INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS (VISÃO) NO ENSINO DAS CIÊNCIAS NATURAIS (BIOLOGIA)

No campo da educação, especialmente no ensino de ciências, algumas estratégias precisam ser adoptadas com vista a facilitar a construção de conhecimento pelo aluno que apresenta necessidades educativas especiais (NEE). A educação inclusiva, visa ampliar a participação de todos alunos no estabelecimento de ensino regular consubstanciada na igualdade de oportunidade para todas as crianças.

O presente artigo tem como objectivo fundamental tornar a aprendizagem mais acessível com vista ao desenvolvimento de capacidades / habilidades nos alunos com necessidades educativas especiais de visão; dentro deste objectivo encontra-se o especifico: Propor estratégias metodológicas com vista a melhorar o ensino de Biologia em alunos com necessidades educativas especiais de visão.  A metodologia usada na elaboração do referido artigo, baseou-se na consulta bibliográfica de obras literárias de autores que fazem uma reflexão profunda em relação ao tema apresentado.

A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na educação geral é muito importante, uma vez que a educação inclusiva combate a estigmatização de que os alunos com necessidades educativas especiais são vítimas. No decorrer do processo de inclusão de alunos com necessidades especiais nas classes regulares, o professor não só lhes deve transmitir sentimentos positivos como também deve revelar-lhes afecto, NIELSEN (1999:14). Estes aspectos pretendem mostrar que a educação é uma condição necessária para o desenvolvimento humano e o desenvolvimento humano é um pré-requisito para qualquer outro tipo de desenvolvimento, GOLIAS (1999:42).

 A inclusão pretende que todos alunos sejam vistos no seu todo, capaz de desenvolver capacidades / habilidades em qualquer uma das áreas do saber. A área de Biologia em particular ajuda a compreender o mundo que nos rodeia, permitindo tomar consciência da importante relação entre os seres vivos. Assim, a aquisição e compreensão de conhecimentos básicos desta disciplina é de grande relevância, e a sua omissão implica um vazio na informação e formação do aluno deficiente visual.

Ainda a Biologia faz com que esses alunos compreendam alguns factos da vida diária, facilitando a sua transição para a vida activa, para que eles venham a participar e contribuir na sociedade a que por direito pertencem com maior autonomia e independência possível.

 A possibilidade de ensinar Biologia a alunos que apresentam deficiências visuais, pode ser por meio de modelos didácticos considerados como instrumentos facilitadores para o ensino de Biologia. Os modelos são recursos materiais importantes no ensino de ciências naturais em particular na disciplina de Biologia porque reduzem o grau de abstracção do aluno aproximando-os da realidade. Esta ideia é defendida por MULLER (2005:35), quando sustenta que os modelos são métodos científicos utilizados para a obtenção de conhecimentos sobre características de determinados objectos e processos existentes na realidade. O uso destes meios facilita uma aprendizagem cooperativa, entre alunos que apresentam deficiências visuais com alunos de visão normal mais habilidosos nesses assuntos. MINTIZES et all citado por MULLER (2005:30)

“Propõem que para aplicação deste método de trabalho em conjunto, os professores usassem menos diálogo de perguntas-respostas e organizassem mais tempo de aula disponível para as questões, os relatos individuais ou em grupo, o diálogo verdadeiro, o debate cruzado e os trabalhos em pequenos grupos. Os professores devem fazer todos os esforços para descobrirem as actividades que encorajam os alunos a fazer perguntas, em vez de se limitar a responder as questões.”

Para que esta ideia seja efectivada de forma a garantir uma participação activa dos alunos com necessidades visuais e consequentemente contribuindo para a sua inclusão no ensino de Biologia, é necessário que se formem grupos heterogéneos de alunos normovisuais e de cegos, assim como que se reduza o rácio professor - aluno dentro da sala de aula de modo a permitir o acompanhamento efectivo do professor. Na estratégia de aprendizagem cooperativa, particular atenção devera ser dada aos alunos com deficiências, para que ultrapassem as suas dificuldades diante dos seus colegas e, simultaneamente enquadram-se no mesmo ritmo de aprendizagem, desta forma a educação estará a criar condições para que todas as crianças e jovens se sintam livres de qualquer forma de descriminação, através da promoção de atitudes e valores como a solidariedade, o amor pelo próximo, entre outros.

