FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

“Uma rua de mão-dupla entre mitos e verdades)

Sebastião Maciel Costa*

INTRODUÇÃO

            Sabe-se que o foco da gestão educacional é a efetiva interação de todas as áreas de ação educativa visando a formação dos alunos. Nesta perspectiva três dimensões possibilitam que o trabalho institucional escolar se realize de maneira eficiente: a organização do ensino, a organização da aprendizagem e a contextualização da aprendizagem. Tudo passa pela ótica com que a sociedade ver, compreende e interpreta o mundo a partir do se constitui hipóteses, possibilidades e verdades. A inquietação do homem diante da falta de explicação para tantos fenômenos, fatos e atitudes é que justifica a necessidade de compreender. Compreender para melhor vivenciar, para melhor reproduzir e ensinar.

               Para definir a filosofia, como eixo reflexivo das ações humanas, o homem moderno busca cristalizar conhecimentos a partir do que lhe parece lógico, aceitável ou pelo justificável. Na raiz da filosofia nasce o caule da sabedoria, que geralmente nasce do estudo identificado como Educação. Portanto, esse indissociável binômio transcende além do que é compreendido sem muito esforço, exercícios de compreensão, buscas e tentativas em nome do saber. Ao registrar um estado de espírito da pessoa que visa ao conhecimento, a filosofia, sua subjetividade nos leva a compreender a educação como sendo uma ciência em busca da objetividade.

            Não se permitir ignorar se permitindo aprender a aprendiz-estudante-pensante precisa se posicionar, diferente “ da metamorfose ambulante e sua opinião formada sobre tudo” há de ter um referencial que lhe permita pensar sobre o que lhe cerca, que lhe inquieta, que lhe permite duvidar para procurar encontrar respostas. De forma objetiva e científica a pessoa pode se questionar fatos como o porquê de as unhas crescerem e os dentes, não. Ou o porquê de os dentes caírem e as unhas, não. Pode ainda pesquisar e encontrar significativos resultados sobre o porquê de os dentes caírem e as unhas, não. Respostas exatas surgem: As unhas são formadas por uma proteína, a queratina. Cada unha possui uma raiz, que fica sob a pele, junto à cutícula. Ali, células cutâneas especializadas se reproduzem, por isso crescem”.; os dentes não crescem mais. o que acontece é que, antes do nascimento eles são formados e no processo o esmalte é formado. em seguida, as células que os  moldaram morrem por apoptose (morte celular programada), por isso não crescem.”.

ONDE SITUAR O CONHECIMENTO?

Saindo do plano tangível, na outra ponta estão as perguntas que somente o estudo da alma humana poderá trazer explicações. Somente a inquietude do efetivo desejo de encontrar explicações para atitudes humanas nos leva a refletir através dos feitos humanos no eixo da convivência entre diferenças, pontos de vista e seus reflexos. Os conflitos tendem a surgir à medida que há diferentes percepções sobre uma mesma ideia. O olhar do outro aponta, aprova e desaprova. É assim com as crianças, que aprendem a formar suas diretrizes através da visão do adulto. A escola é um espaço ideal para essa iniciação.

            O contato pessoa a pessoa tem ganhando força nas organizações e em redes sociais, inúmeras personalidades, um arsenal de pensamentos e algumas divergências. O desafio é aprender a conviver com esse “sujeito infernal” e julgador, este individuo que insiste em refletir uma imagem distinta e igual a vossa. É extraordinário o quanto o julgamento alheio 'faz sentido', trás significado, ao mesmo tempo em que perturba também atribui um valor existencial. O filósofo Sartre disse, certa vez, que “o inferno são os outros”. Pessoas nos machucam, fazem com que nossos planos não deem certo...“O que seria da tua beleza, se eu fechasse os meus olhos pra você, o que adiantaria essa tua ideologia, se tua própria liberdade se transformasse em opressão, escute o meu silêncio...” (DETONAUTAS – Tico Santa Cruz- música moderna)

            Lá, como cá e em todos os tempos o homem precisou conflitar interesses para alcançarem a tolerância, a convivência e a respostas para suas infinitas perguntas e dúvidas. A educação cingida pela mesma cinta de olhares, perspectivas e possibilidades permanece aliançada, uma desempenhando a sequência de papeis da outra. Não dá para discutir educação sem espelhar na filosofia; efetivamente não há respostas que não precedam a uma reflexão. Educar é a explicação da filosofia. A filosofia é o leito onde repousam os princípios da educação e vice-versa.

