DESAFIOS DA ESCOLA: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE DIANTE DAS DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM

Autor (a): Mônica Andréa Greanin de Oliveira.(1)
Orientador (a): Cláudia Maria Sedrez Gonzaga. (2)

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar criticamente qual o conhecimento que os educadores têm acerca dos processos mentais que envolvem todo o processo de ensino aprendizagem com enfoque principal na formação docente. Será uma reflexão sobre a formação docente e suas ações analisando a pertinência entre o discurso e a ação dos professores. Buscando enfatizar a responsabilidade dos cursos de formação de professores que devem inserir em seus currículos disciplinas que contemplem as descobertas da neurociência no tocante ao processo de ensino aprendizagem. Método: A pesquisa foi de campo com base na aplicação de um questionário em algumas escolas da rede de ensino da cidade de Blumenau SC. O questionário conta com 14 perguntas, sendo 13 fechadas (objetivas) e 01 aberta. Conclusão: A análise dos dados coletados possibilitou perceber que os cursos responsáveis pela formação dos professores estão muito aquém das necessidades reais da educação brasileira, principalmente por não contemplarem em suas licenciaturas disciplinas que envolvam um estudo mais detalhado de como o cérebro humano aprende e de como se dá o processo de ensino aprendizagem do ponto de vista da neurociência. Propõe-se uma mudança gradativa nesses cursos para que os professores estejam devidamente instrumentalizados para lidar com as dificuldades de aprendizagem de maneira mais eficaz.

Palavras-chave: Aprendizagem. Professores. Formação. Neurociência.

Challenges of school: an analysis of teacher practice, given the difficulties and disorders of learning

Abstract

This article aims to critically analyze which knowledge that educators have about the mental processes that involve the entire process of teaching and learning with special emphasis on teacher education. Will be a reflection on teacher education and its shares analyzing relevance between speech and action of teachers. Seeking to emphasize the responsibility of training courses for teachers who must enter into their curricula courses that address the findings in neuroscience regarding the teaching learning process. Method: The research field was based on a questionnaire in some schools the schools in the city of Blumenau SC. The questionnaire has 14 questions, 13 closed (objective) and 01 open. Conclusion: The analysis of collected data allowed to realize that the courses responsible for teacher training are far below the actual needs of Brazilian education, mainly because they do not fulfill their degrees
_____________________.
_in disciplines that involve a more detailed study of how the human brain learns and how is the process of teaching and learning from the viewpoint of neuroscience. We propose a gradual change in these courses so that teachers are properly exploited to deal with learning difficulties more effectively.

Keywords: Learning. Teachers. Training. Neuroscience.

1- INTRODUÇÃO

Toda a aprendizagem começa em casa, dentro da família, afinal, é este o primeiro contato social que temos. Mas, embora informal, este aprendizado será extraordinariamente marcante pra todo o processo que se seguirá ao longo de nossas vidas.
A família é “a base, o alicerce da sociedade” – esse é um jargão muito utilizado hodiernamente. É consenso que a família imprime as primeiras disposições mentais com as quais as crianças vão perceber o mundo social e que mais tarde serão complementadas e formalizadas pela escola. Entretanto, esse papel não cabe só à família; a escola, os meios de comunicação, a igreja e o meio social também tem grande influência na educação das novas gerações. Por outro lado, sabe-se que a família, por mais que tenha inúmeras responsabilidades educacionais sobre a criança, necessita de auxílio para efetivar este ensino com qualidade, como destaca Parolim (2007, p. 14): “sabemos que a família está precisando da parceria das escolas, que ela sozinha não dá conta da educação e socialização dos filhos”.
A função básica da escola é garantir a aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários à socialização do indivíduo. Estas aprendizagens devem constituir-se em instrumentos para que o aluno compreenda melhor a realidade que o cerca, favorecendo sua participação em relações sociais cada vez mais amplas, possibilitando a leitura e interpretação das mensagens e informações que hoje são amplamente veiculadas, preparando-o para a inserção no mundo do trabalho e para a intervenção crítica e consciente na vida pública. Entretanto, essa não é das tarefas mais fáceis.
Antes de analisarmos todo o cenário dessa história, como a infraestrutura das escolas, devemos primeiramente voltar nossos olhares aos grandes protagonistas que são os alunos e os professores, pois de nada adiantarão escolas com megaestruturas sem que os atores estejam preparados para atuar.

