Pós-Graduação Latu Sensu em Gestão Ambiental e Biodiversidade com Ênfase em Geografia 

Educação Ambiental: Interdisciplinaridade e Eco-formação

Professora orientadora: Ms. Mânia Maristane Neves Silveira Maia

Victor Heleno Ávila

Paraopeba – MG Janeiro de 2013


Artigo realizado como requisito parcial à obtenção de título de especialização em Gestão Ambiental e Biodiversidade com ênfase em Geografia, orientado pela Profª.Ms.Mânia Maia cursado pela Faculdade Promove de Janaúba, para obtenção do grau de Especialista em Gestão Ambiental.

Educação Ambiental: Interdisciplinaridade e Eco-formação

Resumo:

O presente artigo discorre breves considerações acerca das relações da temática Educação Ambiental, com as diversas disciplinas presentes na escola, bem como as metodologias empregadas pelos professores de áreas distintas ao abordar o tema, sua importância na formação dos alunos, assim como sua aceitação por parte destes.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Ecoformação, Temas Transversais nas escolas.

Abstract:
This article presents brief considerations about the relationship of environmental education theme, with the various disciplines in the school, as well as the methodologies used by teachers from different areas to address the issue, its importance in the formation of students as well as their acceptance by thereof.

Keywords: environmental education, eco-formation, Cross-cutting Themes in schools.

1 Introdução:


Visando elucidar algumas considerações sobre temas transversais como a Educação Ambiental e sua abordagem nas escolas, dentro das diversas disciplinas, nesse artigo buscamos comparar a aceitação do tema no Brasil e no mundo, desde seu surgimento, até sua inclusão aos assuntos escolares; bem como intentamos visar a aceitação desta temática por parte dos alunos, mostrando sua importância na formação de uma consciência crítica e fundamentando uma vivência harmoniosa com o meio em que vivem.


2 O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL:


A Educação Ambiental pode ser entendida com toda ação que visa contribuir para a formação de cidadãos conscientes da preservação do meio ambiente. A partir desse entendimento, os cidadãos tornar-se-ão aptos a tomar decisões individuais e coletivas sobre as questões ambientais necessárias para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável e equilibrada em seus mais variados aspectos. Dessa forma, sua aplicação não se restringe ao âmbito escolar, devendo até, permeá-lo para facilitar à sociedade o entendimento dessas questões e suas aplicações práticas no dia a dia.
Segundo NALINI (2003), proteger a natureza precisa ser tarefa permanente de qualquer ser pensante e aprender a conhecê-la e respeitá-la pode levar uma vida inteira. Não há limite cronológico, em termos de educação ambiental, para que todos estejam em processo de aprendizado constante.

3 BREVES ELUCIDAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO:

A Conferência de Estocolmo em 1972 foi a primeira atitude mundial em tentativa à organização das relações – até então esquecidas – entre homem e natureza e a partir daí a Educação Ambiental se contextualiza.

A Conferência de Tbilisi em 1977 demonstrava as preocupações existentes a respeito do meio ambiente, mencionando, em um dos pontos da recomendação nº 21, que se deveriam ser efetuadas pesquisas sobre os obstáculos, inerentes ao comportamento ambiental, que se opõem às modificações dos conceitos, valores e atitudes das pessoas (DIAS, 1992).

Posteriormente, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), ou ECO 92 (Rio 92), reuniu na época mais de 100 chefes de Estado e consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, contribuindo para a conscientização de que os danos ambientais eram majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos. Poucos anos após o Rio 92, discutia-se já em 1999 a criação de uma lei específica sobre a Educação Ambiental.


4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROPOSTA DE ENSINO NAS ESCOLAS


A Educação Ambiental foi proposta no Brasil em 1999, com o objetivo de disseminar o conhecimento sobre o meio ambiente.Sua principal função é conscientizar quanto à preservação e à utilização sustentável, podendo ser incluída como disciplina escolar.

Em 27 de abril de 1999 foi criada a lei nº 9795 – Lei da Educação Ambiental – que em seu art. 2º cita: “A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente, devendo estar presente, de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo em caráter formal e não-formal”.

Nesse contexto a Educação Ambiental intenta despertar a consciência de que o homem é parte do meio ambiente e não um mero explorador de seus recursos, um agente externo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sugerem que o tema seja de cunho transversal, portanto aquele que pratica e ensina a EA no âmbito escolar é o educador ambiental e não necessariamente precisa ser professor. Sua proposta é ampliar o entendimento e integrar ações e não reduzir o foco e criar mais uma divisão no conhecimento como se têm percebido.

