COMPARTILHANDO RESULTADOS COM A COMUNIDADE PERCEBIDA: A interdisciplinaridade na universidade na cidade de Macapá/AP.
Alexandro Brazão Ferreira ¹
Cristiane Raniere Trindade de Souza ¹
Reginaldo da Silva Macedo ¹
RESUMO
Este artigo tem como objetivo trazer reflexões sobre a interdisciplinaridade na universidade e a comunidade percebida, verificando os conceitos norteadores deste tema, e principalmente traçando paralelos permitindo novas perspectivas a prática interdisciplinar no contexto do ensino superior, para isso, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, para saber qual a postura docente e acadêmica adotada diante desta vertente. Observou-se ainda, as dificuldades e a importância da práxis nos cursos de graduação. Dessa forma, despertando novos olhares a gestores e docentes universitários, traçando um perfil diferenciado, através da integração entre docentes, acadêmicos de distintas áreas do conhecimento e a sociedade no estado do Amapá.
Palavras chaves: Ensino Universitário. Interdisciplinaridade. Comunidade.
INTRODUÇÃO
Através de vivências e conversas com docentes dos cursos universitários e acadêmicos do Estado do Amapá, observou-se a necessidade de abordar novas concepções, por meio de projetos que envolvam a interdisciplinaridade na universidade; Pretende-se instigar professores de graduação, a possuírem novos olhares do fazer Didático/pedagógico, ofertando uma articulação entre a universidade (acadêmicos, professores, corpo técnico) e a sociedade Amapaense.
Notou-se a necessidade em instigar reflexões sobre ações verificando a aplicabilidade de intervenções do ensino superior, compartilhando os resultados pesquisados dentro da comunidade Amapaense.
1 Artigo apresentado como requisito avaliativo para obtenção de nota do Curso de Pós Graduação de Gestão e Docência do Ensino Superior na Faculdade Atual – Amapá/AP orientado pela professora Msc Elke Daniela Rocha Nunes.
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Observou-se a possibilidade da utilização do projeto interdisciplinar no âmbito universitário em prol da potencial contribuição para o processo didático/pedagógico e social/humano, potencializando condições ilimitadas de trocas, contribuindo para a formação de uma sociedade justa e a excelência da práxis docente acadêmica. A partir dessas afirmações surgem os seguintes questionamentos: Existe esse experimento na universidade? Que benefícios a prática interdisciplinar pode proporcionar para o desenvolvimento da comunidade? Que perspectiva e qual o olhar para as aulas do Ensino superior, através dessa forma de compartilhar?
Considerando que o ensino universitário deve dispor das suas pesquisas e dar retorno a sociedade, ministrando atividades no contexto universitário que dialogue com os anseios sociais. Neste estudo, parte-se do pressuposto de que nas instituições de ensino superior adota-se um projeto interdisciplinar, e que contribui como ferramenta para a construção de novos olhares didático-pedagógicos e metodológicos. Observando-se se há esse diálogo entre a Universidade e a sociedade estudada, para a formação de graduados conscientes, críticos e criativos.
Deste modo objetiva-se investigar a articulação entre os docentes em um projeto Interdisciplinar, mediando o ensino e a aprendizagem, de discentes do ensino superior, e especificamente, conhecer algumas fundamentações que norteiam e contextualizam os aspectos teóricos que orientam tais metodologias e se verificar a aplicabilidade, incentivando educadores de ambas às áreas.
Por tratar-se, sem dúvida, de um tema de evidente relevância social, técnica, científica e educacional, espera-se, portanto, contribuir com acadêmicos e profissionais do Ensino Universitário, instigando a reflexão sobre o reconhecimento do fazer interdisciplinar, aderindo novas concepções para práxis nas instituições de ensino superior na cidade de Macapá. Este estudo fundamentou-se em uma pesquisa bibliográfica, onde se verificou a prática interdisciplinar na universidade, apropriando o objeto de estudo (comunidade) como meio de acesso a conhecimento e formação. Primeiramente se fez uma seleção bibliográfica visualizando os aspectos teóricos que norteiam as aulas e ações de pesquisas universitárias, a Interdisciplinaridade e a sociedade. Esta revisão foi feita mediante uma leitura sistemática, acompanhada da elaboração de fichamentos das obras, procurando ressaltar as ideias centrais defendidas por cada autor que fundamentam tais vertentes, como (Hilton Ferreira Japiassú (1976);
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Ivani Fazenda (1994); Suraya Darido (2008). Esta pesquisa bibliográfica foi realizada na biblioteca da Faculdade Atual - Amapá, em várias publicações de periódicos e artigos da internet.
