RESUMO:
A intensão do presente artigo é apresentar e comparar, a conjunção aditiva "nem", sob o ponto de vista da Gramática Normativa e da Gramática Funcional, com a finalidade de provocar uma reflexão nos professores, acadêmicos e estudantes sobre o ensino que se têm e o ensino que se quer, para que assim, se possa encontrar a melhor maneira de trabalhar em sala de aula com a "norma padrão" e, conseqüentemente, fazer com que a aprendizagem da língua realmente aconteça, tornando-se significativa para o aluno. Serão apresentados conceitos, exemplos e implicações para o ensino em relação às gramáticas Normativas e Funcionais.


PALAVRAS-CHAVE: Gramática Normativa, Gramática Funcional, Ensino, Conjunção.


1. INTRODUÇÃO
Segundo PERINI (1997), os principais problemas no ensino de gramática são: objetivos mal colocados, metodologia inadequada e falta de organização lógica de teorias. Com relação a este último ponto, o professor não pode fazer muito, já que a tarefa de atualizar e organizar a gramática cabe a lingüistas e gramáticos, e no que se refere aos dois primeiros problemas, será o professor o essencial para a adoção de uma abordagem mais adequada.
Muitas vezes surge tal pergunta: Deve-se utilizar a gramática no ensino de língua portuguesa? É claro que se deve utilizar a gramática, pois como lembra BAGNO (2000, p.87):
A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa.

O estudo sistematizado da gramática deve estar ligado ao funcionamento efetivo da língua, pois assim o aluno desenvolve conscientemente suas habilidades lingüísticas. Para isso, a gramática adequada deve partir dos itens lexicais e gramaticais da língua e, mostrandando as regras em seu uso desde o sintagma até o texto.
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* Texto elaborado para a disciplina de Língua Portuguesa II, com o objetivo de repensar a questão das gramáticas para o ensino e a questão da conjunção "nem".
** Estudante do curso de Letras/ Português da Universidade Federal do Ro Grande.
Baseado nisto, este artigo tem por finalidade apresentar abordagens trazidas pelas gramáticas tradicionais e funcionais em relação à conjunção "nem", para que assim, se possa refletir qual a melhor gramática a ser adotada pelo ensino.
Primeiramente, serão abordados neste artigo a visão (conceitos e exemplos) da Gramática Normativa escrita por BECHARA (2006), e da Gramática Funcional escrita por NEVES (2000), em relação à conjunção aditiva "nem". Em seguida faz-se uma reflexão das implicações dessas abordagens no ensino de língua portuguesa, fazendo-se o fechamento do texto com as Considerações Finais.


