LIMITES E DISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria Terezinha Rosa Apendino Eloana Conceição Cucolo da Matta Emanuelle Evellinn dos Passos Aniceto RESUMO Atualmente a indisciplina é uma preocupação constante nas salas de aula, não mais classificadas em séries, pois a falta de limites e disciplina vem a cada ano sendo um problema enfrentado pelos professores em todos os ciclos, por esse motivo são abordados nesse trabalho alguns aspectos que podem contribuir para o dia a dia do educador mediante sua prática pedagógica, pois atualmente a indisciplina e o modo como o educador reage diante desse obstáculo com o aluno, podem acarretar sérios problemas futuros em sua vida escolar e causando bloqueios e até mesmo aversões no que se refere a educação por parte desse aluno. Pretende-se contudo que o educador olhe com mais sentimento e responsabilidade e consiga de maneira tranquila compreender e aprender a superar essas dificuldades em sala de aula. PALAVRA CHAVE: limites e indisciplina na sala de aula 1 - INTRODUÇÃO Quando falamos em sala de aula, precisamos ter consciência de que estamos tratando de pessoas, seres que necessitam de nossa compreensão e respeito para que ele possa se sentir membro ativo desse novo grupo que é o grupo escolar. Existem em nossa sociedade muitas crianças que não são necessariamente protegidas e cuidadas pelos adultos que com elas convivem, basta pensarmos nas crianças que passam todo o tempo em que não estão na escola, na rua, das crianças que passam horas conectadas nas tecnologias, alheias ao mundo adulto, as crianças que só vêem os pais na hora de dormir quando vêem. É de todas essas crianças que falamos e nos deparamos em sala de aula. Como tratá-las de forma igualitária, querer que todos sigam os mesmos padrões e os mesmos comportamentos? É preciso destacar que com a modernidade, deu-se inicio a uma nova infância tal qual não vivemos quando criança, mas precisamos aprender com ela e principalmente o efeito que ela causa em nossas crianças. É importante destacar que da Idade Média ate a Modernidade, ou a criação de uma nova infância, uma etapa diferente do mundo adulto, devendo inclusive ser educada e cuidada por este, com acesso a toda forma de conhecimento social e cultural dos adultos, somente com o advento da modernidade a criança passou a ser diferente do adulto. “Adultos e crianças se diferenciam e se distanciam, numa operação que constitui a justificativa para a intervenção familiar e para a pratica da educação institucionalizada. É preciso garantir o mito da inocência, a realidade quimérica da infância ( ou pelo menos, a sua narrativa) e, sobretudo, inseri-la em processos de controle e regulação, cada vez mais sofisticados, porque invisíveis e consentidos”(Bujes, 2000, p.28) Com o conceito moderno se fortaleceu também o conceito da família moderna, bem como o conceito de escola moderna, que se constitui a partir daí uma escola onde as diferenças são trabalhadas e respeitadas. Um sujeito infantil, aluno, aprendiz que precisa ser orientado para a vida. Mas a escola soube articular de forma muito competente e produtiva essas transformações uma modalidade de poder invisível – a disciplina – no processo de educar as crianças. O poder disciplinar permite o controle, que se manipula, que se modela, que treina, que obedece, sendo todas essas modalidades trabalhas na escola, e ainda hoje, espera-se principalmente de alguns professores que essas modalidades sejam de forma alguma mudada ou trabalhada de forma a se obter progresso e respeito pelos seus sujeito-alunos. E assim se consiga futuramente manter uma população sadia, educada e preparada para uma vida adulta. 2 - DESENVOLVIMENTO Quando falamos sobre o poder disciplinar, não desejamos dizer que limites e disciplina não sejam necessários. Pelo contrário, certamente precisamos deles para viver em sociedade, tanto na infância, quanto e principalmente na fase adulta. Atualmente está muito presente nas escolas comentários sobre os alunos desde a educação infantil sem limites, hiperativos, agitados, alunos esses classificados como fora das normas de um aluno dito disciplinado dentro da lógica de uma média escolar. Muitos são encaminhados a serviços psicológicos ou psicopedagógicos para que sejam “normalizados”. Mas já paramos para nos interrogar que talvez esses sujeitos vivam em uma outra temporalidade, certamente mais ativa e cheia de estímulos do que foi a nossa infância ou a de nossos pais, avós e de adultos com mais de trinta anos? Devido a necessidade financeira, hoje na maioria dos lares brasileiros pais e mães trabalham fora e muitas vezes os filhos ficam com alguém da família ou pessoas contratadas para o serviço de acompanhar a crianças, onde a maior preocupação dos pais é em relação a alimentação e não a educação. Os pais têm larga parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina dentro da classe. É uma situação cada vez mais comum: eles trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educação das crianças. Sentindo culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de comportamento básicos (Zagury, 2002, p.192). Por passar