O ENSINO UNIVERSITÁRIO
O ensino universitário atualmente deve preparar o acadêmico para conhecer de forma ampla e profunda, movimentos e ações, naturais do cotidiano ou não, promovendo sistematização e reflexão sobre os mesmos. É importante destacar que o currículo, não só da universidade, mas de todos os níveis de ensino, devem possuir, não somente de uma seqüência de temas bem elaborados a serem abordados por cada disciplina, mas a composição holística globalizada da instituição, ou seja, uma visão de ser humano, de aluno, de professor, de comunidade, de cidadania, de cultura, de pesquisa (no caso da universidade), e outras mais que forem necessárias, para isto (SACRISTÁN, 2000, p. 204) cita que:
O currículo também não pode ser reducionista, ou seja, "fechado", apenas apresentando técnicas que não possibilitam a reflexão por parte do professor, pois "o ensino é uma prática que exige tomar decisões e realizar julgamentos práticos em situações concretas reais, e não uma técnica derivada de teorias". O processo de ensino e aprendizagem no ensino superior relaciona-se com a atividade de pesquisa tanto do aluno quanto do professor. Esse processo universitária associa-se ao aprender a pensar e ao aprender a aprender. O ensino universitário precisa ajudar o aluno a desenvolver potencialidade de pensamento e identificar procedimentos propicios a esse resultado. Antes a educação no Brasil protagonizava um quadro totalmente antagonico ao vivido na atualidade, pois, de acordo com Pimenta e Anastasiou (2008, p. 147):
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O histórico da universidade brasileira iniciou-se com os Jesuítas, que se utilizavam das mesmas metodologias para tratar crianças e adultos. O papel principal do professor era o de detentor do saber e o do aluno, o de "desconhecedor". Ao mestre cabia transmitir todo seu conhecimento e ao aluno cabia absorver esse conhecimento como único e inquestionável. O resultado dessa estrutura rígida é um aluno "passivo e obediente, que memoriza o conteúdo para a avaliação"
Detectava-se o sistema educacional nacional além de ter sofrido intervenção Jesuíta, os sistemas franceses e alemães exerceram forte influência no país de uma forma geral, resultando em influencias em todo contexto educacional brasileiro incluindo o universitário de forma tecnicista. Hoje esta em um processo evolutivo onde se observa que a existência do educador democrático com postura totalmente diferente, Freire (2011, p. 28) argumenta que:
O educador democrático não pode nega-se o dever de, na sua pratica docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. [...] ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível.
Os conteúdos devem ser vistos como meios para construção de competências e não como fins em si mesmos, o conhecimento deve ser experimentado pelo universitário e não apenas transmitido a ele. Quanto à práxis na Educação superior Vasconcellosnos (1995) explica que:
O espaço de reflexão critica, coletiva e constante sobre a pratica é essencial para um trabalho que se quer transformador. Dentro da visão critica [...] é necessário observar o processo de aprendizagem, diagnosticar deficiências e ajudar o aluno a aprender. Aprender a olhar além do simples universo da avaliação classificatória, excludente, mas avaliar numa visão formativa buscar na essência uma melhoria na qualidade do próprio ensino. [...] para ser um instrumento de verificação das fraquezas dos alunos e também dos professores e de sua práxis, para atingir ao que o ensino se propõe: a aprendizagem.