            Em nome do conhecimento, muitos eventos se revelam entre o mito e a verdade, o tangível e o intangível, ou ouvir e compreender, o ler e o interpretar, o tomar conhecimento e o conhecer para difundir, vivenciar, promover, explicar. O conhecimento deve situar-se na perspectiva do crescimento universal partilhando experiências bem sucedidas e tentativas bem fundamentadas, numa constante troca de saberes entre o “ensinante” e o “aprendente”, por assim dizer. O professor caminha lado a lado com a transformação da sociedade, não é um ente abstrato, ausente, mas uma presença atuante, participante e "dirigente", que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança. Pela educação, queremos mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Por tanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente.( GADOTTI, 2ª ed. p. 65.  1983).

 O QUE É FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO?

            A palavra filosofia é grega, sendo composta de duas: philo e Sophia. Philo e derivadas de a primeira, que significa; amizade, amor fraterno, respeito pelos iguais e a segunda que é sophia quer dizer sabedoria. Portanto filosofia significa amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Pode-se definir de acordo com (CHAUÍ, p.190), que: "Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e respeita". Deparamos algumas vezes com pessoas falando de suas concepções de vida descrevendo as como, "essa é minha filosofia de vida". Diante deste enunciado, pode-se pensar que o autor desta frase está fazendo referencia a um conjunto de ideias mais ou menos coerente que regulam seu modo de viver e enxergar o mundo, também dá referencia ao seu comportamento moral, a sua ética, o que considera certo ou errado, belo ou feio, ou seja, é uma concepção formada em sua ótica de leitura do âmbito geral da vida e a como a define. De acordo com SAVIANI, (2000, p. 45):

            A filosofia educacional consiste em propiciar, por meio do ensino, o amadurecimento da pessoa, com o objetivo de fazê-la definir sua própria vida, tendo a consciência que tens o poder de decidir, ou seja, de fazer sua escolha, que a partir dessas escolhas poderá receber as consequências tanto de forma positiva ou negativa, isso se dá mediante a reação da escolha, esta reação à pessoa não pode escolher. De forma analógica pode assim conceituar a filosofia da educação como sendo um conjunto de ideias que nos define como é a educação.

            Explicar aos alunos como o mundo funciona é tentar instrumentalizá-los de tal modo, que eles sejam capazes, de por si mesmos, despertarem o interesse pela pesquisa, pela agucidade do espírito, pela resistência do ser inquieto por natureza a fim de assegurar a perpetuação da história da humanidade, seus feitos acertos e desacertos para o futuro da espécie. A Escola moderna enfrenta desafios “irrespondíveis”. De pronto, qualquer trabalhador da educação filosoficamente situado entre o dever, o prazer e saber persegue a concretização do binômio ensino-aprendizagem. Mister se faz duvidar de sua efetividade. A escola, o professor referenciado como filosoficamente correto, afirma que o ensino acontece. Mas a certeza de que o aluno prendeu ainda está sem comprovação. Como justifica, um aluno permanecer em uma unidade escolar por toda a educação básica e, é reconhecido como despreparado. Despreparado ele, o sistema, a escola, o educador ou nenhum? Vamos filosofar: é preciso encontrar o espírito aprendiz do outro para juntos nu jogo onde a autorregulação da aprendizagem seja um fato. Seja uma oportunidade para crescimento de todos, em nome da educação e  melhoria da qualidade de vida. A inteligência deve ser trabalhada desde a infância, assim terá a capacidade de desenvolver aptidões gerais, onde repense o próprio pensamento e a própria dúvida. Induzindo a argumentação e discussão, pois o homem possui a capacidade de pensar e discernir com desenvoltura na obtenção de soluções para seus problemas.
Favorecendo essas aptidões gerais da mente, o ser exige de si mesmo uma prática ligada a própria dúvida, estabelecendo poder repensar o pensamento. (MORIN).