Objetivo Geral: Analisar criticamente qual o conhecimento que os educadores têm acerca dos processos mentais que envolvem todo o processo de ensino aprendizagem com enfoque principal na formação docente.

Objetivos Específicos:
1- Salientar a importância da formação do professor, realizando uma reflexão sobre essa questão.
2- Abordar a formação do professor não como simples adaptação ao que existe, mas como acréscimo de conhecimentos e habilidades.
3- Evocar a valorização do professor e do seu trabalho que é de suma importância para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana e mais justa.

Perrenoud (1993) explicita que há necessidade de reformulações na formação inicial do professor de ensino básico. Ele aponta para uma grande dose de idealismo nestes cursos e para o fato de que grande parte do que se aprende não é possível ser aplicado na prática, visto que muitos formadores desconhecem a realidade da sala de aula, das escolas e do sistema educacional. Porém não existem receitas acabadas, mesmo porque cada educando é único, assim como são únicas as diferentes situações de aprendizagem. Para Perrenoud (1999, p. 2):

Quase que a totalidade das ações humanas exige algum tipo de conhecimento, às vezes superficial, outras vezes aprofundado, oriundo da experiência pessoal, do senso comum, da cultura partilhada em um círculo de especialistas ou da pesquisa tecnológica ou científica. Quanto mais complexas, abstratas, mediatizadas por tecnologias , apoiadas e modelos sistêmicos da realidade forem consideradas as ações, mais conhecimentos aprofundados, avançados, organizados e confiáveis, elas exigem.

Entretanto, a estrutura escolar e a forma como comumente é desenvolvida a prática educativa favorece a aprendizagem de poucos, ou seja, daqueles alunos que aprenderiam até mesmo com a ausência da escola (GRACIANO, 2007). Isso revela outro problema, a dificuldade que a escola encontra em trabalhar com o diferente, com a diferença. Assim, o processo de diagnóstico de um aluno com dificuldade de aprendizagem para Campos (1997) deve englobar diferentes avaliações, “deve ser abrangente, possibilitando a coleta de dados diferenciados e complementares que se constituam em subsídios para a compreensão do desempenho do aluno” (p.130). Ou seja, para se fazer um diagnóstico das dificuldades de aprendizagem é necessário que sejam feitas diversas avaliações tanto com o aluno, quanto com o próprio trabalho de professor e o da escola. A aplicação de todas essas técnicas, só será possível através de muito conhecimento, que é concernente às entidades responsáveis pela formação dos professores.

2- MÉTODO

Foram enviados a três escolas da rede de ensino da cidade de Blumenau/SC (uma Particular; uma Estadual e uma Municipal) 45 questionários contendo 14 perguntas, das quais 13 eram fechadas (objetivas) e uma aberta, as quais estão elencadas a seguir:

1- Qual se grau de escolaridade?
2- Há quantos anos leciona?
3- Quantos alunos há na sua sala?
4- Estamos na metade do quarto bimestre, todos os seus alunos atingiram os objetivos propostos na grade curricular?
5- Se existem alunos que ainda não obtiveram êxito, poderia informar quantos?
6- Saberia dizer se a sua escola faz algum tipo de entrevista com a família dos alunos antes do início do ano letivo?
7- Você sabe diferenciar uma dificuldade de aprendizagem de um distúrbio de aprendizagem?
8- Se sim, saberia descrevê-las em poucas palavras?
9- Sabe reconhecer uma síndrome?
10- Sua escola oferece algum tipo de suporte multidisciplinar como fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos para auxiliá-lo em seu trabalho pedagógico?
11- Quais providências são tomadas com relação aos alunos com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem?
12- Em seu curso de graduação você teve alguma disciplina que abordasse como se processa o conhecimento no cérebro humano?
13- Tendo em vista sua atuação profissional, você julga necessário compreender melhor como se processa o conhecimento no cérebro humano? Acredita que esses conhecimentos melhorariam sua prática pedagógica?
14- Sua escola é municipal, estadual ou particular?