Tais abordagens permeiam diversas discussões que se apresentam como propostas apropriando-se de uma visão norteadora para possibilitar inovação na educação brasileira, no decorrer das décadas surgiram diversas vertentes pedagógicas. Darido (2008, p. 9-15) conceitua algumas vertentes da seguinte forma;
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a desenvolvimentista: que enfoca o acompanhamento das características do desenvolvimento humano; a construtivista-interacionista: que considera a construção do conhecimento e resolução de problemas através da interação com o meio que vive; a crítico-superadora: enfatiza que qualquer consideração sobre pedagogia deve versar sobre elaboração de conhecimento valorizando e contextualizando fatos; e a crítico-emancipatória: onde consiste em valorizar a compreensão crítica do mundo e sociedade sem se pretender mudar através da educação. Observa-se a urgência de mudanças na práxis, e que dentro de todas as abordagens existe algo positivo a ser considerado, pois, são como um quebra cabeça com peças em formas diferentes que compõe um todo ao encaixar no lugar correto. A educação superior deixa de ser excludente para ser humanizada e assume um lugar de destaque com postura holística vendo o discente como ser humano e não como uma máquina de reprodução perfeita apta para perceber os futuros licenciados em sua totalidade pessoal, família, trabalho, comunidade/sociedade, etc. Conforme Verderi (2009, p. 46):
Quando pensamos no aluno-corpo, pensamos em seres que [...] escrevem, choram, riem, e tantas outras formas de manifestação que um corpo pode ter. Esse aluno-corpo é movimento em tudo o que faz, é um significante expressando sentimento. Seu corpo é ativo no espaço que ocupa, comunica-se com os corpos ao seu redor e interage com eles. É um corpo em busca de novas possibilidades, novos caminhos que necessita estar, ser, sentir e ser sentido. Verderi (2009) refere-se a discentes do ensino fundamental no entanto, sua fala também cabe para o ensino universitário, sua observação resulta em uma nova forma de olhar a educação, uma forma humanizada que acompanha, aplica e evolui o processo educativo passando dos conteúdos ministrados na educação superior em suas disciplinas e o contexto comunitário/social, ou seja, vistos muito além dos conteúdos possibilitando aos acadêmicos análises e abordagens críticas da realidade de modo a ser construída uma rede de significados entre o que é aprendido na universidade e o que se vive. Neste processo o ensino-aprendizagem dos conteúdos deve-se alcançados nas três dimensões: conceitual (conhecer), procedimental (vivenciar) e atitudinal (valorizar) o professor deverá estar atento às correlações ou não com o desenvolvimento social e principalmente a interação entre estes “pilares” na formação do ser
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humano, o que sem dúvida, exigirá além de atenção especial, uma formação diferenciada do profissional de Educação superior de qualquer área do conhecimento. (DARIDO, 2008, p.64 - 68). Diante destas afirmações percebe-se que o ensino superior deve ser analisado com amplitude que ultrapassa o âmbito universitário. E confirma-se que não se deve ater-se a uma só proposta e sim a várias, e da ênfase de uma visão global da educação qualificada, devendo-se trabalhar em conjunto para o desenvolvimento da totalidade do aluno tornando-o apto para o convívio no meio que o cerca, ampliando potencialidades das suas possibilidades e ações criativas. Gadotti (2010, p.07) ao referir-se sobre a qualidade na educação enfatiza que:
Qualidade é a categoria central deste novo paradigma de educação sustentável [...] Mas ela não está separada da quantidade. Até agora, entre nós, só tivemos, de fato, uma educação de qualidade para poucos. Precisamos construir uma nova “qualidade”. (grifo do autor)
Portanto o perfil do docente acadêmico deve ser contemporâneo um visionário do saber, que quebra tabu e consegue selecionar seus conteúdos possuindo atitude autônoma sem deixar de socializar e interagir, detém desprendimento proporcionando, contribuindo e auxiliando para a popularização da qualidade da educação e compartilhando com a comunidade suas experiências.
