INCLUSÃO SOCIAL: VERDADE OU CONSEQUÊNCIA?

Gabriela Alessandra de Sousa

RESUMO

O Presente trabalho tem por objetivo refletir sobre a realidade atual da prática da Inclusão Social nas escolas. Visa mostrar a importância da preparação física e social do ambiente e seus freqüentadores, pontuar algumas situações problemas que impedem a prática da educação inclusiva, como a falta de preparação da equipe. Ressalta-se ainda que a atuação do educador e dos profissionais envolvidos tem papel fundamental na construção do aprendizado e na formação do cidadão.



Palavras-Chave: Preparação, Socialização, Direitos, Inclusão.

Introdução

O presente trabalho analisa a aplicação da educação inclusiva e pretende informar sobre a importância da preparação do ambiente e das pessoas que o freqüentam para que realmente aconteça a Inclusão Social na Educação Formal.
Pode-se dizer que essa é uma inovação que tem como objetivo expandir a todo o contexto educativo a chamada Inclusão Social, e assim fazer com que uma educação de qualidade alcance a todos.
Dessa forma, percebe-se que é possível haver este trabalho se houver investimentos em profissionais adequados e em materiais necessários para atender a todos de acordo com suas dificuldades e necessidades.
Seguindo as ponderações teóricas de Nogueira, Tierney, Bueno e Ainscow, e a vivência dos educadores e profissionais que utilizam da prática da educação inclusiva, espera-se que o presente artigo contribua para os profissionais no âmbito de suas realizações pedagógicas.













Desenvolvimento

Tendo em vista o direito de um bom desempenho educacional a todos, parte-se desse pressuposto a afirmação de que deve haver a prática da Inclusão Social nas redes educacionais públicas e privadas. Verdade ou conseqüência? Essa é uma verdade que virá como conseqüência de um investimento necessário para que funcione de maneira adequada a inclusão em nossa sociedade.
Foram desenvolvidas políticas e leis para a elaboração de programas voltados ao atendimento de pessoas com necessidades especiais, com o intuito de adaptar essas pessoas aos sistemas sociais comuns, para garantir-lhes mais acessibilidade.
É necessário iniciarmos essa inclusão em um dos primeiros contatos sociais, que é através das escolas, pois se planeja que as escolas devam ser comunidades que atendam a todos, já que as diferenças humanas são naturais, diga-se existem, havendo, porém, a necessidade de adaptar a aprendizagem a cada criança (Tierney, 1993).
Sabe-se que na sociedade participamos de diversos grupos, e um dos primeiros é na educação, em que somos inseridos em uma sala de aula com uma diversidade grande de realidades, devemos investir para que as pessoas com dificuldade especiais possam ser inseridas nesses grupos e conseqüentemente na vida social, assim estaremos abrindo portas para uma sociedade sem preconceitos e preparada para receber pessoas com necessidades especiais.
Esse é um fato defendido por lei que garante a todos o direito da inclusão social, independente de suas dificuldades, pois é dever da sociedade estar adaptada para receber o cidadão em suas diferenças.
Segundo a "Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência" gerada pela lei n. 7.853/89 e pelo decreto n. 3.298/99 deve ser garantido a esse público o direito de igualdade atendendo as perspectivas sociais".
Essas leis elaboradas estão sendo colocadas em prática em algumas escolas públicas e privadas, com projetos de educação inclusiva que possuem objetivos de acordo com a proposta da lei, mas que por outro lado não funcionam por não haver profissionais qualificados, investimento material e por não estarem preparados em seu espaço físico.

"[...] tem-se utilizado a palavra «integração» para descrever processos mediante os quais certas crianças recebem apoio com o propósito de que possam participar nos programas existentes em grande medida sem modificações dos colégios; pelo contrário, a "inclusão" sugere um desejo de reestruturação do programa do colégio para responder à diversidade dos alunos que recebem as aulas" ( Ainscow 1999, p.25).


Mesmo com uma lei em vigor, ainda se confunde a inclusão com um tratamento diferenciado, no dizer de Luiz Alberto David Araújo, "a regra isonômica não admite qualquer privilégio, tratando igualmente as pessoas". Isto é o que se denomina igualdade formal ou igualdade perante a lei (Araújo, 1994:82).
Dessa forma, entende-se que o tratamento às pessoas deva ser o mesmo, mas atendendo as necessidades de cada um em sua individualidade.
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, é possível desigualar ou tratar desigualmente situações, desde que haja correlação lógica entre o fator de descrímen e a desequiparação protegida (Bandeira de Mello, 1978 in Araújo, 1994:52).
É necessário tomar medidas e haver algumas mudanças no espaço físico, esse acesso deve ser facilitado aos indivíduos com necessidades especiais para que haja a adaptação dos mesmos, mas o tratamento deve ser igual ao de todos, com o objetivo de garantir-se a equidade de acesso ao ensino de qualidade.
Após uma adaptação no meio físico, cabe ao profissional estar preparado para atender a todos em suas dificuldades e facilidades individuais, pois muitos acreditam que pôr a inclusão social em prática, é tratar a todos igualmente, mas na realidade temos que tratar todos sem diferenças, mas atender a todos em suas peculiaridades, encarando que um grupo é formado por vários indivíduos que pensam e agem de várias formas, e que possuem também diferentes formas de desenvolvimento. Muitos profissionais não estão preparados para atender a diversidade que se encontra a sua frente, ainda agem como se a educação se limitasse a um todo e como se esse todo estivesse ali para seguir suas regras e sua forma de ensinar, esquecendo que o verdadeiro educador tem como função não só ensinar e alfabetizar, mas também mediar conhecimentos, promover a socialização de pessoa com pessoa, pessoa com grupo e grupo com pessoa, promover a socialização dos conhecimentos, oportunizar conflitos, ajudar na construção da cidadania e também enxergar cada educando como indivíduo, tendo condições de identificar qualquer dificuldade existentes e assim desenvolver um trabalho que atenda as necessidades de cada um. Desta forma, é importante ressaltarmos que:

[Este fato deve-se a que os currículos de formação de professores, em sua grande maioria, possuem reduzida carga horária com informações sobre alunos com necessidades educacionais especiais, tornando-se desta forma difícil, senão impossível, que os professores consigam identificar e trabalhar eficientemente com estes alunos em suas salas de aula (NOGUEIRA, 2000, p.36).]