Dos 45 questionários enviados somente 30 voltaram respondidos.
Os professores respondentes atuam na educação infantil e séries iniciais. Não houve nenhuma conversa antecipada com os professores, pois o cabeçalho do questionário já trazia os objetivos das perguntas. Apenas foi solicitado à direção de cada escola que se os professores pudessem colaborar com a pesquisa que o fizessem.
De posse das informações foi elaborado um quadro com o número de respostas coletadas (ANEXO I).
Não foram identificadas as escolas, tampouco os professores, pois o objetivo maior da pesquisa foi analisar o conhecimento dos professores com relação aos problemas e distúrbios de aprendizagem, bem como identificar que suportes a escola oferece aos mesmos com relação aos alunos que apresentam algum tipo de obstáculo à aprendizagem.
Optou-se pelos professores da educação infantil e séries iniciais pelo fato de eles permanecerem mais tempo com os alunos e por serem os primeiros anos escolares, primordiais na vida de um estudante para que ele possa prosseguir sua vida acadêmica sem muitos atropelos.
A análise dos dados também oportunizou uma abordagem acerca da formação dos professores, já que essa é uma questão primordial para o sucesso da educação no Brasil.

3- ANÁLISE DOS DADOS.

Dos 30 respondentes dos questionários, 27 possuem nível superior completo e 3 possuem nível superior incompleto, 18 possuem pós-graduação e apenas 1 possui mestrado. O tempo de atuação no magistério varia de 01 a 39 anos. A maioria possui entre 15 e 25 alunos e apenas 01 possui mais de 30 e menos de 40 alunos.

À época da referida pesquisa, (setembro/2013) todos os professores afirmam ter alunos que não atingiram os objetivos propostos por eles e pela escola. Esses números também foram bem variáveis, porém, um deles chama a atenção por ter 20 alunos sem atingirem esses objetivos. Dois professores não responderam a essa pergunta.
Com relação às entrevistas que as escolas deveriam fazer com a família, 12 responderam que a escola faz a entrevista, 12 responderam que não e 4 responderam que só algumas.
Dos que sabem diferenciar uma dificuldade de um distúrbio de aprendizagem, 16 responderam que sim e 14 responderam que não. Com relação aos que sabem reconhecer uma síndrome, 14 responderam que sim, 14 responderam que não e 02 responderam que raramente.
Mais da metade das escolas (16) não oferecem suporte pedagógico multidisciplinar aos professores para auxiliá-lo em seu trabalho pedagógico; 12 responderam que tem algum suporte, 01 não respondeu e 01 respondeu que a escola faz encaminhamento.
Quando percebem um obstáculo à aprendizagem 14 alegam que falam com a família, 11 encaminham para uma entidade assistencial e 05 tomam outras providências.
Outra questão abordada foi se o curso de graduação dos mesmos teve alguma disciplina que abordasse como se processa o conhecimento no cérebro humano. Destes, 27 responderam que sim e 03 responderam que não; o que destoa muito quando se pede que os mesmos descrevam em poucas palavras como diferenciam uma dificuldade de um distúrbio de aprendizagem.
Como mencionado anteriormente, foram enviados 15 questionários para cada escola; sendo que voltaram respondidos 04 da escola particular, 15 da escola Municipal e 11 da escola Estadual.
Fazendo uma análise mais profícua, confrontando as respostas objetivas com as respostas abertas dos professores, percebe-se que mesmo que tenham assinalado que sabem diferenciar um distúrbio de uma dificuldade de aprendizagem; que sabem reconhecer uma síndrome e que tiveram disciplinas que abordavam como se processa o conhecimento no cérebro humano; suas descrições não condizem com o conhecimento que afirmaram ter nas respostas anteriores. Apenas 04 dos 17 professores que afirmaram reconhecer e diferenciar um distúrbio de uma dificuldade de aprendizagem conseguiram descrever de forma satisfatória essas diferenças. Outros 09 responderam confusamente, 05 não responderam e 12 não sabem diferenciar.
Percebe-se aqui um grande distanciamento entre o que se afirma e o que realmente se conhece. Não queremos, contudo culpar os professores pelas mazelas da educação no Brasil, mas apontar as falhas na formação dos mesmos, bem como a importância da inserção de conteúdos referentes às neurociências da educação nos cursos de licenciatura.

