LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Gênova, Ana Cristina Saraiva

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Rodrigues, Ana Paula

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Caldera,Solange

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RESUMO

Este artigo realiza uma reflexão sobre a literatura na educação infantil, focando sua analise na questão da função da mesma. Faz um rápido levantamento diacrônico, após abordar o tema conceitual e conclui que a Literatura Infantil ideal tem como função especifica ajudar no despertamento critico dos futuros leitores. E partindo da concepção ampliada da linguagem, especificando a sua característica como constituidora do sujeito histórico, cultural e social e a concepção da infância enquanto categoria social. Utilizou, como arcabouço teórico, aspectos do trabalho de Vygotsky (1994) e Bakhtin (2000), além de outros autores com os quais dialogamos sobre a Literatura Infantil. Os resultados indicaram que a contação e o reconto de histórias de Literatura Infantil revelam ser uma atividade interativa, potencializadora da linguagem da criança como espaço de recuperação do sujeito ator e autor de seu desenvolvimento. As crianças, enquanto interagem no mundo dos símbolos e da fantasia, expressam suas opiniões. Reconhecer a importância da literatura infantil e incentivar a formação do hábito de leitura na idade em que todos os hábitos se formam, isto é, na infância, é o que este artigo vem propor. Neste sentido, a literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa. O presente estudo inicia com um breve histórico da literatura infantil, apresenta conceitos de leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do contato da criança desde cedo com o livro e finalmente esboça algumas estratégias para desenvolver o hábito de ler.

Palavras – chave: Infância, Literatura Infantil.

1- INTRODUÇÃO

                O estudo realizado tem por objetivo, verificar a contribuição da literatura infantil no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se em contribuir para a formação de um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade. Isso porque se vive em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem rapidamente, seja através da leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual. Diante disso, a escola busca conhecer e desenvolver na criança as competências da leitura e da escrita e como a literatura infantil pode influenciar de maneira positiva neste processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa sobre a literatura infantil abordando que por ser um instrumento motivador e desafiador, ela é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem , que sabe compreender o contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.

Esta pesquisa visa a enfocar toda a importância que a literatura infantil possui, ou seja, que ela é fundamental para a aquisição de conhecimentos, recreação, informação e interação necessários ao ato de ler. De acordo com as idéias acima, percebe-se a necessidade da aplicação coerente de atividades que despertem o prazer de ler, e estas devem estar presentes diariamente na vida das crianças, desde bebês. Conforme Silva (1992, p.57) “bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos poderá ser uma excelente conquista para toda a vida.”

Existem dois fatores que contribuem para que a criança desperte o gosto pela leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a importância de uma televisão dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para os filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com a UNESCO (2005) somente 14% da população tem o hábito de ler, portanto, pode-se afirmar que a sociedade brasileira não é leitora. Nesta perspectiva, cabe a escola desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por obrigação.

 

 

 

 

 

2- DESENVOLVIMENTO

 

2.1 A IMPORTANCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O livro é uma fonte riquíssima que abre infinitas possibilidades para a criança compreender através da fantasia da imaginação o que acontece a sua volta.

Portanto se faz necessário oferecer a ela oportunidades de leitura de forma convidativa e prazerosa.

A leitura desperta o interesse e atenção da criança, desenvolvendo nela dentre outros fatores a criatividade, a percepção de diferentes resolução de problemas, autonomia e criticidade, que são elementos importantes para a formação pessoal e social do ser humano.

A criança quando tem contato com bons modelos literários, não só desperta a sua imaginação, como também facilita a expressão de idéias e a expressão corporal.

Quando busca imitar e representar os personagens das histórias, se coloca no lugar dos personagens, das fábulas e dos contos de fadas.

È bom frizar também o fascínio que a criança tem pelas ilustrações, estas são um convite para um mergulho no universo lúdico. É fácil perceber o intusiasmo que a criança demonstra pelas cores e riquezas das cenas.

È bom ressaltar que a leitura é um processo de continuo aprendizado e que, desde cedo, é preciso inserir a criança no contexto literário para que de maneira prazerosa ela venha adquirir intimidade com o texto e aos poucos consiga estabelecer um diálogo com o que ouve ou com o que lê.

2.2 LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a contação e o reconto de histórias

Historicamente, a arte de contar histórias era vista com status inferior em relação à escrita; por outro lado as lendas e os contos foram sendo disseminados através da contação de histórias. Os povos mais antigos se reuniam ao redor de fogueiras, enquanto contavam as suas histórias e, assim, disseminavam a sua cultura e os seus costumes. Reunir-se para ouvir a contação de histórias, cada vez mais, passou a ser uma atividade dos mais simples, o que explica ter sido, por tanto tempo, uma prática tão rechaçada pela sociedade.