O ensino de Biologia para portadores de deficiência visual é possível mediante a utilização de recursos didácticos que auxiliam na transmissão do conteúdo. Para tal, o professor deverá utilizar modelos tridimensionais, (MULLER, 2005:35; são modelos análogos aos objectos e processos existentes na realidade, que apresentam características essenciais dos objectos ou processos existentes na realidade) de fácil manejo que ajudam o aluno a ter contacto com o objecto. No ensino secundário o conteúdo de Citologia, por exemplo constitui um dos conteúdos do segundo ciclo que mais requer a elaboração de material didáctico de apoio do conteúdo presente nos livros, já que emprega conceitos bastante abstractos e trabalha com aspectos microscópicos.

Os modelos biológicos de estruturas tridimensionais são utilizados como instrumentos facilitadoras da aprendizagem, complementando o conteúdo escrito e as figuras planas do livro. DOS SANTOS e MANGA (2009), para o aluno com deficiências visual, esses modelos permitem que o aluno manipule o material, visualizando-o de vários ângulos, melhorando, assim, sua compreensão sobre o conteúdo abordado. Para os deficientes visuais, é uma ferramenta bastante eficaz, uma vez que a textura e tamanho dos materiais utilizados na construção do modelo, são requisitos auxiliares no sentido do tacto, bastante explorado e desenvolvido por esses alunos.

De uma maneira geral, o uso de modelos tridimensional é uma opção viável e excelente no apoio ao ensino e aprendizagem da disciplina de Biologia, deixando as aulas mais atractivas, interessantes e produtivas. Na elaboração dos modelos tridimensionais deve-se também ter em consideração a colocação de legenda, a partir da utilização de adesivos com legenda em Braille e folhas de acompanhamento com legendas em Braille para que os alunos com deficiência visual possam para alem de tocar, localizar pelo método Braille os nomes das estruturas.

Para permitir que o modelos sejam manuseados pelos alunos com necessidades espaciais sobretudo os cegos tem que se desenvolver neles o órgão de sentido denominado tacto, que lhes possibilita a percepção táctil, facilitando a descriminação de detalhes e desenvolvimento, assim da condenação motora. Esses aspectos favorecem não só ao aluno com deficiência visual a ter contacto com objectos, possibilitando deste modo a formação de conceitos daquilo que esta sendo estudado, como também facilita ao professor, segundo PACHECO (2001:83), a dar o melhor atendimento das diferenças individuais, procura das soluções correctivas e maior atendimento de agrupamento diferenciado dos alunos por nível de desenvolvimento e maior capacidade de satisfação de ritmos de progressão, sempre diferentes nas idades e num ciclo de progresso contínuo entre cada ano.

Apesar da eficácia que os modelos tridimensionais proporcionam para facilitar a compreensão de determinados conteúdos de biologia no processo de ensino - aprendizagem, dos alunos com deficiência visual, estes não lhes ajuda a estudar de forma pormenorizada as particularidades internas do objecto real. Por exemplo: num modelo de sistema nervoso não se consegue mostrar o percurso dos estímulos. Assim como:

-  São muito onerosos uma vez que o professor deve adquirir os dispositivos apropriados para a sua elaboração;

-  São meios que exigem sempre que necessário uma revisão ou substituição do material, caso este use durante a sua elaboração material de fácil deterioração;

-  Nem todos os modelos apresentam o mesmo nível de eficiência;

-  Nem todos eles são de fácil construção;

-  Nem todos os conteúdos são possíveis de ser apresentados em forma de modelos.

Apesar dessas todas objecções, sou de opinião que se utilize modelos tridimensionais e com a presença de legenda em Braille porque facilita extremamente a compreensão dos conteúdos de Biologia para alunos com deficiências visuais e o ensino por parte dos professores.

Para CORREIA (s/ano) a filosofia da inclusão só traz vantagens no que respeita às aprendizagens de todos os alunos, tornando-se num modelo educacional eficaz para toda a comunidade escolar, designadamente para os alunos com necessidades educativas especiais. A comunidade escolar, deve para além de estabelecer um objectivo comum que é o de proporcionar uma educação igual e de qualidade para todos os alunos, ela facilita, ainda, o diálogo entre educadores/professores do ensino regular e educadores/professores de educação especial, permitindo aos educadores/professores do ensino regular desenvolverem uma maior compreensão sobre os diferentes tipos de necessidades educativas especiais.

