O Calendário na comunicação--o uso de calendários
comunicativos

Estudantes que poderiam beneficiar-se com o uso dos calendários:
? Alunos surdocegos.
? Alunos com deficiência visual e múltipla deficiência.
? Alunos autistas.
? Alunos com outras deficiências que não podem desenvolver a fala.
? Qualquer aluno que necessite de ajuda para estruturar e organizar seu
tempo e atividades.


Os calendários podem apoiar uma grande diversidade de funções comunicativas em diversos ambientes.
O ser humano possui uma série de formas reconhecíveis de comunicação: a fala, escrita, gestos, expressões faciais e corporais. Não deixamos de usar uma forma de comunicação quando aprendemos outra, assim tanto podemos ler algo impresso como também um gesto simples para indicar algo.
Através deste sistema, a criança poderá:

Compreender melhor a transição entre as atividades;
Adquirir conceitos temporais e vocabulário relacionado com o tempo;
Comunicar uma quantidade de assuntos significativos para si e para seus pares comunicativos;
Responder a perguntas a respeito de escolhas e acontecimentos "futuros".

A forma de comunicação por símbolos sempre irá evoluir de uma forma muito concreta até uma completamente abstrata.
O mais interessante é começarmos com o aluno pela forma mais concreta possível e aos poucos fazer a transição para o mais abstrato.
As formas comunicativas também se dividem em: forma dinâmica e estática.
São consideradas estáticas são as que podem ser tocadas em sua forma tridimensional (um objeto, uma palavra em Braille) ou bidimensional (um desenho, fotografia). Elas são importantes, no processo de comunicação, pelo fato de poderem ser examinadas, tocadas.
As formas dinâmicas são as que nos produzimos por som vocal (fala) ou sinalização das mãos (LIBRAS). São importantes no processo, como evolução do concreto para o abstrato, para as crianças que podem ouvir a fala de outros é essencial para estimular a comunicação mesmo quando esta não possa responder falando, elas nos trazem maior agilidade na comunicação.
É muito importante usar os dois tipos de informações, sempre que possível, para que a criança tenha maiores possibilidades interagir.
O sistema de calendários proporciona um grande apoio e amplia a capacidade comunicativa do aluno. Iremos mostrar a seguir como o calendário pode apoiar no desenvolvimento da comunicação nas quatro áreas consideradas importantes enquanto objetivos da comunicação:

1. As formas comunicativas.
2. As funções comunicativas.
3. O desenvolvimento de temas.
4. As conversas sociais.


 O Calendário e as formas comunicativas

O uso do calendário deve ser introduzido como rotina da sala de aula para que possa cumprir seu papel de comunicador e organizador do tempo.
Com seu uso constante, a criança será estimulada a interagir de forma diferente, por meio de figuras ou objetos, a princípio concreta, aos poucos se deve fazer a transição progressiva para uma forma mais abstrata.
Pelos calendários podemos apresentar à criança a associação entre figuras e palavras ou objetos e sinais ou palavra escrita. Isto nos dá certeza de que a criança entenderá o conceito por completo, devido suas experiências concretas com o calendário.
Os objetos ou figuras do calendário ajudarão a criança a se lembrar dos acontecimentos anteriores e futuros dentro de sua rotina, tendo a oportunidade de comunicar sobre o que já aconteceu ou ainda esta por vir, fazendo escolhas de atividades ou períodos em que queira voltar a fazer algo.
As formas abstratas e concretas podem ser usadas em conjunto, se fizer em forma de complemento, como por exemplo: na hora de escovar os dentes o educador mostra a escova de dente e faz o movimento de escovar os dentes, depois incentiva a criança a repetir o movimento.


 O Calendário e as funções comunicativas

Sempre que começamos uma conversa ou participamos de outra, temos intenções de comunicar algo ou entender o que se está dizendo, essas razoes para nos comunicarmos são chamadas funções comunicativas.
Alguns exemplos de funções comunicativas são:

Pedir informações a respeito de pessoas, objetos, lugares, etc.;
Rejeitar ou não aceitar ações, alimentos ou objetos;
Responder perguntas;
Cumprimentar pessoas;
Descrever, compartilhar informações e experiências;
Fazer escolhas;
Dar instruções;
Para interagir ludicamente.