pouco tempo em casa e com o filho, os pais preferem ceder ao invés de educar, fazem do pouco tempo de convivência como momentos de agradar, mimar e relevar, deixando passar certas atitudes que serão fundamentais para o desenvolvimento de seu filho, tanto na vida escolar como na convivência com a sociedade. Então para quem sobra essa grande responsabilidade, infelizmente somente para a escola. como afirma Rossini A complexidade da vida moderna acaba delegando aos professores papeis antes só de responsabilidade dos pais. A família de hoje conta muito com a escola, ou seja, com seus professores na formação das crianças e dos jovens. (Rossini, 2001, p.44) A construção familiar, assim como o mundo esta sempre em mudanças, mudanças essas favoráveis ou não, a que julgamos certas, erradas, comuns, ou incomuns, mas que devemos respeitar e compreender cada inovação que esta relacionada o nosso aluno. Querer que o sujeitos seja como queremos, em seu relacionamento com os colegas, em suas tarefas e no dia a dia da sala de aula, esta muito longe da nossa realidade, pois o aluno que temos é único, com características individuais, de meios e atitudes diferentes e com habilidades e características que são influenciadas desde seu primeiro contato com o mundo. Mas apontar regras e medidas em sala é também de extrema importância. Mostrar que ele esta em um novo ambiente e que terá que obedecer as regras desse novo ambiente é o primeiro passo para conseguir a tão desejada disciplina. A auto-regulação certamente é necessário; se não fosse assim como aguentaríamos, depois de adultos ficar sentados em uma sala de aula? Ou em uma palestras escutando educadamente o que a outra pessoa nos diz? Em fila de banco e supermercados? São as regras impostas desde a nossa infância que nos possibilita compreender e obedecer simples atos que muitas vezes passam despercebidos na correria do dia a dia. É importante nos darmos conta desse processo disciplinador que a escola institui no corpo infantil,não o celebrando, mais entendendo-o, procurando o que de produtivo deve existir nele, o que não nos exime de assumir nosso papel de educadores. As crianças precisam saber que as figuras de autoridades de sua vida – os adultos, pais e educadores – são a sua segurança. Limite é preocupação, é borda do corpo humano, é frustração. E mesmo a frustração precisa desde cedo acontecer, ou seja, a existência do “não” também é necessária para o nosso desenvolvimento. O que não podemos esperar é que todos os nossos alunos sejam iguais, que compreendam igualmente e siga as regras no mesmo momento, pois certamente em nossas salas de aula existirão crianças calmas, ativas, brancas, negras, adotivas, de pais separados, de pais homossexuais, com alguma deficiência física, e que muitos não são assistidos pelos seus pais, mas por babas, vizinhos e parentes, pessoas que talvez não se importem muito com a construção desse sujeito. O exercício de perceber essas diferenças já é por si só difícil, porém necessário. É nesse ponto que podemos pensar em um planejamento em que fique claro qual o nosso papel de autoridade na sala de aula: não de autoritarismo, mas que ao mesmo tempo respeite as diferenças e oportunize espaços de expressão, ludicidade e criação por parte de nossos alunos. 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS È importante pensar na escola e na educação como pontos focais onde incidem mecanismos de regulação para a efetivação de determinadas práticas pedagógicas, onde as crianças estão imersas em uma rede de poder e saber que procura constantemente capturá-la, pois muito se diz sobre ela e como agir e trabalhar com ela, mas as ações de convivência com o adulto, as ações vivenciadas e assistidas e os limites que são dados diariamente podem definir qual capturar, e onde há muito poder o saber pode ficar comprometido. Antes de classificar um aluno devemos conhecer o seu espaço, seu cotidiano de vida, e talvez por uma simples observação e conhecimento sobre a família, já podemos perceber sua rotina familiar, pois não é preciso muito para sabermos se a família (pais ou responsáveis) possui alicerces saudáveis, ou até mesmo um simples acompanhamento com observação e atenção necessária a dar uma membro tão importante do grupo familiar que é uma criança em desenvolvimento. Pois muitas vezes as crianças reagem na escola de forma agitada e explosiva pelo simples fato de ser normal em casa, comportamento esse ignorado e muitas vezes mal vista pela escola, professores e coleguinhas de sala. Devemos como educadores manter na escola a ação de uma instituição que não só educa por meio de saberes, mas disciplina através de suas rotinas, horários, comportamentos, defendendo determinados valores, atitudes e padrões culturais, respeitando e valorizando o próximo como seres humanos diferentes. BIBLIOGRAFIA ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 4ª. ed. Rio de Janeiro: vozes, 2001. ZAGURY, Tânia. Escola sem Conflito: Parceria com os Pais. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2002. BUJES, M. I. E. O fio e a trama: as crianças na malha do poder. v 25. Porto Alegre: vozes, 2000.