CAPITULO I

INTRODUÇÃO

Esse trabalho busca estudar, conhecer e compreender a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado da leitura e escrita, em até 15% do universo de educandos matriculados nas séries iniciais do Ensino Fundamental, embora apresentem capacidade cognitiva muitas vezes superior a de outros alunos que conseguem atingir com facilidade o domínio das mesmas. Gostaria de mencionar que a percentagem de disléxico citada acima não foi o único motivo que motivou esta pesquisa, (mas sim meu maior interesse em conhecer mais o que é dislexia e assim auxiliar em como trabalhar a mesma).

Através desse trabalho, percebeu-se que os professores conseguem perceber a grosso modo, as dificuldades apresentadas por seus alunos, porém, não sabem identificar suas causas ou levantar hipóteses sobre essas, parecem conviver com a dificuldade de aprendizagem com muita naturalidade sem se preocuparem em compreendê-la e buscar respostas pedagógicas para esta, mesmo ainda sendo o fracasso escolar o fantasma da escola.

A acomodação da maioria de nossas escolas em não buscar alternativas para os educandos com dificuldades de aprendizagem através de atendimentos específicos ou projetos, que possam auxiliar os educandos em suas defasagens, legitimam o fracasso escolar como fenômeno natural do processo ensino aprendizagem. Talvez por isso, não se dê muita importância aos sintomas apresentados pelos alunos. O não atendimento das necessidades específicas dos educandos os leva a abandonar a escola, isso quando não são “expulsos” por ela e, os que teimam em persistir são premiados desrespeitosamente com as promoções automáticas mesmo que não apresentem competências necessárias para a série seguinte.

            Essa problemática tem criado força na escola e como as outras, está sendo vista com muita naturalidade pelos responsáveis do sistema de ensino, principalmente pelos professores que são os que convivem diariamente com esta situação.

Na tentativa de auxiliar o professor a conhecer a dislexia e de diferenciá-la das dificuldades comuns de aprendizagem, propusemo-nos discutir a Dislexia nos diferentes aspectos: concepções, sintomas, causas, prejuízos social e educacional, importância do diagnóstico, metodologia pedagógicas para se trabalhar com o disléxico e as possibilidades de desenvolvimento de outras habilidades não relacionadas à leitura e escrita.

Procuramos também investigar junto a alguns professores de 1ª a 4ª séries, 5ª a 8ª e 2º graus de escolas municipais e estaduais do município Sinop se os mesmos percebiam em seus alunos dificuldades de aprendizagem relacionadas à leitura e escrita e quais causas atribuíam as mesmas e se a escola e os professores desenvolviam algum trabalho diferenciado para atender as necessidades específicas dos alunos. 

Pode-se perceber que talvez por não terem maiores conhecimentos sobre a dislexia os professores confundem alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem comum em dislexia.

No primeiro capitulo aborda a dislexia em seus vários aspectos, como concepções, incidência e potencialidade dos disléxicos.  No segundo capitulo trata dos tipos de dislexia, mais conhecidos, Dislexia Específica que é aquela em que o aluno por mais que se esforce não conseguirá aprender e vai ter que conviver com isto pelo resto da vida e a Dislexia de Evolução que com um acompanhamento adequado, um bom alfabetizador e uma metodologia diferenciada conseguirá aprender mesmo sendo de forma mais lenta que os demais alunos e ainda comenta os seus sintomas.  No terceiro capitulo faz-se uma distinção entre dislexia que existe todo um trabalho para detecta-la e a dificuldade de aprendizagem e suas respectivas características. No quarto capitulo ressalta-se a importância do diagnostico quando há suspeita da existência da dislexia. No quinto capitulo fala-se de metodologias para trabalhar com alunos disléxicos. No sexto capitulo apresenta-se a análise dos resultados coletados durantepesquisa acreditam serem disléxicos, dessa forma o  educando que tem dificuldades comuns não recebem atenção e trabalho diferenciado da escola, muito menos o disléxico o qual necessita de metodologia específica. Assim, os que podem aprender a ler e a escrever não aprendem e os disléxicos não conseguem atingir o seu nível e potencial em outras áreas que poderiam. A escola ainda, não sabe perceber as necessidades dos alunos, pouco sabe sobre as dificuldades dos mesmos demonstrando pouco interesse em resolvê-las. É preciso que a escola se preocupe mais com o ensinar e o aprender, investigue as causas da não aprendizagem, isso só será possível quando dirigir um olhar mais atento a cada um dos educandos e o respeite em sua individualidade. Em anexo, constam os históricos do estudo da dislexia no mundo e no Brasil e ainda, o tipo de testes para avaliação da dislexia, questionários depoimentos e a figura de cada partem do cérebro. 

I DISLEXIA

Antes de conceituarmos dislexia, recorreremos à etimologia da palavra e seu desmembramento, de imediato temos a primeira noção básica do que vem a ser dislexia.

DIS = distúrbio; dificuldade.

LEXIA= leitura (do latim) e linguagem (do grego)

DISLEXIA= distúrbio da linguagem

A dificuldade de conhecimento e a definição do que é dislexia, faz com que se tenha criado um mundo tão diversificado de informações, que confunde e desinforma. Além do que a mídia, no Brasil, as poucas vezes em que aborda esse grave problema, somente o faz de maneira parcial, quando não de forma inadequada e, mesmo, fora do contexto global das descobertas atuais da ciência.

Entender como aprendemos e o porquê de muitas pessoas inteligentes e, até, geniais experimentarem dificuldades paralelas em seu caminho diferencial do aprendizado, é desafio que a ciência vem deslindando paulatinamente, em 130 anos de pesquisas e com o avanço tecnológico de nossos dias, com destaque ao apoio da técnica de ressonância magnética funcional, as conquistas dos últimos dez anos têm trazido respostas significativas sobre o que é Dislexia.

 A dislexia é um problema de base cognitiva que afeta as habilidades lingüísticas associadas à leitura e escrita, não é uma doença ou patologia, mas sim, impedimento muitas vezes imperceptível, uma vez que o sujeito apresenta QI normal ou acima da média e, sem outras causas que justifique a incapacidade para o aprendizado da leitura e escrita.

A dislexia é um distúrbio que caracteriza dificuldades e até impossibilidade para a aquisição da leitura e escrita, através de uma diversidade de sintomas, evidenciados durante o processo de alfabetização embora, alguns sintomas sejam perceptíveis em fases anteriores, como na Educação Infantil, ou antes, dessa.

 As pesquisas mostram que a dislexia ocorre mais no sexo masculino que no feminino, numa proporção de três meninos para uma menina. Existem várias hipóteses para essa ocorrência, uma delas é de que são percebidos uns maiores números de meninos com dificuldades de aprendizagem que meninas os mesmos tendem a ser mais dispersos em sala de aula e por isso são apontados por seus professores como portadores de algum problema, o que contribua para que mais meninos sejam identificados como disléxicos. A teoria mais recente que explica a ocorrência da dislexia seja maior no sexo masculino é possível que o fato esteja ligado à produção excessiva de testosterona na fase da gestação. Sendo este, um hormônio masculino, o excesso do mesmo na gestação de um feto feminino, provocaria um aborto natural. As pesquisas apontam ainda, o fato de o cérebro masculino ter o seu desenvolvimento mais lento na fase intra-uterina, acabando por se expor mais às agressões auto-imunes da mãe.

As estatísticas indicam que 25% das crianças em idade escolar sofrem com dificuldades de aprendizagem relacionadas à leitura e escrita, sendo que dentre esse universo 15% desses alunos podem ser identificados como verdadeiros disléxicos. Os danos educacionais e pessoais podem ter conseqüências desastrosas uma vez que aumenta o contingente de analfabetos além, de contribuir para o desajuste social dos sujeitos afetados, podendo levá-los á marginalização e delinqüência. 

A dislexia geralmente é diagnosticada quando a criança começa a aprender a ler e a escrever. Entretanto os sinais e sintomas do disléxico já estão presentes a partir dos onze e doze meses de vida, quando a criança começa o aprendizado da fala. Neste caso a criança demora um pouco mais para começar a falar, tem dificuldade de sequênciar sílabas dentro da palavra, apresenta dificuldades para memorizar números, nomes das cores e de ordens mais complexas. Ao começar a fase escolar a criança disléxica tem dificuldade para identificar as letras. O aluno disléxico tem um rendimento escolar abaixo daqueles das crianças normais. Quanto mais acentuada a dislexia pior o rendimento. O rendimento escolar piora a medida em que aparecem os sintomas emocionais negativos de inferioridade e baixos estima por ser disléxico, tenta e não consegue aprender. A criança disléxica se transforma no adulto disléxico. Isso pode melhorar com acompanhamento pedagógico adequado. (OLIVEIRA, 2002, p. 211).                                                          

Oliveira (2002), observa que, “se a linguagem é processada no hemisfério cerebral esquerdo, então certamente o distúrbio de processamento fonológico causador da dislexia está localizado no mesmo”.  Estudos sobre imagens do cérebro, sugerem que os disléxicos processam as informações de um modo diferente. Pessoas disléxicas são únicas; cada uma com suas características, habilidades e inabilidades próprias.

