AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO COTIDIANO ESCOLAR E A INTERFERÊNCIA NO TRABALHO DOCENTE.

1 INTRODUÇÃO

O professor em seu cotidiano escolar enfrenta muitos desafios, dentre eles, vale ressaltar as representações sociais. Sabe-se que muitos autores como Karl Marx (filósofo, economista e cientista alemão 1818-1883) na essência de sua filosofia já dizia que o “ser humano é produto do meio”, isto é: do meio social a que ele está inserido. Daí muitas correntes filosóficas e pedagógicas como Lev Vygotsky (1896-1934) seguem essa ideologia. Por maior que seja o esforço impetrado tanto pelo professor quanto pela escola em se equiparar seus alunos por séries, as diferenças sociais, étnica, religiosa, ideológica e até mesmo individual devem ser consideradas (isto sem contar com a inclusão social por seus diversos motivos que é outro agravante). Grandes são os esforços que se têm feito, por parte das autoridades educacionais, com relação à educação das classes desfavorecidas e o papel da escola neste momento é fundamental para a ruptura do ciclo da pobreza; seja por meio de cotas, bolsa de estudo ou outros meios que facilitem a inserção desses indivíduos no contexto escolar.

 

2 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é abordar sobre as interferências que as representações sociais têm no cotidiano do professor e da escola, bem como destacar a importância de o professor contextualizar suas aulas de acordo com a realidade de sua sala ou de sua escola e também apontar as falhas que podem ser cometidas pelo professor por desconhecer a realidade das representações sócias dentro da escola na qual trabalha. Pretende analisar a questão das representações sociais e a interferência no cotidiano do professor. Conscientizar-se de que as representações sociais não podem ser ignoradas dentro do contexto de cada escola, portanto é importante conhecê-las para que o professor não venha se eximir do problema e deixar que o aluno se sinta culpado pelo não rendimento e consequentemente pelo seu fracasso escolar. (JODELET, 2001, p.17-44)

3 JUSTIFICATIVA

A razão da escolha deste tema é abordar a problemática da interferência das representações sociais dentro do contexto escolar partir de uma análise crítica de obras de alguns autores da área e demonstrar a relevância de tal estudo para os interessados nesta área de pesquisa. O foco de interesse aqui é compreender os processos de interferência das representações sociais dentro do contexto escolar nas práticas cotidianas do docente. Serão abordadas as questões pertinentes a essas representações e como conhecê-las para que o professor elabore aulas que venha ao encontro da realidade de seu aluno evitando assim a evasão escolar.

 

4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS

Por se tratar de um problema de natureza abstrata, será uma pesquisa qualitativa. Será feito um levantamento bibliográfico de escritores experientes no assunto, portanto do ponto de vista do objetivo, será exploratório. As informações serão recolhidas em obras literárias já existentes, por isso quanto ao procedimento técnico, será bibliográfico.

5 O TRABALHO DOCENTE E A INTERFERÊNCIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAS.

As discussões em torno da educação regulamentada e as representações sociais, como se pode ver na historicidade, é algo que por anos a fio vem desafiando políticos, sociólogos, filósofos e estudiosos de muitos outros ramos do saber. Seja no contexto mundial, ou no Brasil do período colonial, nos ideais pombalinos e até agora. As diferenças sociais sempre foram um diferencial na hora de decidir quem deve ou não adentrar as escolas, frequentar os melhores cursos, ou galgar postos de melhor destaque. Muitos autores da literatura brasileira como Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Rachel de Queiróz e muitos outros retrataram, com muita clareza, em suas obras esse contexto da representação social dentro dos respectivos períodos histórico brasileiro. O estudo dessas representações constitui elemento essencial à análise dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo. É interessante que o professor compreenda as relações com o imaginário social, com a linguagem, com a ideologia de cada indivíduo para então orientar as condutas e as práticas sociais que se quer transmitir para seus alunos.

