Ana Paula Martinello [Acadêmica / UTFPR],

Depto. de Química,Campus Pato Branco
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
Rodovia do Conhecimento, Km 01. Pato Branco/PR, Brasil - CEP 85503-390

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Resumo ? Este trabalho apresenta a aplicação de estratégias para facilitar o processo de ensino aprendizagem na educação de jovens e adultos, um breve apanhado sobre a história da Educação de Jovens e Adultos, abordando sua importância e seus aspectos no processo de ensino e aprendizagem, além de ressaltar a importância do conhecimento científico ao aluno jovem e adulto para sua formação. E por fim, mostra a aplicação e análise das estratégias para o ensino da Química, visando o aprendizado e a formação crítica destes alunos.
Palavras chave: Ensino, jovens e adultos, estratégia.
Abstract ? This work aimed at implementing strategies to facilitate youth and adults teaching and learning process, making a brief synopsis of the story of Youth and Adults, addressing, their importance and their aspects, beyond to emphasize the importance of scientific knowledge. And finally, it shows the strategies for the teaching of chemistry application, aiming at the critical learning and training these students.
Keywords: Education, Youth and Adult, Strategies.

Introdução
A EJA tem o propósito de desenvolver o ensino fundamental e médio com qualidade para aqueles que perderam a oportunidade de se escolarizar na época própria ou não tiveram a possibilidade de continuar seus estudos; também, por terem ingressado precocemente no mundo do trabalho, por ausência de estímulo ou sucessivas repetências. Portanto, devemos entendê-los como sujeitos com diferentes experiências de vida e que estas serão significativas ao processo educacional, pensando em uma forma diferenciada de ensino-aprendizagem, onde esteja incluído o convívio social e a realização pessoal. Esses educandos possuem vários conhecimentos de senso comum, que foram adquiridos em instâncias sociais que são significativas ao processo educacional, e, muitas vezes, esses conhecimentos confrontam-se com o conhecimento científico, causando estranheza a este educando. Deve-se assim, considerar uma forma metodológica diferenciada, visando a aprendizagem como fenômeno pessoal e social, com formação de sujeitos autônomos e críticos, capazes de buscar, criar, aprender e de intervir no mundo em que vivem.
Quando os jovens e adultos ingressam em uma educação formal tardia tem inúmeras experiências em sua bagagem emocional, que devem ser levadas em conta no processo de ensino aprendizagem, pois alguns desses educandos iniciam ou regressam à escola sentindo-se desvalorizados e excluídos da sociedade ou do mundo do trabalho, por sua falta de escolarização. Então, quais seriam as estratégias adequadas para motivar e facilitar o processo ensino-aprendizagem na disciplina de Química?
O ensino da química na educação de jovens e adultos deve instigá-los e promover a recuperação de sua auto-estima, através do convívio social e de práticas educacionais dinâmicas e descontraídas, para que esta práxis se torne prazerosa, fazendo assim, que a aprendizagem ocorra de fato, além de despertar senso crítico nesse educando.