A literatura é a expansão máxima de um povo, e é através da linguagem oral, que ela, a literatura, realiza-se. Daí a estreita relação entre língua, cultura e literatura.

Contar histórias para crianças pequenas é uma atividade muito comum em várias culturas e é muito difícil uma criança que não se interesse, por exemplo, por ouvir histórias e não expresse um interesse lúdico pelas palavras.É imprescindível e vital um redimensionamento de tais relações, de modo a transformá-la eventualmente no ponto de partida para um novo e saudável diálogo entre o livro e seu destinatário: a criança.   

É através duma história que se pode descobrir outro lugar, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula... Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer e passa a ser Didática, que é outro departamento (não tão preocupado em abrir as portas da compreensão do mundo). (ABRAMOVICH, 1994, p.17).

A Literatura Infantil surge dos contos populares, que se tornaram o bojo de inspiração de muitos autores atualmente reconhecidos. Arroyo (1990) comenta que esta é a principal razão de se considerar a contação de história a gênese da Literatura.

Amarilha (1997) defende que o acesso à contação de histórias promove condições de a criança desenvolver sua habilidade discursiva, quando lhe é conferida a possibilidade de recontar a história, desenhar e identificar os personagens e outras formas de representação. Enquanto lhes conta a história, o ouvinte (a criança) é levado a comportar-se com tão grande fascínio, que vai sendo envolvido para o livro e para o silêncio que, segundo a autora, são comportamentos comuns somente aos que conseguem exercer com o livro grande intimidade.

A arte de contar histórias implica algumas atenções, primeiramente na escolha daquilo que se vai contar. Conforme Coelho (2000, p. 153), a Literatura Contemporânea tem considerado o ato de contar como “o ato de criar através da palavra”. Para esta autora, há o narrador dialógico (ou dialético), a sua característica marcante é provocar, dirigir-se ao que escuta, mas também é chamado a participar, a interagir com o texto, sendo este que conta.

[...] um eu-narrador que se dirige continuamente a um tu, a alguém que, entretanto, não se faz ouvir na superfície da narrativa, mas de certa forma a provoca. (COELHO, 2000, p. 68)

Para Abramovich (1993, p. 23), “O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!” Essa perspectiva deve estar presente na metodologia da professora que utiliza as histórias de Literatura Infantil em sua atividade com a criança, estimulando-a a imaginar e a se envolver.

A professora, ao contar uma história, deve envolver a criança e fazê-la identificar-se com os personagens; ao interagirem com as histórias, as crianças passam a despertar emoções como se estivessem vivendo o que ali lhe é narrado, os sentimentos apresentados permitem que a criança, através da imaginação, exercite a capacidade de resolução de situações que vive em seu cotidiano.

Coelho, Betty (1991) recomenda que, após contar a história, a criança deve ser estimulada a recontá-la, e, para tanto, é preciso que se dê tempo para pensar e permita que ela possa dar outro final à história, altere, modifique. Um exercício para desenvolver nas crianças o poder de imaginação e de observação. As pausas que a criança faz refletem o momento em que o interdiscurso ouvido passa gradativamente a fazer parte, mais tarde, do intradiscurso. Quando recontam, as crianças estabelecem uma relação entre o fantasioso e a realidade e demonstram interesse durante essa atividade.

[...] o interesse na repetição e na reconstrução de uma narrativa é compatível com o nível de construção da linguagem. Ela permite a passagem das primeiras formas de pensamento às formas que vão se estabelecer em um segundo momento quando se completa a aquisição da linguagem. (SILVA, 2007 apud BONNAFÉ, 2001, p. 116).

Segundo Coelho, Betty (1991), a criança com 3 a 6 anos encontra-se na fase mágica, fase marcada pelo interesse, pelo faz-de-conta e expectativas de que tudo se resolve a partir de toques mágicos. Este é um período em que a criança solicita o “conte outra vez”, o tempo das repetições e interesse por histórias de fadas, pelo elemento maravilhoso que possui.