A Dislexia é mais do que um distúrbio é um fenômeno complexo e contraditório. Um universo interessante, constituído de indivíduos igualmente interessantes, que convivem diariamente com um mundo de coisas tão fáceis, as quais podem dominar rapidamente, e com outras tão complicadas para eles, que, entretanto, parecem ser tão obvias para os outros, como ler e escrever. Vivem também momentos de realização plena, mas ao mesmo tempo, assombrados pela sensação de fracasso. Afinal, a dislexia é uma dificuldade e não uma impossibilidade para tantas outras coisas que não a leitura e a escrita.

Embora a palavra Dislexia possa soar como um problema da área da saúde ela é estritamente educacional, pertencendo à área da saúde somente a confirmação do seu diagnóstico o qual complementa a avaliação pedagógica. 

A grande polêmica, acerca do tema dislexia, é por seu comportamento neurológico, mas é preciso entender que, pertencem à área da saúde apenas a causa e a diagnose. O reconhecimento das características precocemente, as conseqüências, as soluções e as adaptações pertencem à Educação. (FONSECA, 1995, p.98). 

O pesquisador Ellis (2001), atribui a dislexia a uma alteração nos neurotransmissores e afirma ainda, que o desenvolvimento do aluno é considerado normal até a entrada deste na escola, pelo fato do contexto social e familiar até então não exigirem o domínio da leitura e escrita. Por essa razão esse distúrbio se revela na escola.

 

 (...) uma alteração nos neurotransmissores cerebrais que impede uma criança de ler compreender com a mesma facilidade com que o fazem as crianças da mesma faixa etária, independente de qualquer causa intelectual, cultural ou emocional. O desenvolvimento da criança é normal, até entrar na escola. A escola é o espaço onde se manifesta a dislexia, porque até então o contexto social e a família na qual vive a criança não lhe exigia essas competências. Mas a escola exige respostas padronizadas como é saber ler e escrever, ou não saber. (ELLIS 2001, p. 48).

Graças ao grande advento tecnológico, os disléxicos impedidos de ler e escrever podem contar com vários artifícios que podem ser utilizados para contornar as dificuldades relacionadas á leitura e a escrita, tornando-as menos aparentes, um deles são os recursos da informática e o da oralidade, já que as exigências sociais as cobram. O disléxico, embora não possa aprender a ler nem escrever como a sociedade e a escola exigem, poderá apresentar habilidades e desenvolver talentos em outras áreas como teatro, música, dança, pintura, esporte e tantas outras. Pode ainda, desenvolver funções sociais, desde que não requeiram  leitura e escrita, como quesito principal, legitimando o que dizem os estudos a respeito daqueles que são dez na vida e zero na escola, há muitas celebridades disléxicas.

Os disléxicos são encontrados em todas as camadas sociais, em famílias ricas e pobres, independentemente dos recursos e estimulação do ambiente e de sua capacidade cognitiva, portanto qualquer criança corre o risco de ser disléxica.

 

(...) a dislexia ocorre em todas as classes sociais em pessoas com níveis de inteligência variáveis, embora a dislexia tenha sido muito pesquisada, é importante esclarecer que, que como outros tipos de distúrbio de aprendizagem, ela existe em vários níveis. Uma delas é a dislexia que nasce com o indivíduo e pode ser de causas variadas, como a criança que tem pouca ou nenhuma habilidade para leitura e escrita. Muitas vezes ela não consegue chegar a alfabetização, e quando já é alfabetizada apresenta dificuldades de fixação ou mesmo de interpretação do texto lido ou escrito. (DROUET, 2002, p. 137). 

É dever da escola e da família observar a criança em seu processo evolutivo e de aprendizagem para que em casos de suspeita de anomalidades, o aluno seja avaliado por profissionais da área competente. Pois, quanto mais cedo o problema for diagnosticado e atendido em sua especificidade maior e melhor será o aprendizado e o ajustamento social desse aluno.

Alliende & Condemarin (1987), concordam com Ellis (2001), quando este afirma que a Dislexia se revela durante o processo de aprendizagem da leitura e da escrita, que de acordo com o nosso sistema de ensino essas aquisições, devem ocorrer na 1ª série, porém, afirmam que a Dislexia é descoberta na pré-escola.

É extremamente necessário que os educadores compreendam que a aprendizagem se dá em estágios hierárquicos e dependentes entre si e que mais do que contribuir para a capacidade de ler, compreender, interpretar e registrar as idéias a leitura é o alicerce que sustentará todas as outras construções do conhecimento.

II. TIPOS DE DISLEXIA E SINTOMAS

Existem vários tipos de Dislexia, porém os dois mais comuns são “Dislexia  Específica”  e “Dislexia de Evolução”, cada qual com o seu grau de comprometimento, porém, a primeira  é de caráter permanente e a segunda temporária.

 

2.1. DISLEXIA ESPECÍFICA

 É um quadro geneticamente determinado, portanto, é considerada uma condição inalterada, ou seja, um impedimento definitivo para aquisição da leitura e da escrita, embora muitas vezes a criança afetada tenha QI bem acima da média, podendo ser até super dotada. Nesse caso o indivíduo conviverá com essa dificuldade pelo resto de sua vida, pois não será superada nem na vida adulta, sendo um quadro irreversível. Portanto, não se deve assumir uma atitude de espanto ou ignorante ao se deparar com algumas pessoas extremamente inteligentes, com uma invejável capacidade de leitura de mundo, no entanto analfabetas podendo estas, serem autênticos disléxicos. A Dislexia Específica o aluno jamais aprenderá a ler e a escrever, ele terá que conviver com isto dedicando-se a outros fazeres que não dependam da leitura e escrita.

 

(...) congênita e hereditária, e seus sintomas podem ser identificados logo na pré-escola. Os sintomas podem, ainda serem aliviados, contornados, com acompanhamento adequado, direcionado as condições de cada caso. (ALLIENDE & CONDEMARIN 1987, p. 120).

 

Pesquisas mostram que a dislexia pode ser congênita sem que haja um culpado, simplesmente se nasce disléxico ou ainda, pode ser herdada, pois em muitos casos já se comprovou a ocorrência da dislexia em outros familiares como tias, avós e pais de disléxicos, fato que ás vezes dificulta a aceitação da dislexia pela família e não se dê a devida importância ao distúrbio.

Ao serem informados pela escola da incapacidade para a aquisição da leitura e da escrita, os pais se defendem dizendo que não há problema algum com a criança, pois o seu pai, ou seu tio ou avô também eram assim... Muito inteligente, mas demoraram a aprender ou  nem conseguiram,  baseados nessas justificativas, não aceitam ou  se recusam a investigar a causa do não aprendizado do filho, o que retardará o diagnóstico e conseqüentemente o atendimento das necessidades desse aluno. Tais afirmações reforçam o que dizem as pesquisas que a mesma pode ser hereditária. Este aluno jamais conseguirá aprender a ler e a escrever, mais sua visão de mundo é igual ou superior a qualquer outra criança, o disléxico se sobressai em qualquer outra área desde que não seja a leitura e a escrita.

 

2.2. DISLEXIA DE EVOLUÇÃO

Também denominada de dislexia de desenvolvimento, relacionada ao processo de maturação neurológica intimamente ligada ao processo de alfabetização, por esta aquisição depender dentre outras condições do bom desenvolvimento das percepções visuais, auditivas, visomotora e outras habilidades. A Dislexia de Evolução tem base neurológica, e que existe uma incidência expressiva de fator genético em suas causas, transmitido por um gene de uma pequena ramificação do cromossomo # 6 que, por ser dominante, torna a dislexia altamente hereditária, o que justifica que se repita nas mesmas famílias ou ocorrida por acidente. Tende a desaparecer com o processo evolutivo da criança, caracteriza-se como dificuldade para ler e escrever, imaturidade neurológica que, vai sendo lentamente superada com o desenvolvimento da criança e se esta for trabalhada com metodologias adequadas que proporcione o aprimoramento das referidas habilidades perceptivas, principalmente no período de alfabetização.

            Deve-se ressaltar que nesta fase de aprendizagem, a criança precisa de estímulos visuais e auditivos para o desenvolvimento de outras habilidades como memória visual, memória auditiva, noções de lateralidade, posição espacial e espaço temporal, essenciais para a aquisição da leitura e da escrita. Infelizmente observa-se que muitos alfabetizadores não reconhecem tais necessidades, privando seus alunos de atividades e exercícios essenciais como visualização do alfabeto em suas quatro formas e a discriminação dos sons principalmente os semelhantes dentre outros procedimentos pedagógicos essencialmente necessários.