Pode-se mudar essa idéia de inclusão, basta o educador estar preparado para colocar em prática a chamada "Educação Inclusiva", e juntamente com a equipe, transformar a escola em uma "Escola Inclusiva", para isso deve haver algumas alterações. Podemos começar com a criação de projetos que possuam um direcionamento para a Comunidade, pois se entende que um processo educativo deve estar ligado a um processo social, esses projetos devem atender a todos, proporcionando as pessoas com necessidades especiais e distúrbios uma escolarização próxima do "normal" e fazer com que atinjam o seu potencial máximo, o educador deve ficar mais próximo dos alunos percebendo suas dificuldades para saná-las, mas é importante que haja um suporte como um profissional especializado para orientar e colaborar no desenvolvimento desses alunos. Deve haver também a colaboração e cooperação de todos os participantes da escola, desde funcionários até a comunidade, pois essa auto ajuda colaborará com a integração dos portadores de deficiência na sociedade.
Cabe também a equipe técnica dar continuidade ao desenvolvimento profissional, perseguindo com seus estudos e aprofundando cada vez mais, assim estarão sempre aptos e preparados a atender as dificuldades e entender as realidades. É necessário o envolvimento de profissionais adequados para que haja uma educação de qualidade que atenda pessoas ditas "normais" e pessoas com necessidades especiais, Bueno assina-la (1999) que Há dois tipos de formação profissional docente: professores "generalistas" do ensino regular, com um mínimo de conhecimento e prática sobre alunado diversificado; e professores "especialistas" nas diferentes "necessidades educativas especiais", quer seja para atendimento direto a essa população, quer seja para apoio ao trabalho realizado por professores de classes regulares que integrem esses alunos.
Existem várias instituições especializadas para atender crianças e jovens que possuem dificuldades neurológicas, motoras, entre outras, pode-se perceber que o trabalho nessas instituições gera resultados fantásticos, pois em grande parte o ambiente é favorável ao atendimento desse público e os profissionais são preparados. Mas é importante que essas crianças e jovens estejam inseridos na educação formal, pois é em grupos que aprendemos a viver socialmente. Mas para que haja essa inserção é necessária uma preparação especial dos profissionais em geral e uma adaptação no meio físico. A escola preparada com o acompanhamento da instituição especializada trará resultados melhores, tornando as pessoas com dificuldades especiais inclusas na sociedade, sendo um sujeito autônomo capaz de agir e mover-se nela conscientemente em rumo a sua transformação, como é de direito a todos.

Conclusão

As dificuldades encontradas na prática da educação inclusiva são de diferentes ordens. A incompreensão do significado e objetivo dessa proposta é um dos fatores que geram dificuldades na aplicação do mesmo. Também pode ser citada a falta de preparação da equipe e de investimentos materiais para o meio físico que exige modificações para a melhor adaptação dos usuários com dificuldades especiais. Em meio a todo esse panorama, são freqüentes as constatações de projetos de "inclusão social" com objetivos adequados com o da lei n. 7.853/89, da "Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência", mas que na prática não estão de acordo com a proposta da mesma.
Eis que se torna pertinente o conhecimento da prática da psicopedagogia no universo educacional. Essa é uma prática necessária em propostas como a da educação inclusiva, que poderá servir como apoio aos demais profissionais docentes. Uma vez que todos estiverem cientes da responsabilidade social e profissional que possuem diante de situações de dificuldade, haverá mais empenho e modificações, para assim, obter resultados positivo e justo com todos.
Justapondo a infinidade de idéias e conceitos relacionados à psicopedagogia, pode-se dizer que sua prática é de extrema importância no processo de formulação e atuação docente, pois que a mesma acaba por auxiliar na evolução das crianças com necessidades especiais nas suas variadas fazes de crescimento e nas diversas situações de aprendizagem como as outras crianças ditas "normais", bem como nos variados momentos de socialização que precedem suas escolhas e caminhos a percorrer no futuro.


Referências

BRASIL. Lei nº 7.853/89, de 24 de Outubro de 1989, decreto n. 3.298/99.
BUENO, J. G. Crianças com necessidades educativas especiais, política educacional e a formação de professores: generalistas ou especialistas. Revista Brasileira de Educação Especial, vol. 3. n.5, 7-25, 1999.

NOGUEIRA, M. L de L. O Fazer Psicopedagógico com Portadores de Altas Habilidades. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA, V, 2000, São Paulo. Resumos...São Paulo: Mackenzie, 2000. p.36.

TIERNEY, W. G. (1993). Building Communities of Difference. Higher
Education in the twenty-first Century. London: Bergin and Garvey.

AINSCOW, M. (1999). Tendiéndoles la mano a todos los alumnos: algunos retos y
oportunidades. En M. A. Verdugo Alonsoy F. Jordán de Urríes Vega (Coord.): Hacia una nueva concepción de la discapacidad (pp. 15-37) Salamanca: Amarú Ediciones.