O sistema de calendário dá oportunidades à criança de realizar quase todas as funções vistas através de manipulação do objeto ou figura, que usados para organizar seu tempo, lhe darão motivos para comunicar e interagir.
O adulto deve colaborar com a criança usando o calendário para estimulá-la a interagir e responder perguntas simples como: você quer isso? Vamos realizar esta atividade agora? Você gostou quando isso aconteceu?
Aos poucos estas perguntas simples podem se tornar mais complexas, como por exemplo: O que vamos fazer agora? O que já fizemos hoje? Qual atividade do dia você mais gostou? Dando a criança à oportunidade de se expressar por meio do calendário de rotina.


Calendário e o desenvolvimento de temas

Quando conversamos é comum termos nossos assuntos preferidos, alguns a política, outros o futebol ou ainda novelas. Somos responsáveis por escolher o assunto de que queremos participar ou não, temos oportunidades de ter mais informações sobre oi que gostamos quando interagimos com outras pessoas que também possuem o mesmo interesse.
A criança com dificuldades na comunicação pode ser compensada nesta falta pelos calendários. A princípio, quando os calendários só possuem as atividades escolares, este será o único assunto a se tratar com a criança por ele, porém não impede que o educador de significado a outros assuntos de interesse da criança mostrando outros objetos e figuras que lhe interessem.
Quando já entendido o calendário escolar de rotina, a criança deve ser estimulada a usar figuras e objetos, diferentes destes, para interagir com outros. Também podem ser ampliados os calendários para o uso domiciliar, auxiliando a família a interagir com a criança de modo entendível por esta.
Uma forma de desenvolver novos temas é também o pedir aos pais que tragam de casa algo de que a criança goste, para que o educador interaja com ela, lhe pedindo informações sobre o novo objeto ou fotografia. Também é válido o uso de desenhos e figuras de personagens da televisão assistidos pela criança, fotografias de parentes, passeios que fez ou aniversários que comemorou.


Calendário e as conversas sociais

Os calendários podem auxiliar nas interações com outros colegas de classe e até mesmo com pessoas "estranhas" para a criança (um estagiário, aluno de outra sala, professor de outra turma). Esta possibilidade abre uma grande janela para o mundo exterior e auxilia no sentimento de auto-estima da criança que se sente entendida e aceita por várias outras pessoas que não são tão chegadas como os pais e o educador.
O calendário é uma ótima estratégia para mostrar à criança a forma mais aceitável de se pedir atenção, para que deixe de usar pirraças, agressões ou gritos sem sentido.
Com o sistema de calendários a criança terá por parte de seus pares comunicativos, respostas que lhe satisfazem sua necessidade comunicativa de forma simples e entendível.
Também pode ser ensinada a criança a "troca de turnos" que ocorre na comunicação, ou seja, cada pessoa tem sua vez de falar e dar opiniões tendo que esperar a vez para retomar o assunto.

Conclusão

Muitos conceitos de tempo assim como de linguagem e compreensão da divisão do tempo, podem ser ensinados através dos calendários. Os calendários podem ser individualizados conforme a necessidade da criança, que vai aos poucos evoluindo e tendo necessidades de diálogo e respostas diferentes ou mais complexas.
Com certeza a criança, a família e a escola tem muito a ganhar com o uso deste sistema.


Referências bibliográficas

Blaha, Robbie. Calendários para Estudiantes com Múltiples Discapacidades Incluído Sordoceguera. Rotagraf, 2003. Córdoba

DIJK, Van. O desenvolvimento da comunicação - tradução: Mirian Xavier de Oliveira - 2000. São Paulo.

Nunes, Clarisse. Aprendizagem Activa na Criança com Multideficiência, guia para educadores. Ministério da Educação, Departamento da educação Básica, 2001. Lisboa