A dislexia de evolução não precisa de acompanhamento de profissionais específicos, bastando o trabalho pedagógico de um bom professor alfabetizador que conheça as fases do processo de leitura e escrita, respeite a criança em seu ritmo e condições de aprendizado e desenvolva o seu trabalho pedagógico numa pedagogia centrada na criança, além de recorrer a atividades que trabalhem os cinco sentidos do aluno. Embora nessa fase de aprendizado não seja necessário à intervenção de outros profissionais, é extremamente importante que o educador fique atento, para acompanhar e avaliar o desenvolvimento do aluno caso as dificuldades persistirem mesmo com o uso de metodologias diversificadas e apropriadas faz-se necessário encaminhar o aluno para uma avaliação mais apurada. Como todo o processo de caráter evolutivo, necessitará de um período de tempo determinado para que ocorra a maturação, o aperfeiçoamento para o pleno desempenho da função.

As características da Dislexia de Evolução são a leitura lenta, hesitante e com omissões, substituições de letras, adivinhações e erros. Faz-se necessário saber como se dá o processo da leitura e da escrita para poder compreender as dificuldades naturais desse aprendizado. Deve-se ainda, considerar que este é um quadro transitório, o qual deverá ser superado em pouco tempo.

O não atendimento das necessidades específicas da fase de alfabetização pode atrasar e até impedir a aquisição da leitura e escrita, tornando-as muitas vezes as maiores causas das dificuldades de aprendizagem e reprovação. O ler e escrever são as habilidades requisitadas não só de nível de domínio, mas são pré-requisitos para as outras aprendizagens. As falhas do processo de alfabetização deixam marcas irreversíveis as quais perseguirão os educandos pelo resto de sua vida acadêmica.

Os professores precisam compreender que o processo de desenvolvimento da leitura e escrita e compreensão não se inicia nem termina na primeira série deverá ser um trabalho continuado passando todas as séries do Ensino Fundamental, visando desenvolver competências para a comunicação oral e escrita. A leitura está tão presente em nossas vidas que acaba por nos parecer uma atividade “natural”, como a visão e a audição.

Basta pensar no que ocorre quando aparece ante nossos olhos uma palavra escrita, uma vez vista é impossível não lê-la, como quando vemos um objeto ou ouvimos um som não podemos nos negar a percebe-los. Lemos, pois, com a mesma espontaneidade e gratuidade com a que reconhecemos um objeto, um rosto ou uma melodia.Talvez por isso nos rebelamos ante a evidência de uma parte importante de nossos alunos escolarizados mostram graves insuficiências e dificuldades no seu domínio.

A leitura precisa de um longo e em certa medida laborioso processo de aprendizagem, no que devemos adquirir e automatizar um amplo número de habilidades que tem de operar de uma forma ordenada, escola precisa tomar cuidado para não enquadrar os alunos com dificuldade de aprendizagem no universo de disléxicos. A dislexia enquanto distúrbio requer rigorosa avaliação para ser ou não confirmada. É lamentável a alfabetização um aprendizado tão importante, seja pouco valorizado e desrespeitado pela escola e seus gestores, delegando esta tarefa a alfabetizadores despreparados, desconhecedores do processo até hoje.

 

2.3. OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA DISLEXIA

 Como já dissemos a dislexia se manifesta em crianças em idade pré-escolar tornando-se mais evidentes nas séries iniciais do Ensino Fundamental, principalmente no processo de alfabetização, apresentando-se como inadaptação à escola e incapacidade para a leitura e escrita. Alguns sinais podem ser observados nos primeiros anos de vida outros só se evidenciam á medida que a exigência da escola torna-se mais complexa para o aluno, deve-se ficar alerta as seguintes dificuldades:

Segundo a Associação Brasileira de Dislexia em in Lanhez e Nico (2002), pesquisadores constataram que são comuns os seguintes sintomas em alunos disléxicos, considerando-se estes com maior ou menor comprometimento e grau de dificuldade:

  • ·         Demora em aprender a falar.
    • ·         Dificuldades para pronunciar alguns fonemas;
  • ·         Demora em incorporar palavras novas ao seu vocabulário;
  • ·         Desempenho inconstante.
    • ·         Fazer laço nos sapatos;
    • ·         Pegar e chutar bola;
    • ·         Pular corda;
    • ·         Escrever números e letras;
    • ·         Ordenar as letras do alfabeto, meses e ano e sílabas de palavras compridas;
    • ·         Distinguir esquerda e direita.
    • ·         Dificuldades para pronunciar alguns fonemas;
    • ·         Demora em incorporar palavras novas ao seu vocabulário;
    • ·         Dificuldades para rimas;
  • ·         Demora na aquisição da leitura e escrita.
  • ·         Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais.
  • ·         Dificuldades com os sons das palavras, conseqüentemente com a soletração.
  • ·         Escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas.
  • ·         Dificuldade em associar o som ao símbolo.
  • ·         Dificuldades em associações, como exemplo, associar os rótulos aos seus produtos;
  • ·         Dificuldade para a organização seqüencial, por exemplo, das letras do alfabeto, dos numerais, dos meses do ano, das tabuadas, cores e formas.
  • ·         Dificuldade em nomear objetos, tarefas etc.
  • ·         Dificuldade em organizar-se com o tempo (hora), no espaço (antes e depois);
  • ·         Apresenta alteração na memória de seriação (sequências lógicas de fatos, idéias).
  • ·         Costuma saltar linhas, parágrafos em textos (pela falta de direcionalidade);
  • ·         Dificuldades para localizar palavras no dicionário, dificuldade para alinhar algarismos em colunas e tabela.
  • ·         Antecipa a leitura (tentativa de adivinhação).
  • ·         Leitura lenta, fragmentada (palavra por palavra);
  • ·         Distorção na escrita;
  • ·         Dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações, ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata;
  • ·         Dificuldade em organizar suas tarefas, necessita usar os dedos para localizar ou blocos para anotações.
  • ·         Dificuldades para lembrar nomes e símbolos.
  • ·         Dificuldades para distinguir direita e esquerda.
  • ·         Dificuldades para escrever o próprio nome, números e letras.
  • ·         Dificuldades com cálculos mentais;
  • ·         Desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever;
  • ·         Persistência no mesmo erro, embora conte com ajuda profissional;
  • ·         Leitura e compreensão abaixo do nível esperado pela idade e capacidade cognitiva;
  • ·         Insegurança, baixa estima e outros problemas emocionais.
  • ·         Verdadeira aversão às atitudes que envolvam leitura e escrita.   
    • ·         Reconhecer às horas;
    • ·         Necessita usar blocos, dedos ou anotações;
    • ·         Sua compreensão a leitura é mais lenta do que o esperado para a idade;
    • ·         Demonstra segurança e baixa apreciação sobre si mesmo e outras implicações.

Portanto quanto mais amplo o contexto em que observamos a Dislexia, melhor poderemos entender suas causas e isso, poderá contribuir para seu diagnóstico e um atendimento pedagógico mais eficaz ao disléxico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

III. AS CONSEQUÊNCIAS DA DISLEXIA

 

Não existem disléxicos entre os analfabetos, ou melhor, não se descobre a dislexia porque ela só se manifesta quando se trata de ler e escrever. É nas salas de aula, que ela se faz presente, e o que é pior, de uma forma catastrófica e algumas vezes irreparável. Manifestações de decepção, desaprovação, de cólera, de ridicularização, de humilhação por parte dos grupos em que este aluno está inserido, pais (família), irmãos, na escola por colegas e principalmente pelos professores.

Não existe orgulho nem satisfação menos quando se é rotulado, estigmatizado, tido como incapaz de aprender e humilhado diante de seus pais. Infelizmente são questões com as quais à maioria de nossos educadores não se preocupam, muitas vezes atitudes discriminatórias fazem parte das estratégias “pedagógicas” para se conseguir um bom rendimento do aluno.

Lamentavelmente em destacar-se na escola por problemas de aprendizagens nem pelas notas baixas muito esta “antipedagogia”, acaba por destruir todas as possibilidades do aprender, pois este está subordinado às boas condições de vários fatores principalmente o psicológico que sustenta a auto estima a imagem positiva de si mesmo, a convicção de sua capacidade, e a satisfação do acerto que é o que faz com que o aluno deseje continuar aprendendo.

Na infância a única obrigação da criança é ir à escola, aprender a ler e a escrever. Todos ao seu redor esperam que isto aconteça com facilidade e o mais rápido possível, mas, às vezes, isso não é possível. Como será que se sente uma criança inteligente que não consegue, por mais que se esforce, satisfazer as expectativas dos pais, dos professores, dos colegas, enfim, de todos à sua volta?

