EJA: UMA EDUCAÇÃO POSSÍVEL PARA REESCREVER UMA HISTÓRIA DE VIDA

 

 

 Regina Aparecida Rocha

RESUMO: Esse artigo é uma análise realizada no centro de Educação de Jovens e Adultos Prof. “ Antônio Cesário de Figueiredo Neto” no período noturno com perguntas abertas e fechadas realizadas com dois alunos e uma aluna da  Educação de Jovens e Adultos (EJA) apresentando as principais dificuldades encontradas pelo educando durante seu processo de formação na educação de jovens e adultos e mostrando  a necessidade de conhecimento para o mercado de trabalho que exige um profissional qualificado. Para dar prosseguimento ao artigo foi necessário conhecer esta modalidade de ensino e as leis em vigor, bem como, suas próprias características que instituídas com clareza possibilitam a permanência dos alunos em sala de aula. O resultado da pesquisa possibilitou o conhecimento da realidade escolar dos educandos no processo de formação e suas principais dificuldades em meio a uma sociedade que passa por constantes mudanças e avanço tecnológico, proporcionando assim uma transformação através do conhecimento.

Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos – Evasão – Trabalho- Diretrizes e Bases

 

 INTRODUÇÃO

 

 

A educação é essencial e é insubstituível. Dentre todas as práticas culturais da vida humana e da experiência de sociedades como a nossa, dificilmente alguma outra será tão insubstituível quanto à educação. (BRANDÃO, 2002, p. 187).

 

                                                                                                                                                                                    

A Educação de Jovens e Adultos é um processo de ensino garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de N.º 9.394/96, que vem garantir a escolaridade básica para todos que não puderam concluí-la na idade adequada dos seis aos 17 anos.

Diante disto, percebi a necessidade de conhecer e compreender a realidade em que estão inseridos os alunos dessa modalidade, pois deparamos com alunos que estão retornando aos estudos após longos anos sem contato com a sala de aula, e muitos estão inseridos em uma sociedade prestando seu trabalho para manter suas famílias e chegam cansados para estudarem após longo dia de labor, enfrentando diversos problemas para estarem na escola, considerando que a grande maioria dos jovens e adultos que retorna aos bancos das salas de aula tem o objetivo de alcançar uma formação escolar que lhes possibilite um posicionamento mais qualificado, em termos de empregabilidade e desenvolvimento da vida social na sociedade.

               Neste sentido o tema em estudo tem como base conhecer quais as principais dificuldades encontradas pelo educando durante seu processo de formação em um mundo pós-moderno.

                  Considerando que a (EJA) é uma educação possível capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa, permitindo-lhe reescrever sua história de vida, pois apresenta uma diversidade de grupos de pessoas constituídas de diferentes culturas que não frequentaram o ensino regular na idade adequada, mas que lutam por melhores condições de vida por meio da educação. Esta modalidade de ensino vem desenvolver um trabalho contínuo ao longo da vida do educando sem restrição de faixa etária, buscando valorizar conhecimentos prévios, valores e a sua cultura a fim de possibilitar o processo de ensino aprendizagem.

         Por tanto, sabe-se que os educandos buscam além da luta pela sobrevivência se atualizar para o mercado de trabalho, pois estão diante de um mundo moderno e informatizado e a escola é um lugar privilegiado para a aquisição do conhecimento possuindo bens culturais construídos ao longo do tempo que possibilita o desenvolvimento intelectual e profissional dos educandos, como afirma:

É por meio da educação que os indivíduos apropriam-se da produção cultural e dos valores tradicionais das gerações anteriores formando-se no movimento contínuo e interativo desse processo de desenvolvimento humano. (PARO 2001 APUD SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÂO 2008, p.17)

            No Brasil, o sistema educacional passa por mudanças sociais, como qualquer outro país, devido aos constantes transformações que permeia a sociedade, tornando assim uma aceleração intensa ou até mesmo dramática. O processo educativo acontece em meio a confrontos interculturais, as quais buscam adequar-se a margem de uma relação das práticas pedagógicas e das diretrizes curriculares para  formar e preparar o individuo para o mercado de trabalho e viver em sociedade, pois ela é um instrumento que possibilita o desenvolvimento do ser humano em seu aspecto social, politico e econômico, gerando mudanças e promovendo interação através de novos conhecimentos.

          A educação era privilégio de poucos, a qual recebia os saberes necessários para um futuro brilhante e ainda continuar oprimindo os menos desfavorecidos, mas com o aumento da população e a necessidade de qualificação para o mercado de trabalho, houve uma extrema necessidade de instrução para a classe dominada. Diante disto podemos mencionar.

[...] não podemos nos colocar na posição do ser superior que ensina um grupo de ignorantes, mas sim na posição humilde daquele de comunica um saber relativo a outros que possuem outro saber relativo. (É preciso saber reconhecer quando os educandos sabem mais e fizer com que eles também saibam com humildade) (FREIRE, 1997, p.29).