A INTERDISCIPLINARIDADE
Na atualidade o mundo transformou-se profundamente em todas as esferas sociais são observáveis tais mudanças, solicitando competências e habilidades que vão além do simples operar de máquinas, requerendo um aprendizado continuo e abrangente que consiga acompanhar a velocidade das inovações e renovação de saberes, e esta postura, é tão importante quanto à formação de cada profissional. A interdisciplinaridade se apresenta como uma das possibilidades de oxigenação da educação e acesso ao conhecimento. Sua história no Brasil se iniciou na década de 60 exercendo influência na elaboração da Lei de
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Diretrizes e Bases Nº 5.692/71 e anos depois sua presença no cenário educacional brasileiro se intensificou com a nova LDB Nº 9.394/96 “[...] que apropriou uma nova estrutura didática, deu autonomia aos sistemas de ensino nas quatro esferas e veio com um olhar diferenciado a formação do cidadão” (DARIDO, 2008, p. 52).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, artigo 26º “[...] dão direcionamento a Educação brasileira” (DARIDO, 2008, p. 17). Esse desenvolvimento incessante educacional faz surgir inúmeras especialidades científicas, embora tenha uma variedade dos níveis de interação entre as disciplinas, dentre os quais se destaca a interdisciplinaridade. Quanto à história da interdisciplinaridade Fazenda, (1994, p. 82, apud CARLOS, 2007) destaca que:
Surgiu na Itália e na França, [...] em um período assinalado por movimentos estudantis que, além de outras coisas, reivindicavam um ensino mais sintonizado com as grandes questões da época; de ordem social, política e econômica. A resposta teria sido a interdisciplinaridade, a tal reivindicação. Na medida em que os grandes problemas da época não poderiam ser resolvidos por uma única disciplina ou área do saber.
Vale à pena ressaltar que, numa observação mais especifica, o próprio conceito de interdisciplinaridade apresenta os seus variantes, vejamos algumas concepções sobre os conceitos que a cercam. Conforme Japiassú (1976, p. 43 apud MACHADO, 2009):
A interdisciplinaridade se apresenta sob a forma de tríplice protesto: contra um saber fragmentado, contra o distanciamento entre a universidade compartimentada e a sociedade percebida como um todo e contra o conformismo das situações adquiridas.
Para ele a interdisciplinaridade é uma reação contra o saber disperso e individualista, contra a própria postura da universidade que não compartilha seus conhecimentos com a sociedade/comunidade (que é o seu principal objeto de estudo), e contra o profissional que prefere ficar na zona de conforto e não busca qualificação e a sociedade que não reivindica por seus direitos. Jantsch (1995, apud FAZENDA, 1996, p. 27, apud MACHADO, 2009) conceitua:
Interdisciplina: Interação existente entre duas ou mais disciplinas. Essa interação pode ir da simples comunicação de idéias à integração mútua dos conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes ao ensino e à pesquisa. (Grifo do autor)
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Para aprofundar verificam-se as concepções iniciais de interdisciplinaridade que também é contemplada por Darido (2008, p.81), onde a autora diz que a Interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais disciplinas que podem ir desde a simples comunicação de idéias até a integração recíproca dos conceitos fundamentais da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados da pesquisa. Na interdisciplinaridade há cooperação e diálogo entre as disciplinas, trata-se de uma ação coordenada podendo assumir as mais variadas formas em seu eixo de integração, onde norteia e orienta as ações dos projetos interdisciplinares. Os PCN’s (2002, p. 88-89) confirmam tais afirmações ao citar que:
A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários.
A interdisciplinaridade ganhou força, no discurso e na prática de professores dos diversos níveis de ensino. Apesar disso, estudos têm revelado que a interdisciplinaridade ainda é pouco exercida, e em se tratando da Educação superior, é notória a pouca importância dada a uma possível relação entre as disciplinas ministradas e o cotidiano da comunidade estudada. Todavia, a interação pode acontecer em níveis de complexidade diferentes. A conceituação da atitude interdisciplinar segundo Fazenda, (2003, p.12, apud SILVA, 2009):
Uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura a compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão [...] Cinco princípios subsidiam uma prática docente interdisciplinar: humildade, coerência, espera, respeito e desapego.
A autora enfatiza que a atitude interdisciplinar se implica em diversas características subjetivas que correspondem em quebrar barreiras, ultrapassar os limites e se despir de protecionismo “[...] interdisciplinaridade não é uma categoria de conhecimento, mas de ação” (FAZENDA, 2003, p.12, apud SILVA, 2009). Ao falar de Interdisciplinaridade no ensino, não se pode deixar de considerar a contribuição dos PCN’s. Uma análise mais profunda desses documentos revela a opção por uma concepção instrumental de Interdisciplinaridade, pois de acordo com diversas linhas de estudo sobre interdisciplinaridade BRASIL, (2002, p. 34-36):
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[...] na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental.
