AS DIFICULDADES IMPOSTAS PELA DISLEXIA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO ALUNO: UM DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO GUIMARÃES, Lívia Sousa RESUMO: O presente artigo vem apresentar uma visão de dislexia inserida no conceito alfabetizador. Trataremos das dificuldades enfrentadas por alunos dislexos no decorrer de seu processo de alfabetização. Tomando como ponto de partida nossos estudos sobre Fonética e Fonologia do português, veremos como é dado o processo de alfabetização partindo de um pressuposto que é a dislexia. PALAVRAS-CHAVE: Dislexia. Alfabetização. Letramento. 1 INTRODUÇÃO A dislexia, em uma de suas definições, é apresentada como uma discrepância entre a inteligência e o desempenho na leitura. Na maioria dos casos é identificada logo no processo de alfabetização. ''A dislexia é um transtorno de aprendizagem hereditário e sem cura, que acarreta uma falha nas conexões cerebrais, principalmente nas regiões responsáveis pela leitura, pela escrita e pela soletração. ''Considerando que alunos disléxicos terão dificuldade em aprender o alfabeto e, utilizar o mesmo, faz-se necessário que um diagnóstico inicial seja tomado para a identificação do déficit, a fim de se adotar as devidas providências, quanto ao aprendizado do aluno, para não termos um caso de atraso escolar. Vendo a dislexia por uma visão epistemológica, é uma alteração nos neurotransmissores cerebrais que impede uma criança de ler e compreender com a mesma facilidade com que as crianças da mesma faixa etária. Tentamos entender o que é alfabetização a partir do conceito trabalhado por Soares (1999) que nos diz que alfabetizar é ensinar a ler e a escrever, alfabet + izar; -izar: sufixo, indica: tornar, fazer com que. Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. Alfabetização: ação de alfabetizar; Alfabet + iza(r) + ção ; -ção: sufixo que forma substantivos indica: ação. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar "alfabeto". Para o aluno dislexo, este processo de tornar o mesmo apto para ler e escrever torna-se um enorme desafio, visto que, os dislexos têm uma anomalia no cérebro, justo na parte que compete o entendimento das letras. 2 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Sabemos que o processo de alfabetização ocorre por meio de uma sistematização de regras, na qual a criança aprende a identificar os códigos (letras), começa a agrupá-los e formar palavras, nesse processo a criança ganha habilidades para começar a fazer o uso da leitura e da escrita. Sabemos também que mesmo antes da fase de alfabetização, a criança já compreende a língua, embora não saiba ler e escrever. Quando a linguagem passa a ser escrita a assimilação do signo e significante torna-se visível durante o processo de alfabetizar. A criança compreenderá a escrita e fará o uso do significado dentro do gênero textual. A mediação do professor durante este processo é de grande importância, pois ele poderá identificar as crianças que não conseguiram aprender pelo método tradicional e que será necessário novas técnicas que possibilitem aprendizagem de leitura e escrita do aluno que está sendo alfabetizado. A alfabetização e o letramento são processos que se interligam durante aquisição do conhecimento. É de suma importância o entendimento sobre a palavra letramento, uma vez que este processo é tido como sinônimo de alfabetização. Temos por alfabetização o processo de aprendizado do alfabeto. Uma pessoa alfabetizada sabe ler e escrever o alfabeto e decodificar essas letras em frases. Já o indivíduo letrado, além de saber o alfabeto e decodificá-lo, ele vai além, ou seja, entendo o contexto no qual as letras estão inseridas e não só decodifica, mas interpreta. Há, assim, uma diferença entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na condição ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado (atribuindo a essa palavra o sentido que tem literate em inglês). Ou seja: a pessoa que aprende a ler e a escrever - que se torna alfabetizada - e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita - que