Assentamento Antônio Conselheiro e Escolas “Ernesto Che Guevara” e “Paulo Freire”.

 

                Em agosto de 1995, o MST finca sua bandeira de luta nas terras mato-grossenses e inicia a luta pela Reforma Agrária com a primeira ação na Região Sul do estado, onde ocupa com cerca de 1.000 famílias a Fazenda Aliança, no município de Pedra Preta e em seguida na Região Sudoeste com 1.053 famílias na Fazenda Santa Amélia, Município de Cáceres. Em 1996, com a decisão política de se expandir pela região Médio Norte do Mato Grosso, o MST organiza sua militância para o trabalho de base na região e uma grande concentração pela Reforma Agrária, com cerca de 1.150 famílias, é organizada as margens da BR 358, no dia 09 de outubro de 1996. A partir dessa data, a região Médio Norte, particularmente os municípios de Tangara da Serra, Nova Olímpia e Barra do Bugres são surpreendidos com a forma de organização do MST. As famílias organizadas e acampadas têm a percepção de que podem obter muitas conquistas a partir da luta e da organização coletiva.

            Após seis dias de concentração uma grande tragédia aconteceu, retirando do seio do acampamento pessoas que tinham o sonho de um dia poder ter seu pedaço de terra para plantar. Uma carreta desgovernada entrou no acampamento na madrugada do dia 16 de outubro, matando cinco pessoas e deixando nove feridas. Após o acidente as lutas se intensificaram com rodovias trancadas, passeatas, audiências, ocupação do INCRA estadual, etc., demonstrando a força e organização do MST, tendo como resultado um comodato na Fazenda Tapirapuã com 38.335 hectares. O acampamento passou por muitos enfrentamentos e as famílias permaneceram acampadas por um período de quase dois anos. Em abril de 1998, a fazenda foi desapropriada e 999 famílias foram assentadas em 36 agrovilas tipo “raio de sol”, dando vida ao Assentamento Antônio Conselheiro.

            Hoje moram cerca de 4.000 pessoas no assentamento que é campeão na produção de alimentos em toda região. A maioria das famílias desenvolve atividades ligadas a terra, principalmente o cultivo de alimentos como, banana, mandioca, milho e hortifrutigranjeiros, tanto de forma individual, como coletiva, para própria subsistência, e para a comercialização se dá de forma direta nas feiras livres dos municípios mais próximos, através de atravessadores que vêm buscar a produção no assentamento ou na entrega direta nos supermercados da região.

            Apesar do assentamento estar consolidado e as famílias terem adquirido melhores condições e qualidade de vida, as lutas ainda são constantes por infraestruturas básicas como: manutenção das estradas, transporte escolar, coletivo e para escoar a produção, construção e reformas dos postos de saúde, construção de mais poços artesianos, tendo em vista que a região sofre com a falta de água potável, encanação e tratamento de água dos poços já existentes, etc., garantindo assim conquistas e fortalecendo a resistência das famílias Sem Terras que aprenderam que só a luta reduz as desigualdades e traz mais dignidade.

            Em relação à educação, como já dito, está sempre foi uma grande preocupação do MST onde quer que ele esteja organizado. A origem das Escolas Ernesto Che Guevara e Paulo Freire, confunde-se com a origem do assentamento.  Assim que as famílias saíram das margens da BR 358 e foram morar em comodato na ainda, Fazenda Tapirapuã, foi construída de palha e com aproveitamento de madeira velha, a primeira escolinha do acampamento nomeada de “Ernesto Che Guevara”, em homenagem ao grande lutador revolucionário Ernesto Guevara de La Serna, o que não foi aceito pelos órgãos públicos do município que se recusaram a registrá-la com este nome, nomeando-a em registro como Escola Tapirapuã. Após muitas reuniões e audiências para rever o nome da escola, o poder público ainda se recusava a modificá-lo, então as famílias ocuparam a Câmara Municipal de Tangara da Serra e só desocuparam com a conquista da reivindicação, ou seja, a consolidação do nome escolhido pela comunidade.

            A Escola “Ernesto Che Guevara”, atendia todo o assentamento, de 1ª a 4ª série, em regime multisseriado, porém com o sorteio da terra e a mudança das famílias para suas parcelas, ficou inviável este atendimento devido a dimensão territorial que impossibilitava a vinda das crianças, mesmo com o transporte escolar. Assim nasce a Escola “Paulo Freire”.

            Como já dito, o Assentamento Antônio Conselheiro está localizado em três municípios, sendo Tangara da Serra, Nova Olímpia e Barra do Bugres. Sendo assim, para uma melhor organização interna, o MST dividiu o assentamento em duas micros regiões: Micro Che Guevara pertencente ao Município de Tangara da Serra e Micro Paulo Freire ao Município de Barra do Bugres. A Micro Che Guevara levou este nome em referência a escola, então a segunda escola construída pelas famílias levou o nome da micro, ou seja, Paulo Freire. A Escola “Paulo Freire”, assim como a “Ernesto Che Guevara”, tem sua origem na luta e no trabalho coletivo das famílias. Foi através das corajosas famílias e das constantes lutas coletivas que estas escolas deixaram de ser de palha e passaram a ser reconhecidas em toda a região. Hoje estas escolas atendem juntas cerca de 610 alunos, desde a Pré-escola até o Ensino Médio, bem como o Ensino Médio Integrado como é o caso da Escola Paulo freire. Tem cerca de 90 pessoas contratadas diretamente para o quadro de funcionários, mais aquelas inseridas nos projetos desenvolvidos nas escolas como o “Mais Educação”, “Escola na minha casa”, “Sem terrinha em ação”, etc.

            Vale ressaltar que mesmo a construção destas duas escolas, não foi suficiente para receber o grande número de alunos do assentamento, portanto foi construída uma terceira escola, nomeada Escola Marechal Rondon, localizada na parte do assentamento pertencente ao Município de Nova Olímpia, onde o nome da escola já indica parte de sua origem. A mesma não originou-se diretamente através da luta e não se constitui como objeto de estudo desta pesquisa, mas aos poucos tem se inserido na dinâmica de luta do assentamento. Podemos afirmar que as Escolas Ernesto Che Guevara e Paulo Freire, são importantes ferramentas de luta destes trabalhadores sem-terra, reforçando e alimentando um novo projeto de educação e de sociedade, ou seja, é de grande relevância o projeto de educação vivenciado por elas para a construção de uma nova sociedade, refeita com novos valores que ajudarão a construir o novo homem e a nova mulher. 

 

Eloísa A. Cerino Rosa Lima - Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, Curso de Geografia – Unesp

Eloide Aparecida Carvalho Camargo – Licenciada em História - Unopar

Eleonora Osana Moreira da Rosa – Licenciada em Letras – ULBRA