Metodologia
Foram abordados assuntos da disciplina de Química, dos três anos do ensino médio, como: Átomos, Tabela Periódica, Reações Químicas, Cadeias Carbônicas e Alcoóis. Diversas estratégias foram aplicadas, respeitando a opinião e a vivência de cada educando e, após a execução destas estratégias, houve atividades com fim avaliativo, além da observação da forma com que cada aluno participou e interagiu com as práticas propostas. Essas estratégias estão descritas a seguir:
Construção de modelos atômicos. A partir de bolas de isopor coloridas de diversos tamanhos e cores, arames, fita adesiva, taxas e alfinetes, os alunos deveriam fabricar os modelos atômicos de Thomson, Bohr e Rutherford e o modelo atômico atual.
Distribuição eletrônica. Utilizando o átomo de Bohr, fabricado pelos alunos, os mesmos deveriam retirar por meio de sorteio um elemento químico e fazer a distribuição eletrônica nas respectivas camadas do átomo.
Caça-palavras da tabela periódica. Esta atividade desenvolve o dinamismo para encontrar as palavras.
Dominó dos elementos químicos: O dominó foi produzido em cortes retangulares de EVA, com os símbolos e nomes dos elementos impressos em papel sulfite e colados nessas peças recortadas. O jogo de dominó teve como princípio o reconhecimento e memorização, dos elementos químicos pelos alunos, facilitando o aprendizado, pois este deve relacionar o nome e o símbolo dos elementos, com ou sem o auxílio da tabela periódica.
Jogo da memória da tabela periódica e da utilização dos elementos químicos no cotidiano. O jogo da memória foi fabricado compondo 34 peças, com 17 perguntas e suas respectivas respostas. O aluno deveria virar as peças em que pergunta e resposta correspondessem, então ler em voz alta e segurar as peças, quem tivesse mais peças no final do jogo, ganhava.
Dado das famílias da tabela periódica. O dado químico foi usado para o conteúdo da Tabela Periódica, sendo um jogo formado por dois dados onde cada face tem uma família da tabela periódica. O esquema dos dados foi reproduzido em papel de desenho, recortado e montado pelos alunos. O jogo necessita de uma tabela periódica por grupo de jogadores. Quando um dos grupos for jogar o dado, o outro grupo procurará um elemento que corresponda a família da tabela periódica, cuja face do dado ficar para cima. Os alunos foram divididos em duas equipes para a competição. Cada acerto equivalia a um ponto e quando pararava no lado passa a vez não havia pontuação, a equipe que chagasse em 10 pontos primeiro, seria a equipe campeã.
Atividade avaliativa sobre tabela periódica. Os alunos receberam alguns exercícios com a finalidade de avaliar o aprendizado sobre os elementos químicos a partir de suas semelhanças e sua organização na tabela periódica; também, sobre como são conhecidas as famílias da tabela periódica.
Construindo cadeias carbônicas. Foram utilizadas bolas de isopor de diferentes tamanhos e cores para representação dos átomos de carbonos, e de outros elementos, como por exemplo, o carbono foi representado por bolas de isopor de tamanho médio e de cor laranja, o oxigênio representado por bolas de isopor de tamanho pequeno e de cor roxa e o hidrogênio representado por bolas de isopor pequenas de cor branca. As ligações foram representadas por palitos de madeira. Assim, cada dupla de alunos retirou em sorteio o nome da cadeia carbônica que iria fabricar.
Interpretação de texto. Primeiramente foi feita a leitura do texto "Álcool e Exercícios não Combinam" em voz alta pelos alunos, depois foi preenchida uma tabela com os significados das palavras e então foram respondidas algumas questões referentes ao assunto.
Sopro mágico. O objetivo é observar o equilíbrio químico e o poder que tem o ar que você expira.
Enchendo o balão a partir de uma reação química. O objetivo é observar a liberação de gases em uma reação química de ácido com um sal.