se torna letrada - é diferente de uma pessoa que ou não sabe ler e escrever - é analfabeta – ou, sabendo ler e escrever, não faz uso da leitura e da escrita - é alfabetizada, mas não é letrada, não vive no estado ou condição de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita. (SOARES 1998) As formas pedagógicas existem com a finalidade de propor para a criança as diferentes formas de aprendizado, reconhecendo a capacidade de cada uma e entendendo que existe uma construção individual na forma de aprender. Alfabetização consiste em mostrar ao indivíduo os códigos escritos, direcionando-o ao caminho da leitura, enquanto letramento é a habilidade e a prática da leitura e escrita no cotidiano. Fizemos esta diferenciação, para entendermos o disléxico no processo de alfabetização, mas sem esquecermos ou confundirmos com letramento. Uma vez que o mesmo terá eventual dificuldade no processo de decodificação (alfabetização) também terá dificuldade no de interpretação (letramento). Notamos a importância do processo de aquisição da linguagem escrita, já que é por meio da mesma que se irá construir um elo entre o conhecimento e a prática do saber. Ressaltamos que o conhecimento adquirido não se restringe a prática do saber ler e escrever, mas na capacidade cognitiva que a criança irá desenvolver. O processo ensino-aprendizagem é um processo contínuo, no qual o educador transmite o conhecimento e o educando vai construindo o saber pela prática. Novas formas de alfabetizar surgem com o propósito de qualificar o ensino para haver uma alfabetização que atenda às necessidades de cada um no âmbito educacional. O contato com os códigos escritos e a leitura, torna a criança um indivíduo ativo, capaz de questionar o meio e criar valores individuais. O processo de alfabetização ocorre nas séries iniciais. E, é durante esta fase que os professores podem perceber as dificuldades do aluno na aquisição da leitura e da escrita, e identificar se o alfabetizando sofre de dislexia. Essa dificuldade impossibilita a criança de entender o que foi escrito e a distinção sonora de cada letra. Alguns estudiosos elaboraram diagnósticos a fim de fazer, pelo menos, uma pré-descoberta do déficit. Em pesquisa recente Martins (2014) elaborou um desses questionários para diagnosticar possíveis sintomas de dislexia. Ele, a partir dos seus estudos no campo da dislexia, elaborou uma série de perguntas que pode ser usado pelo professor a fim de identificar sinais precoces de dislexia na educação básica. Para que possamos identificar a dislexia é necessário o emprego de testes fonoaudiólogos, pedagógicos, psicológicos, neurológicos etc. ou, como citado anteriormente, a aplicação de um formulário, pelo professor. Mas, sabe-se que na maioria das vezes o teste é feito por uma equipe multi-profissional, embora que, segundo a psicóloga e pedagoga Marina da Silveira, podem-se identificar alguns sinais que são perceptíveis em dislexos, como por exemplo: Falta de capacidade para brincar com outras crianças; Atraso no desenvolvimento da fala e escrita; Atraso no desenvolvimento visual; Falta de coordenação motora; Dificuldade em aprender rimas/canções; Falta de interesse em livros impressos; Dificuldade em acompanhar histórias. Apoderando-se desses conhecimentos prévios da discrepância que estamos tratando neste ensaio, é notório que pelo menos um pré-diagnóstico vem a contribuir para os trabalhos com alunos disléxicos. O sucesso na reeducação de um disléxico está baseado numa terapia multissensorial (aprender pelo uso de todos os sentidos), combinando sempre a visão, a audição e o tato para ajudá-lo a ler e soletrar corretamente as palavras. (Silveira Rodrigues Almeida, Maria da. 2008 ); Como a dislexia parte de uma anomalia no cérebro, o que há de se fazer é trabalhar com este aluno de uma forma que o problema físico seja posto em segundo plano, como, o uso frequente de material concreto, a exemplo da confecção do próprio material para alfabetização, como desenhar, montar uma cartilha. Uso de gravuras, fotografias (a imagem é essencial para sua aprendizagem). Para