De escolhas, a profissão - Ser professor.

Richard Batista Silveira

Somos interpelados diariamente a fazer escolhas, e a mais importante delas é escolher ser você mesmo. É difícil porém, é recompensador, até porque os outros já fizeram a escolha de ser “os outros”, fazer a escolha de saber escolher, do que vestir, para onde ir, no que acreditar, a que conjunto de ideologias perseguir, tudo faz parte do processo de formar o eu, aqueles outros seguem suas dinâmicas próprias fazendo com que se você imitá-lo não será mais você, e sim uma repetição fajuta de um outro indivíduo que passou pelo processo de escolhas próprias, Heraclito nos ensina que ninguém entra num rio duas vezes, pois o rio não é o mesmo e nem a pessoa é a mesma; isso se tratando de um único indivíduo, uma pessoa “imitando” outra, nem entra no mérito da questão, parece-me um vácuo filosófico.

Fazer escolhas não é fácil, porém é o que nos diferencia das demais pessoas. Em meio a um mar de possibilidades alguns de nós escolhe ser mãe, pai, padre, solteiro, casar-se e não ter filhos, inclinar-se a não contrair matrimônio, seguir determinada carreira... Desistir de determinada carreira, tudo faz parte desse processo de escolhas que implica em dores e alegrias intimas. Somente você tem a capacidade de sofrer ou alegrar-se com suas escolhas, que, obviamente todos os caminhos nos levarão a alegrias e sofrimentos, como exemplo podemos citar uma pessoa que decide não contrair matrimônio, esse indivíduo vai sentir as dores e os prazeres de viver sozinho, porém, nunca vai sentir as dores e os prazeres da vida de uma pessoa que decidiu em algum momento de sua vida, contrair matrimônio – esse raciocínio também serve na inversão dos papeis.

Particularmente, estudei diversos campos antes de escolher a docência, encontrei no campo da educação a minha verdadeira vocação, mesmo em meio as diversas críticas que buscam diminuir a importância e a necessidade fundamental do professor em nossa sociedade cada vez mais corrompida pelo mal das más práticas educacionais. Discursos sobre meu potencial (alguns afirmam que venho desperdiçando esse potencial) são inúmeros, alguns buscando legitimar que a função de professor está reservada a pessoas que têm um potencial mais limitado. Se em seu imaginário ronda essa teoria, desmistifique-se pois é uma lenda, para se tornar professor além de uma escolha é preciso ter vocação, assim como para muitas outras profissões. É necessário abdicar de determinados momentos para se dedicar a sua profissão.

Obviamente que há na docência, professores bons, medianos e medíocres, e ainda aqueles que romperam com sua vocação e não possuem mais elã vital para buscar outros ideais, são aqueles que começam a trair sua profissão como um marido que já não sente mais atração por sua esposa começa a traí-la em busca de aventura e brilho para sua vida, essa traição acontece muito frequentemente e em todas as profissões. A dedicação, os anos de estudo, pois não basta ter uma graduação apenas para ser um profissional de vanguarda, é preciso seguir no campo acadêmico e da pesquisa, segue-se os estudos rumo as pós-graduações, especializações, mestrados e doutorados, tudo isso em busca de aperfeiçoamento para melhor executar suas funções. Essa dinâmica que cito, é na realidade brasileira, onde, mesmo passando por todas as etapas ainda não existe por parte da sociedade e dos governantes, respeito à altura de sua importância.

Diante dessa falta de respeito, nota-se a existência de mais uma teoria para desmerecer a profissão de professor, os incentivos são cada vez menores, ainda mais comparados as demais profissões com semelhante formação acadêmica. Os salários obviamente são baixos, a infraestruturas das escolas brasileiras são cada vez piores, e para driblar a questão dos valores o professor tem que fazer mais uma escolha: Trabalhar em várias instituições, dedicar-se cada vez mais a sua profissão e se ver cada vez menos valorizado, é ouvir de alunos malcriados (e mal educados) que você é empregado dele pelo fato de a mensalidade paga pelo seu pai, pagar o salário do professor, ou que “minha  mesada é mais alta que seu salário!”, ser pressionado por pais, coordenadores e diretores porque o aluno está com notas baixas, e ainda aparecer em sala de aula com o conteúdo decorado, perfumado e com um belo sorriso no rosto.

Por outro lado, há ainda a amizade construída entre o grupo de professores das instituições que no processo de ajuda mútua acabam se tornando amigos, é nos rostos de satisfação dos alunos que conseguem compreender determinado tema que reencontramos com nossa vocação de levar a luz do conhecimento as trevas da ignorância. São nos pequenos momentos de alegria, que muitas vezes se sobrepõe a todas as más condições de trabalho que o profissional encontra forças para lutar por um país melhor, que um dia passe a respeitar seus profissionais da forma que ele merece, esse  ponto não toco somente na questão do professor, mas de todos os profissionais, médicos, contadores, veterinários, administradores, vendedores, garis, advogados, empresários... todos esses sofrem o descaso de todo o processo sociocultural, porém, enquanto existir uma luz de esperança de que nossas crianças e jovens possam mudar nosso país para melhor, nos resta também a obrigatoriedade de lutar por justiça social, educação e infraestrutura para a construção da mentalidade da juventude que será nosso futuro.

E se alguém perguntar se me arrependo de ser professor, respondo com todo orgulho que não; não tenho nenhum arrependimento senão o de não ter decidido, ou melhor: escolhido ser professor desde a mais tenra idade.