           Neste sentido, este estudo tem a finalidade de mostrar que apesar das dificuldades encontradas pelos o educandos durante sua caminhada, a modalidade permite o reingresso na vida escolar, resgatando sonhos e contribuindo para a formação profissional, individual e social do individuo mesmo pela falta de qualificação profissional dos educando que muitas vezes não recebe uma qualificação para estar atuando na sala de aula e deparar com pessoas que ficaram por longas datas fora da sala de aula. Como destacam:

Os professores que trabalham na EJA, em sua quase totalidade, não estão preparados para o campo específico de sua atenção. Em geral, são professores leigos ou pertencentes ao próprio corpo docente do ensino regular. Nota-se que na formação de professores, em nível médio e superior, não se tem observado preocupação com o campo específico da educação de jovens e adultos. Deve-se também considerar as precárias condições de profissionalização e de remuneração dos docentes. (GADOTTI E ROMÃO, 2001, p.145)

        No ingresso para a faculdade percebi a necessidade de continuar buscando conhecimento e seguir uma carreira profissional, pois sou fruto desta modalidade de ensino, o qual me despertou o interesse mais profundo por esta modalidade, pois apesar dos grandes desafios, esta modalidade oferece uma oportunidade e valoriza o tempo perdido e somente através da educação que o ser humano tem a oportunidade de ser transformado e inserir na sociedade. Conforme ressalta:

Geralmente, o aluno de (EJA) é alguém que busca a escola como espaço de socialização, vislumbrando possibilidades de transformações nos diversos âmbitos de sua vida profissional, social e econômica. (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÂO, 2010, p.29)

          Diante dos estudos em questão, abordarei como objetivo geral, investigar as principais dificuldades encontradas pelo educando EJA durante seu processo de formação tendo como objetivos específicos desta pesquisa.

  • Investigar o direito de aprender dos alunos ao longo da vida.
  • Levantar as principais causas da Evasão Escolar dos alunos na (EJA).
  • Mostrar para os alunos acerca da necessidade de adquirir conhecimento par enfrentar o mercado de trabalho.

          Reforçando minhas expectativas sobre investigar as principais dificuldades encontradas pelo educando durante seu processo de formação, mencionarei algumas abordagens de autores que mostram o mercado de trabalho e os alunos EJA, as principais causas da evasão escolar expondo também as Diretrizes e Base para educação de jovens e adultos.

MERCADO DE TRABALHO E OS ALUNOS DA (EJA)

 

 O MEC divulgou em 2003, que a alfabetização de jovens e adultos seria uma prioridade do novo governo federal, sendo criada a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, cujo objetivo é erradicar o analfabetismo. Para cumprir essa meta foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o MEC contribuiria com os órgãos públicos estaduais e municipais, instituições de ensino superior e organizações sem fins lucrativos que desenvolvam ações de alfabetização.

 Durante o processo histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, houve muitas transformações sociais, econômicas e políticas que caracterizaram os diferentes momentos históricos do país, sendo considerando inicialmente a alfabetização de adultos para os colonizadores que teve como objetivo principal ensinar a população a ler e a escrever com a finalidade de prestar seu trabalho para a classe dominante e aprender suas doutrinas eclesiásticas.

            Diante disto, podemos observar a grande contribuição de Paulo Freire para a educação de Jovens e Adultos, pregando uma educação libertadora que proporcionou a transformação através do conhecimento baseado na realidade do educando, levando-se em conta suas experiências, suas opiniões e sua história de vida.

        Sendo assim, a educação passa por transformações sociais em busca de novos conhecimentos para qualificar o individuo para o mundo moderno e informatizado, preparando-o para as constantes mudanças ocorridas na sociedade e o surgimento de novas tecnologias, pois o mercado de trabalho busca o perfil do profissional mais qualificado decorrente da exigência do mundo pós-moderno como afirma:

Os padrões de interação são definidos pela prática cultural e pelo exercício da cidadania que se tem como proposta; o conhecimento é continuamente alterado por transformações sucessivas diante dos avanços tecnológicos e das próprias experiências. (PICONEZ, 2002, p.17)

           O Surgimento da grande demanda por Educação de Jovens e Adultos (EJA) e o retorno aos bancos escolares deve-se a migração das famílias que moravam na zona rural, pertencente à economia agrícola para a zona urbana, passando a concentrar suas atividades no comercio e na indústria. Com as transformações sociais o indivíduo que outrora vivia de uma economia de subsistência busca inserir na sociedade através da Educação por meio de programas e projetos voltados para a alfabetização a fim de recuperar o tempo que passou e dar continuidade com seus estudos.

O educando passa então a viver em uma sociedade que exige conhecimentos e formação adequada para inserir no mercado de trabalho, desde as funções básicas até aos cargos elevados. Neste sentido o educando encontra muitas vezes em situações difíceis por não ser alfabetizado, pois não consegue prestar um trabalho de qualidade por falta de conhecimento, tornando sua vida difícil, apesar das experiências que possui ao longo da vida. Desta maneira ele busca através da educação se reintegrar a vida escolar para dar continuidade em sua vida e produzir um trabalho de qualidade através do conhecimento. Como afirma.

[...] a melhor capacitação do trabalhador aparece como fator de aumento de produtividade. A “qualidade” da mão de obra obtida graças à formação escolar e profissional potencializaria a capacidade trabalho e de produção. [...] Cada trabalhador aplicaria um cálculo custo-benefício no que diz respeito à constituição do seu “capital pessoal”, avaliando se o investimento e o esforço empregados na formação seriam compensados em termos de melhor remuneração pelo mercado no futuro. (CATTANI, 1997, p.35)

Considerando todo processo podemos observar que quanto maior a educação, maior o retorno profissional advindo de uma educação transformadora, que possibilita o individuo a realizar seus sonhos e tornar cidadãos com opiniões próprias, prestando seu trabalho para a sociedade e desenvolvendo a vida intelectual dentro de uma sociedade marcada pelas desigualdades sociais.