Considerando o conjunto das instituições, há quase uma equivalência entre a proporção de disciplinas que cumprem a função de embasar teoricamente o aluno de Pedagogia, a partir de outras áreas do conhecimento, e aquelas que tratam de questões relacionadas à profissionalização mais específica do professor. Chama a atenção que apenas 3,4% das disciplinas ofertadas referem-se à “Didática Geral”. O grupo “Didáticas Específicas, Metodologias e Práticas de ensino” (o “como” ensinar) representa 20,7% do conjunto, e apenas 7,5% das disciplinas são destinadas aos conteúdos a serem ensinados nas séries iniciais do ensino fundamental, ou seja, ao “o que ensinar”. Esse dado torna evidente como os conteúdos específicos das disciplinas a serem ministrados em sala de aula não são objeto dos cursos de formação inicial do professor. Disciplinas relativas ao oficio docente representam apenas 0,6% desse conjunto. (GATTI, 2010).

Muito se estudou e muito se falou sobre o funcionamento do cérebro humano, mas até o século passado, eram teorias mais baseadas na observação de ações, eram mais intuitivas que científicas. O cérebro se modifica em contato com o meio durante toda a vida. A formação da memória é mais efetiva quando a nova informação é associada a um conhecimento prévio. Para os profissionais da educação, essas afirmações podem não ser inovadoras, seja por causa da sua experiência em sala, seja por ter estudado Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896- 1934), Henri Wallon (1879-1962) e David Ausubel (1918-2008), a maioria da área da Psicologia cognitiva. A novidade é que as conclusões são frutos de investigações neurológicas recentes sobre o funcionamento cerebral.
Conhecer como o cérebro funciona em nossas vidas, principalmente na escola, torna a missão de ensinar muito mais instigante e efetiva. Quando entendemos as bases da aprendizagem, ou seja, como o cérebro faz conexões, como se forma a memória, quais são os tipos de memória que se tem e qual a melhor maneira de armazenar e acessar as informações gravadas nessa memória, ou quando podemos detectar com um olhar mais atento alguma falha nesse processo, podemos intervir de maneira mais eficaz. Isso não quer dizer que de posse desses conhecimentos todos os problemas educacionais serão resolvidos e que todos os alunos sairão das escolas “gênios”. O que se pretende é que de posse de tais conhecimentos, os professores possam ter melhores ferramentas para lidar com as dificuldades e distúrbios da aprendizagem que são tão recorrentes nas escolas e responsáveis por uma gama muito grande de evasão escolar, bem como de rotulações indevidas de alunos “malandros” que não querem saber de nada.
Formar professor é formar um profissional para uma prática histórico social efetiva dentro de um contexto concreto que são as redes de ensino, cada uma com a sua característica. Não devemos desconsiderar fatores externos à escola, mas há de se convir que dentro das escolas, com as contribuições da Neurociência, há muito que se caminhar. O mundo hoje caminha a passos largos, numa velocidade frenética, enquanto que a escola, embora não tenha parado no tempo caminha a passos de tartaruga. O que a escola está fazendo para dar ao cidadão o mínimo necessário pra que ele se coloque no mundo globalizado de modo que não sinta-se à margem da sociedade?