O esforço que as crianças disléxicas fazem para lutar contra as dificuldades para aprender, a censura e a decepção, na maioria das vezes, causa sintomas psicossomáticos como: dores abdominais; dores de cabeça ou transtornos de comportamento. E ainda, com agravante de que, á maioria dos educadores consideram essas crianças: “relapsas”, ”desatentas”, “preguiçosas”, “sem vontade de aprender”, desenvolvendo um estado emocional depressivo agravando ainda mais as dificuldades próprias da dislexia.  

 

Reprovações e abandono escolar são ocorrências comuns na vida escolar do disléxico. Existem também conseqüências mais profundas, no nível emocional, como diminuição do autoconceito, reações rebeldes e delinqüências, ou de natureza depressiva.  (JOSÉ & COELHO,1999, p. 91).

 

O desconhecimento do professor com relação às suas características individuais, ritmo, e problemas de qualquer ordem, pode comprometer a aprendizagem deste aluno disléxico. Além de conhecer o aluno, o professor precisa identificar a fase de desenvolvimento em que o mesmo se encontra para melhor trabalhar com ele. A motivação é muito importante para a criança disléxica, pois ao se sentir inferiorizada ela pode se revoltar e assumir uma atitude de negativismo, porém quando se vê compreendida e amparada ganha segurança e vontade de continuar tentando.       

Tal como outro analfabeto, o disléxico sofre com o preconceito e atitudes discriminatórias da sociedade, pois a leitura e a escrita são necessidades básicas para a sobrevivência num mundo letrado. Para o disléxico é mais difícil aceitar sua condição, pois, o analfabetismo dos outros tem causas diferentes, faltas de oportunidade ao acesso a escola, ou evasão, enquanto que a ele foram dadas todas as oportunidades, inclusive capacidade cognitiva.

A dislexia pode prejudicar o desenvolvimento educacional social e psicológico do aluno levando a: retração; vergonha; timidez, ou ainda a atitudes de rebeldia e indisciplina no grupo, esse comportamento é apenas um escudo de autodefesa, às vezes é a única forma que este encontra para se proteger. Há casos que resultam em apatia, depressão, evitação, verdadeira aversão às atividades de leitura e escrita as quais muitas vezes o levem a abandonar a escola. O potencial deste aluno pode ser canalizado para a marginalidade caso não consiga usar sua capacidade no desenvolvimento de outras habilidades

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IV. A DISLEXIA E A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

 

Embora o termo dislexia signifique distúrbio específico na aquisição da leitura e da escrita, isso não implica que ao menor sinal de dificuldade apresentada pelo aluno relacionado á estas habilidades se constitua em dislexia por isso faz-se necessário que os educadores conheçam a dislexia e dificuldades de aprendizagem e saibam distingui-las. Segundo José e Coelho (1997), chama a nossa atenção para os cuidados que devem ser observados:

 

Quando há suspeita de que alguns destes fatores, estejam interferindo no processo de aprendizagem, a dislexia passa a ser descartada, pois sua suspeita decorre da inexistência de tais fatores, embora, o aluno disléxico possa apresentar em seu desempenho escolar, dificuldades relacionadas também as dificuldades de aprendizagem como: a) discriminação visual, b) discriminação auditiva, c) coordenação visomotora, d) espaço temporal, e) lateralidade, habilidades consideradas normais durante o processo de alfabetização comum a dificuldade de aprendizagem. Por serem as manifestações mais evidentes no aluno disléxico.

 

Contribuindo para uma maior distinção entre dificuldade de aprendizagem comum de leitura e dislexia, Drouet (2002, p. 49), enfatiza que as dificuldades se dividem em três tipos: a) Atraso geral de leitura: ocasionado por baixa inteligência, caracterizada pela dificuldade da leitura de palavras isoladas e pela incapacidade                                                                                                                                             de compreender textos. Esse aluno apresenta defasagem generalizada em relação a todas as aprendizagens.

b) Atraso específico de leitura: caracterizando-se na leitura de palavras isoladas e também na compreensão do texto. Não significando que este aluno não seja inteligente e incapaz de desenvolver outras aprendizagens, sendo seu atraso apenas na leitura e na escrita.

c) Dificuldades de compreensão: relacionadas ao entendimento do texto, embora consiga ler palavras isoladas ou textos.

Quanto às dificuldades de ortografia a autora chama a atenção, afirmando que se classificam em dois grupos: a) Atraso de leitura e ortografia: consistindo na dificuldade de ler e escrever palavras isoladas; b) Atraso de ortografia: relacionado apenas ao ato motor de traçado dos símbolos.

A dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada a fatores aparentemente isolados, mas que inevitavelmente desencadeiam outros, dessa forma ela tem caráter multifatorial, enquanto que a dislexia tem fator específico e seu diagnóstico só pode ser dado quando todos os fatores que interferem na aprendizagem estejam descartados, ou seja, é preciso comprovar que o aluno supostamente disléxico apresenta capacidade cognitiva dentro ou acima da média, não tem problemas sensoriais (audição, visão) não sofre nenhum tipo de privação social e econômica e o processo de ensino realizado com este,  tiver se dado em boas condições pedagógicas, com metodologias diversificadas e apropriadas para suas necessidades individuais.

            Desse modo, a dificuldade de aprendizagem se distingue da dislexia, que é uma dificuldade extremamente diferente e difícil de ser diagnosticada, pois os aspectos interventores são facilmente percebidos, ao passo que a dislexia requer maior investigação. No caso de dislexia temporária, própria do período de alfabetização se o aluno for bem trabalhado vencerá as dificuldades tranqüilamente caso contrário terá problemas o resto de sua vida. Daí a grande importância que os professores de todos os níveis de ensino conheçam a dislexia e a diferenciá-la de outras dificuldades. Porém dois deles são mais comuns, Dislexia Específica de caráter permanente, irreversível e Dislexia de Evolução, relacionada ao processo de maturação neurológica intimamente ligada ao processo de alfabetização, por esta depender do bom desenvolvimento das percepções visual, auditiva viso motora e outras.

            Conhecer a dislexia é de extrema importância para educadores e pais, pois poderá ajudá-los a compreender porque o educando e filho não conseguem aprender a ler e escrever, apesar de apresentar as condições necessárias para tal e admirável capacidade intelectual. No caso do educando apresentar dislexia temporária (evolução), própria do período de alfabetização se for bem trabalhado, vencerá as dificuldades tranqüilamente, caso contrário, terá problemas o resto de sua vida. Daí a grande importância de que os professores de todos os níveis de ensino conheçam a dislexia e saibam diferenciá-la de outras dificuldades.

Cabe a escola e a família e o Estado observar o desenvolvimento do aluno para que este venha ser avaliado de forma mais criteriosa quando suas dificuldades assim o exigir, para que possam ser trabalhados suas dificuldades e seu problema sanado.

 

4.1 A ESCOLA E A METODOLOGIA NO TRABALHO COM O ALUNO DISLÉXICO

O melhor ensino possível para o aluno disléxico é na sala de aula normal, juntamente com outros alunos ministrado por um professor que compreenda seus problemas e prepare suas aulas de forma a poder ajudá-lo no transcorrer da aula quando se fizer necessário. A metodologia usada deve dar ênfase ao desenvolvimento da capacidade de discriminação visual e discriminação auditiva, coordenação viso-motora, esquema corporal, coordenação motora grossa, noção temporal espacial, estímulo do funcionamento cerebral,                                          através de atividades diversificadas que envolvam as habilidades mencionadas e valorização da psicomotricidade. Conforme os autores consultados, a vantagem desta metodologia é que o aluno é capaz de usar sua área de força, ao mesmo tempo em que exercita áreas mais fracas. Esse trabalho será tão benéfico tanto para o disléxico como para qualquer outro aluno com dificuldade de aprendizagem, também para aqueles que a escola ou o professor cuidam para que não venham tê-las.

Ellis (2001),  chama a atenção dos professores quanto à metodologia que deve ser usada ao se trabalhar com alunos disléxicos:

 

O sucesso na reeducação de um disléxico está baseado numa terapia multisensorial (aprender pelo uso de todos os sentidos), combinando sempre a visão, a audição e o tato para ajuda-lo a ler e soletrar corretamente as palavras. O disléxico precisa olhar atentamente, ouvir atentamente, atentar aos movimentos da mão quando escreve e prestar atenção aos movimentos da boca quando fala. Assim sendo, a criança disléxica associará a forma escrita de uma letra, tanto com seu som como com os feito de forma sistemática e cumulativa. Sendo ainda cada caso um caso específico,

 Devem ser levadas em consideração as particularidades de cada um. (ELLIS, 2001, p. 54).

