É o uso apropriado dos termos com que nos expressamos que define e evidencia a correcta utilização da linguagem.

A banalização das palavras leva quase sempre a uma alienação semântica:

Vejamos o seguinte exemplo; hoje em dia é vulgar chamar-se Doutor a qualquer licenciado, quando de facto os termos correspondem a graus académicos distintos, dos quais, julgo eu, serem sobejamente conhecidas as diferenças.

Continuando, é à força da má utilização que fazemos das palavras que empregamos nas nossas expressões, que acabamos muitas vezes por lhes alterar o sentido original. Claro que com o tempo isso acabaria inevitavelmente por acontecer. As mudanças de sentido não constituem por si só um entrave ao bom entendimento linguístico, elas são até, a longo prazo, inclusivamente um sinal de vitalidade em qualquer língua.

Só nas línguas mortas o sentido das palavras permanece inalterável, não é portanto aí que reside o grande problema da banalização dos termos linguísticos, mas no tempo que decorre entre a banalização e o seu uso corrente com o novo sentido. Enquanto a alienação não desenvolve os seus mecanismos próprios, isto é; não generalize o novo sentido à palavra.  

Este linguarejar banal que aliena e simultaneamente cria a própria língua em que se expressa, surge sobretudo de duas formas concorrentes; a mais vulgar é a dilatação semântica consciente (utilização do mesmo termo para exprimir significações diferentes, ou seja, o interveniente mesmo tendo conhecimento das diferenças de sentido consente propositadamente no seu uso); outra é motivada pela falta de conhecimento do verdadeiro sentido do termo a aplicar, levando o comunicador a usá-lo para definir erradamente uma situação.

Vejamos o que aconteceria se de repente chamássemos também colheres às facas.

Para além de tornarmos difícil a comunicação, instalar-se-ia imediatamente o caos, e daí em diante, pelo menos por algum tempo, quem conhecesse o uso devido a cada termo teria dificuldades quando o ouvisse, em saber exactamente qual dos objectos estava em causa.

Se a função da linguagem é comunicar, o que obrigatória e implicitamente pressupõe que o façamos a alguém, então temos que ter das coisas os mesmos conceitos. 

Para que nos entendamos é forçoso que não juntemos tudo no mesmo saco, que chamemos às coisas o seu verdadeiro nome.