Silva (2007, p. 61) sobre o tema contar/recontar, diz o seguinte:

Desse modo, há não só uma continuidade na ação, mas também uma reversibilidade de papéis. Inicialmente, o professor-contador de histórias detém o poder do saber e de organizar em objetivos em estratégias, definindo o que, como, quando e onde contar. Na segunda etapa, o sujeito da ação é o aluno e não mais o professor. Por mais que os comandos sejam os mesmos em um universo de sala de aula, em qualquer faixa-etária lida-se, querendo ou não, com o elemento surpresa, que é a singularidade de cada pessoa. Nesse caso, manifesto na sua forma de perceber e de captar o mundo. Suas experiências atreladas ao contexto imediato, ou seja, a intertextualidade, que aqui é bastante subjetiva, expressa-se na fala ou na escrita do recontador.

A atividade de contar e de recontar auxilia a criança a desenvolver e reorganizar seus esquemas e permite que ela construa seus sentidos enquanto expõe e desenvolve habilidades significativas para o seu desenvolvimento.

2.3 A FUNÇÃO DA LITERATURA INFANTIL

Ao se falar em função da literatura infantil, não se quer afirmar o juízo de que existe a função. A verdade é que a função da criança passa por toda uma aventura repleta de percalços e o pior é que ninguém disso escapa.

A relação tão próxima entre esse gênero da literatura (infantil) e a pedagogia (aqui num sentido menor do termo) acabou significando para alguns uma degenerescência da própria idéia de literatura. O fato de a burguesia se apropriar definitivamente da literatura infantil a fim de servir - se dela como seu instrumento de propagação ideológica, acentuou ainda mais a concepção de que não estamos diante de literatura. Desta forma, como pontua Zilberman (1990, p. 126): “Cabe colocar a questão não apenas a partir de uma sociologia da infância, mas tomar como base a vivencia que esta tem do mundo, a nível propriamente existencial”.

O problema se instala exatamente pelo fato do adulto supor que a criança não passa de um “espaço vazio”. Não resta duvida que a criança não é portadora daquelas experiências que só o tempo dará; todavia, o que parece estar em jogo mesmo é sua impotência no tocante a ordenação das vivencias. Segundo Zilberman (1990, p. 125): “lidar com dois elementos que são especialmente adequado para as conquistas desta compreensão do real: a historia e a linguagem”.

A história vai criando uma ilusão do real e assim mexe com toda a estrutura da criança. No que diz respeito à linguagem, esta se confunde com o conhecimento propriamente dito o ler se construindo como uma armadilha sagaz de aquisição do saber.

A literatura infantil, apesar de tudo o que se exarou acima, não poderá jamais ser atacada como dispensável, desde que toda fantasia que lhe é peculiar, não seja uma grotesca e arrogante manipulação ideológica.

Deste modo, apesar da literatura infantil ter uma função histórica – preencher um vazio existencial – hoje, ela precisa ousar romper os grilhões ideológicos e ajudar não só nos aspectos de despertamento da leitura, mas, sobretudo, conter aquele grau de consciência tão fundamental para que construamos uma existência mais digna. Há de ser o lugar privilegiado onde o espírito critico flutua e avança se em qualquer laivo de hesitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Consideramos que o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela “atmosfera literária” que, segundo Bamberguerd (2000, p.71) a criança encontraem casa. Acriança que houve histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada, terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura.

De acordo com Bamberguerd (2000) a criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada a motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esta capacidade nos seus filhos. Outro fator que contribui positivamente em relação à leitura é a influência do professor. Nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a ler e a gostar de ler.

Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.23) “o equilíbrio de um programa de leitura depende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma hipotética e inexistente classe homogênea”.

Se o professor acreditar que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar isso à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona. Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura.

REFERÊNCIAS

  • ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil. São Paulo: Scipicione. 1993.
  • AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes. 1997.
  • ARROYO, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira – ensaios de preliminares para sua história e fontes. São Paulo: Melhoramentos, 1968.
  • BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. (Voloshinov, V. N.). Marxismo e filosofia da linguagem. 6a ed,Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. S. P.: HUCITEC, 2002.
  • _________. Estética da criação verbal. S. P.: Martins Fontes, 1991.
  • COELHO, Betty. Contar história: uma arte sem idade. São Paulo. Ed. Ática. 1991
  • COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. – 1. ed. São Paulo: Moderna, 2000.
  • JOBIM E SOUZA, Solange. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin – Campinas, SP: Papirus, 1994.
  • SILVA, Fabiana Sena da Silva; VILAR, Socorro. A fantasia dos contos de fadas no cotidiano da sala de aula. Centro de Educação da UFPB. 2002.
  • VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo. Martins Fontes, 1994.
  • VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo. Martins Fontes, 1991.
  • ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil e Ensino. São Paulo: Cortez, 1990.