Porém, a intenção dos Parâmetros Curriculares Nacionais em sua origem foi estimular o engajamento da escola, do seu projeto político-pedagógico com as questões do seu tempo conectando conceitos teóricos à realidade cotidiana: essência da educação para a cidadania. Dessa maneira, a educação ambiental sustenta-se na busca permanente entre as questões culturais, políticas, econômicas, sociais, educacionais, religiosas, dentre outras, determinantes para nossa relação com o ambiente à nossa volta.


5 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES


De acordo com a resolução CFBio nº10/2003 é atribuída ao Biólogo a expertise para atuar na área da Educação Ambiental, entretanto, uma das alternativas para a inclusão desta temática no meio escolar é "a aprendizagem em forma de projetos".

Segundo CAPRA (2003), essa é uma proposta alinhada com o novo entendimento do processo de aprendizagem que sugere a necessidade de estratégias de ensino mais adequadas e torna evidente a importância de um currículo integrado que valorize o conhecimento contextual, no qual as várias disciplinas sejam vistas como recursos a serviço de um objeto central. Esse objeto central também pode ser entendido como um tema transversal que corrobora com as outras disciplinas já constituídas e consegue trazer para a realidade escolar o estudo de problemas do dia a dia.

À transversalidade da temática ambiental na educação vieram somarem-se ainda outros aspectos para a discussão sobre interdisciplinaridade: mesmo compondo ações integradas, as disciplinas ainda têm pouca entrada na vida cotidiana; além de que o tema é relativamente novo, estando em voga em especial nas duas últimas décadas, e, encontrando grande dificuldade de abordagem em cursos universitários de áreas consideradas não afins, criando a partir daí, professores não habituados e/ou não interessados no assunto.

Portanto, para se pensar a inserção da dimensão ambiental na escola, é fundamental considerar estas três esferas: a organização e o funcionamento das escolas; o currículo, com suas metodologias e práticas de ensino desenvolvidas pelo professor; e as estratégias para a formação inicial e continuada de professores para a atuação na área (FRACALANZA, 2004).

Entretanto, certamente bem utilizados seriam – e o são – seus conhecimentos não só na Biologia, mas na Geografia, na Química, na Física, no Português – com textos para leitura – na Sociologia – debatendo-se as dificuldades humanas no trato com o mundo ao seu redor – e até na História – relatando acontecimentos históricos de cunho ambiental.

Segundo o dicionário Aurélio, capacitar implica tornar capaz, habilitar, convencer, persuadir. A Educação Ambiental deve seguir na direção de habilitar, fornecer dados e proporcionar vivências para as pessoas conhecerem e interpretarem a realidade ambiental próxima de suas práticas sociais. Nesse sentido, capacitar adquire um significado mais amplo: é investir na formação contínua do educador, levando-o a refletir sobre a sua inserção individual e coletiva no meio e, principalmente, a articular os processos ecológicos com os processos históricos.

Todavia, a Educação ambiental não é uma área de conhecimento isolada. Ao contrário, o contexto em que surgiu deixa claro seu propósito de formar agentes capazes de compreender a ligação dos vários elementos que compõem a sustentação da vida, as relações de causa e efeito da intervenção humana nessa cadeia, de engajar-se na prevenção e solução de problemas socioambientais e de criar formas de vivência mais justas e sintonizadas com o equilíbrio do planeta.

Vista nesse contexto, a educação ambiental, além de carregar consigo a utopia de um mundo sustentável, propõe-se a desenvolver capacidades de interpretação da realidade e da análise dos fenômenos, com a intenção de identificar caminhos para a construção de experiências de vida mais sustentáveis, seja por intermédio dos professores inseridos direta ou indiretamente nesse contexto, seja por profissionais da área em xeque.


6 ECO-FORMAÇÃO: O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA SOCIOAMBIENTAL DOS ALUNOS


A abordagem do tema vem galgando grandes avanços dentro do ambiente escolar, por lidar diretamente com a instrução de seres humanos ainda em formação dos conceitos sobre a vida e o mundo ao seu redor, podendo até, como acontece muitas das vezes, disseminar-se tais conhecimentos adquiridos nas escolas dentro do seio familiar e, logo após, integrá-lo ao conhecimento da comunidade.

