Justino Amorim da Silva, Bacharel em Ciências Sociais

ULBRA – Universidade Luterana do Brasil.

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CONTRA OS DEFRAUDADORES E EXPLORADORES.  

Textos Bíblicos: Amós 8, 4-7 – I Timóteo. 2, 1-7 – Lucas 16, 1-13.

Este escrito parte de uma leitura dos textos bíblicos acima para uma reflexão baseada em nossas experiências de vida e em nossas vivências evangélicas, também em outras citações bíblicas e teológicas. Não há nenhuma pretensão de expressarmos aqui um moralismo ético, mais apenas manifestar um pensamento no sentido da compreensão da palavra de Deus de acordo com a nossa realidade, social, cultural, ambiental, política e econômica.  

 

Ouvi isto, vós donos do dinheiro que usam de sua ganância exacerbada para humilhar, escravizar e massacrar o indigente, o pobre, o miserável, o analfabeto e o faminto. Vós tereis que prestar contas com o nosso Pai (Deus).

Vós que destruíste a criação sagrada de Deus terá que se curvar diante do pai para pedir perdão por suas más ações. Tu terás que reconstruir o teu coração que está enfermo pela traça da corrupção.

Vós que se preocupeis somente em acumular riqueza em detrimento da vida de teus semelhantes está matando a ti mesmo. Contenta-te com o suficiente para viver e terás paz na vida e comunhão com Deus.

“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde está à traça e a ferrugem corrói e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, está o teu coração. (Mt. 6. 19-21).

De acordo com (Dietrich Bonhoffer – Discipulado, p. 103). São os bens do mundo que querem desviar de Jesus o coração do discípulo. Para onde está orientado o coração do discípulo? Para onde está o nosso coração neste mundo capitalista? Estará nosso coração voltado para o consumo, o preconceito, o domínio da criação de maneira que estamos colocando em risco o meio ambiente e nossa própria vida? Jesus não lhes proíbe o uso das riquezas. Ele foi homem, ser humano, comia, bebia como os discípulos. O abuso das riquezas consiste na tentativa de procurarmos, através delas garantir o amanhã. As riquezas, porém, são destinadas rigorosamente ao presente. Justamente a tentativa de garantir o amanhã torna tão desassossegado o hoje. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro. Escolheis, pois a vida e partilha tua riqueza com teus irmãos. Fortifica-te na graça que está em cristo Jesus, fortifica-te no amor ao teu Irmão.

Fazes o uso da terra com sabedoria, administra a com o cuidado para não causá-la dano, tira dela o teu alimento e preste culto ao teu Deus por esta graça, cante e louve ao Divino Criador por isto.  

Usar a terra como mercadoria servindo aos interesses de uma meia dúzia de gigantes do capitalismo os quais não passam de lobos ferozes que se alimentam da miséria de um povo os mantendo como escravo de um modelo de desenvolvimento econômico, progressista, capitalista maldito e mortífero é blasfemar contra Deus.

A corrupção é um câncer maligno que escraviza, aliena, empobrece a alma, o espírito, mata Deus, gera fome, violência, analfabetismo, mata a mãe natureza, em fim destrói o ser humano.

A pergunta é: quem são os corruptos de hoje, onde estão? Nas instituições Religiosas, Estatais ou particulares? Qual de nós se insere em um processo corruptível, quais nossas atitudes diante deste fato? O que podemos fazer como cristãos para banir com esta praga? Há possibilidade de nos inserirmos em um diálogo com um político corrupto ou um latifundiário, fazendeiro, grileiro para que eles se convertam para dar testemunho do amor incondicional de Deus? Jesus dialogou.

“Não julgueis para não seres julgado, pois, com o julgamento com que julgas sereis julgados, e com à medida que medis sereis medidos. Por que reparas o cisco que está no olho de teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu”. (Mt. 7. 1-5).

 

Esta Sociedade é uma sociedade cruel e enferma. O é pelo sofrimento que produz nos oprimidos e o é pela insensibilidade para com o sofrimento que gera, embora com importantes exceções, no mundo de abundância. L. Boff diz: “Quando as gerações futuras julgarem o nosso tempo nos acusarão de bárbaros, inumanos e impiedosos por nossa enorme insensibilidade diante dos sofrimentos de nossos próprios Irmãos e Irmãs”. “Se houvesse um pouco de humanidade e compaixão entre os humanos, bastaria retirar apenas cerca de 4% das 225 maiores fortunas do mundo para dar comida, água, saúde, educação a toda a humanidade”. É uma obscenidade metafísica. Há mais riqueza na terra, mas há mais injustiça. A África foi chamada de “o calabouço do mundo”, uma Shoá continental. 2 bilhões e 500 milhões de pessoas sobrevivem na terra com menos de dois euros por dia e 25 mil pessoas morrem diariamente de fome, segundo a FAO. A desertificação ameaça a vida de um bilhão e 200 milhões de pessoas numa centena de países. (Jon Sobrino – 2008. Fora dos Pobres não há Salvação, p. 70, 72).

 

Martin Lutero em seu tempo, Século XVI já combatia a corrupção, não só na instituição religiosa mais em toda a sociedade. Hoje mais do que nunca somos convidados também a combater este mal que assola a humanidade e que a destrói. Jesus Cristo também em sua época foi veementemente imbatível a esta anomalia social a qual leva inexoravelmente a outras patologias sociais.

 

Chamamos a atenção para um pensamento de Lutero no que se refere ao nosso compromisso como discípulos, missionários, religiosos, cristãos e cidadãos na construção do Reino de Deus.

“Da mesma forma como aqueles que agora são chamados clérigos ou sacerdotes, bispos ou papas, não são mais dignos ou distintos do que outros cristãos, se não pelo fato de deverem cuidar da palavra de Deus e dos sacramentos – esta é sua a ocupação e seu ofício –, também a autoridade secular tem a espada e o açoite na mão, para com eles corrigir os maus e proteger os retos. Um sapateiro, um ferreiro, lavrador, cada um tem o ofício e a ocupação próprios de seu trabalho. Mesmo assim todos são ordenados sacerdotes e bispos de igual modo, e cada qual deve ser útil e prestativo aos outros com seu ofício ou ocupação, de forma que múltiplas ocupações estão todas voltadas para uma comunidade, para promover corpo e alma, da mesma forma com que os membros do corpo servem todos uns aos outros”. 5. (Matin Lutero).

 

Considerações finais: Cabe a nós como cristãos imbuídos em uma espiritualidade luterana a qual é justificada pela fé, mais que também somos chamados em nome desta fé a protagonizar através do desenvolvimento ambiental, social, cultural, espiritual, econômico, político e humano. A nós não só como cristãos mais também como cidadãos (as) pertencentes à grande comunidade qual seja ela a Cidade, o Estado ou País devemos desempenhar as funções que nos cabe no desenrolar do bem comum para que todos tenham vida em abundância. Que assim seja com a graça do Divino Pai. Amém.