Quando falamos em problemas de ensino, não estamos buscando um novo culpado. Estamos, de fato, buscando refletir sobre a prática pedagógica em nossas escolas, na tentativa de analisar, reconhecer e aceitar os seus problemas, refletindo sobre alterações possíveis e necessárias. Certamente, a questão é muito complexa. Muitas pessoas e muitos interesses estão envolvidos. (CAMPOS, 1997, p. 136).
Segundo Gatti (2010), em vários países existem centros exclusivos para a formação de professores, enquanto que no Brasil existem faculdades de Direito, Engenharia, Medicina, Arquitetura, etc., mas não existe uma faculdade de formação de professor. Aí se percebe a grande desvalorização do profissional professor, pois a formação de professores da educação básica não deve ser relegada á segundo plano, pois ela é o cerne de todo o processo que virá a seguir.
Ainda segundo Gatti, em suas pesquisas verifica-se que os currículos dos cursos de licenciatura, principalmente os de Pedagogia, não comtemplam disciplinas que propiciam o desenvolvimento de habilidades profissionais especificas para a atuação nas escolas e nas salas de aula.
Por isso causa estranheza o fato de a maioria dos entrevistados afirmarem terem tido disciplinas que contemplaram como se processa o conhecimento no cérebro humano, uma vez que nem as metodologias são aprendidas da forma como deveriam. Acredita-se que na maioria das vezes, os professores não querem admitir que tiveram uma graduação de má qualidade, pois isso o desmoralizaria perante seus alunos, colegas de profissão e perante a sociedade. Sabemos que alguns quando se percebem defasados buscam cursos de especialização que muitas vezes fazem o papel de suprir as deficiências da graduação. Entretanto, a grande maioria, mesmo querendo se aperfeiçoar não tem tempo e nem dinheiro para se qualificar, uma vez que os baixos salários pagos aos professores faz com que tenham que trabalhar até 60 horas para suprirem suas necessidades financeiras. Outros por sua vez, são concursados e acomodam-se, pois não correm “risco” de perder o emprego. Quando falamos de escola inclusiva, não deveríamos pensar em inclusão somente dos alunos, pois o professor também faz parte desse cenário e muitas vezes sente-se muito desconfortável com situações que se apresentam em sala de aula com as quais não foi preparado para lidar.
[...] certos alunos sofrem de “deficiências socioculturais”, de carências, que são relacionadas as suas condições de vida familiares e sociais. São vítimas do baixo nível cultural de seus pais, das más condições de trabalho em casa, da violência do bairro, das drogas, da televisão, enfim, de tudo o que contraria os esforços dos professores. (CHARLOT, 2005, p. 81).
Todas as situações pelas quais nós passamos desde a nossa vida intrauterina são processadas em nosso cérebro através de conexões bioquímicas, as chamadas sinapses que gerarão reações ás vezes imediatas e ás vezes futuras. Essas reações por sua vez terão grande influência na forma como esse sujeito aprende.
Os avanços e as descobertas das neurociências na área dos processos de ensino aprendizagem é uma revolução para o meio educacional, ela vem nos desvendar o que antes era obscuro sobre o momento da aprendizagem. O cérebro, esse órgão fantástico e misterioso é a matriz de todo esse processo. Suas regiões, lobos, sulcos tem cada qual sua função. Mas qual o papel e função de cada região cerebral? Aonde o aprender tem realmente a sua sede e necessita ser estimulada adequadamente? Conhecer um pouco mais sobre as funções cerebrais poderá nos permitir estimular as regiões certas tornando o aprendizado mais eficaz. Entender o papel do hipocampo na consolidação de nossas memórias, a importância do sistema límbico, responsável pelas nossas emoções, desvendar os mistérios que envolvem as regiões do cérebro responsáveis pela cognição, linguagem e escrita, poder entender os mecanismos que envolvem a atenção e o comportamento de nossas crianças com TDAH para não estigmatizá-los como “malandros”, conhecer as funções executivas e o sistema de comando inibitório do lobo pré-frontal é hoje fundamental na educação, assim como compreender as vias e rotas que norteiam a leitura e escrita.
Podemos compreender, desta forma que o uso de estratégias adequadas em um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará consequentemente, alterações na quantidade e qualidade destas conexões sinápticas, afetando assim o funcionamento cerebral, de forma positiva e permanente, com resultados extremamente satisfatórios. Mesmo que existam falhas em algumas dessas funções cerebrais, sabemos que a plasticidade neural nos permite estimular outras áreas vizinhas no cérebro que poderão exercer satisfatoriamente as funções das áreas afetadas.