fazer uso de tais recurso educacionais é necessária, ainda um aprofundamento no que diz respeito a dislexia, e como a mesma é tratada no meio alfabetizador. Nem todas as dislexias são iguais, por isso, existem alguns tipos. Mas, antes de diferenciá-las é necessário que entendamos que elas podem ser classificadas de duas maneiras, a Dislexia adquirida e a Dislexia de desenvolvimento. Quando falamos em Dislexia adquirida, faz-se referência a uma deterioração do cérebro, ou seja, algum dano causado ao cérebro, esses danos decorrem de algum acidente, doença ou até mesmo devido o envelhecimento. Nesse caso, ocorrerá a dificuldade na leitura e na escrita devido o comprometimento do cérebro na região que coordena essas atividades. Já a Dislexia de desenvolvimento, a criança já nasce com essa dificuldade e não por incapacidade de aprendizagem. Portanto, pode-se dizer que a dislexia adquirida se dar quando o indivíduo não é mais capaz de desenvolver algumas habilidades já desenvolvidas, enquanto que a dislexia de desenvolvimento o indivíduo não é capaz de executar essas habilidades. Dentro dessas duas classificações de dislexia, dividimos suas tipologias em três: Dislexia visual ou diseidética, Dislexia auditiva ou disfonética e Dislexia mista ou profunda. • Dislexia visual ou diseidética – Esse tipo de dislexia é caracterizado principalmente pela incapacidade de sequenciar as coisas, o indivíduo não consegue distinguir letras e palavras parecidas (ex.: b e d) causando uma grande confusão, às vezes até mesmo trocando-as. Sendo assim, ocorre uma dificuldade de captar o que se vê. A escrita também é comprometida, sendo caracterizada por uma escrita bagunçada, marcada por omissões de letras. • Dislexia auditiva ou disfonética – Nesse caso, o indivíduo tem dificuldade em diferenciar os sons das palavras, os fonemas parecidos. Isso ocorre principalmente, nas palavras com terminações parecidas ou que tenham os sons parecidos ao serem pronunciados, portanto ocorre uma dificuldade na percepção dos sons. Quanto à escrita, será comprometida devido a essa dificuldade de perceber e diferenciar o som, será uma escrita mais lenta, com erros ortográficos devido à troca de sílabas, deixando o texto bastante rasurado devido essa dificuldade, ou seja, essa insegurança com alguns sons. • Dislexia mista ou profunda – Esse tipo de dislexia é a junção dos dois tipos anteriores, ou seja, o individuo com o diagnóstico de dislexia mista, tanto apresenta dificuldades visuais como auditivas, podendo ocorrer ao mesmo tempo. Portanto, nesse caso o individuo terá dificuldades tanto na leitura quanto na escrita, ou seja, terá o comprometimento dessas habilidades. É importante lembrar que cada pessoa é diferente e pode reagir de inúmeras formas e que só quem pode diagnosticar se a criança ou qualquer indivíduo é disléxico, é um médico. 3 COMO A DISLEXIA É VISTA PELA FONOLOGIA Como já foi dito, a dislexia é uma dificuldade que a criança tem no processo de leitura e escrita. Só um profissional pode diagnosticar se um indivíduo é disléxico ou não, mas os pais e, principalmente, os professores podem perceber essa dificuldade que a criança possui. Muitos são os sintomas que a criança demonstra e estes já podem ser identificados na sua fase de alfabetização. Com esse comprometimento na habilidade de desenvolvimento da leitura e da escrita, as crianças não conseguem associar as letras aos fonemas. As dificuldades encontradas nas crianças que sofrem com dislexia podem se apresentar de forma diferente, variando de pessoa para pessoa ou dependendo do grau de avanço do distúrbio. As dificuldades mais comuns de serem encontradas são: • As crianças podem apresentar dificuldades na leitura de frases ou até mesmo de palavras pequenas, pelo fato de confundirem muitas letras e com bastante frequência. • Devido à dificuldade em decodificar as palavras a leitura se torna vagarosa, sem ritmo e sem nenhuma compreensão do que se ler. • Os disléxicos cometem vários erros ortográficos, devido à troca de letras ou sílabas, tendem a cometer falhas na construção oral e