As principais causas da Evasão escolar

As causas da evasão escolar estão ligadas às condições econômicas e sociais adversas de grande proporção de alunos da rede pública. O percentual de alunos de 1ª e 8ª séries oriundos de famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo é de 55,4% e 36,4%,respectivamente.Quando se avança na idade escolar, no Ensino Médio, os alunos tendem a ir desaparecendo das salas de aula. A proporção de estudantes cursando o ensino médio no Brasil é de menos da metade, 45%[...].( RUIZ 2007, p. 12)

           A evasão escolar é um dos maiores problemas enfrentado pela EJA na atualidade, pois a maioria dos educandos são adultos, e encontram muitas dificuldades para permanecer na escola devido à necessidade de trabalhar para manter suas famílias.

          O Brasil é considerado um país com alto índice de taxas de analfabetismo, ocupando um lugar de relevantes discussões e debates que levam ao fracasso escolar, porém sua conquista em relação à alfabetização de jovens e adultos tem aumentando, pois o adulto procura a escola não apenas aprender a ler e a escrever, mas para atualizar-se no mercado de trabalho e com os avanços tecnológicos e as exigências de qualificação profissional é preciso que haja transformações positivas, onde possa acabar não só com a evasão escolar, mas também com a desigualdade entre as pessoas. Diante dos expostos Gadotti e Romão (2011,p.142) destacam. “O contexto cultural do aluno trabalhador deve ser a ponte entre seu saber e o que a escola pode proporcionar, evitando, assim, o desinteresse, os conflitos e a expectativa de fracasso que acabam proporcionando um alto índice de evasão”.

          O aluno que frequenta esta modalidade de ensino esta inserido em uma sociedade prestando seu trabalho para manutenção de suas famílias e muitas vezes são discriminados pela falta de conhecimento para desenvolver um trabalho que possa favorecer uma melhor qualidade de vida.

           Apesar das leis impostas pelo governo em oferecer um ensino gratuito para todo cidadão, seja ele jovem ou adulto, são vários os motivos que levam os alunos a desistir dos estudos, trazendo consigo as lembranças do passado, o cansaço do trabalho do cotidiano, a idade avançada, a autoestima baixa, bebidas, vida sedentária além do índice de pobreza que ainda continuam, e na maior parte das vezes, chegam a impedir a presença do aluno na escola, e outros aspectos que interfere na vida social e familiar e cabe ao educador perceber as potencialidades dos alunos, valores já constituídos, valores éticos e morais e conhecimento que podem facilitar o processo de ensino aprendizagem, pois participam de ações de trabalho na sociedade e exerce papel importante na família. Como afirma.

A constituição Brasileira estabelece o direito á Educação de Jovens e Adultos, quando expressa no art.208 que o dever do Estado com a Educação será efetivado mediante garantia de: I. Ensino fundamental, obrigatório e gratuito inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. ( SOARES,2002,p11)

          A escola precisa de educadores capacitados com propósito de querer buscar meios que amenizem o índice de alunos evadidos, pois muitos alunos acabam retornando para instituição com intuito de vencer na vida, e poder ter um trabalho mais digno para si e  oferecer uma melhor qualidade de vida para sua familia.

         Diante de tantos avanços que vêm ocorrendo no mundo inteiro, vem-se mostrar que evasão escolar é uma das causas de se chegar à exclusão social, pois somente através da educação o individuo vai se preparar para a vida em sociedade adquirindo conhecimento significativo para plena participação no mercado de trabalho, que exige mão- de –obra qualificada diante de um mundo movido pela tecnologia e transformações sociais favorecendo assim uma sociedade mais justa e igualitária.

Diretrizes e bases na Educação de jovens e Adultos

A Constituição de 1934 estabeleceu a criação de um Plano Nacional de Educação, que indicava pela primeira vez a educação de adultos como dever do Estado, incluindo em suas normas a oferta do ensino primário integral, gratuito e de frequência obrigatória, extensiva para adultos.

          A Constituição Federal do Brasil incorporou como princípio que todas e qualquer educação visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CF.Art. 205). Retomado pelo Art. 2º da Lei de Diretrizes Bases da Educação Nacional-LDB-9.394/96, este princípio abriga o conjunto das pessoas e dos educandos como um universo de referência sem limitações.

       Neste sentido, a EJA ganhou força e tornou-se uma política de estado de modo que hoje o governo brasileiro investe e incentiva essa modalidade educacional como possibilidade de se elevar o índice de ensino da população, principalmente, daqueles que já mencionados que não tiveram acesso ou possibilidade de estudos. Com isso vemos que além de ser uma política educacional, a EJA é principalmente uma política social e dará condições para que os alunos melhorem suas condições de trabalho e a sua qualidade de vida. Como diz no artigo 37: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.
          Sendo assim, cabe ao governo, de acordo com o parágrafo segundo do artigo 37 da referida lei, estimular o acesso da população a essa modalidade educacional e oferecer condições de funcionamento dignas para que sejam de fato efetivados os seus objetivos que são os de inclusão social e melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional dos educandos.