No entanto, para que todas essas descobertas surtam efeito nas escolas e na vida de professores e alunos, é necessário que os cursos de graduação que formam esses professores também acompanhem esses avanços, instrumentalizando esses professores da melhor forma possível. Não é preciso esperar que um professor se forme na graduação e que depois vá procurar um curso de especialização – o que muitas vezes não acontece – para que ele tenha acesso a esse tipo de conhecimento.
O desenvolvimento dos professores é uma precondição para o desenvolvimento da escola e, em geral, a experiência demonstra que os docentes são maus executores das ideias dos outros. Entretanto, ainda não inventaram uma máquina que possa substituir os professores, eles podem sim, serem auxiliados por elas, mas felizmente, nenhum tipo de educação poderá se perpetuar ou perdurar sem a mediação de um professor. Nada nesse mundo substitui as relações humanas. Todo ser humano só se faz humano por conta dessas relações. Perrenoud, Ferreira (2006, p. 3-4) afirma que:
A construção de escolas de qualidade e inclusivas para todos deve, dessa forma, necessariamente envolver o desenvolvimento de políticas escolares de desenvolvimento profissional docente com vistas a prepará-los pedagogicamente para trabalhar com a pluralidade sócio-cognitiva e experiencial dos estudantes por meio de enriquecer [sic] conteúdos curriculares que promovam a igualdade, a convivência pacífica, a aprendizagem mútua, a tolerância e a justiça social.
É preciso abandonar a crença de que as atitudes dos professores só se modificam na medida em que os docentes percebem resultados positivos na aprendizagem dos alunos. Para uma mudança efetiva de crença e de atitude, caberia considerar os professores como sujeitos do processo educativo.. Sujeitos que, em atividade profissional, são levados a se envolver em situações formais de aprendizagem.
Mudanças profundas só acontecerão quando a formação dos professores deixar de ser um processo de atualização, feita de cima para baixo, e se converter em um verdadeiro processo de aprendizagem, como um ganho individual e coletivo.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ser professor não é uma missão ou um sacerdócio como muitos insistem em afirmar, mas é antes de tudo uma profissão que merece um estudo sério, uma formação de qualidade, visto que ela é a base da construção de um país e de verdadeiros profissionais cujo sucesso teve como premissa o desempenho de um docente. As competências que o professor deve adquirir para trabalhar com os problemas que a aprendizagem se depara cotidianamente, serão construídas somente através da qualificação profissional, e segundo (Oliveira, 2003) a noção de competências está intimamente ligada à capacidade dos indivíduos de se adequarem a novas situações e de resolverem problemas que possam enfrentar na sua prática. A construção dos conhecimentos necessários para a aquisição das competências almejadas para os estudantes passa inevitavelmente pela boa formação dos professores. O professor, mais que uma fonte absoluta de saber e ciência, é um incentivador da aprendizagem, na sala de aula e além dela. Além de dominar os conteúdos que pretende ensinar, o docente precisa ter um amplo conhecimento de todo o processo de ensino aprendizagem, tanto no âmbito pedagógico como no âmbito neuronal.
Para melhorar a formação dos professores é necessário termos uma visão mais interativa, ou seja, não se deve ter uma visão apenas teórica ou uma visão exclusivamente prática. A formação de professores não deve ter como escopo principal a adaptação ao que já existe, mas deve transcender os limites da teoria e da prática, sendo um acréscimo de conhecimentos e habilidades. Mas há que assumir uma nova postura em relação aos projetos de formação. Uma relação constante entre a teoria e a prática, entre o terreno escolar e o terreno universitário. As instituições de ensino superior devem trabalhar os dispositivos pedagógicos didáticos, mas é no terreno escolar/educativo que eles se põem em prática, isto é, observando, praticando, trabalhando, e refletindo sobre a epistemologia da prática. É neste vai e vem de teoria e prática que a formação dos professores deve ser construída. E mais ainda: a formação centrada nesta articulação entre teoria e prática, deve trabalhar valores, atitudes e comportamentos direcionados para a reformulação de uma nova ordem mundial, transformadora e emancipadora, consubstanciada em novas perspectivas críticas de educação para a cidadania.