 

A proposta pedagógica centrada no desenvolvimento de todas as capacidades perceptivas é aquela que propõe aos seus alunos atividades nas quais se trabalha simultaneamente com todos os sentidos. Caso o professor sinta-se despreparado para ajudar a criança, deve recorrer de forma mais acentuada ao profissional que acompanha o caso, para que coordene atividades e receba orientação quanto à forma de atuar.

Lanhez e Nico (2002), salientam ainda que:

 

Não há nada místico a respeito dos métodos de ensino que funcionam com sucesso para crianças disléxicas. Todas as crianças serão beneficiadas com exercícios para desenvolver as habilidades de ouvir e olhar. A introdução de cada letra, com ênfase na sua relação com o nome/som e com a importância em dar a sua correta forma, não prejudica nenhuma criança e será benéfico para a maioria. O ensino dado à criança disléxica é sistemático e cumulativo, cuidadosamente monitorado e regularmente avaliado de forma a verificar sua eficiência. O professore deve diversificar a maneira de apresentar a matéria, para que possa proporcionar a criança à necessária informação para o seu estímulo intelectual. Não espere que, uma criança com dificuldade de leitura, obtenha toda a informação por meio de textos. É importante incluir o uso de filmes, gravações discos, retoprojetores, ilustrações, debates e outros materiais pedagógicos. (LANHEZ e NICO, 2002, p.111).

 

A escola deve favorecer a aquisição da aprendizagem através de técnicas e procedimento pedagógicos que atendam as necessidades específicas do disléxico, para contribuir para o seu ajustamento social, equilíbrio psicológico e aprendizagem observando as seguintes recomendações da Associação Brasileira de Dislexia in  Lanhez e Nico ressaltam:

  • ·         Atender e respeitar as capacidades e limites da criança
  • ·         Estar informada para amparar a criança em sua dificuldade.
  • ·         Manter os professores das classes familiarizados e sensibilizados com a dislexia para compreender e apoiar a criança em sala de aula, ou ainda reconhecer a necessidade e ajuda extra.
  • ·         Compreender que o aluno disléxico precisa de um tempo maior na execução de atividades de leitura e escrita ou até mesmo repeti-las várias vezes para autoriza-las.
  • ·         Permitir que a criança erre, isso fará com que ela se sinta mais livre para se expressar e mais interessada em corrigir o erro.

Com base em resultados de pesquisas de alguns profissionais como Nico e Lanhez (2002) e Associação Brasileira de Dislexia aos quais, recomenda aos professores observarem algumas estratégias ao trabalhar com o aluno disléxico, mesmo que ainda, não tenha sido diagnosticado como tal:

  • ·        Dê ao aluno um resumo do curso, se possível, antes mesmo de ele se matricular.
    • ·         Avisar no primeiro dia de aula sobre o desejo de conversar individualmente com os alunos que te dificuldades de aprendizagem.
    • ·         Detalhar, no inicio do curso, todas as exigências, inclusive a matéria a ser dada, método de avaliação, datas de provas etc.
    • ·         Iniciar cada módulo com um esquema do que deverá ser apresentado naquele período. No final, realce de maneira resumida os pontos-chave.
    • ·         Usar vários materiais de apoio para apresentar à lição a classe, com: lousa, projetores de slides, retro-projetores, filmes educativos, demonstrações práticas e outros recursos de multimídia.
    • ·         Introduzir o vocabulário novo, ou técnico, de forma contextualizada.
    • ·         Evitar confusões, isto é, dando instruções orais e escritas ao mesmo tempo.

Quanto à tarefa de leitura:

  • ·         Anunciar o trabalho com bastante antecedência, a fim de o disléxico poder, ser necessário, arranjar outras formas de realiza-las, como gravar o livro;
  • ·         Considerar também, a possibilidade do trabalho em grupo;
  • ·         Quando apropriado, proporcione alternativas fora da sala de aula para tarefas de leitura, como dramatização, entrevistas e trabalho de campo;
  • ·         Tenha centros de orientação pedagógica especializada nas escolas;
  • ·         Dê exemplos de perguntas e respostas para o estudo de provas. Explique quais são as respostas aceitáveis, deixando claro o porque da escolha desse tipo de resposta;
  • ·         Realizar aulas de revisão que permitam o tempo adequado para perguntas e respostas;
  • ·         Quando necessário, avalie o conhecimento dos estudantes com deficiência de aprendizagem usando métodos alternativos, inclusive avaliações orais, provas gravadas, trabalhos feitos em casa e apresentações individuais.
  • ·         Autorizar o uso de tabuadas, calculadoras simples, rascunhos e dicionários durante as provas.
  • ·         Aumentar o limite de tempo para provas escritas.
  • ·         Ler a prova em voz alta e antes de inicia-la verifique se todos entenderam e compreenderam o que foi pedido. Lembre-se a nota da criança disléxica deveria ser dada de acordo com o seu conhecimento, e não de acordo com suas dificuldades e seus erros de ortografia.

 

É verdade que algumas crianças necessitam de mais ajuda do que outras, mas com direção e organização eficiente na sala de aula, envolvendo períodos com pequenos grupos de trabalho, esse tipo de ensino pode ser benéfico e ter sucesso com todos os alunos. (LANHEZ e NICO, 2002, p.90).

           

O conteúdo trabalhado com o aluno disléxico deve ser sistemático e cumulativo, cuidadosamente monitorado e regularmente avaliado de forma a verificar a sua eficiência e seu redimensionamento.

O estudante disléxico enfrenta muitos fracassos e também, não raro, tarefas impossíveis na sala de aula. O progresso, mesmo que pequeno, precisa ser observado e valorizado pelo professor sendo essencial para a auto estima tanto do professor como do aluno. É preciso que haja algum sucesso desde a primeira aula, o disléxico,  precisa disso para sua auto confiança e estabelecer relações com a matéria.

Lanhez e Nico (2000), ressaltam que os ditados são frustrantes para os alunos  que não dominam a escrita e principalmente para os disléxicos, desperdiça-se muito tempo na tentativa de se aprender as palavras, mesmo que estes se lembrem delas oralmente, terão dificuldade em aloriz-las e as esquecerão em curto espaço de tempo. O que pode ajudar o disléxico é a realização de uma leitura curta, num período calmo do dia, com a ajuda do professor.

A utilização do computador pode ser útil no processo de ensino aprendizagem do aluno disléxico, porém não se deve super valorizá-lo, uma vez que esta ferramenta não estabelece relação afetiva com o aprendiz, ele não substitui o professor, é preciso considerar que a aprendizagem se dá numa relação afetiva entre professor e aluno e objeto de estudo. O computador contribui no sentido de facilitar a leitura e a correção. Os programas dos computacionais devem ser examinados, escolhidos cuidadosamente. Faz-se necessário adequar as atividades nele propostas para atender as necessidades dos alunos. Outros recursos benéficos são o gravador e a televisão, os textos podem ser gravados e ouvidos e os alunos receberem orientações de como tomar nota dos dados principais. Essas estratégias  auxiliam o disléxico com discriminação visual, principalmente na correção. O gravador pode ser usado na sala de aula.

Á avaliação da aprendizagem com o aluno disléxico deverá ser feita num tempo bem maior que para os outros alunos, a leitura poderá ser feita pelo professor, este o professor poderá tirar as dúvidas quanto à grafia das palavras. Deve-se avaliar esse aluno de acordo com o seu conhecimento e não pelas dificuldades e erros ortográficos cometidos.

            O aluno disléxico aprende de maneira diferente, mas pode acompanhar o ensino da sala comum, se tiver apoio pedagógico necessário para contornar suas dificuldades específicas.  Os conteúdos devem ser bem assimilados devendo ser apresentados, tratados de forma a estimular os sentidos: tato, visão, audição, paladar.

            Muitos alunos disléxicos têm boa compreensão da matemática, mas, alguns podem ter dificuldades em demonstrar seu conhecimento de maneira ordenada e muitos deles, apresentam problemas com a multiplicação em virtude da não memorização da tabuada. Podem também, confundir os sinais matemáticos (+/x e -/=) o que altera os produtos. Outros ainda podem inverter os números ou se perderem na seqüência, ao trabalhar com situações problemas de enunciados longos e pouco objetivos. Também pode haver problemas para ler e escrever partituras de música, pois envolvem símbolos e sons.

  Por razões diversas o disléxico apresenta uma série de dificuldades em algumas áreas, mais isso nunca foi, nem deverá ser, uma impossibilidade para atingir o que deseja, pois  dislexia é uma dificuldade e não uma impossibilidade.