Resultados e discussão
Construção de modelos atômicos: Observou-se que, no início, os alunos tiveram certa timidez ao iniciar a atividade, pois apesar de conviverem na mesma sala, percebeu-se a falta de interação entre eles no cotidiano. Comprovando, assim, a necessidade de tarefas em grupo que estimulem o convívio social e o trabalho em equipe.
Distribuição eletrônica: Nessa etapa da aplicação das estratégias ocorreu algo inesperado, que demonstra o quanto essas tarefas são importantes na formação e na transformação de cada pessoa que se encontra na sala de aula. Quando o modelo atômico foi aplicado, uma das alunas não quis participar, então, respeitando a opinião e vontade desta, foi simplesmente orientado que ela observasse os colegas. Ao final da atividade, esta mesma aluna comentou, espontaneamente, que não quis participar da atividade, pois teve receio de não conseguir fazê-la, mas se dispôs a fazer as atividades seguintes. Nesse caso, pode-se observar tamanha a insegurança gerada pelo medo de não conseguir fazer a atividade corretamente e, com isso a necessidade de motivar os alunos da EJA.
Atividade avaliativa sobre modelo atômico: Foi aplicada uma atividade avaliativa sobre a construção de modelos atômicos e distribuição eletrônica para verificar o aprendizado. Todos os alunos responderam corretamente as questões e demonstraram que as atividades chamaram a atenção e despertaram maior curiosidade e interesse sobre o assunto.
Caça-palavras da tabela periódica: Essa estratégia pode ser considerada relativamente simples, mas alguns alunos não conseguiram completar, por isso é interessante e necessária a variedade das atividades em sala de aula. O caça-palavras estimula no educando as habilidades de percepção visual, atenção e concentração.
Dominó dos elementos químicos: No dominó houve bastante interação entre os participantes, aliás, essa foi a atividade que mais teve entendimento por parte dos alunos, provavelmente pela intimidade com o jogo. O entusiasmo dos alunos era facilmente percebido, e a vontade de vencer o jogo fazia com que eles estivessem concentrados em procurar na tabela periódica os nomes e os símbolos dos elementos atômicos. Essa estratégia, provavelmente faça diferença no aprendizado desses educandos, pois, está além da "decoreba", proporcionando um aprendizado prazeroso.
Jogo da memória da tabela periódica e da utilização dos elementos químicos no cotidiano: Nesse jogo, que também foi executado com facilidade, havia perguntas e respostas, ao virar as cartas correspondentes os alunos liam em voz alta o que continha nas peças. Tanto o dominó quanto o jogo da memória foram recebidos com entusiasmo pelos alunos. O Jogo da Memória teve como objetivo uma forma diferenciada de informar a utilização dos elementos químicos no cotidiano, além de estimular no educando a percepção e localização espacial das cartas.
Dado das famílias da tabela periódica: O jogo foi desenvolvido com animação e agilidade por um dos grupos, mas o segundo grupo demonstrou falta de iniciativa, e certo pessimismo. Esse acontecimento, possivelmente, reflete a posição que cada aluno tem a respeito de suas experiências e de suas atitudes perante a vida. Essa estratégia teve como objetivo despertar o senso de competição (entre os grupos) e o senso de cooperação (entre os integrantes do grupo).
Atividade avaliativa sobre tabela periódica: A atividade desenvolvida com maior facilidade pelos alunos da EJA, por terem assimilado melhor o conteúdo através dos jogos elaborados. Isso comprova a importância dos jogos na educação do jovem e adulto, pois gera aprendizado ao mesmo tempo de possibilita uma atividade descontraída e prazerosa. Esses alunos que se sentem desestimulados, por toda a discriminação que passaram por não terem estudado, sentem-se inferiores durante o processo de ensino aprendizagem. Mas, a partir do jogo, essa realidade muda, ou seja, esse educando sente-se integrado no processo de aprendizagem e isso faz toda a diferença no resultado final, ou seja, tanto na conclusão da educação formal, quanto no processo de auto-conhecimento de cada um desses alunos.
Construindo cadeias carbônicas: Os alunos demonstraram interesse pela atividade e comentaram entre si o quanto essa estratégia ajuda-os a entender melhor o conteúdo. Os educandos não apresentaram dificuldade para cumprir essa tarefa, exceto pela resistência em ir à frente da sala e demonstrar a estrutura pronta. Após o termino da atividade os alunos pediram para levar para casa as cadeias que eles montaram, para mostrar para seus familiares. Essa iniciativa demonstra o quanto esses alunos sentiram-se parte do processo de ensino aprendizagem, além de demonstrar a elevação da auto-estima, pelo prazer que essa atividade proporcionou.
Interpretação de texto: Nessa etapa, foi feita a leitura em voz alta do texto "Álcool e Exercícios não Combinam". Cada aluno leu uma parte do texto, alguns se recusaram a ler, mas de qualquer forma observou-se a dificuldade dos mesmos em fazer a leitura. Isso atenta para a necessidade de desenvolvimento da leitura e da oralidade do aluno jovem e adulto, pois ao trabalhar com a oralidade e com a leitura faz com que o educando sinta-se sujeito no processo de interação da educação formal e, assim, consiga perceber-se ser social, utilizando adequadamente tanto a modalidade oral, quanto a escrita em seu cotidiano, que é imprescindível na sua vida social e profissional. Essa atividade, de caráter interdisciplinar, foi bastante produtiva, mas demonstra a necessidade de ser mais praticada, de ser inclusa no dia a dia destes educandos, pois além da dificuldade, tanto interpretação do texto, quanto com a língua materna, a maioria dos alunos não conseguiu cumprir a tarefa no tempo proposto, que não era escasso.
Sopro mágico: Esse experimento foi recebido com curiosidade pelos alunos, que precisaram de ajuda para responder as questões.
Enchendo o balão a partir de uma reação química: Mesmo os alunos tendo dificuldades em responder as questões sobre o assunto, o interesse demonstrado e as tentativas para "descobrir o que aconteceu", levou-os a formular hipóteses. Afirmando que as atividades experimentais servem de incentivo na educação de jovens e adultos, muitos desses alunos disseram que iriam reproduzir a prática em suas casas, para seus familiares, além de pedirem para que fossem realizados mais experimentos durante as aulas. A utilização de produtos do cotidiano, desperta a curiosidade do aluno a respeito do "porquê" dos acontecimentos, incentivando-os a observar fatos corriqueiros, e ter uma visão diferente dos acontecimentos do dia a dia.

Conclusão
A convivência com os educandos revelou diversos níveis de maturidade intelectual, de experiência de vida e de domínio no uso dos recursos utilizados. Isso faz com que o educador repense sua prática pedagógica, buscando novas possibilidades para trazer aos alunos um diferencial que os motive, e facilite o processo de aprendizagem. Ao desenvolver as atividades propostas, alguns desses alunos tiveram a oportunidade de reconhecer e superar as suas dificuldades individuais, além de todos terem a possibilidade de desenvolver habilidades como concentração, observação, questionamento, formulação de hipóteses, planejamento e execução das atividades. Além da cooperação, do trabalho em equipe, de expor suas idéias e falar em púbico, que faz com que estes educandos superem seus medos e expectativas, pois, são dificuldades individuais de cada aluno, que bloqueiam o processo de ensino aprendizagem. Por esses motivos, confirma-se a importância de trabalhar, em sala de aula, com a maior variedade possível de atividades, pois o aluno da EJA, ao reconhecer e suprir suas dificuldades, desperta para seu crescimento pessoal, social e profissional.

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