É evidente que as necessidades de formação são múltiplas e os constrangimentos sociais e institucionais não têm fim. Mas é importante ter consciência de que um bom projeto de formação exige combinar diferentes habilidades, técnicas, práticas, mas principalmente deve ter um amplo acesso às novas descobertas das neurociências no que concerne ao processo de aprendizagem.
Não se deve admitir portanto, que os cursos de graduação que são responsáveis pela formação de docentes estejam alheios a todas as descobertas e contribuições das neurociências. Apresentar o conhecimento num formato que o cérebro aprenda melhor passa a ser, além da preocupação com o ensinar e o avaliar o processo de ensino-aprendizagem, uma necessidade da educação atual. Do ponto de vista da neurociência, uma aprendizagem somente ocorre porque o cérebro tem a plasticidade necessária para se modificar e se reorganizar frente a estímulos e se adaptar. A educação amplia sua base científica com as pesquisas que demonstram que o cérebro humano nunca finaliza seu desenvolvimento, mas uma constante reestruturação o reorganiza a partir de estímulos eficientes.
Não podemos mais aceitar que o professor , diante de um mundo globalizado, esteja em sala de aula contando apenas com o empirismo e com a sorte. Devemos analisar que o acesso à educação não é mais privilégio de poucos como antigamente, onde aquela criança que apresentava algum déficit cognitivo era jogada de escanteio e logo saia da escola e ia “fazer outras coisas” que não exigisse dela tanto conhecimento. Hoje a educação de qualidade é um direito de todos independente de classe social, credo ou etnia.
Recebemos em nossas escolas alunos com todos os graus de dificuldades e devemos estar preparados para reconhecer essas dificuldades e encontrar o melhor caminho para se desenvolver as potencialidades de cada um. Não se quer dizer com isso que a partir daí todos os alunos irão aprender homogeneamente, até porque somos todos diferentes, mas que um professor que saiba como estimular melhor o cérebro desse aluno certamente dará a ele a possibilidade de reconhecer suas próprias habilidades e de sentir prazer em desenvolvê-las, seja na matemática, no esporte, na música, nas relações interpessoais, dentre tantas outras. E até mesmo para tranquilizar o próprio professor que vem de uma cultura de que “aluno bom é aquele que aprende bem o Português e\ou a Matemática”, pois com as descobertas das neurociências, sabe-se agora que um cérebro corretamente estimulado é capaz de fazer maravilhas, mas para que essas maravilhas aconteçam é mister que esses conhecimentos estejam ao alcance dos professores já nos cursos de graduação, uma vez que muitos começam a lecionar mesmo antes de terminarem a licenciatura por conta da grande falta de profissionais que queiram assumir uma sala de aula, não somente por conta dos baixos salários que não deixa de ser uma realidade, mas também por conta da desvalorização do trabalho desses profissionais pela sociedade como um todo. Devemos ter o professor como a mola mestra do desenvolvimento de toda sociedade, mas para que essa valorização se efetive se faz necessário compreendê-lo como um profissional, que deve construir uma trajetória crescente de desenvolvimento de sua profissão, aproveitando seus saberes e estimulando-o a adquirir outros, por meio da reflexão sobre sua prática.
Enfim, para universalizar o direito à educação pública de qualidade, o Brasil precisa fazer o básico: tratar o professor como um profissional, respeitando-o como um profissional e, a partir daí, exigindo dele o que se exige de um profissional: boa qualificação.
E por fim podemos afirmar que ninguém pode ensinar aquilo que não aprendeu, tampouco pode lidar com maestria com aquilo que não conhece. Por todo o exposto urge que as universidades insiram em seus currículos disciplinas relacionadas às neurociências e que haja por parte dos poderes públicos maior investimento na formação dos profissionais da educação, pois se assim não for, estaremos fadados a amargar péssimos resultados nas pesquisas educacionais. Não se pode creditar somente à educação a melhoria dos problemas sociais do nosso país, mas ela é com certeza, uma das peças que pode impulsionar essa melhoria. No entanto, é preciso primeiro melhorar a formação dos docentes, visto que o desenvolvimento dos professores implica no desenvolvimento dos alunos e da escola.
5- REFERÊNCIAS