          De acordo com a LDB 9394\96 em seu artigo 38º, “os sistemas de ensino manterão” cursos e exames supletivos que compreenderem a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular, definindo a idade mínima para a realização dos exames com a idade de quinze anos poderia prestar os exames para a conclusão Ensino fundamental e maiores de dezoito anos para a conclusão do Ensino médio. Podemos ainda ressaltar.

Ainda que a LDB9. 394\96 tenha sido uma colcha de retalhos ao tentar conciliar interesses governistas, privatistas e publicitas, no artigo 37 e 38,que dizem respeito diretamente à Educação de Jovens e Adultos, a lei incorporou a mudança conceitual de EJA que se dava desde os final dos anos de 1980.A mudança de “ensino supletivo “para “educação de jovens e adultos “não é uma mera atualização vocabular. Houve um alargamento do conceito ao mudar a expressão de ensino para a “educação”. Enquanto o”ensino”se restringe á mera instrução, o termo “educação “é muito mais amplo, compreendendo os diversos processos de formação.( SOARES,2002,p12).

        O parecer 11\2000 é um texto que regulamenta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA e aprovado na câmera de Educação Básica em maio de 2000, o parecer é um documento extenso e denso e necessita ser lido e estudado por sintetizar a EJA nos últimos tempos contendo itens muito importante dentro deste processo, podendo destacar a introdução fundamentos e funções da EJA ;Bases Legais; A EJA hoje; Bases Históricas; Iniciativas Públicas e Privadas ;Alguns indicadores estatísticos e formação docente.

       Além da oferta do ensino fundamental e médio, também é possível a integração da EJA cursos da educação profissional possibilitando assim ao aluno além de alcançar o nível de ensino que ele deseja (fundamental ou médio) uma qualificação profissional para atuar no
mercado de trabalho.

Metodologia

         O presente estudo tem a finalidade de buscar informações relevantes para uma pesquisa de cunho qualitativa, com caráter exploratório, isto é, estimulando os entrevistados a pensarem livremente sobre o tema de forma espontânea, como afirma.

A pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo.( GODOY 1995, p.58).

Tendo como instrumento para coleta de dados um questionário elaborado com perguntas abertas e fechadas realizadas com dois alunos e uma aluna matriculados no centro de Educação de Jovens e Adultos Prof. “ Antônio Cesário de Figueiredo Neto” no período noturno.

Dados da pesquisa.

No intuito de utilizar o questionário para reflexão das dificuldades encontradas pelo educando relacionado há quanto tempo ficou fora da escola e seus principais motivos que levaram a isto, foram revelados suas histórias de vida e muitas experiências que contribuíram para que retornasse a escola possibilitando assim sua inserção no mercado de trabalho, tornando-o cidadão críticos, reflexivos dentro de uma sociedade capitalista. Diante das questões aplicadas o aluno F.C.S.47 anos e a aluna B.B.C.61 anos ressaltam:

Meu nome é F. C.S 47 anos nasci na cidade de Alto Paraguai, tenho dois filhos e sou viúvo, terminei o ensino primário e tornei-me um pescador. Fiquei 25 anos fora da escola, atualmente estou cursando 5ª e 6ª, não tinha interesse e não percebia a necessidade pelo estudo e meus pais não me incentivaram a continuar estudando. ( F.C.S.-47anos- masculino). . ( F.C.S. - 47anos -  masculino)

Meu nome é B. B.C 61 anos, casada, não tenho filhos, cursei somente o primário e fiquei 10 anos sem frequentar a escola, fui criada com outras famílias, tendo que trabalhar muito e não tive oportunidade de estudar. ( B.B.C.-61anos -feminino)

De acordo com as respostas obtidas, percebe-se que os educandos frequentaram somente o ensino primário e ficaram por mais de 10 anos fora da escola e durante este período moravam na zona rural, constituíram famílias o que dificultou mais ainda e não deram continuidade aos seus estudos. Buscando um meio de sobrevivência e assim ter uma profissão como meio para manter suas famílias, o que trouxe grande atraso na sua vida escolar e profissional levando-os as condições precárias de vida e não ter interesse pelo estudo. Diante disto afirmam.

Os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas condições precárias de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego etc.)que estão na raiz do analfabetismo. “O desemprego, os baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de alfabetização de jovens e adultos.( GADOTTI e ROMÂO 2011,p.145)

 Acredita-se que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino que possibilita que pessoas adultas, que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola na idade adequada possam retomar seus estudos recuperando o tempo perdido e buscando uma vida digna dentro da sociedade. Como ainda ressalta.

Na educação de jovens e adultos, a realidade vivencial dos sujeitos é conteúdo e lócus da pratica pedagógica, sendo fundamental atentar para os fatores que a diferenciam da escolarização regular, bem como para o fato de que esses (as) chegam ao espaço educacionais com conhecimentos, crenças, valores, preconceitos e bloqueios culturais acumulados ao longo de sua história. (CAPUCHO 2012, p.116 )

Tendo em vista essas dificuldades eles buscam uma instituição de ensino para novamente aprender ler e escrever e de alguma forma buscar novos sentido para suas vidas através do conhecimento, pois são vitimas de um passado marcado pela desigualdade social o qual reflete em seus dias trazendo dificuldades para enfrentar uma sociedade, que buscam um individuo dotado de diversos saberes em função das mudanças constantes que ocorrem tanto no mercado de trabalho como na realidade cotidiana. Conforme ressalta Newton Duarte (2007, p.31)”Defendemos que, no processo de formação da individualidade para si a educação escolar tem o importante papel de mediadora entre o âmbito da vida cotidiana e os âmbitos-não cotidianos da atividade social”. Portanto a educação é um meio que possibilita o individuo trilhar novos caminhos e buscar conhecimentos capaz de transformar suas vidas, trazendo melhor qualidade de vida e desenvolvendo sua potencialidade, habilidades, criatividades e contribuindo com a sociedade onde vive.