Contudo, os professores mencionam que a inclusão lhes proporciona a oportunidade para trabalhar com outros profissionais, aliviando muito o stress associado ao ensino. Este trabalho de colaboração permite, ainda, a partilha de estratégias de ensino, uma maior monitorização dos progressos dos alunos, o combate aos problemas de comportamento e o aumento da comunicação com outros profissionais de educação e com os pais (SALEND, 1998, citado por CORREIA, s/ano). Ainda segundo SALEND (1998), os professores titulares de turma e os de educação especial, que trabalham em colaboração (em classes inclusivas), apresentam níveis de eficiência e de competência maiores do que aqueles que os colegas que ensinam em classes tradicionais apresentam.

Uma outra vantagem evidenciada pela inclusão, dá conta que os professores envolvidos em ambientes inclusivos consideram que a sua vida profissional e pessoal melhora, tendo o trabalho em colaboração tornado o ensino mais estimulante, uma vez que permite a experimentação de várias metodologias e a consciencialização das suas práticas e crenças. Ainda, na óptica do mesmo autor, os professores consideram que a oportunidade de trabalhar em conjunto com outros profissionais os ajuda a quebrar o isolamento em que muitos deles vivem e a desenvolver amizades mais duradouras fora da sala de aula, permitindo - lhes colaborar e planear mais, também aprender novas técnicas uns com os outros, assim como a participar num maior número de actividades de formação, demonstrando vontade de mudar e  de utilizar uma diversidade de estratégias para ensinar os alunos com necessidades educativas especiais.

As vantagens da filosofia inclusiva são também evidentes no que toca à liderança escolar, aos pais e a outros recursos comunitários, uma vez que os envolve, de uma forma diferencialmente convergente, para ajudarem os alunos a atingir níveis satisfatórios de sucesso educativo, (CORREIA e SERRANO, 2000 citado por CORREIA, s/ano). Cada agente educativo torna-se, assim, num actor criativo, flexível e animado pelo desejo de participar, de forma colaborativa, na organização das respostas adequadas ao conjunto de necessidades existentes na respectiva população escolar, CORREIA (s/ano).

Para o aluno com necessidades educativas especiais, para além da filosofia da inclusão lhe reconhecer o direito de aprender junto dos seus colegas sem necessidades educativas especiais, o que lhes proporciona aprendizagens similares e interacções sociais adequadas, ela pretende retirar-lhes, também, o estigma da "deficiência", preocupando-se com o seu desenvolvimento global dentro de um espírito de pertença, de participar em todos os aspectos da vida escolar, mas nunca esquecendo a resposta às suas necessidades específicas.

A inclusão também traz vantagens para os alunos sem necessidades educativas especiais, uma vez que lhes permite perceber que todos somos diferentes e, por conseguinte, que as diferenças individuais devem ser respeitadas e aceites. Desta forma, eles aprendem que cada um de nós, seja quais forem as nossas diferenças, terá sempre algo de valor para dar aos outros. 

A abordagem deste trabalho nos permiti concluir que a dificuldade de se ensinar alguns conteúdos de Biologia para alunos com deficiência visual, deixa de ser uma preocupação na medida em que se desenvolvem estratégias didácticas (uso de modelos tridimensionais) como alternativa viável para o aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem nesses alunos. 

 Os modelos tridimensionais são vistos como instrumento facilitador, incentivador e estimulante do processo de ensino e aprendizagem, para ajudar o aluno portador de deficiência visual na construção e apropriação do conhecimento. Para os alunos com este tipo de deficiência devem apresentar maior desenvolvimento da habilidade do tacto, uma vez que é fundamental na construção do indivíduo portador de deficiência visual, tendo em vista que, a partir dessa habilidade, é que eles conseguem sentir e compreender o mundo que lhes rodeia. 

 O outro ponto, é que os planos curriculares do ensino secundário geral apresentem, não só orientações metodológicas, como também planeje seminários ou capacitações que garantam a preparação ou formação psico–pedagógica dos professores capazes de  ensinar a disciplina de Biologia aos alunos que apresentam necessidades educativas visuais.

Em suma, as vantagens da educação inclusiva são evidentes, uma vez que proporciona uma educação igual e de qualidade para todos os alunos, tornando-se num modelo educacional eficaz para toda a comunidade escolar, designadamente para os alunos com necessidades educativas especiais.