MARIA MAGALHÃES RODRIGUES 

PROJETO DE PESQUISA

ENSINO DE GRAMÁTICA NO PROCESSO DA CONTEXTUALIZAÇÃO: UM DESAFIO NO 3º ANO DO NÍVEL MÉDIO DO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR IVAN NA CIDADE DE CAMOCIM-CE

Projeto de Pesquisa a ser apresentado na    disciplina Trabalho de Conclusão de Curso -TCC I, ministrada pela professora Olívia Mesquita, como requisito final para a conclusão da referida disciplina, na Universidade Estadual Vale do Acaraú -UVA

SOBRAL-2011 

1-JUSTIFICATIVA 

            Muito se tem falado sobre o ensino de Língua Portuguesa no contexto escolar brasileiro. Este ensino hoje é considerado arcaico devido ao uso de métodos totalmente teóricos sem nenhuma significação ou aplicabilidade na vida dos alunos que por sua vez, quase sempre, não conseguem estabelecer relações entre teoria gramatical e a prática de texto.

            As propostas mais recentes evidenciam que as práticas da gramática contextualizada devem ser trabalhadas em sala de aula. A maioria dos professores, sente dificuldades em relação as diferentes concepções de linguagem e ao modo de ensinar gramática.

Entretanto, existem muitos professores que defendem o ensino de gramática normativa nas escolas, por ela seguir o modo padrão de se falar e escrever.

No intuito de realizar discussões sobre a importância da gramática contextualizada, sem descartar a gramática normativa é que este trabalho será desenvolvido.

Diante de inúmeros questionamentos sobre a adequação do ensino de gramática, este trabalho contribuirá como instrumento de estudo, pesquisa e análise da importância da gramática contextualizada.

            A pesquisa enfocará a abordagem gramatical no 3º ano para averiguar se o trabalho com a gramática é feito de forma prescritivo ou contextualizado. A escolha de duas turmas de 3º ano do nível médio se justifica pelo fato de ser o ultimo ano dos alunos na escola, desta forma saberemos se o ensino oferecido a estes alunos formarão usuários competentes de sua língua materna.

2-PROBLEMA

O ensino de gramática no nível médio é abordado de modo contextualizado?

3- OBJETIVOS 

3.1 OBJETIVO GERAL

Suscitar nas escolas a abordagem gramatical contextualizada, como fator essencial para que possam construir os seus próprios conhecimentos lingüísticos.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

3.3.1  Ressaltar as diferenças entre língua e gramática;

3.3.2 Verificar se o ensino de gramática é realizado de modo contextualizado ou prescritivo.

3.3.3     Apresentar possibilidades de intervenção para que haja um trabalho voltado para a gramática contextualizada.

4.0 HIPÓTESES 

4.1 HIPÓTESE GERAL

A abordagem gramatical contextualizada, contribui para que os alunos conheça o funcionamento de sua própria língua.

4.2 HIPÓTESES ESPECÍFICAS 

4.4.1 Há diferenças entre língua e fala;

4.4.2 O estudo da gramática nas escolas se restringe somente ao Ensino Normativo;

4.4.3 abordar a gramática a partir de textos poderá contribuir para que o aluno saiba na prática o uso da linguagem.

5.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

Por volta do século III a.C na cidade de Alexandria (Egito) havia estudos relativos à linguagem, mas precisamente sobre a linguagem literária. Estes estudiosos buscavam preservar a língua grega utilizada pelos grandes poetas do passado, dentre eles Homero. O resultado destes estudos foi a implantação das regras gramaticais utilizadas por estes escritores,elas passaram a ser referência para quem pretendesse escrever obras literárias em grego.desta forma nasceu a gramática que em grego significa a “arte de escrever”. A gramática voltada apenas para os estudos literários recebeu o nome de Gramática Tradicional.

            A Gramática Tradicional ou Normativa, dedicou-se exclusivamente a língua escrita, ou seja, não abrangeu a língua falada. Apenas uma pequena quantidade da sociedade aristocrática daquela época dominava o poder político e econômico.

