O texto presente não têm por objetivo concluir nem tão pouco dar conta de tecer apontamentos que finalizem os problemas da educação contemporânea nas esferas fundamental ou superior. Se trata de uma crítica ao modelo de ensino que se oferece desde a base, que quando não logra o êxito pretendido, leva seus sobressaltos por décadas na vida do estudante. Sob a luz da Sociologia e da História se propõe a refletir, de maneira sucinta, sobre o cotidiano escolar atual permeado por seculares elementos históricos, nestes, a cultura livresca advinda da modernidade, sendo possível localizar seu engendramento na fase final do medievo.

A proximidade e o apelo aos livros são marca da cultura burguesa há pelo menos dois séculos. No que se relaciona ao cotidiano escolar, o livro didático é o suporte histórico do saber universal que não concedeu espaço a minorias e regionalismos linguísticos, sociais ou culturais. Cuidou por apresentar a história dos vencedores em detrimento da história do cotidiano, levando o estudante a deter conhecimentos dos quais se encontra bastante distanciado em sua realidade. O saber escolar enciclopédico, baseado na transmissão-aquisição de valores propalados como universais materializa o arquétipo da camada dominante, que cuida por espraiar seus valores minando realidades locais.

A escola, a partir do currículo que se estabeleceu no país ao longo das décadas, encarregou os profissionais da educação em dar continuidade a saberes ditos imprescindíveis nas mais plurais ciências sem uma reflexão mais direcionada, mais preocupada com a realidade do educando nas várias realidades culturais conhecidas no país e o quanto tal cabedal de conhecimento desperta interesse no estudante e o quanto aquele conteúdo racional e enciclopédico que é oferecido enquanto formação básica agregará valores em sua vida. O estranhamento passa pela pergunta que empiricamente muitos docentes já tenham ouvindo dos estudantes sobre o que o educando fará com aquela apresentação, com aquele conhecimento por vezes longe do círculo familiar, longe de sua interação social.

A profissão da educação na escola do pós “Grande Cisma” (BAUMAN, 1999, p. 64) e inserida na velocidade cotidiana que a recente reordenação mundial, rotulada de globalização, provocou nos últimos vinte anos possibilitou a sociedade contemporânea propostas das mais variadas, por diversos meios, ter acesso ao conhecimento, conhecimento este que se potencializa em função do interesse daquele que o busca, porém construir o interesse pelo conhecimento proposto no escolar tem sido o desafio de cada dia.

No recorte histórico chamado pós-moderno, ainda que não haja plena aceitação dessa terminologia em função das várias análises sobre o atual momento vivido,z também entendida como uma modernidade em crise ou a transição para uma nova modernidade (POURTOIS; DESMET, 1997, p. 22-34), a escola dispõe da interatividade propiciada pela ferramenta chamada internet e a partir desta, inumerável possibilidade de construção de saberes, contudo a separação do conhecimento proposta pelas disciplinas ainda se encontra atada ao modelo do século passado, carente de relação e interligação, não só entre as ciencias apresentadas mas também não inteirada aos recursos eletrônicos que chamam muito a atenção dos estudantes de várias faixas etárias. Aos discentes hoje com muitos acessos a informação e ao entretenimento literalmente nas palmas de suas mãos e ao alcance de seus dedos se torna possível gerar no educando o desinteresse da aprendizagem. A rigidez de outrora, ainda vista no largo uso dos livros didáticos, com conteúdos universalizantes que não dão conta de atender a pluralidade cultural própria de cada lugar do país incluindo o largo uso dos quadros negros e gizes, ferramentas que nem de longe despertam o interesse dos estudantes usuários de informática e de jogos eletrônicos com alto grau de realismo e ação. Apesar de já existir mudanças, o modelo de escola que ainda se pratica perde espaço, submerge na fluidez atual gerando frequentes conflitos. Esses sobressaltos serão percebidos ao longo da vida do estudante, até em seu curso de graduação.

No correr da história, a primeira década do século XXI foi divulgada como a plena era da comunicação, da interatividade, porém ao ter acesso a fala das crianças, adolescentes e jovens de hoje, ou abrindo mais o leque, desde que o acesso aos computares conectados a internet se tornou massivo, o relato dos entrevistados transmite características de isolamento inserido no sistema que anunciou a chegada da sonhada “aldeia global” (McLUHAN, 1979). Lugares virtuais onde milhares de pessoas se relacionam como amigos sem jamais terem se encontrado ou compartilhado os mínimos gostos em comum se convertem em verdadeira vitrine para os que imbuídos por práticas criminosas organizem seus catálogos de próximas vítimas. Comunicadores disponíveis pela informática, desde os já obsoletos MSN e Orkut até os atuais Facebook e Twitter, redes sociais bastante difundidas e detentoras de milhões de usuários ao redor do mundo que arrebanharam pessoas dedicadas a muitas horas diárias no uso destes canais de relacionamento não concreto, virtual.

A internet disponibiliza conhecimento acadêmico, científico, técnico, amostras culturais e muito entretenimento, cabendo a este último a maior parcela de apreciação de seu público. Nesta larga gama de repertório disponível, urge direcionar as novas gerações à construção intelectual, fazendo uso do computador, objeto comum na vida de tantos e que se torna a cada dia mais presente nos lares, tanto quanto o televisor, a fim de que mais conhecimento seja construído. Assim, se faz necessário o repensar do modus operandi do sistema educacional para que sejam atendidas as necessidade de N grupos imersos em suas respectivas localidades, realidades ricamente permeadas de valores locais introjetando o discurso hegemônico da globalização em processo contínuo de construção de uma semi-globalização (GEMAWAT, 2008), que absorvem sim um saber global e o transmutam, porém tamanho potencial não pode se limitar a mutação da língua escrita, convertida em nova grafia inventada e reinventada todos os dias nas redes sociais.

 

REFERÊNCIAS

 

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. RJ: Jorge Zahar, 1999.

GEMAWAT, Pankaj. Redefeniendo la globalizacion. Harvard, 2008.

McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. Cultrix, 1979.

PETARNELLA, Leandro. Escola analógica, cabeças digitais. Campinas, SP: Alínea, 2008.

POURTOIS, J. P.; DESMET, H. A educação pós-moderna. Presses Universitaires de France, Instituto Piaget, 1997.

 

O texto apresentado acima "Educação moderna, sociedade pós-moderna. Futuro?" foi apresentado no 1º Seminário "Tendências e desafios da Educação Superior no Brasil" realizado pela UFSCAR Sorocaba e pela UNISO.