Acadêmica Rosangela dos Santos

Orientadora: Mestre Maria José de Azevedo Araujo

RESUMO

O artigo apresenta uma análise sobre o pensamento de Marcos Bagno, A norma oculta (2003).Vive-se em uma sociedade carregada de preconceitos sobre a forma correta de se falar, como se existisse uma única variante da língua portuguesa, que afinal, deveria se chamar para nós brasileiros, língua brasileira. Em seu livro, Bagno faz uma critica severa aos que se consideram falantes corretos da língua e se acham no direito de estipular o que é certo ou errado linguisticamente falando.

PALAVRAS-CHAVE

Língua portuguesa, gramática, linguística.

ABSTRACT

The article presents an analysis of the thought of Marcos Bagno, Standard Hidden (2003). We live in a society full of prejudices about the correct way of speaking, as there was only one variant of the Portuguese language, which ultimately should call for us Brazilians, the Brazilian language. In his book, Bagno is a severe criticism to which you consider correct speakers of the language and assume the right to stipulate what is right or wrong linguistically speaking.

KEYWORDS
Portuguese language, grammar, language.

INTRODUÇÃO

O português não-padrão não é "pobre', "carente" nem "errado". Pobres e carente são, sim, aqueles que o falam, e errada é a situação de injustiça social em que vivem. Escrever sobre uma prática de ensino competente, na educação das camadas populares, pensando na diferença entre ensinar (pôr o sinal em alguém; ação de fora para dentro) e educar (trazer para fora; movimento que se faz na direção oposta à de ensinar) tentando descobrir novas trilhas para a prática pedagógica.

Analisando por esse lado é notável que nem a escola, nem a sociedade sabem discernir com clareza os temas: oralidade e escrita, pois enquanto a primeira surge de maneira natural, a segunda nasce como uma representação artificial da língua.

Os gregos na Antiga Grécia decidiram escrever a gramática para compreender melhor o funcionamento da língua de forma sistematizada, mas a sociedade assimilou a grafia de maneira errônea, valorizando mais a escrita do que a fala como se a oralidade dependesse da escrita para existir. Desde então a sociedade grafocêntrica ganhou um destaque maior que a sociedade que faz uso da oralidade, criando-se a idéia de que escrevemos certo e falamos errado.

Em meio a tantos valores distorcidos, desde o trabalho dos gramáticos que definiu a língua como sobrenatural e esotérica, o entendimento de que as línguas mudam e variam foi sendo deixado de lado e criou-se a falsa idéia de que o ser humano poderia controlá-la.

DIFERENTES VARIANTES PARA UMA COMUNICAÇÃO IGUALITÁRIA

A luta dos lingüistas é mostrar que o desenvolvimento oral é diferente do desenvolvimento da escrita, pois enquanto uma caminha a passos largos, a outra quase não se locomove e é preciso entender as distinções de desenvolvimento de ambas, para aceitar a historia lingüística da sociedade brasileira, mostrando que não é preciso desprezar as formas de oralidades menos privilegiadas para poder levar os cidadãos a consciência de que é preciso ser poliglota na sua própria língua sabendo usar as suas diferentes variantes para uma comunicação igualitária nas diversas situações cotidianas.

Na escrita é imprescindível que deve ser a mais homogênea possível, pois as regras gramaticais estabelecidas dão margem para esse estado. Mas não se pode fazer o mesmo com a oralidade que, por sua vez, é impregnada historicamente de diferentes dialetos surgidos de diferentes formações.

Tendo-se o entendimento de que a norma padrão se refere à escrita, e a norma popular e culta a oralidade, cabe ao professor de língua portuguesa instruir seus alunos a conceber a norma culta e padrão sem, no entanto, destruir a norma popular, que tem extrema importância no entendimento do percurso que teve a língua em referencia ate chegar aos dias atuais.

Os estudos lingüísticos mostram que falar como se escreve é uma verdadeira idealização utópica, pois ninguém fala e falará da maneira como a gramática prescreve, pois os registros escritos ficam aquém do desenvolvimento oral pelo qual a língua passa.

Longe da vida social, a língua não existiria e é até incomodo pensar e sustentar que existem pessoas que defendem uma pureza lingüística que deve ser mantida e preservada longe da contaminação dos falantes das normas populares. Preconceitos como esse não podem subsistir levando a população um discurso intragável de que é preciso eliminar do meio popular as formas "erradas" de se falar. Para isso é preciso conhecer mais a historia da língua estabelecida no Brasil, de onde ela provém, e o que ela trás de particular que tanto incomoda as pessoas menos esclarecidas sobre a estrutura da mesma.

O livro preconceito lingüístico faz uma abordagem critica aos diversos mitos que circundam a nossa sociedade com conceitos altamente preconceituosos sobre a língua materna. De forma clara e demonstrativa, põe abaixo conceitos como:

·"A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente";

·"Brasileiro não sabe português/ Só em Portugal se fala bem português";

·"Português é muito difícil";

·"As pessoas sem instrução falam tudo errado";

·"O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão";

·"O certo é falar assim porque se escreve assim";

·"É preciso saber gramática para falar e escrever bem";

·"O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social".

No decorrer do livro, é facilmente percebido que a língua brasileira (assim como seu povo), é proveniente de misturas; misturas essas que em vez de empobrecer (como muitos pensam) a fala, enriquece-a cada vez mais.

Através de exemplos comprovados com pesquisas feitas pelos lingüistas, Bagno ressalta que nenhuma língua é errada, pois, como poderia ser errado aquilo que já nasce com o individuo? Toda a diversidade lingüística tem que ser respeitada, o que em nenhum momento restringe o individuo no que se refere ao estudo da língua culta, que por sua vez é originada da gramática normativa em uma tentativa de representação da língua.

Outro grande empecilho para a aceitação da diversidade linguística, é o fato das pessoas sempre tentarem relacionar duas coisas completamente diferentes: a gramática normativa e a língua. As duas nunca vão estar estreitamente ligadas, pois enquanto a língua existe desde a origem humana, a gramática existe como uma tentativa de explicar e representar a língua.

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Por falta de informações construtivas, a população brasileira sofre em seu preconceito, enriquecido de comentários levantados pelos meios de comunicação em massa. A estrada para a desconstrução do preconceito lingüístico ainda é longa e requer muito treino por parte dessa sociedade que tem a língua culta como mais um meio de desvalorização de muitos por parte de poucos, que pensam dominar o saber culto da língua portuguesa.

Com base nesses argumentos, Marcos Bagno nos faz refletir se é mesmo necessário estabelecer uma sociedade tão rica em suas diversidades, em cima de preconceitos mal fundamentados e egoístas.

SOBRE AS AUTORAS

Rosangela dos Santos é aluna de graduação, 2° período do Curso de Letras/Português da Universidade Tiradentes em Aracaju/SE. A elaboração deste artigo científico deve-se à prática investigativa na forma de pesquisa qualitativa do tipo bibliográfico. O artigo foi produzido visando atender à exigência da disciplina "Contemporaneidade", do Curso de Nivelamento da Universidade Tiradentes, no 2º semestre letivo de 2009 e contou com a orientação da professora Msc Maria José de Azevedo Araujo. E-mail para contato: [email protected] e [email protected].

REFERÊNCIAS

ANTUNES; Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

AZEVEDO, Ana Maria Lourenço de ett allis. Quem tem medo do TCC? Desatando os nós da pesquisa científica na prática acadêmica. Espírito Santo. Ex-libris. 2008

BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

______________. Preconceito lingüístico: O que é, como se faz. Edições Loyola, 28º Edição.S/D.