            A função primordial da gramática normativa era meramente relativa a língua escrita. Posteriormente começou a ser usada como um manual de regras a serem seguidas para o bem falar. Assim, como objeto de poucos a dominação das regras gramaticais não impediu a propagação de preconceitos sobre a íngua “inculta” da maioria da população.

            Neste sentido Bagno (2002,p.17) nos diz que: 

Assim transformada em instrumento de poder e dominação de uma parcela pequena da sociedade sobre todos os demais membros dela, a GT foi avançando, conquistando terreno, impondo seu domínio: a partir de um pequeno setor do universo total da língua, a GT saiu “colonizando” todo o resto. 

Desta forma a Gramática Tradicional tornou-se o modelo único a ser seguido, ainda hoje se perdura a idéia de que o que estar na gramática é o correto e o que não estiver é porque está errado. Esta idéia de que todo uso lingüístico deve-se basear na gramática não é adequado, pois sabemos que a língua falada difere muito da língua escrita. A língua falada é individual, heterogênea, variável e assistemática, já a  língua escrita é social, homogênea e sistemática.

            É preciso lembrar que não existe somente a Gramática Tradicional, mas sim onze tipos de gramática. Nas quais cada uma resultam em atividades completamente distintas em sala de aula, sendo assim atendem a objetivos diferentes.

            Vejamos cada tipo de gramática segundo a definição de Travaglia (2008,p.18):

            Gramática Normativa: Chama-se gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas.

            Gramática Descritiva: baseada nos modernos estudos lingüísticos , procura mostrar a variedade de uso da íngua. Essa gramática se centra no conceito de “diferente” em oposição ao “erro” determinado pela gramática normativa. Portanto a gramática descritiva objetiva explicar o funcionamento da língua.

            Gramática Internalizada: baseada nos conceitos da Gramática Descritiva considera que todo falante domina as regras básicas da íngua tendo-as na cabeça por estar inserido em um grupo social.

            Gramática Implícita: trata da competência internalizada do falante, ele possui inconscientemente e utiliza de forma automática quando necessita se comunicar.

            Gramática Explícita: são todos os estudos lingüísticos baseados na metalingüística, explicitam sua constituição, estrutura e funcionamento. Desta forma pode ser entendida como uma explicação do mecanismo dominado pelo falante e que lhe possibilita usar a língua.

Gramática Reflexiva: são as atividades de observação e reflexão sobre a língua, buscam detectar, levantar suas unidades, regras e princípios, ou seja, a constituição e funcionamento da língua.

Gramática Constrastiva ou Transferencial: é a que descreve duas línguas ao mesmo tempo, mostrando como os padrões de uma podem ser esperados na outra.

Gramática Geral: é a que compara o maior número possível de línguas, com o fim de reconhecer todos os fatos lingüísticos realizáveis e as condições em que se realizarão.

Gramática Universal: é uma gramática de base comparativa que procura descrever e classificar todos os fatos observados e realizados universalmente.

Gramática Histórica: estuda uma seqüência de frases evolutivas de um idioma. Trata da origem e evolução de uma língua, acompanhando as frases desde o seu aparecimento até o momento atual.

Gramática Comparada: é que estuda uma seqüência de frases evolutivas de várias línguas, normalmente buscando encontrar pontos em comum.

 Uma das dúvidas mais freqüentes em relação ao ensino de Língua Portuguesa se refere ao ensino de gramática, se devemos ensiná-la ou não na escola, ou ainda para que e como ensiná-la.

Primeiro devemos diferenciar que língua não é a mesma coisa que gramática. Muitos acreditam que saber uma língua equivale a saber sua gramática ou saber a gramática de uma língua equivale a dominar totalmente essa língua. 

De acordo com Antunes (2007, p.39) 

É o que se revela, por exemplo, na fala das pessoas quando dizem que alguém não sabe falar. Na verdade, essas pessoas estão querendo dizer que esse alguém, não sabe falar de acordo com a gramática da suposta norma culta. 

            Sabemos que a língua é uma atividade social e interativa direcionada para a comunicação. É evidente que necessita de outros componentes além da gramática, a língua é uma atividade complexa, e um conjunto de subsistemas que se integram. A gramática limita-se apenas um dos componentes da língua.