As feiras culturais, nesse sentido tem grande importância não só na disseminação dos conhecimentos adquiridos na escola a serem transmitidos à comunidade, assim como na própria formação crítica/intelectual dos alunos, por estarem trabalhando conjuntamente aos professores, elaborando metodologias para exporem a temática, estudando de acordo, cada qual com seu nível de intelecção e buscando dentro do tema a área mais afim, dentre outros.

A partir do momento em que os alunos entendem-se e veem-se como parte indissolúvel do mundo à sua volta, percebem que o descompasso entre a necessidade de progresso/expansão e a relação precária do ser humano quanto à utilização dos recursos naturais, tanto quanto às suas próprias relações interpessoais, é fruto de um desequilíbrio íntimo, que cega o homem para a realidade que o cerca.

Daí em diante, vendo o mundo como uma teia que se interliga a todas as partes, através dos povos e continentes, homem e natureza, uma mudança de postura contra os atuais modelos econômicos e padrões de comportamento, começa a ser percebida, levando-os a levantar a necessidade de cooperação para um determinado benefício chegar ao alcance de todos.

Segundo Marina Silva em entrevista “[...] a civilização humana pode ser enriquecida. A educação pode ser diferente, a saúde, as artes, a filosofia, a maneira de viver pode mudar...” (Fonte: http://www.ecolnews.com.br/artigomarinasi.htm) o que corrobora o supramencionado, reafirmando a necessidade inadiável de mudança.

Os alunos entendem então que os recursos naturais são esgotáveis e irrecuperáveis em curto espaço de tempo e que a adoção de posturas menos agressivas é vital para obtermos o reequilíbrio ambiental, condizente com o presenciado nas tribos de outrora, evitando-se que os desastres que hoje ocorrem, nos ensinem a viver mais equilibradamente com o planeta.

A partir daí, começam a policiar seus atos evitando-se desperdícios, tomam a iniciativa de debater o assunto em seu círculo de amigos, dentre outras pequenas ações que contribuem para um passo importante à implementação efetiva da qualidade de vida que almejamos, seja enquanto cidadãos, seja pela necessidade urgente de mudança para reequilibrarmos a nós e ao todo.


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS


É interessante observar o que chamamos de consenso aparente: todos nós sabemos da gravidade da situação ambiental e concordamos que ela precisa ser revertida, mas, no entanto, ainda nos apegamos a discursos político/ideológicos e mobilizamos raras ações reais em prol do objetivo de mitigação e/ou reversão das consequências ambientais no planeta.

Vimos no presente artigo as diferentes etapas do processo de Educação Ambiental em toda a sua complexidade, desde seu início a partir de Estocolmo em 1972 até os dias atuais onde o tema é corriqueiro nas escolas de todo o Brasil. Apesar de avanços serem notados quanto à políticas públicas e educacionais, muito ainda precisa ser feito.


Urge o tempo de repensarmos nosso modelo atual de interação com o mundo à nossa volta. Os velhos conceitos de cooperação e respeito mútuos, encontrados em tempos remotos nas aldeias indígenas espalhadas pelo solo brasileiro, se perderam em meio à ganância e sede de poder do homem moderno. Não mais nos vemos como um só povo, dentro de uma só mãe natureza, na escola da vida chamada Terra.

Certamente, faz-se de vital importância resgatar valores éticos e morais para nortearem nossas vidas e decisões, para então reaprendermos que é da partilha e união, que alcançaremos novamente um real equilíbrio entre homem/homem e homem/natureza. Teorias apenas, não adiantam para reverter ou minimizar o quadro em que nos encontramos.

Como podem, pois, homens desequilibrados por sua própria ambição, conseguirem reequilibrar o mundo à sua volta? Não precisaríamos nos reequilibrar primeiramente, antes de intentarmos mudar o mundo? Sendo assim, a palavra chave “mudança” faz-se inolvidável para o tão sonhado equilíbrio ambiental.


8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CAPRA, F. Alfabetização Ecológica: O Desafio para a Educação do Século 21. In: TRIGUEIRO, A. (coord.) Meio Ambiente no Século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
NALINI, R. Justiça: Aliada Eficaz da Natureza. In: TRIGUEIRO, A. (coord.) Meio Ambiente no Século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.
FRACALANZA, H. As pesquisas sobre educação ambiental no Brasil e as escolas: alguns comentários preliminares. In: TAGLIEBER, J. E.;GUERRA, A. F. S. (Org.) Pesquisa em educação ambiental: pensamentos e reflexões; I Colóquio de Pesquisadores em Educação Ambiental. Pelotas: Ed. Universitária, UFPel, 2004. p. 55-77.