Nesse contexto reafirma que o principal propósito do trabalho interdisciplinar consiste em mobilizar e promover intervenções da instituição de ensino em torno de objetivos educacionais mais amplos, que contemplem a resolução de problemas ou compreensão de um fenômeno de diversas perspectivas dentro da sociedade, FAZENDA (1994, p. 78-79) Sugere que: O professor interdisciplinar busque uma leitura ampliada de suas práticas cotidianas, como fonte de autoconhecimento, base para explorar a dimensão complexa das interações intersubjetivas, humana, e não apenas intelectual. Isso porque é preciso aprender a enxergar nos outros, além de em si mesmo, intenções e possibilidades de interdisciplinaridade.
A interdisciplinaridade apresenta-se como uma prática docente inovadora e transformadora, nos parâmetros curriculares (BRASIL, 2002, p. 21-22) evidencia-se que:
A prática docente comum está centrada no trabalho permanentemente voltado para o desenvolvimento de competências e habilidades, apoiado na associação ensino e pesquisa e no trabalho com diferentes fontes expressas em diferentes linguagens, que comportem diferentes interpretações sobre os temas ou assuntos trabalhados em sala de aula, [...] ou qualquer outro lugar proposto. Portanto, esses são os fatores que dão unidade ao trabalho das diferentes disciplinas, e não a associação das mesmas em torno de temas supostamente comuns a todas elas.
Através dessa afirmação, fica clara a intenção da interdisciplinaridade nos PCN’s, que se assume como eixo de integração a prática docente comum, voltada para o desenvolvimento de competências e habilidades discentes; dessa forma, essa proposta não gera a descaracterização das disciplinas, nem a perda da autonomia por parte dos professores e, com isso, não rompe com a disciplinaridade, o que geraria uma verdadeira confusão na organização institucional. Transforma-se em realidade e amplia o trabalho disciplinar na medida em que promove a aproximação e a articulação das atividades docentes numa ação coordenada e orientada para objetivos comuns (benefícios sócio-comunitários) e cooperativos.
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Fazenda (1994, p. 82, apud CARLOS, 2007) fortalece essa idéia ao falar das atitudes de um professor interdisciplinar:
Atitude interdisciplinar, [...] alternativas para conhecer mais e melhor; [...] espera ante os atos consumados, [...] reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo com pares idênticos, com pares antônimos ou consigo mesmo [...] humildade diante da limitação do próprio saber, [...] perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes [...] desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho [...] de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas [...] compromisso em construir sempre da melhor forma possível [...] responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida.
Diante do olhar apaixonado, emocionante e motivador, materializa-se a noção da sua importância interdisciplinar, Fazenda, (1994, p. 86-87, apud SILVA, 2009) estabelece como que seria esta aula:
Numa sala de aula interdisciplinar, a autoridade é conquistada, enquanto na outra é simplesmente outorgada [...] a obrigação é alternada pela satisfação; a arrogância pela humildade; a solidão pela cooperação; a especialização pela generalidade; o grupo homogêneo pelo heterogêneo; a reprodução pela produção do conhecimento [...] todos se percebem e gradativamente se tornam parceiros e, nela, a interdisciplinaridade pode ser aprendida e pode ser ensinado, o que pressupõe um ato de perceber-se interdisciplinar.
Ha necessidade de relação interação, cooperação, e principalmente organização, com olhar diferenciado da interdisciplinaridade impele o domínio comportamental nas ações e projetos pedagógicos, PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional). Ou seja, a interdisciplinaridade é incorporada aos valores e atitudes humanos que compõem o perfil profissional e pessoal do professor interdisciplinar. Portanto aquela historia de que faço parte deste projeto mais não participo, não opino e muito menos planejo em conjunto; não cabe dentro da interdisciplinaridade. A COMUNIDADE PERCEBIDA
Seria um equívoco falar da relação do ensino universitário com a comunidade, sem falar de algumas peculiaridades inerentes a esta relação quanto a participação democrática, política... Durante este processo ocorrem formas
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conceituais dos níveis de participação política, OLIVEIRA, (2007, p.14 apud Bobbio, 1991, p.888-889) colocam que:
Trata-se de comportamentos essencialmente receptivos ou passivos como a presença em reuniões, a exposição voluntária a mensagens políticas etc., situações em que o individuo não põe qualquer contribuição pessoal. [...] o sujeito desenvolve dentro e fora da organização política uma serie de atividades que lhe foram confiadas [...] a contribuição é indireta e se expressa na escolha pessoal dirigente.
