Robson Stigar

Introdução

Este trabalho está voltado para a Psicopedagogia Preventiva ou Escolar, oferece conhecimentos para o profissional estar atuando dentro da instituição escolar na prevenção ou atenuação dos problemas de aprendizagem, fazendo com que menos crianças sejam encaminhadas para as clínicas, além de uma melhoria no rendimento escolar em geral. Esta demanda já aparece na nova Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, quando faz alterações substanciais na forma de entender o ensino no Brasil, tornando-se mais acentuada através das Diretrizes Curriculares Nacionais de 1999, que sugere que para melhorar o ensino há a necessidade de capacitar o professor e todos os que estão inseridos no sistema educacional.

O que é Psicopedagogia?

A Psicopedagogia tem por definição o trabalho com a aprendizagem, com o conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Realiza este trabalho através de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do aprendente. É uma praxe, portanto comprometida com a melhoria das condições de aprendizagem.

A psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem humana e assim estar resolvendo as dificuldades de aprendizagem. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a respeito dos problemas de aprendizagem, fazia com que os alunos com dificuldades fossem encaminhados para profissionais de diversas áreas de atuação, sem uma resolução eficiente dos problemas.

Em primeiro momento, no período de medicalização dos problemas de aprendizagem, estas crianças eram encaminhadas ao médico pediatra e depois ao neurologista. Em segundo momento, denominado Psicologização dos problemas de aprendizagem, onde eram encaminhadas ao psicólogo, submetendo a criança a uma bateria de testes. Frente a estas situações, não se chegava a uma explicação clara sobre as dificuldades da criança, foi-se criando a consciência da necessidade de formação de um único profissional apto a integrar conhecimentos e para atuar de maneira objetiva e eficaz, não só na resolução dos problemas escolares, mas também que atuasse na prevenção dos mesmos, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e o resgate do prazer de aprender, melhorando assim, o desempenho escolar do aluno.

Assim nasceu a Psicopedagogia, cujo termo apresenta-se hoje com uma característica especial. Devido a complexidade dos problemas de aprendizagem, a psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento, além da psicologia e da pedagogia. É necessário ter noções de lingüística, para explicar como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição da linguagem oral e escrita. Também de conhecimentos sobre o desenvolvimento neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; de conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece o entendimento sobre a visão do homem, seus relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem.

Desta forma, a psicopedagogia se torna um campo com conhecimentos amplos, onde se tem objeto central de estudo o processo de aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola, sociedade). As dificuldades escolares não podem ser explicadas apenas de um fator, esteja ele na criança, no meio familiar ou escolar e sim deve ser explicada pela interação de vários fatores. Observando seu objeto de estudo, podemos perceber a sua extensão e o quanto o psicopedagogo em formação tem que investir em seu conhecimento para a formação de sua identidade.

O amplo conjunto de tarefas e funções realizadas pelos profissionais que prestam assessoramento psicopedagógico às escolas, apesar de sua diversidade, pode ser organizado em torno de quatro eixos (Coll, 1989b). O primeiro relativo à natureza dosa objetivos da intervenção, cujos pólos caracterizam respectivamente as tarefas que se centram, prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como finalidade incidir no contexto educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm como objetivo prioritário o atendimento a um aluno, quanto as que aprecem vinculadas a aspectos curriculares e organizacionais.

O segundo eixo afeta as modalidades de intervenção, que podem ser consideradas como corretivas, ou preventivas e enriquecedoras. Qualquer intervenção realizada na escola pode ser caracterizada, em um determinado momento, embora, em momento posterior, sua consideração se modifique.

Outro eixo também diferencia modelos de intervenção, embora tenha como objetivo final o aluno, podeter diferenças consideráveis:enquanto alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno, orientam-no e, inclusive, manejam tratamentos educacionais individualizados, outros combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas, centradas nos agentes educacionais que interagem com ele.