5.1 Vygotsky e a relação indivíduo e meio

Como aponta Vygotsky (1896-1934), cuja corrente pedagógica que se originou de seus pensamentos é chamada de sociointeracionismo ou de socioconstrutivismo, o desenvolvimento do indivíduo está focado em sua conexão com as pessoas e seu contexto sociocultural no qual ele age, interage e compartilha experiências. De acordo com este autor, os humanos usam das ferramentas desenvolvidas por uma cultura como a fala a escrita para agir e interagir em seu meio social. Segundo ele, as crianças desenvolvem essas “ferramentas” para servir como função social, isto é: os meios para comunicar suas necessidades. A internalização destas ferramentas proporciona às crianças o desenvolvimento de suas mais altas habilidades de pensar (CRAWFORD, 1996). Faz-se necessário que a criança tenha um referencial social para então desenvolver suas habilidades mais apuradas. Cabe ao professor, sabendo dessa premissa, conhecer a realidade tanto da escola quanto dos alunos ali inseridos para que ele possa elaborar as aulas bem contextualizadas, pois uma aula descontextualizada com a realidade do aluno pode acarretar no desinteresse pela mesma. Por não compreender ou por não se aprofundar no conhecimento das representações sociais vigente em seu contexto escolar local, muitos professores tendem a atribuir o fracasso escolar a condições sócio psicológicas do aluno e de sua família e procura se eximir da responsabilidade sobre esse fracasso. O professor observando um baixo nível socioeconômico do aluno tende a desenvolver baixas expectativas sobre ele deixando de levar em conta o potencial que pode estar subjacente em cada indivíduo separadamente.

5.2 A auto-estima do discente e a relação professor-aluno

Segundo Alda Judith Alves-Mazzotti, 2009, o professor não pode por si formar altas e baixas expectativas sobre o aluno, pois esse comportamento diferenciado frequentemente resulta em diminuição da autoestima dos alunos sobre os quais se formaram baixas expectativas e consequentemente menores oportunidades para aprender e que, por sua vez, os alunos de baixo rendimento tendem a assumir a responsabilidade pelo seu “fracasso” e passa a atribuí-lo a causas internas (relacionadas à falta de aptidão ou de esforço), ou mesmo a fatores externos como o ter que trabalhar para seu autossustento ou sustentar a família. O fracasso escolar continuado pode resultar em desamparo adquirido e ao abandono da escola, isto é: a evasão escolar.

Serge Moscovici ao abordar sobre a psicologia das minorias ativas aponta que “o comportamento do indivíduo ou grupo tem a função de garantir a sua inclusão no sistema ou no meio”, Uma vez que tal indivíduo foge às normas estabelecidas pelo grupo ele é considerado desviante. Portanto, são dadas as condições que devem caber ao indivíduo ou grupo, a realidade é descrita como uma forma uniforme, a obrigatoriedade de observar as normas se aplica igualmente a todos. O autor define, portanto, a conduta do normal e do desviante. Segundo ele, “o desvio é a incapacidade de se encaixar no sistema, a falta de recursos ou informações sobre o meio ambiente”. O normal é aquele que consegue se adaptar ao sistema mantendo equilíbrio com o ambiente e tiver uma coordenação entre os dois. A partir deste ponto de vista, aqueles que seguem o padrão estabelecido são considerados normais por isso são funcionais e adaptáveis; ao passo que aqueles que se desviam da normalidade ou são contra são considerados disfuncionais ou inadequados para fazer parte daquele grupo. (MOSCOVICI, 1991, p.23).

Como observado pelo autor acima citado, “o desvio é a incapacidade de se encaixar no sistema, a falta de recursos ou informações sobre o meio ambiente”, o papel da escola neste momento é fundamental para a ruptura do ciclo da pobreza cultural que leva o indivíduo à alienação e ao despreparo para estar inserido em determinado grupo. O espaço escolar é o lugar onde os indivíduos buscam adquirir as informações pertinentes à sua representação social para estarem inseridos ou para se inserirem em determinado grupo; seja ele profissional, religioso, filosófico ou qualquer outro. A escola, bem como também o professor e qualquer outro profissional da educação devem estar preparados para lidar com essas diversidades de seguimento socais e atendê-los, sem discriminação ou diferenciação por seu nível social. Jodelet (2001), uma das principais colaboradoras de Moscovici, define representações sociais como: “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” p.22.

A construção de uma realidade comum a um conjunto social deve ser algo construído pelo próprio grupo e não uma cópia de outras culturas ou outros grupos. Segundo Piaget, 1970, O indivíduo não conseguirá ser livre moralmente se ele é passivo intelectualmente. Se o indivíduo ficar passivamente acomodado a um sistema ao qual ele já está acostumado e não buscar vislumbrar novos ideais, ele jamais conseguirá se desvencilhar das amarras do comodismo que o prendem. O conhecimento tem sempre uma relação entre o objeto e o sujeito por isso ele não pode ser uma cópia que se aplica a todos de uma mesma maneira, senão que, na transmissão do conhecimento devem-se respeitar as diversidades de segmentos sócias, bem como a individualidade dos sujeitos em questão.

