CONHECENDO A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL Aparecida Roseli Pereira da Silva Celia Paula Luperini Elizete da Silva Paulo RESUMO Este trabalho tem como proposta apresentar a história da trajetória da psicopedagogia no Brasil, para tanto faremos uma breve contextualização do processo que desencadeou o surgimento dessa ciência em diferentes momentos históricos. CONHECENDO A HISTORIA DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL Assim como na Europa e na Argentina, o problema de aprendizagem foi entendido, por muito tempo, como sendo originado por fatores orgânicos, essa visão foi mantida por muitos anos e foi determinante na forma de tratamento do fracasso escolar ate bem pouco tempo. As dificuldades ou problemas de aprendizagem pode sem facilmente constatada também como distúrbios, cuja causa é também atribuída a uma disfunção do sistema nervoso central. A partir da concepção orgânica acerca dos problemas de aprendizagem, Bossa observa que: “na década de 1970, foi amplamente difundida, aqui no Brasil, a idéia de que os problemas de aprendizagem teriam como causa uma disfunção neurológica, não detectável em exame clinico, a chamada disfunção cerebral mínima (DCM). Alem do rotulo DCM, termos como dislexia, disritmia e outros, também foram utilizados pela psicologia individual para camuflar os problemas sociopedagógicos, como, por exemplo, situações de desigualdades, de oportunidades educacionais da época.”(BOSSA, 2007. p.51) Essa perspectiva teve origem na Europa, no século XIX, época em que os problemas de aprendizagem eram estudados e tratados por médicos. Porem, essa atitude foi rapidamente incorporada na educação brasileira, por tratar os fenômenos de repetência e evasão de forma simples e ingênua. Ainda nos dias atuais, a primeira atitude dos educadores e dos familiares de crianças com problemas de aprendizagem é recorrer ao médico, que ainda continua tendo uma grande importância nas decisões das famílias. É a partir do final da década de 1970 é inicio dos anos 1980 que, começa a se configurar uma nova teoria sobre o atendimento do fracasso escolar. O enfoque passou então a ser a visão sociopolítica, na qual o problema de aprendizagem passa a ser entendido enquanto problema de ensinagem. Mas ainda no final da década de 1970, educadores continuavam a delegar causas extra-escolares ao fracasso escolar, porem Bossa destaca que: “faz-se necessário desmistificar a idéia de que o fracasso escolar é causado por fatos externos e passar a entender a articulação entre estes e as dificuldades existentes no próprio âmbito escolar que determinam o fracasso escolar”(Bossa, 2007, p.52) Essa postura de relacionar causas extraclasses ao fracasso escolar conduz à relativização e, até mesmo, à inversão de muitas formas de compreender esse fracasso escolar como problemas de aprendizagem e que deveria , nesta perspectiva, se configurar principalmente com problemas de ensinagem, que não são produzidos unicamente dentro da sala de aula. Collares afirma que: “o processo social de produção do fracasso escolar se realiza no cotidiano da escola [...] é nas tramas do fazer e do viver o pedagógico quotidianamente nas escolas, que se pode perceber as reais razões do fracasso escolar das crianças advindas de meios socioculturais mais pobres.”( Collares, 1989, p.25) No final da década de 1970, surgiram no âmbito institucional, os primeiros cursos com enfoque psicopedagógicos, antecedendo a criação dos cursos de formais de especialização e aperfeiçoamento. Segundo Bossa: “Esses cursos tratavam de temas como “a criança-problema em classe comum”,” dificuldades escolares”, “pedagogia terapêutica”, “problemas de aprendizagem escolar”. Eram oferecidos a psicólogos e profissionais de área afins, em busca de subsídios para atuar junto às crianças que não respondiam às solicitações das escolas.” (Bossa, 2007, p.123) Ainda não podemos deixar de citar a grande contribuição da professora Genny Golubi de Moraes, coordenadora dos cursos de Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e responsável pela formação de um grande numero de profissionais, que priorizou o trabalho preventivo, demonstrando a preocupação de que cada vez menos crianças chegassem à clinicas por problemas escolares. Em 1979, por iniciativa da pedagoga e psicodramaticista Maria Alice Assimon e Madre Sodré Dória, que foi criado o primeiro curso regular de psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae, na cidade de São Paulo. Segundo Fagali e Ferretti, a reeducação era vista como: “um processo de reintegração, em que estavam presentes os fatores afetivos, os de raciocínio e os conceitos, de maneira geral. A compreensão do raciocínio, apoiava-se na epistemologia genética da Piaget, e os aspectos afetivos fundamentavam-se na relação vincular, no aqui-e-agora, segundo abordagem gestáltico-fenomenológica [...].”(FAGALI; FERRETTI, 1992, p.2) Observa-se que o curso assume um caráter terapêutico, no qual os aspectos afetivos da aprendizagem ganham destaque no âmbito clínico, essas mudanças continuam e abrem espaços para se refletir e se praticar no espaço escolar, valorizando as diferenciações do papel do psicopedagogo, buscando uma analise mais rigorosa da identidade desse profissional. Cabe a instituição refletir na forma de conceber a problemática do fracasso escolar e ir em busca do profissional indicado pela sua identidade que já é um educador e ao longo do tempo ampliou seu compromisso, assumindo a responsabilidade em relação a diminuição dos problemas de aprendizagem nas escolas e, consequentemente , a redução dos altos índices de fracasso escolar. BIBLIOGRAFIA BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. COLLARES, C. A. L. Ajudando a desmistificar o fracasso escolar. In: Fundação para o desenvolvimento da educação. Ed. Toda criança é capaz de aprender? São Paulo: FDE, 1989. FAGALI, E. Q; FERRETTI, V. M. R. A construção do curso de formação em psicopedagogia clinica e institucional. Construção Psicopedagógica, São Paulo, 1992.