2. ABORDAGEM TRADICIONAL
A gramática normativa consultada para a análise desse artigo, divide as conjunções em dois tipos: Coordenativas e Subordinativas. Dentro desses dois tipos de conjunções, há grupos de palavras que podem ser utilizadas de acordo com a função de seu grupo, e podem ser parafraseadas por outras conjunções do mesmo grupo sem alteração de significado para o texto. Abaixo seguem os conceitos e divisões feitas por BECHARA em sua gramática e análise:
1)Conjunções Coordenativas ou Conectores- "Os conectores ou conjunções coordenativas são de três tipos: aditivas, alternativas e adversativas" (BECHARA, 2006, p.320).
1.a) Conjunções Aditivas- "A aditiva apenas indica as unidades que une, estão marcadas por uma relação de adição. Temos dois conectores aditivos: e e nem" (BECHARA, 2006, p.320). Como exemplo tem-se:
(1) "O velho teme o futuro e se abriga no passado" (BECHARA, 2006, p.320).
(2) "Não emprestes o vosso nem o alheio, não tereis cuidados nem receio" (BECHARA, 2006, p.320).
1.b) Conjunções Alternativas- "São conjunções que enlaçam as unidades coordenadas matizando-as de um valor alternativo, quer para exprimir a equivalência deles. São elas: ou, ou...ou, já, bem, ora (repetidos ou não), quer...quer, seja...seja" (BECHARA,2006, p.321). Como exemplo tem-se:
(1) "Quando a cólera ou o amor nos visita, a razão se despede". Bechara apud [MM] (2006, p.321).
1.c) Conjunções Adversativas- "Enlaçam unidades apontando uma oposição entre elas. As adversativas são: mas, porém e senão" (BECHARA, 2006, p.321). Como exemplo tem-se:
(1) "Acabou-se o tempo das ressurreições, mas continua o das insurreições" Bechara apud [MM] (2006, p. 321).
2) Conjunções Subordinativas ou Transpositores- "Transpõe oração degradada ou subordinada ao nível de equivalência de um substantivo capaz de exercer na oração complexa uma das funções sintáticas que têm por núcleo o substantivo" (BECHARA, 2006, p.323). As conjunções subordinativas são classificadas por BECHARA (2006) em: causais, comparativas, concessivas, condicionais, conformativas, consecutivas, finais, modais, proporcionais e temporais. Como exemplos têm-se:
(1) "Como ia de olhos fechados, não via o caminho".Bechara apud [MA.1, 19] (2006, p.326) -(causal).
(2) "Fez os exercícios conforme o professor determinou" (BECHARA, 2006, p.327) ?(conformativas).
(3) "O anão quanto mais alto sobe, mais pequeno se afigura". Bechara apud [MM] (2006, p.328) ?(proporcionais).

Como a análise do artigo tem como enfoque a conjunção aditiva "nem", será apresentado esta definição com mais aprofundamento de acordo com a gramática de BECHARA.
Na gramática tradicional elaborado por BECHARA (2006, p.320), encontramos a seguinte classificação para "nem" enquanto conjunção aditiva:

A aditiva apenas indica que as unidades que une (palavras, grupos de palavras e orações) estão marcadas por uma relação de adição. O conector "nem" é para as unidades negativas.
Ex: ele não é rico nem honesto.


O autor traz ainda algumas observações em relação ao emprego do "nem", BECHARA (2006, p.321):

1ª) Evita-se (embora não constitua erro) o emprego de "e nem" quando não houver necessidade de ênfase: ex: "Nunca vira uma boneca e nem sequer o nome desse brinquedo".
2ª) Algumas vezes "e" aparece depois de pausa, introduzindo grupos unitários e orações: são unidades enfáticas com função textual que extrapolam as relações internas da oração e constituem unidades textuais de situação: ex: "E repito: não é meu".
3ª) A expressão enfática da conjunção aditiva "e" pode ser expressa pela série não só... " mas também" e equivalentes. Ex: Não só o estudo mas também a sorte são decisivos na vida.

Diante do exposto, a conclusão que se chega é que a noção apresentado, é de que esses critérios na classificação das orações complexas são insuficientes.
Ex: Nem sempre ouvimos o que queremos.
Neste exemplo o "nem" está modificando o advérbio, ele está como advérbio de negação e não conjunção aditiva.


3. ABORDAGEM FUNCIONAL
A gramática funcional consultada para análise desse artigo, também divide as conjunções em dois tipos: Coordenativas e Subordinativas, ela utiliza-se da mesma organização das classes preparadas pela gramática normativa, mas diferentemente da gramática normativa, a gramática funcional não vê as classes isoladamente, e sim, o seu comportamento desde o texto até os sintagmas menores que a oração. Abaixo, teremos como enfoque a conjunção aditiva nem, seguindo os conceitos e divisões feitas por NEVES em sua gramática e análise funcional:
1) A natureza da construção com nem - Nesse item, NEVES diz que: "Do mesmo modo que o e, o elemento nem marca uma relação de adição entre os segmentos coordenados, com diferença de que o nem adiciona segmentos negativos ou privativos" (NEVES, 2000, p.751). Como exemplos têm-se:
(1) "Detetives não acharam rastro de Enrico nem da Bertolazzi". Neves apud (VN) (2000, p.751).
(2) "Um homem de bem neste estado, sem saber como nem por quê!". Neves apud (PC) (2000, p.751).
Nesse mesmo item, a autora ainda mostra segmentos que a conjunção coordenativa nem pode coordenar. Segundo NEVES (2000, p.751 e 752), o nem pode coordenar:
a) Sintagmas: "Não tem mais nem meio mais" Neves apud (UC) (2000, p.751).
b) Orações: "Não visitava ninguém nem era visitada pelos vizinhos" Neves apud (ANA) (2000, p.751).
c) Enunciados: "Não era tarde. Nem a missa estava marcada para hora muito matinal" Neves apud (A) (2000, p.752).