Vale destacar ainda a fala do aluno I. V. B.

Meu nome é I.V.B 64 anos, tenho 12 filhos, divorciado, nasci no Nordeste (Juazeiro) fiquei 64 anos fora da escola, ou seja, nunca frequentei a escola, pois morava na zona rural e não tinha escola e nem mesmo nenhum tipo de infraestrutura para contribuir com a minha formação, mas aprendi a viver com as experiências da vida.Quando cheguei a Cuiabá em 1975, fui cadastrado no cresci para ser corretor de imóveis, fazendo uma prova de marcar x ,o qual um colega me ajudou a responder pois era analfabeto. Após a prova recebi a carteira de corretor de imóveis, o qual com ajuda de um advogado veio possibilitar a aberturar de três imobiliárias. Em seguida mesmo analfabeto trabalhei como policial por dois anos e também representante do juizado da infância e juventude. Somente em 2010, iniciei meus primeiro ano da vida escolar para ser alfabetizado, foi uma experiência extraordinária, pois pensava que não iria alcançar meus objetivos e nem mesmo aprender a ler e escrever. ( I. V. B. -64 anos -masculino)

Na fala do aluno I. V.B, percebe-se que ficou parte de sua vida fora da escola, diferente do aluno F.C.S e da aluna B.B.C, que frequentaram o ensino primário , sendo alfabetizados na idade certa, mas não tiveram condições de dar continuidade devido vários fatores familiares que influenciaram e tiveram que trabalhar para ajudar no sustento da família.

O aluno I.V.B, lembra que não foi alfabetizado porque não tinha escola na região onde morava e suas necessidade de trabalhar em outras cidades vizinhas fizeram-no distanciar do estudo, pois seus pais também não incentivavam a aprender ler e escrever e buscou através de outras pessoas um meio para sobreviver, o qual percorreu por várias profissões que em seu tempo não exigia a escolarização ,lutando por uma vida melhor e  seu maior sonho seria ir para a escola para ser alfabetizado e fazer notório mais ainda seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Diante deste contexto podemos mencionar.

[...] a escola tem papel preponderante nessa formação por contemplar todos esses processos, considerando que o objeto de seu trabalho é a formação humana, que vai além da apreensão dos conteúdos cognitivos, uma vez que envolve valores, comportamentos e atitudes. Esse espaço toma uma conotação especial para as camadas sociais economicamente desfavorecidas, pois a escola é o principal ambiente de aprendizagem organizada e sistematizada que possibilita a socialização e a apreensão dos conhecimentos acumulados ao longo da historia da humanidade. ( CAPUCHO 2012, apud SILVA,2010 p.47 ).

Como ressalta o aluno I. V. B ,que passou muito tempo sem ser alfabetizado, passou por várias dificuldades durante sua vida pois a própria sociedade em que vivia não proporciona um meio de educação para a comunidade onde morava e isto fez com que ele não desse continuidade em seu estudo vindo, buscar uma profissão para manter sua familia. Neste sentido podemos mencionar.

No meio rural, a necessidade premente da sobrevivência diária faz com que muitos pais demonstrem resistência em matricular os filhos, pois precisam deles na roça ou na oficina, ou em qualquer lugar onde ajudem no sustento da familia. A escola, para esses ,é um capricho desnecessário. Ademais ,raciocina-se, se os pais não estudaram, por que o filho tem de estudar? A falta de formação e informação cria uma lógica difícil de ser demovida. E assim prolifera a ignorância em zonas afastadas da chamada civilização. O Brasil não pode conviver pacificamente com esse estado de coisas. Todo brasileiro tem direito á educação, na cidade ou no campo.  (CHALITA 2011,p.62).

Percebe-se então, que o educando foi alfabetizado depois de 64 anos e sentiu muitas dificuldades perante a vida, pois se vive em mundo capitalista e precisa de conhecimento para sobreviver principalmente serem alfabetizadas para ter acesso às novas tecnologias, tornando a vida mais pratica e confortável. O educando revela que nunca é tarde para aprender e adquirir conhecimento para a vida secular e profissional, o sonho pode ser conquistado e realizado independente de faixa etária e é através da educação que individuo cresce em entendimento, tornando critico e reflexivo para solucionar problemas e ocupar lugar de destaque na sociedade.

A partir das questões em análise foram questionados para os alunos quais os principais motivos que levaram ao retorno escolar, sabendo que muitos voltam para a escola a fim de resgatar seus sonhos e construírem um futuro digno para si e para sua família através do conhecimento; outros voltam com feridas, causados por insucessos escolares e pessoais e também o desânimo em suas vidas. Nesse sentido o aluno adulto se sente um ser inferior diante do mundo, com dificuldades de aprender e de construir sua própria história, bem como de contribuir com melhorias para a sociedade. Diante disso os alunos I.V.B e B.B.C  relatam.

