ensina" a organizar pensamentos. A escrita é o exercício de articulação do pensamento que deve ser com clareza e correção. Essas modalidades não estão presentes só na rotina de intelectuais, mas de qualquer cidadão inserido em uma sociedade letrada, onde "escrever bem é uma questão de sobrevivência" (BLIKSTEIN, 2010).
Inicialmente, para produção de um bom texto é necessário dissociar a prática da fala da escrita. No presente artigo, fora supracitado tais práticas como análogas, porém distintas. Os textos escritos que circulam, na sociedade moderna (século XXI), são diversos e há os que se aproximam mais dos textos falados, como no MSN, blog, twitter e outros que não só fazem parte deste mundo digital, como por exemplo, o bilhete. Este novo meio pelo qual a comunicação se cumpre fomenta a escrita, o que é muito salutar, entretanto, com isso, é fortalecido um problema, que ainda não estava solucionado anteriormente: a falta de habilidade de escrever bem um texto, respeitando a situação envolvida.
Através dos séculos, sempre existiu variação e mudança sob os aspectos fono-ortográficos e morfossemânticos que contribuíram para história da língua e continuarão contribuindo para transformação e acréscimo do léxico de um idioma. Nesse mesmo sentido Marcos Bagno (2003) ? em uma das suas dez cisões no livro Preconceito Linguístico o que é, como se faz -, declara a ideia de:

Conscientizar-se que toda língua muda e varia. O que hoje é visto como "certo" já foi "erro" no passado. O que hoje é considerado "erro" pode vir a ser perfeitamente considerado como "certo" no futuro da língua. Um exemplo: no português medieval existia um verbo leixar (que aparece até na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I). Com o tempo, esse verbo foi sendo pronunciado deixar porque [d] e [l] são consoantes aparentadas, o que permitiu a troca de uma pela outra. [...] Por isso é bom evitar classificar algum fenômeno gramatical de "erro": ele pode ser, na verdade, um indício do que será a língua no futuro.

É evidente que esse nível de compreensão deve ser conquistado por todos os usuários da língua, seja qual for sua condição social e escolaridade, no entanto espera-se que além dessa compreensão, haja o aperfeiçoamento da escrita formal, pois todos precisam ser proficientes na comunicação que permeia o mercado de trabalho, as áreas administrativas, judiciais, acadêmicas, escolares, sendo no envio ou no recebimento de informações, caso contrário haverá uma consequente exclusão já que a norma padrão é instrumento de poder e transformação em uma sociedade.
Muitas vezes, a escrita é preterida. Há quem se sinta mais confortável ao falar do que ao escrever por não conseguir organizar pensamentos e até vivenciar um entrave devido às limitações provocadas pela falta de conhecimento das técnicas específicas. "O enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações." (BECHARA, 2008).
A sociedade evolui aceleradamente e não consegue acompanhar as novas tecnologias atualizando-se para cada situação na habilidade exigida pelos grupos a que se refere. Para isso, a prática do ensino de língua está desatualizada.
A busca de uma comunicação eficiente requer reconhecimento do público a que se destina, a fim de cumprir seus objetivos. Espera-se, assim, um ecletismo para escrever.
Para Izidoro Blikstein (2010), uma boa escrita faz uma boa comunicação e torna comum o sentido da mensagem entre emissor e receptor. Este linguista propõe uma receita para eficácia da comunicação escrita, que na verdade são as técnicas que passam pelos ingredientes (elementos da comunicação ? remetente, destinatário, mensagem, código, repertório e veículo), a apresentação destes, os acompanhantes (contexto social, cultural e profissional; estereótipos e ruídos).
A conquista da correção na elaboração de um texto formal demanda o estudo gramatical de ortografia, acentuação, concordância, regência, emprego da crase e pontuação de acordo com as regras do bom emprego da norma culta, além do uso da coesão e coerência. É uma construção mais séria, a informalidade da fala não cabe nesse âmbito, por esse motivo, dentro de todo desafio no ensino-aprendizado da língua, é neste ponto a existência do maior obstáculo a ser ultrapassado.
Diferentemente, ocorre nos textos informais ligados, principalmente, aos meios eletrônicos ? internet, telefone celular. Não há espaço e tempo para elaboração minuciosa esperada no supracitado parágrafo, pelo contrário, a síntese e a rapidez tomam espaço e ganham a permissão e liberdade do uso de transcrições mais próximas da fala.
Portanto, o professor precisa estar atento a isso, direcionando suas aulas a ações do cotidiano, não colecionando erros gramaticais dos seus alunos, mas priorizando o ato comunicativo direcionado a estratégias para concretização de uma escrita eficiente. Quando preenchida a necessidade desse domínio, ter-se-á a possibilidade de contribuir para uma sociedade mais crítica e consciente.




Referências Bibliográficas
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, 2008 RJ
BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de Comunicação Escrita. Ed. Ática, 2010 SP
CUNHA, Celso e LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo Ed. Nova Fornteira, 1985 RJ
DUBOIS, Jean, GIACOMO, Mathee, GUESPIN, Louis. Dicionário de Linguística. Ed. Cultriz, 1997 SP