Hoje essa nova concepção da Educação em todos os níveis de ensino que vem sendo preiteada, gerou a necessidade de trocar experiências com a comunidade, pois, os resultados das pesquisas necessitam ser compartilhados para qualificar a educação na sociedade da informação, Gadotti (2010, p.27) exemplifica que:
Vivemos hoje numa sociedade de redes e de movimentos; uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem, chamada sociedade aprendente; uma sociedade de aprendizagem global, na qual, as conseqüências para a escola, para o professor e para a educação em geral, são enormes, [...] Torna-se essencial aprender a pensar autonomamente. (Grifo do autor)
Evidencia-se que na universidade (docente/acadêmico) devem estar conectados com as evoluções da educação que visão proporcionar acessibilidade ao ensino e aprendizado e em contra partida exige muito mais do sistema educacional. Nesse contexto pode-se dizer que o papel do ensino superior atualmente não esta ligado ao sistema conteúdista a universidade tem um papel social, onde implica em observar o papel da instituição de ensino, capacitando o aluno para ser um agente de observação e transformação. Para isso Gadotti (2010, p. 15) completa: Na sociedade da informação, o papel social da escola foi consideravelmente ampliado. É uma escola presente na cidade [...] criando novos conhecimentos, relações sociais e humanas, sem abrir mão do conhecimento historicamente produzido pela sociedade, uma escola cientifica e transformadora. Um bom professor deve ser um profissional do sentido [...] crianças e jovens chegam hoje à escola e à universidade sem saber por que estão aí. Não vêem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não aprender o que lhes é ensinado. É ai que entra o papel do professor que constrói sentido, transforma o obrigatório em prazeroso, seleciona criticamente o que devemos aprender. Esse profissional transforma informação em conhecimento, porque o conhecimento é a informação que faz sentido para quem aprende.
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O discente ao deparar-se com os conteúdos das disciplinas na escola questiona-se para que esse assunto, ou de que me servira isto para o futuro? Vem então à necessidade do professor mediar, direcionar e fazer sentido do que esta ministrando a observância da cultura local, do cotidiano da comunidade, vem como um recurso eficaz facilitador para responder tais problemáticas. Ao falar sobre uma nova concepção de educação calda na práxis Gohn (1992, p.16-17) destaca que:
[...] a educação ocupa lugar central na acepção coletiva da cidadania. Isto porque ela se constrói no processo de luta que é, em si próprio, um movimento educativo. [...] A cidadania coletiva é constituidora de novos sujeitos históricos: as massas urbanas espoliadas e as camadas médias expropriadas. A cidadania coletiva se constrói através do processo de identidade político-cultural que as lutas cotidianas geram.
Cabe ao educador perceber a necessidade da mediação dos conhecimentos instituídos, e a associação ao cotidiano do aluno, pois, não se podem cobrar novas atitudes da sociedade se não iniciar essa inclusão pela instituição de ensino. As dificuldades existem, no entanto, assinala-se que para usufruir das novas metodologias com qualidade e quantidade o alicerce está na educação. Vicario e Díaz (2010, p.19) finalizam dizendo que:
O papel do educador do gestor adquire uma dimensão que o leva a espaços com os quais já não cabe continuar simplesmente “flertando” É necessário estar neles, ajudá-los a ser cada vez mais sólidos [...] devemos ser conscientes de que não podemos continuar trabalhando sem conciliar e aproximar posturas com outras disciplinas, principalmente às educativas.