Esse atendimento específico deve ser oferecido preferencialmente na escola em que o aluno estuda, na Sala de Apoio Pedagógico serviço de apoio pedagógico por professores especializados que complementa da sala de aula comum deverá ser equipada e dotada de recursos pedagógicos adequado ás necessidades dos alunos usuários visando eliminar a cultura de exclusão escolar e efetivar os propósitos e as ações referentes à educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Torna-se necessário utilizar uma linguagem consensual, quanto a esse tipo de atendimento. Com base no novo paradigma educacional da Política Nacional de Educação passa a utilizar os conceitos de dificuldades de aprendizagem, na seguinte acepção: a) Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no seu processo de desenvolvimento as quais dificultem o acompanhamento das atividades curriculares. Essas dificuldades classificam-se em dois grupos: b) aquelas não relacionadas a uma causa orgânica específica; c) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências.

Considerando que o aluno disléxico se caracteriza como portador de uma disfunção que limita e dificulta o processo de desenvolvimento de suas atividades curriculares, principalmente as que se referem ao domínio da leitura e escrita, é de extrema necessidade e urgência que profissionais da educação e a comunidade conheça o que é lhe garantido por lei, para que possam usufruir desses benefícios. Portanto o aluno disléxico tem o direito a receber ensino diferenciado, com adaptações metodológicas, dentro da sala de aula comum do ensino regular, como também receber atendimento especializado na Sala de Apoio Pedagógico.  Educação escolar consiste na formação integral e funcional dos educandos, ou seja, na aquisição de capacidades cognitivas, motoras, afetivas, de autonomia, de equilíbrio pessoal, de inter-relação pessoal e de inserção social.  Os conteúdos escolares não podem se limitar aos conceitos e sim, incluir procedimentos, habilidades, estratégias, valores, normas e atitudes assimilada de tal maneira, que possam ser utilizados para resolver problemas nos diversos contextos. O aprendizado é lento e não deve visar apenas o domínio da leitura e da escrita, quando essas habilidades não forem possíveis ao disléxico, é necessário que a escola possibilite ao aluno o desenvolvimento de outras, tais como: artes plásticas, teatro música, dança, esportes e outros.

Um diagnóstico correto, feito no momento adequado, logo que se percebe as dificuldades é de grande ajuda para a criança conforme defende Gardner (1983):

 

(...) não há uma única capacidade e sim inteligências múltiplas: lingüísticas, visual, lógico-matemática, espacial, corporal-anestésica, interpessoal e naturalista. Desta forma a escola deve desfocar sua atenção sobre apenas habilidades específicas de leitura escrita e cálculos matemáticos para valorizar, incentivar e potencializar outras capacidades reveladas por cada aluno. E quando não percebidas a escola deve oportunizar aos alunos diferentes experiências para avaliar o nível potencial de cada um e investir neste. (GARDNER, 1983, p.79).

 

É preciso refletir porque tantos alunos brilhantes abandonam as salas de aula. Se a escola assumir outra postura, poderá se transformar num espaço revelador de muitos talentos em várias áreas e deixará então de ser um lugar onde se efetua a prática exclusão social, através da repetência escolar induzida ou espontânea, evitar-se-á que crianças, jovens e adultos com um grande potencial, deixem de obter sucesso na vida acadêmica e profissional.

 

4.2. A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO SUSPEITANDO-SE DE DISLEXIA

A educação é dever da família e da escola e principalmente do Estado, portanto, ambos devem se responsabilizar pela avaliação e acompanhamento do desenvolvimento físico, psicológico, social e cognitivo do educando. Muitas vezes a família dada à sua condição de escolarização sócio econômica e cultural não consegue avaliar o desenvolvimento global da criança e perceber que o mesmo não está ocorrendo dentro do esperado para aquela idade. Neste caso, cabe a escola fazê-lo e orientar a família, encaminhando-a o aluno para uma avaliação para diagnosticar o problema visando atendimento de suas necessidades educacionais.

Depois de descartados a existência dos possíveis fatores que interferem na aprendizagem (biológico, psicológico, social, familiar, cultural e pedagógico) o aluno suspeito de ser disléxico deverá ser encaminhado para avaliação de uma equipe multidisciplinar (psicólogo, psicopedagogo e neurologista) os quais necessitarão de informações da família e da escola a respeito do avaliado. A avaliação consta de testes para avaliar o nível de inteligência, para determinar as habilidades globais de aprendizagem do sujeito, testes visiomotores, neurológicos e de personalidade os quais serão detalhados. (no anexo). Diagnosticar a dislexia é o primeiro passo para compreender e atender o aluno em suas necessidades específicas. Dessa forma, evita-se a discriminação, as repetências e muitos sofrimentos tanto para os disléxicos, quanto para a sua família.

 Quanto mais cedo iniciar o atendimento ao disléxico, melhor será o seu prognóstico e dependendo do caso, pode-se chegar à resolução ou minimização do problema. Se a criança for trabalhada na primeira infância fase do amadurecimento neurológico, tempo propicio para aprendizagem, maiores e melhores serão os resultados. Alguns estudos afirmam que a maioria dos disléxicos pode completar o 2º grau ou iniciar um curso superior, porém afirmam também que infelizmente estes completam apenas alguns anos do Ensino Fundamental, alegando que poucos cursarão direito, letras, pedagogia, medicina como provavelmente farão  seus irmãos não disléxico.

As pesquisas constataram que os portadores de dislexia possuem o volume do lobo temporal esquerdo menor do que o direito. É nessa região do cérebro, lobo temporal esquerdo (mais especificamente na parte posterior da região do lobo frontal), onde provavelmente se encontram as funções responsáveis pelo aprendizado da leitura, escrita e dos cálculos matemáticos (vide anexo fig. 4). Como base nisso residem ali todas as alterações descritas da dislexia.

Lanhez e Nico (2002), enfatizam que o diagnóstico não tem a função de rotular e sim, de encontrar caminhos para o atendimento das necessidades específicas do aluno disléxico. O diagnóstico e a compreensão das dificuldades causadas por ela são os primeiros passos  para evitar a discriminação, as repetências, o abandono da escola e muitos sofrimentos para o disléxico e sua família.

 

O diagnóstico deve esclarecer os pais, os professores e os profissionais que acompanharam o caso, bem como o próprio disléxico. O objetivo não é apenas encontrar um rótulo, mas tentar obter um diagnóstico e encontrar caminhos, para um programa de reeducação. Considero que o importante não é o nome ou a denominação, pois este vem a ser mais um rótulo como tantos outros; porém é necessário identificar o problema para que possamos ajudar e ensinar a ajudar todos os envolvidos na questão. (LANHES e NICO, 2002, p.24).

 

As dificuldades de aprendizagens relacionadas à dislexia podem variar quanto à sua forma de manifestação e grau de comprometimento, portanto não se pode falar em padronização da dislexia e nem de seus sujeitos afetados, pois independentemente de ser ou não disléxico cada um é um ser único, diferente mesmo na condição de disléxico, é preciso que se considere não só a subjetividade do sujeito, a intensidade da dislexia e, acima de tudo os estímulos do meio e a ação pedagógica, sua adequação metodológica e atendimento as necessidades educacionais específicas do educando.

Não há e nunca haverá pessoas tão iguais a ponto de se poder padronizá-las, mesmo pertencentes a uma categoria ou grupo.  Ressalta-se que a dislexia se apresenta de forma padrão em cada individua, portanto, os sintomas podem se manifestar em maior ou menor intensidade e não se pode relacionar quaisquer dificuldades de leitura e escrita a dislexia.

A dislexia pode ser uma das causas do não aprender, conhecer a dislexia poderá contribuir para redução do fracasso escolar e motivar os educadores a buscar outras formas e modelos metodológicos para atender às dificuldades individuais dos alunos disléxicos.

 

 (...) em razão de este distúrbio ser um conjunto de dificuldades e sintomas combinados, não tendo, portanto, uma característica padrão para todos os disléxicos; cada caso de dislexia é um caso a parte. Além do que, embora a dislexia seja um distúrbio de leitura e escrita, nem todo o distúrbio de leitura e escrita é dislexia. Por isso é comum descrevermos a dislexia como um distúrbio específico de leitura e escrita. Sendo assim não podemos diagnosticar a priori como disléxica a pessoa que, por exemplo, escreve espelhado ou troca letras, ou confunde a direita da esquerda, ou ainda tem um atraso na aquisição da linguagem. Essas características podem ser provenientes de outros tipos de dificuldades, pois sabemos que a dislexia apresenta sintomas comuns a outros comprometimentos. (LANHES e NICO, 2002, p. 30,31).

 

O diagnóstico para um adulto é, normalmente, uma experiência privilegiada. Se nenhum distúrbio for encontrado, e lhes forem mostradas suas dificuldades e respectivas correções, sentir-se-ão aliviados. Se alguma dificuldade de aprendizado for encontrada, ficarão igualmente aliviados porque seu problema de há longo tempo será “nomeado”, eliminando suas desconfianças de ter outros comprometimentos, como uma deficiência mental.

Desculpas para seus erros como “desatenção” e “ansiedade” são assumidas pelo próprio disléxico. Uma vez consciente da origem de suas dificuldades, estará mais atento, criando condições para que esses erros, de alguma forma, não ocorram com tanta freqüência. 

