O texto aborda a complexidade que envolve a formação do professor, os obstáculos enfrentados e as enormes barreiras que cercam a profissão. Relata uma pesquisa realizada  pela autora em escolas públicas do Rio de Janeiro, centrada, basicamente, nas escolas noturnas, freqüentadas por alunos de classe baixa e trabalhadores, que necessitam da instituição escolar.

               A discussão da formação do professor  a partir das escolas noturnas , seja supletiva ou regular, requer  uma tentativa de discutir-se sobre a cultura de negação, desvinculo, favor e terror que permeiam a escola do trabalhador, contrapondo-se às resistências, às afirmações das lutas dos trabalhadores e às suas esperanças.

               Baseado nisso, entende-se que as questões implícitas na formação dos docentes, exigem a transitação em  um espaço complexo  de uma cultura em crise, em busca da validação de significados coletivos e pessoais, onde ocorra a construção de sujeitos coletivos e pessoais que se reconheçam, crítico  e historicamente, na produção  de sua própria existência.

               As escolas públicas  noturnas pesquisadas  têm em comum as condições precárias de manutenção de seu prédio escolar, com graves deficiências na conservação dos mesmos. Outro fator  observado diz respeito aos móveis das escolas, todos infantilizados, ou seja, adaptados exclusivamente para crianças, por isso os jovens e adultos não conseguem se acomodar corretamente nos mesmos.

               Os trabalhadores  que freqüentam as escolas pesquisadas  carregam e exprimem – cada um de sua maneira – uma realidade coletiva que os transcende: marcas de classe, de sexo, de cor, de raça, de cultura. Por isso, o primeiro passo para haver aproximação com a escola do trabalhador, para  nela promover mudanças, é compreender algumas das matrizes da encruzilhada atual da escola pública e também promover ações articuladas por sujeitos coletivos e singulares, dispostos a inventar atalhos para descobrir caminhos para uma escola digna e não apenas em frustrados canais de submissão ao mercado de trabalho.

               Os trabalhadores pesquisados super valorizam a escola. Acreditam que a mesma possui o poder de abrir portas para um emprego excelente, de transformá-los em cidadãos respeitados e honrados. Ela é uma ponte exclusiva para a igualdade social e o desenvolvimento econômico.

               Ao aceitar o argumento de que só através da escola é possível ter educação e capacitação para viver em sociedade, os trabalhadores negam o valor de sua experiência cotidiana, desacreditando daquilo que a vida lhe ensinou.

               Porém, quando chegam na escola a encontram num caos: prédios velhos e mal conservados, se novos com problemas estruturais; professores mal preparados, mal remunerados e insatisfeitos; inexistência ou precariedade de material didático.

               Com isso, sabemos que a escola não poderá , sem ultrapassar essas barreiras, oferecer ao trabalhador saberes  ajustados aos seus interesses. Visto que ela só interessa aos trabalhadores pela sus possibilidade de extinguir a injustiça social e econômica de suas vidas.

               A instituição escolar deve transformar o homem em um ser inteiro, desafiado pelo ofício de produzir sua vida, inventar novas formas de convivência social. Uma escola onde possamos nos conhecer, conhecer a produção histórica de negações e afirmações que nos constituem , conhecer as possibilidades de mexer e intervir nessas marcas, articulando nossos sonhos e desejos pessoais com os coletivos, potencializando novos processos de emancipação.

               Por isso não podemos aceitar a idéia de que a escola sirva apenas para “fabricar ninguéns” para o sistema. Seres incapazes de pensar, de lutar por dias melhores. Seres passivos e alienados a um sistema sanguinário, calculista e capitalista que só visa lucros, que só anela o benefício próprio.

               Todos desejamos escolas públicas de qualidade, que formem cidadãos autônomos, capazes de promover mudanças e transformar a realidade injusta a sua volta.

               A escola pode e deve ser assim. Mas para isso, todos que formam a comunidade escolar têm que se unir e lutar  junto aos órgãos responsáveis pela mesma, por qualidade na educação e estrutura da escola, beneficiando todos os que a compõem, incondicionalmente, sem exclusões, nem desigualdades.

               Não é uma batalha fácil. Porém, não podemos desistir. Devemos acreditar e buscar mudanças. O caminho é longo e árduo, mas todos unidos podemos tentar mudar a realidade educacional brasileira. Não depende apenas do Poder Público. Depende de nós também.

 

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

 

LINHARES, Célia.Trabalhadores sem trabalho e seus professores: um desafio para a formação docente. IN: Formação de professores: pensar e fazer.2. ed. São Paulo: Cortez,1993.