O último eixo (Coll 1989) indica o lugar preferencial de intervenção, que entendemos como a diversidade de níveis e contextos, inclusive quando circunscrita ao marco educacional escolar. Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas no nível de sala de aula, em algum subsistema dentro da escola, na instituição em seu conjunto, ano, série, assim como aquelas que se dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, etc.

A psicopedagogia educacional tem como objetivo, fazer com que os professores, diretores e coordenadores educacionais repensem o papel da escola frente as dificuldades de aprendizagem da criança. Por outro lado, mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca conseguiria abarca-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas escolares apresentam um padrão de comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de diferentes modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais preventiva com o objetivo de estar atenuando ou evitando os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra a clínico-terapêutica, onde seriam encaminhados apenas as crianças com maiores comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola.

A psicopedagogia escolar deve trabalhar para que a escola acompanhe o desenvolvimento da humanidade e se constitua num verdadeiro espaço de construção do conhecimento, auxiliando para que todos que participam da escola entendam "como" e "porque" transforma-la num lugar de construção de conhecimento.

Para que um psicopedagogo possa realizar um bom trabalho é necessário que ele conquiste um espaço dentro da escola, o que nem sempre é fácil, pois a maioria das escolas acha que um orientador educacional já é suficiente para resolver todos os problemas.

Uma forma de conquistar este espaço psicopedagógico dentro da escola está na forma de como este profissional apresenta seu trabalho. Este profissional tem que demonstrar amplos conhecimentos não só da criança que aprende como também dos processos didáticos metodológicos e da dinâmica institucional.Para uma atuação institucional, deve ser considerado como ambiente educacional a escola como um todo, desde a criança que aprende, o professor que ensina, o diretor que organiza, até a merendeira que é responsável pela alimentação. Além disso, deve ser considerado a família responsável pela criança e outros membros da comunidade que decidem sobre as necessidades e prioridades da escola.

Segundo Bossa (2000), o psicopedagogo pode colaborar na elaboração do projeto pedagógico, ou seja, através de seus conhecimentos ajudar a escola a responder questões fundamentais como: O que ensinar? Para que ensinar? Pode realizar o diagnóstico institucional para detectar problemas pedagógicos que esteja prejudicando a qualidade do processo ensino-aprendizagem; pode ajudar o professor a perceber quando a sua maneira de ensinar não é apropriada à forma do aluno aprender; pode orientar professores no acompanhamento do aluno com dificuldades de aprendizagem; pode ainda, realizar encaminhamentos para fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas, psiquiatrias infantis, entre outros.

Além disso, a relação professor-aluno é um fato importante que deve ser constantemente avaliado pelo psicopedagogo. Muitas vezes, esta relação pode estar ocorrendo de modo negativo pelo fato do professor desconhecer o aluno, estar muito distante de suas necessidades, ou por não saber identificar a fase de desenvolvimento cognitivo\afetivo do aluno, ou mesmo, por não saber o que está se passando no ambiente familiar da criança.

O psicopedagogo deve participar da reunião de pais, com o objetivo de estar esclarecendo o que se está passando com a criança na escola, podendo assim ensinar aos pais a reconhecerem as verdadeiras necessidades de seus filhosaté ensinarem os pais a estimular seus filhos para aprendizagens escolares em casa. Quando necessário o psicopedagogo pode marcar hora para outros encontros com alguns pais, para melhor orientar ou mesmo conhecer melhor o ambiente familiar da criança que está com problemas.

Faz parte do trabalho psicopedagógico educacional participar da avaliação dos processos metodológicos, onde poderá oferecer conhecimentos sobre métodos a ser aplicados para determinada classe ou para ajudar o professor na implantação de uma nova sistemática de ensino, oferecendo desta forma um suporte instrumental aos professores.