Podemos imaginar o que isso significa através do depoimento de uma disléxica, in Nico e Lanhez (2002).

 

Eu sei bem como é isso. Desde muito pequena, eu sabia que havia alguma coisa errada comigo, mas, somente já adulta, descobri o nome do fantasma que me perseguia: Dislexia.

Hoje, 04 anos após ter sido diagnosticada como disléxica, aprendi que todos somos únicos, um diferente do outro, cada um com seu jeito, cada um com seu tempo; ninguém é prefeito e todos temos qualidades. Sei que não estou sozinha como imaginava, porém as inseguranças da infância e da adolescência, causadas pelos fracassos escolares, sempre aparecem em várias ocasiões rotineiras, com uma grande diferença: tenho certeza de que o fantasma não é do mal. Um dia estava na sessão de análise e meu psicólogo disse: “Você está vendo todos esses livros? Eu li todos, mas nenhum deles me ensinou a ser feliz”. Rosemari Marquetti de Mello, Fotógrafa.  (LANHES e NICO, 2002, p. 11,12).

 

Essas dificuldades são consideradas normais, durante o processo de alfabetização, porém os casos em que essas dificuldades não são sanadas após um período de tempo, merecem serem observadas pelo professor, porque pode se tratar de dificuldades relacionadas à dislexia.

E ainda reafirma Condemarin (1987), em sua citação abaixo quando fala dos problemas que um disléxico enfrenta em sua vida:

 

Outras perturbações de aprendizagem podem acompanhar os disléxicos como: alterações na memória; alterações na memória de séries e sequências; orientação direita e esquerda; linguagem escrita; confusão quanto à realização das tarefas escolares e outras. (CONDEMARIM, 1987, p. 109).

 

Com sua auto-estima extremamente abalada, eles certamente desenvolverão distúrbio de conduta que pode ir da agressividade à timidez intensa a depressão, e podendo encaminhar-se para a marginalidade e desta para a delinqüência, é apenas um passo. Isso indica um desajustamento social com graves conseqüências não só para o sujeito como para a sociedade como um todo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

V. ANÁLISE DOS DADOS OBSERVADOS ATRAVÉS DE QUESTIONÁRIOS

 

 

Considerado que as maiores dificuldades de aprendizagem da grande maioria dos alunos, desde as primeiras séries do Ensino Fundamental ao Ensino Médio, são relacionadas ao domínio da leitura, interpretação e produção textual, procuramos investigar junto aos professores desses dois sistemas de ensino, Municipal e Estadual como são percebidas essas dificuldades e quais seriam suas causas. Foram entrevistados no decorrer desta pesquisa de maneira formal através de questionários com perguntas semi-estruturadas e informalmente através de conversas totalizando mais de 50 professores de 1ª a 8ª séries do Ensino Fundamental , de escolas municipais e estaduais de Sinop/MT.

Muitos professores procurados se negaram a participar da entrevista, mas propuseram-se a conversar informalmente, outros afirmaram não saber responder as perguntas, por isso registramos as respostas de alguns deles, optando pelas mais significativas.

            Ao serem questionados sobre o que seria uma dificuldade de aprendizagem as respostas foram as mais variadas possíveis, como: “É a dificuldade de interiorização, não assimila o aprendizado”; “É aquela em que o aluno após várias explicações não consegue entender os conteúdos”; “É quando o aluno não consegue entender o que o professor explica”; “È quando você explica, explica e o aluno não consegue entender”.

            As respostas dos professores demonstram que os mesmos não têm muita clareza quanto ao que seja dificuldade de aprendizagem e menos metodologias diversificadas. Todos foram unânimes em apontar os alunos como culpados.

Único culpado pelo não aprender, como se o problema fosse unicamente deste observada na ênfase do professor “o professor explica, explica e o aluno não aprende” o professor, parece acreditar que a aprendizagem se dá pela simples explicação como se o aluno não tivesse capacidade para aprender.

            Ao serem perguntados se seus alunos apresentavam dificuldades de aprendizagem, todos disseram que sim, mas não especificaram quais seriam essas dificuldades. Demonstrando que não têm muita clareza sobre o que estaria fugindo do esperado pela escola, ou melhor, quais seriam as competências que deveriam apresentar para a série em curso evidenciando ainda, saber em muito pouco sobre o aluno.

Ao serem perguntados o que seria dislexia, responderam: “Não tenho conhecimento suficiente para explicar”; “É quando a criança nasce com uma lesão cerebral ou no sistema nervoso, isso interfere diretamente na capacidade de compreensão do que o aluno lê e estuda”.

            Os professores mesmo convivendo diretamente com as dificuldades dos alunos, não conseguem identificá-las, nem relacioná-las às suas possíveis causas, têm-se a impressão de que as dificuldades são vistas por eles com tal naturalidade gerando comodismo tanto deste como da escola, ambos não se mostram interessados em investigar ás causas do fracasso escolar para desenvolver trabalhos e projetos que atendam as necessidades educacionais dos alunos.

             Ao serem questionados se dentre os alunos que apresenta dificuldade na leitura e escrita, possivelmente teriam alunos disléxicos, os professores responderam: “É difícil avaliar porque tem os alunos preguiçosos, os alunos com problemas familiares, o namoro, os que apresentam dificuldade de aprender, mas, é preciso ter tempo para ver cada caso desses, para daí avaliarmos como merecem”; “Sim, tenho vários. Os sintomas são mais freqüentes, é uma tensão nervosa e às vezes falta de interesse pelo conteúdo uma vez que o aluno não aprende”.

Em função dos professores não saberem detectar os problemas apresentados pelos alunos não conseguem suspeitar que algumas dessas dificuldades estejam relacionadas da dislexia:

Apenas um professor de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª série afirmou “A maior dificuldade dos alunos é leitura e escrita e conseqüentemente interpretação e olha, é de amedrontar a cada 35 alunos, a maioria em dificuldades de entender o que se quer e dessa metade, em torno de 10 alunos é ruim mesmo”.  O professor afirma que muitos alunos não apresentam condições mínimas para a série que cursam, o que confirma que as promoções estão se dando sem que os alunos tenham as competências para a série seguinte.”“.

O professor de matemática afirmou: “Eu percebo que os alunos não conseguem interpretar um problema, uma equação”. 

Como se percebeu que em momento algum, os educadores mencionam a escola, a metodologia como  possíveis causas do não aprender. Além disso, alegam não ter tempo para perceber o aluno e avaliar o processo ensino aprendizagem e redimencioná-lo, parece ser algo mecânico, não intencional um fazer sem projeção de resultados. É como se o trabalho do professor e o ensino fossem produtos que não carecem de avaliação.

Apesar das habilidades da leitura, escrita e interpretação serem básicas e extremamente necessárias para a aquisição de todas as aprendizagens parece que o professor de Língua Portuguesa é o que mais se incomoda com a dificuldade dos alunos nessa área.

Quando questionamos se desejam receber cursos de capacitação, alguns professores pareceram interessados: “Sim, para saber detectar qual a dificuldade de meu aluno”; “Quero sim, para entender melhor o drama dos alunos com quem convivo durante o ano e os outros que virão”; “Sim para desenvolver melhor o papel de educador”.

Desta forma cabe aos órgãos competentes, como Secretaria de Educação Municipal e SEDUC, oferecer capacitação continuada em cumprimento as determinações da Política Nacional de Educação.

Quando perguntados se a escola desenvolvia algum projeto ou outra forma de atendimento às necessidades dos alunos, as respostas foram evasivas “Oferece os recursos dentro de suas possibilidades, o que às vezes não é o suficiente”; “O professor é que tem que ir atrás de recursos didáticos para tentar sanar essas dificuldades apresentadas por alguns alunos”; “A escola em que trabalho não tem recursos para trabalhar com esses alunos”; “Recebo muito pouco apoio”.

 Apenas um professor respondeu que a escola oferece recursos para trabalhar com os alunos com dificuldade de aprendizagem, mas não se referiu a que tipo de recurso, para que vem e para que é utilizado. Os demais responderam que a escola não oferece recurso, é o professor que tem que ir atrás, e que se recebem apoio, este é insignificante. Isso demonstra que a escola não atende as necessidades educacionais do aluno conforme determina a Resolução nº 2 de 11 de setembro de 2001 e a LDB nº 9.394/96, quando afirma que cabe a escola juntamente com seus professores buscar alternativas para garantir a aprendizagem de todos.         