6 REFLEXÕES FINAIS

Como já fora abordado na metodologia que o foco de interesse deste estudo é compreender os processos de interferência das representações sociais dentro do contexto escolar nas práticas cotidianas do docente, é interessante salientar que os próprios autores que abordam sobre estes assuntos também foram influenciados pelo meio. Vejamos: Vygostsky x Piaget. O meio, ou contexto sociocultural no qual estavam inseridos influenciou e muito em suas pesquisas com relação o indivíduo e o meio. O russo Vygostsky (1896-1934) enfatizou a sociedade e a influência desta sobre o indivíduo, pois na Rússia comunista da época a noção de indivíduo não era bem-vista, senão somente o poder do Estado e da coletividade. Esse sistema, como se pode ver, busca suprimir pela violência as capacidades particulares e implantar na mente dos indivíduos a noção de “comum”. A forma de atividade do trabalhador não é abolida desse estado, mas estende-se a todos os homens, com isso, o sistema quer destruir tudo o que pode trazer a fortuna e a propriedade privada ou particular, mas que ao mesmo tempo passa a ser uma grande ilusão, pois tudo se torna privado pelo Estado e os indivíduos, sem nenhum poder de ação, se tornam submissos ao sistema. O comunismo nega em toda parte a personalidade humana.

Apesar de terem vivido em um período de tempo parecido, diferente do contexto vivenciado por Vygotsky, Jean Piaget (1896 - 1980) foi um teórico suíço, que empreendeu pesquisas na área de educação, voltou seus estudos para o individualismo que começava a ganhar os ares de qualidade na Europa da época. A construção do conhecimento segundo Piaget é voltada para o indivíduo e segue um padrão denominado por ele de ESTÁGIOS que seguem idades mais ou menos determinadas. No entanto, o importante é a ordem dos estágios e não a idade de aparição destes. Segundo o autor este estágios são:

Estágio Sensório Motor: Dura do nascimento aos dois anos, aproximadamente. A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio.

Estágio Pré-operatório - Também chamado de estágio da Inteligência Simbólica: Vai dos dois aos sete anos, aproximadamente. Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio anterior (sensório-motor). A criança e egocêntrica e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro.

Operatório-concreto. Vai dos sete aos onze anos. A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade.

Operatório Formal. Dos doze anos em diante. As estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas.

O professor, em suma, para o exercício de sua função, precisa conhecer esses estágios do desenvolvimento da criança, o contexto social tanto da escola quanto dos indivíduos que a frequentam, como os questionamentos propostos por Jodelet (2001): quem sabe e de onde sabe? O que sabe e como sabe? Sobre o que sabe e com que efeito? Tais questões apontam três pontos fundamentais a serem explorados quando se estuda representações sociais: Primeiro, suas condições de produção, como no caso de Lev Vygotsky x Jean Piaget citado acima e os diferentes contextos vivenciados por cada um deles. Segundo, processos de circulação - onde e como se está ensinando e terceiro, seu estatuto epistemológico - de onde se originou tais ideias? Condiz com a realidade da escola onde se quer ensinar tal assunto ou disciplina? Só assim o professor será capaz de desenvolver suas aulas bem contextualizadas que venham ao encontro da realidade do aluno. Sabe-se que a sociedade tem um poder coercivo sobre os seus membros, no entanto, não se deve subestimar a autonomia do indivíduo e do contributo dado por cada membro de uma sociedade. A pessoa constrói sua interação na realidade social em que vive e a sociedade é como um organismo, tudo deve trabalhar em perfeito equilíbrio, se algo se encontra desbalanceado todo o resto da estrutura pode ruir.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRAWFORD, K. Vygotskian approaches to human development in the information era. Educational Studies in Mathematics. 1996. P.31,43-62.

ALVES-MAZZOTTI, A.J. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Rio de Janeiro: Múltiplas Leituras, 2009.  Acesso 22/08/2013 -     18h 33min.

Artigos do Google Acadêmico. MOSCOVICI, Serge. A máquina de fazer deuses: sociologia e psicologia. Rio de Janeiro: Imago, 1990. Acesso 22/08/2013 - 18h.

MOSCOVICI, Serge. Psychologie des minorités actives. Paris : Les Presses universitaires de France, 3e édition, 1991, p.12.

PIAGET, J. Epistemologia Genética. Petrópolis: Vozes, 1970.

http://penta.ufrgs.br/~marcia/estagio.htm- Os estágios, segundo PIAGET-  acesso em 26/08/2013 às 18h56 min.

JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org.). As Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001, p. 17-44.