            De acordo ainda com Antunes (2007,p.41) 

Não basta, portanto, saber as regras específicas da gramática, das diferentes classes de palavras, suas flexões, suas combinações possíveis, a ordem de sua colocação nas frases entre outras. Tudo isso é necessário, mas não é o suficiente. 

A Gramática Normativa foi colocada como o centro do que é necessário para uma comunicação eficaz. Desta forma notamos a fixação no estudo de gramática, como se ela bastasse para o uso adequado de idioma.

Como já foi mencionado há diferentes tipos de gramática, embora muitos acreditem que exista apenas uma gramática para  a língua toda. Sabemos que a língua é uma atividade sociointeracionista, é preciso adequá-la para cada tipo de discurso. É necessário acrescentar que a língua e gramática não se equivalem, do mesmo modo que língua e Gramática Normativa também não. Visto que a Gramática Normativa corresponde apenas a uma parte da gramática internalizada.

Não he dúvidas de que devemos ensinar a Gramática Normativa nas aulas de Língua Portuguesa, embora saibamos perfeitamente que ela não ensina ninguém a falar, ler e escrever com precisão.

Neste sentido Uchoa (2007, p.24) nos diz que: 

A gramática por si só, evidentemente não é suficiente para a aprendizagem prática da língua, porque o saber falar de uma língua não é só ter competência gramatical (domínio de regras) correspondente a esta língua. 

O dever da escola é ensiná-la oferecendo ao aluno condições de adquirir competência para usá-la de acordo com a situação vivenciada. Não é com teoria gramatical que ela concretizará o seu objetivo, pois isto leva os estudantes ao desinteresse pelo estudo da íngua, por não ter condições de entender o conteúdo ministrado em sala de aula, resultando assim frustrações, reprovações e recriminações que iniciam pela própria escola o preconceito lingüístico. Consideramos que a gramática não deve ser tida como uma verdade única, absoluta e acabada, seus conceitos é que devem ser reavaliados para se adequar ao funcionamento da íngua, propondo atividades contextualizadas.

            O professor deve buscar novas formas de abordar a gramática. Ser mais dinâmico, ministrando o conteúdo de forma reflexiva em atividades contextualizadas, interdiciplinares, individuais ou coletivas de forma que o aluno possa conhecer as variedades da língua através de pesquisas, nas quais envolvam leitura e produção textual, desta forma construirá o seu próprio conhecimento lingüístico.

            O ensino de gramática nas escolas tem se resumido apenas em classificar termos em frases soltas, nas quais os alunos não conseguem estabelecer nenhuma relação de funcionamento, ou seja em situações reais. Permanecendo assim, apenas no âmbito da frase, o ensino da Gramática Normativa inviabiliza o desenvolvimento da competência textual, que constitui um dos suportes da competência comunicativa.

            Conforme Travaglia (2008 p.18): 

Evidentemente propiciar o contato do aluno com a maior variedade possível de situações de interação comunicativa por meio de um trabalho de análise e produção de enunciados ligados aos vários tipos de situações de enunciação.

 

É importante ressaltar que o ensino de gramática, não deve ocorrer apenas para proteger ou conservar a composição do idioma, mas para auxiliar o usuário e falante no conhecimento de sua própria língua materna. Deve ser também, um ensino harmonioso na relação entre o ensino de Gramática Normativa e a contextualizada, sem descartar as regras, as nomenclaturas e terminologias, pois são fundamentais para o desenvolvimento social e cultural dos alunos. Visto que o ensino da gramática tem por objetivo preparar o aluno para uma produção textual obedecendo á norma padrão.

            Percebemos ao longo desse estudo que o ensino de íngua portuguesa atravessa dificuldades, tanto pela forma de ensinar gramática, como também a maneira como o professor atua sua prática. É importante que o docente estabeleça estratégias junto a gramática e suas regras, viabilizando estudá-las de forma contextualizada. Os diferentes tipos de textos estimularão os alunos a identificar o objeto gramatical em estudo.