Na realidade a minha história não foi retorno, mas sim meus primeiros momentos da fase escolar e a principal contribuição foram a separação da minha esposa, sendo ela a responsável pelas assinaturas de todos os documentos necessário para a o funcionamento da empresa, pois não sabia ler e nem escrever. Diante da necessidade busquei me qualificar e preparar para o mercado de trabalho e me tornar independente. (I.V.B 64 -anos -masculino).

A independência e a liberdade pela minha vida foram um dos motivos que me fizeram voltar aos estudos, pois trabalhei muito tempo com uma familia que a senhora era professora e fui matriculada na escola depois de muito tempo, mas ela desacreditada no meu desenvolvimento não deixou mais estudar e ainda me maltratava e com muitas palavras agressivas me caluniava e às vezes até com violência. No meu último emprego percebi muito mais a necessidade de conhecimento, sendo necessária a assinatura para recebimento de correspondência da residência da família onde trabalhava que até mesmo o entregador de cartas me incentivou a estudar.(B.B.C- 61 anos -feminino).

De acordo com as respostas, pode-se observar que o aluno I.V.B e a aluna B.B.C  mostra a necessidade de aprender ler e escrever para se tornar independente ,para ter liberdade em sua vida,pessoal ,intelectual e profissional .Como ressalta a Secretaria Municipal de Educação (2010,p.29) “Geralmente, o aluno EJA é Alguém que busca a escola como espaço de socialização, vislumbrando possibilidades de transformações nos diversos âmbitos de sua vida profissional, social e econômica”.

Considerando, que o aluno I.V.B apresenta uma realidade diferente da aluna B.B.C pois ele nunca frequentou uma escola e a aluna mesmo alfabetizada sentia muita dificuldade para aprender ler ,pois as dificuldades e os maus tratos que passou veio refletir em seu desenvolvimento tanto psicológico como físico. Para tanto podemos enfatizar.

O aluno adulto não pode ser tratado como uma criança cuja história de vida apenas começa. Ele requer ver a aplicação imediata do que esta aprendendo.Ao mesmo tempo ,apresenta –se temeroso ,sente-se ameaçado ,precisa ser estimulado ,criar autoestima, pois a sua “ignorância “lhe traz tensão ,angustia, complexo de inferioridade. Muitas vezes tem vergonha de falar de si, de sua moradia, de sua experiência frustrada da infância, principalmente em relação á escola. E preciso que tudo isso seja verbalizado e analisado. O primeiro direito do alfabetizando é o direito de se expressar. (GADOTTI e ROMÂO, 2011, p.47).

Analisando as respostas podemos observar que os educandos apresentaram realidades semelhantes no processo de aprendizagem, pois sentiram a necessidade de conhecimento para a realização da vida pessoal e profissional, o qual as circunstâncias da vida, fizeram ver a vida de uma forma diferente. A educação foi o meio mais excelente que propiciou o conhecimento necessário para a realização de seus sonhos tornando um cidadão justo capaz de reescrever uma historia de vida na sociedade.

No mesmo sentido o aluno F.C.S  relata.

Após 25 anos fui acometido por um câncer na faringe, que no inicio apresentava apenas uma rouquidão o que foi terminando com uma cirurgia. Sendo assim recebi a orientação da psicóloga para voltar para a escola, devido ao trauma psicológico e os estudos me ajudariam a desenvolver o psíquico, além de fortalecer a alta estima durante o tratamento. (F.C.S -47 anos- masculino).

O educando durante sua vida foi acometido por uma patologia, que após ser diagnosticado por um profissional passa por uma cirurgia e busca meios que amenizem sua deficiência. Sendo assim, as dificuldades foram agravadas e iniciou a fisioterapia, o qual foi orientado para retornar aos estudos como forma de tratamento para desenvolver sua vida social e fortalecer a autoestima, pois a mesma é um dos fatores que contribui para aprendizagem do adulto, pois é da relação social que o educando tem acesso à cultura através da troca de experiências e de informações fortalecendo a aprendizagem.

 Portanto a autoestima faz o educando sentir capaz de enfrentar a vida com mais confiança e otimismo e ser mais criativo em tudo o que faz e sentir prazer diante de suas realizações. De acordo com Freire (1997, p.77).” Aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito”.

 O papel da família e escola é extremamente importante pela construção da autoestima e no processo de aprendizagem do educando, tendo a função de transmitir confiança e de despertar os sentimentos do mesmo, fortalecendo, assim, as suas estruturas emocionais. Quando ambos caminham juntos, colaboram no processo de aprendizagem e transmite segurança para o educando que esta passando por transtornos emocionais em busca de apoio para o mesmo em todas as horas. Educação não é tarefa exclusiva do professor e da escola, mas de toda a sociedade em que esta inserida, direcionando o educando de forma prazerosa em busca da solução para seus problemas. Como ressalta.

A vida em sociedade é necessária e essencial. O ser humano não consegue se desenvolver sem o outro. As relações são difíceis, complicadas, mas ninguém dúvida de que não, há como viver sem elas. Não há saída, é preciso enfrentar as diversidades e conseguir costurar relacionamentos, que se dão em vários níveis: há os familiares, os escolares, os profissionais, os eventuais, os duradouros, os sexuais, os afetivos, os políticos e outros, de modo que não existe momento de nossa vida em que não estejamos relacionando com alguém.(CHALITA 2001,p.212).