CAMPOS, L. M. L. A rotulação de alunos como portadores de distúrbios ou dificuldades de aprendizagem: uma questão a ser refletida. In: Idéias. São Paulo, n.28, p. 125-140, 1997.
CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: Questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.
GATTI, B.A. Formação de professores no Brasil: características e problemas. 2010.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/16.pdf>. Acesso em 31 maio.2014.

GRACIANO, Sueli Cristina. Condições de (não) aprendizagem na escola: uma discussão à luz da perspectiva histórico-cultural. 2007. 172f. Dissertação defendida na Universidade São Francisco, Itatiba, em 22 de junho de 2007.

OLIVEIRA, Dalila Andrade. Reformas educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. BH: Autêntica, 2003.

PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. Pais e Educadores: quem tem tempo de educar? Porto Alegre: Mediação, 2007.

ANEXOS

Tempo de serviço/anos 01 02 03 04 06 08 09 10 11 12 13 15 20 24 28 30 39
Professores 01 02 01 01 01 02 02 02 01 01 02 02 02 02 02 01 01
Quadro de resultados dos questionários - (ANEXO 01)

Graduação Magistério Médio Sup.completo Sup. Incompleto Pós. Grad. Mestrado Outros
Professores 00 27 03 18 01 00

Quantidade de alunos + de 15 + de 25 + de30 + 40
Professores 17 10 03 00

Alunos que não atingiram os objetivos 01 02 03 05 06 07 08 12 20 00 Não Resp.
Professores 01 03 03 02 01 03 01 01 01 03 02

Escola entrevista família no início do ano letivo SIM NÃO ÀS VEZES SÓ ALGUMAS
Professores 12 12 02 04

Sabe diferenciar dificuldade de distúrbio de aprendizagem SIM NÃO
Professores 16 14

Reconhece uma síndrome SIM NÃO RARAMENTE
Professores 14 14 02

Escola oferece suporte multidisciplinar SIM NÃO NÃO RESP. Faz encaminhamento
Professores 12 16 01 01

Providências tomadas com relação aos alunos com dificuldades Falar com família Encaminhar Outros
Professores 14 11 05

Na graduação teve disciplina que abordasse como se processa o conhecimento no cérebro humano SIM NÃO
Professores 27 03

Escola que atua Particular Estadual Municipal
Professores 04 15 11