            Existem diversas maneiras do professor modificar a prática tradicional de abordar a gramática. A primeira delas é o fato do professor se tornar o mediador do conhecimento para o aluno, tornando a gramática prazerosa vista de forma diferente da que é apresentada aos estudantes como um conjunto de normas a ser seguida tanto para a escrita como para a fala. Obrigação. O aluno só interioriza o conhecimento da estrutura gramatical, se ela for contextualizada em situações reais ou contextos comunicativos. Os recursos metodológicos vão desde textos comuns aos diferentes textos,como os de embalagens, revistas, romances, jornais, cardápios, receitas culinárias, listas de compras, piadas, histórias em quadrinhos e muitos outros.

            O que falta no ensino de gramática é essa interação com o ambiente do aluno. Quando aprendemos algo que condiz com a nossa realidade, certamente não esqueceremos. As aulas de gramática devem ter espaço para a leitura de diversos textos como subsídios para o seu ensino. Desta forma o texto deve ser antes de tudo um instrumento de estudo, porque o uso da língua acontece através do texto.

6.0 METODOLOGIA 

A metodologia utilizada neste projeto será uma pesquisa bibliográfica. Já a pesquisa de campo será feita durante a construção do trabalho monográfico. Ela será realizada com 100% de amostra que se realizara em duas turmas de 3º ano matutino do Colégio Estadual Professor Ivan, localizado no centro da cidade de Camocim-Ce. A pesquisa será feita durante as aulas de Língua Portuguesa onde a gramática é o foco. Iremos observar quais os procedimentos metodológicos adotados pelos professores das salas de aula pesquisadas, em relação ao ensino gramatical.

A coleta de dados será feita mediante a entrega de questionários mistos para professores e alunos. O questionário destinado aos professores será composto de 06 questões abertas e 04 questões fechadas que versam sobre: quais as metodologias utilizadas nas aulas de gramática, como avaliar os alunos nas aulas e o que vem sendo feito para facilitar o ensino de gramática. Já os questionários que serão destinados aos alunos serão compostos de 06 questões fechadas e 04 questões abertas que abordam sobre: as principais dificuldades apresentadas para aprender os conteúdos gramaticais, o que vem sendo feito para facilitar o ensino de gramática e quais os fatores que podem ser apontados como negativos para o ensino de gramática. Após a coleta dos materiais, serão feitas as devidas análises, verificando se o trabalho com a gramática é feito de modo contextualizado conforme os PCNs ou prescritivo.

Concomitantemente com a análise destes dados, serão realizadas as leituras necessárias para a fundamentação teórica embasadas nos teóricos ANTUNES(2007);BAGNO(2002);TRAVAGLIA(2008);UCHOA(2007)entre outros e procurararemos caminhos de intervenção para que o (possível) problema apresentado possa ser minimizado. 

7-CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 

ATIVIDADES

ABRIL

MAIO

JUNHO

Escolha do assunto

 

x

 

 

Seleção bibliográfica

 

x

 

x

 

Fichamento do material adquirido

 

x

 

x

 

Rascunho da primeira versão do projeto

 

 

 

x

 

Revisão final

 

 

X

Entrega do projeto

 

 

 

 

X

 

 REFERÊNCIAS 

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007. 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998. 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: ensino médio: língua portuguesa/Secretaria de educação Brasília: MEC/SEF, 1998. 

BAGNO, Marcos. O português ou o brasileiro? Um convite a pesquisa. 3ª Ed. São Paulo: Parábola, 2002. 

______ A norma oculta, língua e poder na sociedade brasileira. 8ªEd. São Paulo: Parábola, 2009. 

COSTA, Marcos Antonio F.da. Projeto de Pesquisa: entenda e faça. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. 

LUNA, Sérgio Vasconcelos de. Planejamento de Pesquisa: uma introdução.São Paulo:EDUC,2002. 

NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? Norma e uso da língua portuguesa. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2009. 

PERINI, Mário A. Por uma nova gramática de português. 11ª Ed São Paulo: Ática, 2007. 

POSSENTI. Sírio. Por que não ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado das Letras, 1996. 

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 12ª Ed. São Paulo: Cortez, 2008. 

UCHÔA, Carlos Eduardo Falcão. O ensino de gramática: caminhos e descaminhos. Rio de Janeiro: Lucerna, 200