Portanto, diante desta realidade, o educando passou parte de sua vida sem frequentar a escola, o qual após ser acometido por uma grave enfermidade retornou ao estudo em busca de desenvolvimento psicológico e com isto surgiu novos caminhos com objetivos de dar continuidade aos estudos, pois sua visão em relação à educação foi totalmente diferente do passado, buscando até mesmo cursar o nível superior e a EJA proporcionou esta oportunidade para dar continuidade dos estudos em sua vida e ter uma vida digna, pois a educação é o único meio para o individuo se tornar verdadeiros cidadãos dentro de uma sociedade que oferece um turbilhão de informações e cabe a escola ter a tarefa de orientar  e direcionar o caminho a seguir.

Com enfoque no mesmo pensamento, foi questionado de que maneira os estudos vão ajuda-los e quais as dificuldades encontradas nos dias atuais. Sabendo que vivemos em uma sociedade que exige conhecimentos e qualificação profissional para enfrentar o mercado de trabalho e são muitas os impedimentos para a conclusão dos estudos, pois enfrentam longa jornada de trabalho para manter suas famílias, restando pouco tempo para estudar. Diante disto os alunos B.B.C e I.V.B  ressaltam:

Aprender ler e escrever, pois sou cozinheira de uma lanchonete e atendo no balcão e preciso me qualificar para ler as receitas e atender ao público. A idade avançada, a deficiência no aprendizado devido os maus tratos físicos atingindo a parte da cabeça e o tempo curto para estudar, pois preciso trabalhar para ajudar no orçamento da familia.(B.B.C.-61anos- feminino)

Pretendo continuar minha vida de solteiro sem depender de outras pessoas, ser independente e cursar uma faculdade de administração imobiliária para continuar e aperfeiçoar meu trabalho de corretor de imóveis. Percebi no meu tempo, que o estudo era mais difícil e não precisava de conhecimento para realizar várias funções como foi citado.O motivo real é a idade avançada que torna o corpo cansado e também a sociedade capitalista que vivemos pois ficam pouco tempo para estudar. Atualmente estou cursando a 5ª e 6ª série e pretendo fazer faculdade de administração para propiciar uma melhor qualidade de vida.(I.V.B- 64 anos- masculino).

Os educandos B.B.C e I.V.B , buscam ser alfabetizados em todos os momentos, pois sentem a necessidade de conhecimento para o mercado de trabalho, mesmo sendo uma  função que outrora poderia realizar sem escolarização, pois a falta de conhecimento,nega também o acesso aos empregos e principalmente aos melhores remunerados. Nesse sentido que o sonho de ter uma profissão e saber ler e escrever que garante uma vida mais digna para si e também para os familiares, pois o mercado de trabalho, com o grande avanço da tecnologia está cada dia mais exigente, sendo percebido principalmente pelos alunos da EJA. Para tanto podemos ressaltar.

A EJA das camadas populares tem de, necessariamente, assumir como principio ordenador do mundo do trabalho. Nele, há que se considerar duas vertentes: a do questionamento das relações que engendram a sociedade e a da instrumentalização para exercer a atividade laboral. Tanto quanto possível, a educação básica de jovens e adultos devera correlacionar essas duas vertentes ao mesmo tempo em que se desenvolve o domínio de um conhecimento critico para questionar a realidade e transformá-la.(Gadotti e Romão 2011.p144).    

 Não basta somente aprender ler e escrever é necessário estar sempre buscando informações relevantes para desenvolver o senso critico e ser capaz de tomar decisões.

É necessário compreender e valorizar a importância que os educandos que frequenta a EJA tem da escolarização para o acesso ao mundo do trabalho, para que assim o retorno à escola venha realmente fazer sentido a esses alunos e que faça com que sintam o desejo de prosseguir cada vez mais, evitando a evasão.

Portanto, a escola é um meio o qual o individuo se prepara para a vida, pois direciona caminhos, o qual deve ser percorrido por esses jovens e adultos, que ao retornarem à escola, já possuem experiências, conhecimento de vida, valores e, que depararam com dificuldades e não obtiveram sucesso nos caminhos percorrido até o momento do retorno. Neste sentido a escola tem um papel muito importante: formar indivíduos capazes de atuarem no mundo em que vivem e assim poderem ser chamados de cidadãos. A afirmação de aponta nessa direção, a saber: A EJA

 O aluno F.C.S  relata.

Vai me ajudar a recuperar minha saúde e pretendo fazer faculdade de administração para exercer o cargo de presidente da colônia (Z5) da cidade de Barão de Melgaço, onde me criei, pois comtemplei muitas injustiças com as pessoas daquela cidade por falta de interesse político e compromisso com a sociedade. (F.C.S 47- anos- masculino)

As maiores dificuldades são a idade avançada que não contribuiu com o raciocínio lógico, a saúde debilitada, necessidade de trabalhar para manter a familia, tendo tempo somente para estudar no período noturno. A pesar das muitas dificuldades, as professoras facilitam o aprendizado e incentivam a buscar conhecimento para concluir os estudos. Atualmente estou cursando 5ª e 6ª série e pretendo continuar estudando para conservar minha saúde e adquirir conhecimento para a vida profissional. (F.C.S 47 –anos- masculino)

Quando o educando F.C.S  retorna sua vida escolar, observa que o conhecimento proporciona a recuperação de sua saúde e adquire conhecimento para contribuir com a sociedade onde vive , permitindo ser um cidadão critico e reflexivo, pois esta diante de uma sociedade  com  novas tecnologias  exigindo um profissional qualificado. Como enfatiza.

