Enquanto nos preparamos para Te receber mais uma vez...

 

No céu habitavas!

Lá, tudo tinhas e nada Te faltava.

Lá, os Anjos Te respeitavam.

Lá, os Arcanjos Te admiravam.

Lá, os Serafins perante Ti se curvavam

Lá, os Querubins Te adoravam.

Lá, o Pai Te beijava e o Espírito Te acariciava.

Lá, todos Te amavam.

Mesmo assim, Tu estavas inquieto.

Mesmo assim, insatisfeito estavas Tu.

Ansiavas por novas experiências, por alçar novos voos.

Decidiste deixar a vitrine e a passarela das celestes regiões e

                vir para a favela do universo.

Decidiste deixar o brilho e a luz do céu e

     vir para as trevas da terra.

Decidiste deixar a pureza daqueles que te cercavam e

     vir habitar entre incoerentes terráqueos.

Aqui chegaste!

Humano Te tornaste!

Corpo assumiste: Palpável e apalpável,

               com cheiro, pele e cor.

Falar, aprendeste.

Tu Te limitaste!

Tu Te deseternizaste!

Tu Te despoderizaste!

Luxo, não quiseste!

Nasceste e viveste como e no meio de gente pobre, humilde e desprezada.

Rejeitado e incompreendido foste.

Reconhecido não foste pelos dominadores.

Os admiradores foram poucos,

A falta de respeito muita,

A irreverência grande!

O beijo que recebeste foi de traição.

Escolheste para estar ao Teu redor gente sem brilho, sem status, sem “pedigree”,

                de curta inteligência e de difícil raciocínio.

Chamaste para Teu lado gente de “pavio curto”, violenta e que não levava desaforo

     para casa.

     Gente de passado duvidoso,

     de presente questionável e de futuro incerto.

Atraíste para Ti gente de vida machucada e magoada!

     Tu os amaste.

     Com eles brincaste! Sorriste! Divertiste-te!

     A eles Te dedicaste!

     Neles acreditaste!

Rompeste a barreira da alienação, da separação existencial entre Ti e eles.

Transpuseste o intransponível.

Assumiste suas dores, seus desafetos e seus desamores.

Tu Te tornaste o grande mistério.

Mesmo entre Teus seguidores,

            as opiniões ao Teu respeito, contraditórias são.

Tua mensagem? Simples demais para ser levada a sério.

Tua vida? Demasiadamente desconfortável para ser tida como modelo.  

Teu exemplo? Perigoso demais para ser imitado.

Professamos a Ti pertencer.

Afirmamos conhecer-Te, entretanto

vivemos à nossa própria maneira.

Dizemos Te amar,

mas nossas atitudes são de desamor.

Assumo: Somos incoerentes.

Apesar de tudo Tu nos amas e disseste

que vais voltar. Daqui gostaste.

Te apaixonaste por nossa imperfeição,

por nossa falta de lógica,

por gente que diz não com a boca e sim com os olhos.

Gostaste disso!

Enquanto nos preparamos para Te receber mais uma vez,

Ajuda-nos a ver-Te no mendigo, no pobre, no excluído!

Ajuda-nos a ver-Te no caído, no ferido, no magoado!

Ajuda-nos a ver-Te no desprezado, no não amado!

Enquanto nos preparamos para Te receber mais uma vez,

Ajuda-nos a nos aproximar dos inaproximáveis,

A, como Tu, tocar os intocáveis.

 Enquanto nos preparamos para Te receber mais uma vez,

            Ajuda-nos a ser como Tu:

Inclusivo e não preconceituoso.

            Ajuda-nos a ser como Tu:

Fazer o bem, sem olhar a quem.

            Ajuda-nos a ser conTigo!

 

Advento de 2009.

 

Maruilson Souza, PhD