 

 

 

 

 

 

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS

        

Percebe-se que sabia quase tudo sobre o ensinar e o aprender e que conhecia todos os alunos com os quais trabalhei durantes anos, mas só depois de iniciar a minha graduação e agora a pós-graduação percebi que sei muito pouco sobre eles, e muito á aprender. Hoje percebo quanto fui injusta com muitos deles, tal qual a tantos outros colegas professores que conheci e conheço e que ainda cometem o mesmo erro mesmo passando anos e anos. Muitas vezes cheguei pensar que meus alunos só iam à escola para brincar, que não queriam aprender, que eram desinteressados, desatentos, indisciplinados e não sabiam nada, não tinham força de vontade. Cada vez que penso nisso confesso que me sinto muito mal, pois cada um tem seu tempo e sei também que tenho muito a aprender, mas sei que jamais serei  injusta e muito mais tolerante com qualquer criança quando essa não aprender da forma que a metodologia e a sociedade pede, até me inteirar  do que está acontecendo com ela. Nunca mais a rotularei seja lá do que for, até entender qual a razão da sua dificuldade para a aprendizagem, vou investigar se é uma deficiência sensorial, problema emocional ou outras causas que não dependem de sua vontade. 

A escolha deste tema se deu, justamente pela intenção de melhor compreender aqueles alunos que não aprendem e poder auxiliar os professores a melhor trabalhar com estes alunos repensar sua metodologia de modo a poder desenvolver suas potencialidades e principalmente auxiliar o aluno disléxico na sua impossibilidade de aprender a ler e escrever, quando seu caso for irreversível, mostrando que se é possível desenvolver outras habilidades tão importante quanto à leitura e a escrita, ainda considerada e valorizadas pela escola como as únicas.

            Quanto mais professores conhecerem a dislexia certamente mais alunos terão sucesso no seu processo de aprendizagem e menos disléxicos serão rotulados, humilhados e deixarão de desenvolver outras potencialidades.

            O que mais chamou minha atenção é que em todo este tempo de pesquisas teóricas, bibliográficas e conversas informais e formais com os professores só vieram a reforçar tudo aquilo que obtive com os questionários e conversas com os professores sobre o tema, grande maioria não sabem o que é dificuldade de aprendizagem e muito menos o que é dislexia e muito menos ainda identificar este ou aquele aluno que esteja com algum tipo de dificuldade e como proceder diante do problema para procurar ajuda.

             É preciso entender que alguns alunos não poderão satisfazer os pais e professores da forma como estes esperam, há que se construir juntos novos caminhos.

 

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

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Resolução CNE/CEB Nº 02, de 11 de setembro de 2001.  Diário Oficial da União, Brasília, 14 de setembro de 2001 – Seção IE, p.39-40. Conselho Nacional de Educação (CNE), Câmara de Educação Básica (CEB).

SIMONS, Úrsula. Interferências Psicopedagógicas na Aprendizagem.  Aprendizagem Multieducação.

Resolução CNE/CEB Nº 02 de 11 de setembro de 2001. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica.

VEJA, revista. Tropeçando em texto.199 ed.;. p.21, novembro de 2001.

 

WWW, google.com.Br. Pesquisa: Dislexia. Depoimentos. Data: 27 de fevereiro de 2008 e 11 de março de 2008. 

 

ANEXOS

QUESTIONÁRIOS DIRIGIDOS A PROFESSORES DA 1ª SÉRIE AO ENSINO MÉDIO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS E ESTADUAIS

a)      Quais tipos de dificuldades mais percebidas por você?

b)     Você acha que os alunos na sua maioria são promovidos pela escola com as competências exigidas para a série seguinte? Por que?

c)       Você já percebeu em sua turma alunos com grande capacidade cognitiva, no entanto não sabiam ler e escrever?

d)     Na sua opinião quais seriam as causas dessas dificuldades?

e)      As dificuldades apresentadas pelos alunos são trabalhadas assim que percebidas, ou espera-seque as dificuldades são eliminadas através do processo ensino aprendizagem?

f)       A escola realiza algum tipo de trabalho com alunos com dificuldade de aprendizagem?

g)       Você tem ou já teve algum aluno disléxico?

h)     Quando a escola percebe determinados problemas quer ser de qualquer ordem, ela busca orientação de algum profissional? Quais?

 HISTÓRICO DO ESTUDO DA DISLEXIA   

A Dislexia foi descoberta em 1817, por Kussmaul, que a chamou de “cegueira às palavras”, foi inicialmente estudada pela ciência médica.  A primeira descrição da Dislexia foi feita em 1896, por um oftalmologista inglês: Pringle Morgan, que a chamou de “cegueira verbal congênita” e a atribuiu a uma deficiência de desenvolvimento do córtex cerebral. Em 1917, Hinschelwood, refereÀse a Dislexia como dificuldade para aprender a ler e escrever em indivíduos saudáveis, inteligência normal ou superior e sem apresentar nenhuma deficiência sensorial, visão e audição.

Pringle Morgan estudou o caso de um menino de quatorze anos, saudável e de inteligência normal, que revelava enorme dificuldade para aprender as letras do alfabeto. Este fenômeno passou então a ser denominada de Dislexia, pela origem e palavra.

Em 1990, Hinschelwood, outro oftalmologista inglês, verificou fenômeno idêntico. Entre os casos que observou, havia o de um menino de onze anos que, com excelente memória e sabendo de cor todas as lições e era tão inteligente, quanto seus irmãos com quatro anos e meio de escola e  não tinha ainda aprendido a ler. Desde sua identificação a Dislexia vem sendo, pesquisada, por médicos, psicólogos e educadores.

No Brasil a Dislexia começou a ser estudada somente em 1983, por iniciativa de um pai inconformado com as justificativas que as escolas davam para a incapacidade do aprendizado da leitura e escrita de seu filho o qual apresentava capacidade cognitiva acima da média. Esse pai então buscou na Inglaterra através da Britisth Dylexia Association – BDA, respostas para o porque do não aprendizado do filho, sendo o mesmo diagnosticado como disléxico.

Gratificado com a ajuda recebida, preocupou-se com outros pais que semelhantemente a ele não encontravam explicação nem orientações para o problema de seus filhos tão ou mais inteligentes que seus irmãos e solidário a esses pais, procurou a Britisth Dylexia Association – BDA uma Associação que dá a orientação e apoio a pais, educadores, e profissionais da área da linguagem, recebendo ajuda  para abertura de uma no Brasil, inaugurada em 1983.

Desde sua fundação em 1983 a ABD (Associação Brasileira de Dislexia), vem realizando um trabalho de divulgação, e orientação sobre Dislexia, como também, formando profissionais e desenvolvendo pesquisas quanto à incidência e a forma da dislexia no Brasil. A partir de 1986, criou-se o Centro de Avaliação e Encaminhamento – CAE, encarregado de diagnosticar indivíduos com distúrbios de aprendizagem, para orientação a familiares e profissionais, quanto ao acompanhamento adequado a cada caso. Sem fins lucrativos, visa atender e orientar todas as pessoas interessadas em distúrbio de aprendizagem, mais especificamente as pessoas afetadas e ou envolvidas com a Dislexia: Como disléxicos, familiares, professores, escolas e os profissionais das diversas áreas como: fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, neurologistas, oftalmologistas, geneticistas, pediatras e público em geral, além de produções cientificas sobre o assunto. Enfim, a missão da ABD é esclarecer, divulgar, preparar e alertar quanto a Dislexia, para que ela seja adequadamente identificada e trabalhada por profissionais especializados. Com isso pretende-se que seus portadores não abandonem seus estudos, nem evitem o convívio social, ou se submetam a papéis secundários pela falta de compreensão de suas dificuldades pelos pais, professores, colegas, educadores e sociedade em geral. 

TIPOS DE TEXTES PARA AVALIAÇÃO DA DISLEXIA

O Fonoaudiólogo e o psicopedagogos avaliam: a) lateralidade (dominância lateral); b) Organização espacial, temporal, discriminação e percepção auditiva, memórias táteis e anestésicas, memória imediata e de longo prazo, organizações de figuras e práxis orofaciais.

- Os testes de leitura devem incluir: Leitura e segmentação de palavras nos seus sons unitários e em sílabas, grupos consonantais. “gl”, “pr”, “gr”, “cr”, “cl” e dígrafos: lh, ch, nh, logatomas (palavras sem significados) e avaliação do vocabulário adequando a linguagem oral e silenciosa com compreensão e habilidades para aquisição fonológica;

-    Testes de linguagem escrita: cópia, escrita espontânea e material escolar, nos quais se verificam as habilidades para formar palavras e sentença, medindo o seu conteúdo (idéias e o uso do vocabulário), seus mecanismos (ortografia gramática, formação de sentenças, tipo de caligrafia e velocidade da escrita) e as aquisições lingüísticas, incluindo soletração (consciência fonológica), rima (sons iguais no final da palavra) e alteração (sons iguais no inicio da palavra), análise e síntese de palavras. São solicitados ainda teste oftalmológico e audiométrico, pois alterações profundas nessas áreas também causam problemas de aprendizado.