Considera-se que a escola contribui para o fortalecimento da democracia e a realização da cidadania se ela promover a socialização efetiva do conhecimento, assegurar o pluralismo e a liberdade de expressão para todos e se autogerir, constituindo em seu interior uma verdadeira escola de democracia. (CAPDEVILLE, 2007, p.71; apud COUTINHO 1994). Vicario e Díaz (2010) Concluem, portanto que a educação, só será instrumento de desenvolvimento e inclusão, se os educadores e gestores tomarem consciência de que devem adotar novas posturas, onde se evitará o descaso social tão grave quanto o fato de não saber como e quando agir, tomando como partida a aproximação das soluções fruto das pesquisas nas disciplinas do ensino superior e compartilhá-las com a comunidade percebida.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
O desafio do ensino universitário nos remete a análise do cenário histórico, e a contemplar um olhar diferenciado, possível e necessário, que abrange possibilidades como projetos interdisciplinares compartilhando os resultados pesquisados. Professores do ensino superior de diferentes disciplinas têm um papel decisivo no direcionamento das competências, habilidades e exercício cidadão dos acadêmicos. Esse atendimento perpassa pelos níveis de ensino iniciais e se fundamentam nos universitários, nessa nova sociedade da informação a qualidade caminha em conjunto com quantidade. Uma perspectiva interdisciplinar dispõe uma riqueza de possibilidades para o magistério, essa possibilidade vai muito além do plano teórico, metodológico e didático; sua prática cria uma nova postura profissional proporcionado oportunidades do encontro, da partilha, da cooperação e do diálogo, está postura por muitas vezes é cobrada dos graduandos durante as aulas, portanto, o orientador deve dar o exemplo. A interdisciplinaridade oportuniza uma ação conjunta da instituição de ensino e docentes com novas perspectivas e o encorajamento dessas ações.
A interdisciplinaridade na universidade ilustra a complexidade e a riqueza que cercam as intervenções compartilhadas, onde, se amplia a qualidade da educação superior, alcançando diferentes esferas sociais. A busca do sucesso de um projeto interdisciplinar deve ser alcançar pelo trabalho em equipe dos docentes dos cursos de graduação em Macapá. Determinado pelos problemas da sociedade, em que os estudos acadêmicos por meio da experiência pedagógica se compartilham as resoluções encontradas. E como todo caminho privilegia uma direção em detrimento de outras, espera-se contribuir no sentido de oferecer orientação para os caminhos da interdisciplinaridade na graduação, para que estes sejam trilhados conscientemente, mantendo um olhar comprometido com o interdisciplinar. Pode ser estabelecida uma série de relações entre a atividade docente, a formação pedagógica do licenciado, dividindo as descobertas fruto dos estudos com a sociedade, num determinismo do que está ocorrendo com o ensino superior no Brasil e no mundo, pode ocorrer em Macapá.
Para tanto, há necessidade de se resgatar a práxis docente com o objetivo de orientar os acadêmicos numa empreitada acertada para as licenciaturas
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de todas as áreas, pois a qualidade está no que se faz, e não apenas no que se tem como conseqüência disso, contudo, esta valorização dos processos é um desafio comum à implantação da qualidade em qualquer setor principalmente o educacional por se tratar do alicerce para as outras profissões.
A formação do profissional e a preocupação com a qualidade do trabalho que irá desenvolver terão influências diretas no conteúdo que selecionar para ministrar mediar informação/ensino/aprendizagem com o trato científico e metodológico, analisando critérios de seleção, transmissão e avaliação, de forma a respeitar os interesses individuais e coletivos, dando significado aos movimentos e expressões, facilitando assim as descobertas e motivando a criatividade como fator de inteligência. A conscientização e o exercício da cidadania se mostram como uma urgência e uma necessidade, quem não há cultiva nos dias atuais, não tem acessibilidade a compreensão global, afinal, a interdisciplinaridade tem por finalidade construir pontes e não muros.
Portanto nessa pesquisa se pode identificar a dificuldade em compartilhar ações dentro da comunidade com o olhar interdisciplinar, no entanto, sabe-se da importância que tem um projeto como esse intuito. Atitudes simples como, por exemplo, a utilização dos resultados das pesquisas acadêmicas em prol da comunidade, pode contribuir para a quebra de velhos paradigmas e a construção de novos conhecimentos, pois ao instigar os acadêmicos intervir positivamente na sociedade, através da orientação dos professores universitários, (auxiliando na percepção da razão e existência da universidade), que ao analisar o cotidiano comunitário o estudante do ensino superior é capaz de observar, vivenciar, produzir, analisar, desenvolver habilidades, criatividade e a cultura do compartilhar, além de entender com amplitude o mundo e ser compreendido em todas suas potencialidades.
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