Observa-se que Naturalmente, alunos e alunas da EJA percebem-se pressionados pelas demandas do mercado de trabalho e pelos critérios de uma sociedade onde o saber letrado é altamente valorizado. Mas trazem em seu discurso não apenas as referências à necessidade: reafirmam o investimento na realização de um desejo e a consciência (em formação) da conquista de um direito.(FONSECA 2005, p.49).

O educando tem uma trajetória de vida e busca através do conhecimento ajudar uma comunidade que é fruto de injustiças politicas, pretendendo dar continuidade em seus estudos e cursar o nível superior. O educando encontra muitas dificuldades para estudar no período noturno, devido ao trabalho durante o dia e a idade avançado que dificulta na aprendizagem, pois o raciocínio é lento e precisa muito da ajuda e incentivo tanto das professoras como de toda a equipe pedagógica da escola. Para ele a escola é um espaço que possibilita a transformação do individuo.

             Diante disto percebi a necessidade de buscar dados referentes ao nível escolar da familia, quem foram os responsáveis pelo atraso escolar e qual a maior necessidade em relação aos estudos, pois a família tem um papel fundamental no desenvolvimento do individuo, pois é dentro dela que se realizam as aprendizagens básicas necessárias para o desenvolvimento durante o processo de aprendizagem permanecendo por toda vida.

O educando F.C.S 47 anos revela que seus pais não tiveram condições de estudar, mas o principal responsável foi ele mesmo, pois não tinha nenhum interesse pelo estudo e sua maior necessidade é a recuperação de sua saúde.

O aluno I.V.B 64 anos ressalta que seus pais não estudaram, pois onde moravam não tinha nenhum acesso a educação e sua maior e necessidade é aprender ler e escrever para inserir no mercado de trabalho. Diante disto vale destacar.

A situação socioeconômica do estudante condiciona não só sua entrada para a escola como também constitui uma série de restrição durante toda sua trajetória escolar. [...] Em outras palavras, o êxito escolar está condicionado pela capacidade econômica do estudante. (GUITIÈRREZ,1988,p.26-27)

A educanda B.B.C 61 anos relata que não conheceu sua familia, pois ainda pequena  foi entregue para uma familia para cria-la, sendo seus pais os principais responsáveis por seu atraso escolar, pois na região onde morava, tinha somente o ensino primário , escola e seu interesse pelo estudo é para ler e escrever preparando para o mercado de trabalho.

Observamos que a estrutura familiar dentro de uma sociedade é a principal responsável pelo desenvolvimento educacional de seus membros, pois são conhecimentos e experiências transmitidas por gerações que proporciona ao individuo o nível de conhecimento significativo para inserir na sociedade. Como ainda ressalta.

Há programas oficiais que premiam as famílias desde que suas crianças frequentem a escola. Podem até funcionar como incentivo, como meio de fazer com que as crianças ali permaneçam e estudem. Mas seria melhor que esses meios não precisassem ser utilizados, que a comida viesse do salário do trabalhador pai de familia e os filhos fossem para a escola pela consciência da importância que isso tem em sua formação e pelo prazer de estudar; pelas atividades esportivas e culturais, pelas aulas participativas, pela convivência, pelas habilidades desenvolvidas. Esse seria o incentivo definitivo e eficaz. (CHALITA ,2011,p.64)

Sendo assim, diante das realidades apresentadas, pode-se concluir que todo o desenvolvimento do individuo esta relacionado à base familiar que possibilita o processo de aprendizagem na vida escolar, sendo refletida no futuro, o qual terá a presença significativa para a sociedade, buscando ser um cidadão reflexivo contribuindo assim com a sociedade e escrevendo uma historia de vida.

 

Considerações finais

 A Educação de Jovens e Adultos faz parte da trajetória da história da educação do Brasil, considerando fatores relevantes para o processo de ensino, o qual é discutido e reformulado leis que possibilita a democratização do acesso ao conhecimento.

Os educandos questionados apresentaram muitas dificuldades em relação à conclusão dos estudos, devido ao longo período de tempo no trabalho e a indisposição para estar em sala de aula e outros fatores, mas mesmo em idade adulta, conseguiram retornar aos estudos com o objetivo de concluir sua história escolar básica e, assim, realizar o sonho de completar o processo educacional. Considerando a realidade outrora diferente da sociedade que viviam no passado e a baixa escolaridade que se faz presente, tornou-se difícil o desenvolvimento dos mesmos em muitos aspectos e realizações pessoais.

 A realização da pesquisa possibilitou entender que, de uma forma geral, a educação é o único meio capaz de inserir o homem na sociedade e através da modalidade EJA recuperar o tempo perdido, dando prosseguimento a vida para apagar as marcas advinda das desigualdades sociais desenvolvendo perspectivas, tanto pessoais como profissionais.

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