            Na cultura de nossa sociedade considera que alguma coisa só tem razão de ser se tiver alguma utilidade imediata. O  que parece, erroneamente, colocar a filosofia fora desse parâmetro. A problemática nesta concepção é que no senso comum não consegue ver pra que a filosofia serve.  Promover o homem significa torna-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, da comunicação e elaboração entre os homens. E para o conhecimento da situação, nos contamos hoje com um instrumento valioso: a ciência.

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA

            Quando começamos a estudar Filosofia, somos logo levados a buscar o que ela é. Nossa primeira surpresa surge ao descobrirmos que não há apenas uma definição da Filosofia, mas várias. A segunda surpresa vem ao percebermos que, além de várias, as definições parecem contradizer-se. Eis porque muitos, cheios de perplexidade, indagam: afinal, o que é a Filosofia que sequer consegue dizer o que ela é? Uma primeira aproximação nos mostra pelo menos quatro definições gerais do que seria a Filosofia:

            1. Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Filosofia corresponde, de modo vago e geral, ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o necessário.

            2. Sabedoria de vida. Aqui, a Filosofia é identificada com a definição e a ação de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação do mundo para aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas de modo ético e sábio. A Filosofia seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando.. (CHAUI,2000).

            Isto posto, saber conduzir a educação como meio para conduzir a vida, em qualquer visão interpretativa nos leva a crer, de forma inquestionável que assim como a filosofia molda o caráter reflexivo do ser humano, a educação sistematiza o conhecimento a partir dos pensamentos filosóficos que povoaram o mundo dos pensadores, dos inquietos, dos questionadores, dos que, mesmo sabendo ser a vida, um desafio, desafiam e se desafiam pelo bem estar do espírito, da sabedoria, da disciplina e respeito pelo outro, pelos seus atos pelas suas causas.

CONSIDERAÇÕES

O educador deve ser sentido e percebido como um formador de opinião para efetivar atividades de pesquisa, ensino e extensão através de um trabalho integrativo, reflexivo e interativo, principalmente na sala de aula. Assim, é importante repensar a formação docente, a reflexão de um referencial teórico  e a organização pedagógica do espaço da sala de aula como verdadeiro espaço de aprendizagem, que implica, à longo prazo, a transformação da sociedade, seus valores e suas formas de organização de trabalho. Sabe-se que o domínio isolado e solitário da disciplina não produz aperfeiçoamento do profissional, mas a integração de saberes complementares, um saber pedagógico, politico e cultural para construção de consciência e saberes numa sociedade globalizada e complexa.

O professor-educador deve engajar-se social e politica e filosoficamente,  percebendo as possibilidades de ação social e cultural na luta pela transformação da sociedade. Deve-se compreender a formação continuada, assim como o próprio processo educativo, como um processo multidimensional, onde “cada uma das dimensões tem a ver com todas as outras e só adquire sentido pleno no todo que as integra”. ( Alarção,1991,p. 69). 

REFERÊNCIAS

CHAUÍ, Marilena - Convite à Filosofia Ed. Ática, São Paulo, 2000

GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: Um estudo introdutório. 12 ed. Ver. SP. Cortez. 2001.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar e pensar, reformar o pensamento. 9 ED. RJ. Bertrand Brasil, 2004.

SAVIANI, Dermeval, Educação: do senso comum a consciência Filosófica. -13 ED. Campinas, SP. Autores associados, 2000.  (coleção educação Contemporânea).

*Mestrando em Ciências da Educação