E ainda, nesse mesmo item, NEVES (2000, p.752 e 753), mostra o acréscimo recursivo que nem como aditivo pode apresentar e também a sua constituição de correlação aditiva negativa. Como Exemplos têm-se:
(1) "É duro não ter pai, nem mãe, nem bens e viver às expensas de parentes". Neves apud (GCC) (2000, p.752).
(2) "Nem ela me ofereceu a mão da amizade e do bom conselho nem eu jamais respondi com quatro pedras na mão". Neves apud (A) (2000, p.752).
2) O valor semântico do nem ? Nesse tem, NEVES (2000, p.754), mostra o nem com o emprego de palavras de reforço. Como exemplos têm-se:
(1) "O Alferes não morreu, nem mesmo adoeceu". Neves apud (ALF) (2000, p.754).
(2) "Não se confessa, nem ao menos reza". Neves apud (CC) (2000, p.754).
E para finalizar, ainda nesse mesmo item, NEVES (2000, p.754 e 755), mostra aspectos especiais marcados pelo uso do nem, iniciando sintagmas, orações ou enunciados. Como exemplos têm-se:
(1) "não era muito grande, nem muito fundo". Neves apud (GE) (2000, p.755).
(2) "Não falarei, em jejum, de forma alguma. Nem lhe ficava bem indagar". Neves apud (BH) (2000, p.755).

4. IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO.
A função da gramática no ensino de Língua Portuguesa é ampliar a capacidade do aluno de usar a sua língua, desenvolvendo a sua competência comunicativa por meio de atividades com textos utilizados nas diferentes situações de interação comunicativa. Não adianta também utilizar textos apenas como pretexto, ou seja, apenas retirando deles palavras ou frases.
Como foi possível observar, nas análises anteriores das abordagens gramaticais, a gramática normativa apresenta suas classes gramaticais fora de um contexto, e por isso, na maioria das vezes, tornam-se regras confusas e insuficientes. Está aí o mal das generalizações gramaticais.
Baseado nisto, a gramática mais adequada para o ensino, é a gramática funcional, do qual parte seus estudos dos próprios itens lexicais e gramaticais da língua, ou seja, vai mostrando as regras reais do funcionamento em todos os níveis em que ocorre, em especial, o texto. Enfim, não se podem estudar conceitos, apenas analisando o que são em alguns momentos, mas sim, o que realmente são em sua essência.

5. CONCLUSÂO
Pretendeu-se, com esta pesquisa, apresentar algumas abordagens gramaticais, bem como mostrar aos acadêmicos, aos professores e aos estudantes que é preciso saber escolher a melhor gramática que servirá de apoio ao desenvolvimento do aluno. Para satisfazer este objetivo, optou-se por apresentar as teorias encontradas na Gramática Normativa e na Gramática Funcional, em relação à conjunção aditiva nem, para que, assim, se pudesse comparar e analisar qual das duas abordagens apresenta o melhor objetivo, a metodologia mais adequada e a organização lógica de teorias.

6. REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Layola, 2000.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. -37. Ed.e 16ª. Reimpr. ?Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do Português. ?São Paulo: UNESP, 2000.
PERINI, Mário. Sofrendo a Gramática: a matéria que ninguém aprende. São Paulo: Ática, 1997.