É função deste profissional também oferecer um suporte emocional para os professores que estão inseguros quanto a sua capacidade para aplicação de um método novo ou que estão com alunos com problemas de aprendizagem, Na medida em que o psicopedagogo ouve as dificuldades dos professores, esclarece sobre suas dúvidas, este se sentirá mais tranqüilo, ganhará mais confiança e proporcionará melhores condições para a aprendizagem. O suporte instrumental oferecido aos professores pode se dar também através de sugestões de atividades para a sala de aula; outras vezes sua atuação será individual ou em grupo com os alunos.

Quando a atuação do psicopedagogo for trabalhar em pequenos grupos, poderá ter os seguintes objetivos: a) socialização e autoconfiança; b) orientação de estudos; c) apropriação dos conteúdos escolares; d) desenvolvimento do raciocínio e; e) possibilitar o trabalho com alunos de diferentes níveis no desempenho acadêmico numa mesma classe. Certamente cada estabelecimento de ensino tem suas necessidades e o psicopedagogo deverá identifica-las para que efetivamente cumpra seu papel.

O Psicopedagogo Educacional precisa informar-se sobre os objetivos da mesma, para que possa atuar com eficácia. Essa necessidade é particularmente relevante, isto porque, está nas mãos dele a articulação entre o ensino e a aprendizagem de todos os elementos dessa escola provocando mudanças no processo evolutivo individual e coletivo.

A escola tem uma organização forma e uma informal. O conhecimento e a observação da organização formal possibilita ao psicopedagogo a análise da organização informal , pois nessa estão envolvidos os relacionamentos "não visíveis" de uma escola. A organização formal é constituída de elementos sujeitos à influência da administração e intencionalmente organizada de forma a conduzir à consecução dos objetivos escolares, podendo ser divididaem quatro grandes áreas: Programação, Recursos Materiais, Pessoal Escolar e Corpo Discente.

A Programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam ser alcançados. É importante que o psicopedagogo faça uma análise sobre a programação da escola para poder subsidiar sua atuação. O mecanismo administrativo de uma escola é representado pelo seu organograma, desta forma, o psicopedagogo poderá iniciar seu diagnóstico escolar pela análise do mesmo, ou seja, estudando as suas relações e fazendo suas conexões com as outras áreas da programação. Em outras palavras, fazendo uma análise se cada profissional da escola está desempenhando adequadamente a sua função e o que poderia ser melhorado.

Quanto ao plano didático, ou seja, o currículo e o programa organizado de acordo com uma seriação que acompanha o desenvolvimento dos alunos em seus vários aspectos (físico, intelectual, social, etc), algumas escolas apresentam um excelente currículo e ótimos programas, mas pecam na divulgação do conteúdo, ou seja, como ensinar. Desta forma, a análise do psicopedagogo deve estar voltada para recursos que possam amenizar as inseguranças dos professores na transmissão do conhecimento, como também para oferecer a esses, técnicas e estratégias mais adequadas à aprendizagem. Cabe ao psicopedagogo observar se os planos de trabalhos estão adequados à faixa etária dos alunos e se atendem às suas exigências cognitivas, podendo sugerir técnicas e estratégias adequadas e mais modernas.

O Corpo Discente deve ser considerado como um ser concreto que sintetizam, em si, inúmeras relações sociais e, sendo assim, deve ser compreendido na medida em que se toma como referência a situação real em que vive. Dentro de uma escola, o corpo discente deve ser avaliado e classificado de acordo com o seu progresso, em séries didáticas, sendo que dentro de cada série, os alunos são agrupados em classes ou turmas. Cabe ao psicopedagogo acompanhar a avaliação do aluno na série ou turma que se encontra.

Desta forma pode-se concluir que a atuação do psicopedagogo dentro da escola inicia-se por uma análise sobre vários aspectos da organização escolar. Além de ser primordial um trabalho em equipe , junto com professores, alunos pessoal administrativo, procurando dentro deste contexto melhorar o relacionamento entre si e entre grupos, tendo como meta a melhoria das condições de aprendizagem individual e grupal.

Há muitas funções dentro de uma escola, onde se fundem, nem sempre havendo uma distinção nítida entre elas, principalmente entre diretor, coordenador, orientador educacional, psicopedagogo, psicólogo educacional e professores. Desta forma aparece a necessidade de articulação entre estes profissionais para a configuração de um trabalho que atenda a necessidade de todos. Para que ocorra essa articulação é necessário, que sejam bem esclarecidas as características de cada função dentro da instituição escolar.

O Psicopedagogo tem a necessidade de conhecer, pelo menos teoricamente, o que seria a função de cada profissional dentro da escola, para poder planejar seu trabalho. Em síntese uma escola é funcional quando conta com forte aliança entre a comunidade, o corpo docente e administrativo, os quais trabalham os seus conflitos através da colaboração e diálogo. As decisões são tomadas em conjunto e a participação dos alunos é solicitada, mas sem ser igualitária. Cada membro do sistema escolar tem seu papel e função determinada. O psicopedagogo observa e diagnostica o sistema escolar e então cria condições favoráveis para a resolução de problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o aprender se tornem comprometidos.

A maior parte das tarefas psicopedagógicas deve ser realizadas em equipe (diretor, orientador pedagógico, professores e outros). O trabalho em equipe nem sempre é fácil, mas as decisões devem ser tomadas em conjunto, para que todos assumam responsabilidades. Um trabalho em equipe também impulsiona a cooperação entre os profissionais. Desta forma, o psicopedagogo pode estimular junto ao coordenador pedagógico a formação de equipes de professores, ou comissão de orientação pedagógica, onde se torne possível um projeto comum de construir uma escola democrática para a redução dos problemas de ensino aprendizagem.

CONCLUSÃO

Atualmente a Política Educacional Brasileira está resguardada na Constituição de 1988 que garante à todas as crianças de 7 aos 14 anos o direito a educação, sendo esta obrigatória e gratuita. Em contrapartida as estatísticas nos mostram que nem todas as crianças nesta faixa etária estão freqüentando as escolas, ou aprendendo como deveriam, ou seja, não estão recebendo um nível de educação necessário as demandas futuras, sejam elas sociais ou de adaptação psicossocial.

Nos problemas de aprendizagem, podem estar envolvidos fatores sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e médicos. Assim, torna-se necessário ter uma visão global do problema de aprendizagem para melhor avaliar e compreender o interjogo dos vários fatores envolvidos. Tanto na formação acadêmica dos profissionais ligados a esta área, como a pouca experiência sistematizada ligada a nossa realidade, fornecem poucos subsídios para um trabalho em equipe interdisciplinar.

A experiência a nível interdisciplinar não pode ser entendida como a somatória de ações isoladas de profissionais com as mais variadas formações, mas sim como fruto de um estudo integrado e interdependente, que busca uma compreensão global do problema. Isto não significa submeter a criança e sua família a múltiplos atendimentos cansativos e estressantes Mas é indispensável utilizar-se da técnica da interconsulta, onde o profissional diretamente envolvido submete o caso à apreciação dos outros integrantes da equipe, a partir da qual se planejará, quando necessária, a intervenção direta de outros profissionais.

A eficácia desse trabalho implica necessariamente que os profissionais envolvidos aceitem renunciar aos eventuais privilégios que uma visão tradicional conservadora favorece e estar abertos para a descoberta de novos conceitos e permanentes reformulações o que, sem dúvida, irá contribuir para o nosso próprio processo de aprendizagem e desenvolvimento científico.

Referências

ALENCAR, Eunice Soriano. Novas Contribuições da Psicologia aos Processos e Aprendizagem. São Paulo: Ed. Cortez, 1992.182p.

MASNI, Elcie F. Salzano (orgs). Pisicopedagogia na Escola buscando condições para aprendizagem significativa. São Paulo: Ed Unimarco, 1994. 140p.

SCOZ, Beatriz, Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. 6Ed. Petrópolis: Vozes, 1994. 152p.