também não são habilidosos na separação de sílabas. • A troca ou até mesmo a inversão das letras nas construções gramaticais são frequentes nos disléxicos (ex.: p / d ou b / d). Tem bastante dificuldade com as rimas. Conclui- se que a dislexia pode ser percebida facilmente, basta conhecer sobre esse distúrbio e claro, certa atenção dos pais, professores e de todos que estão ligados a criança. O indivíduo que é considerado disléxico expõe grandes dificuldades no que diz respeito a aprender a ler, escrever, participar de atividades que exigem um grau maior de compreensão, interpretação e atenção. Um adulto, uma criança, ou seja, um ser que apresenta dislexia terá que estar “preparado” para enfrentar variados desafios, entre os quais tanto os que estão relacionados às habilidades de leitura como também emocionais. A partir do exato momento que é confirmado que o discente apresenta dislexia, a escola juntamente com o professor poderá trabalhar o mesmo de forma diferenciada para amenizar o distúrbio, todavia, jamais se pode esquecer que o aluno, nunca irá deixar de ser disléxico, mas sim somente poderá aparentar ter uma vida estudantil se aproximando do “normal” podendo até mesmo aprender a escrever, ler assim como os demais alunos ainda que provido das dificuldades que lhe são pertencentes. O professor antes de tudo, para trabalhar com alunos disléxicos, ele precisa está altamente preparado, capacitado e apresentar conhecimentos sobre a mesma. Ele necessita saber quais as causas e acima de tudo diagnosticá-la. Tendo em mãos todas essas informações, o professor desenvolverá seu trabalho em sala, deixando transparecer para o aluno que ele não é o “coitadinho” da sala, pelo contrário, ele irá se sentir confiante e igual a todos os companheiros. Segundo Oliveira (1997, p. 54) [...] muitos professores preocupados como o ensino das primeiras letras, e não sabendo como resolver as dificuldades apresentadas por seus alunos, várias vezes os encaminham para as diversas clínicas especializadas que os rotulam como “doentes” incapazes ou preguiçosos. Na verdade muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas dentro da própria escola (OLIVEIRA, 1997, p.54). O primeiro passo que o professor precisa dar para executar seu trabalho com um alfabetizando com problemas é calma, e essa calma é adquirida através da motivação cotidiana e atendendo os distúrbios que o mesmo apresenta. Este aluno jamais poderá ser escolarizado pelo método dito tradicional, pois o disléxico não consegue assimilar o todo, apresentando necessidades de acompanhamento de forma individual e com uma série de repetições. Assim sendo escola, pais e professores precisam desenvolver um trabalho em parceria, onde todos trilhem os mesmos caminhos e busquem os mesmos objetivos, mostrar ao disléxico que ele pode e deve sim se sentir alto- confiante e capaz de realizar o que deseja sem medo de ser reprimido ou excluído por todos e tudo que os rodeia. A educação do novo milênio assiste a uma série de mudanças no meio escolar, nos últimos anos. E, uma das dessas mudanças são as dificuldades enfrentadas pelos professores no quesito ''atenção'' e, muitas das vezes essa atenção ou falta de atenção é oriunda de uma discrepância como a dislexia. Cabe ao professor alfabetizador, ser também um professor reflexivo e buscar soluções para lidar com esses alunos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS No que é pertinente à dislexia podemos inferir que ela é um distúrbio presente nas nossas escolas, que tem prejudicado consideravelmente o desempenho dos alunos, haja vista a demora em diagnosticar ou perceber suas características e intensidades. Observamos que tal distúrbio afeta a capacidade de leitura/escrita do individuo vindo a contribuir para que o mesmo permaneça por anos na mesma série escolar. No que diz respeito ao processo de alfabetização do aluno, concluímos que, o processo de alfabetização já é uma fase complexa para as crianças sem nenhuma anomalia, que se diz para as que apresentam esse déficit. O simples acontecimento de troca de letras é em suma, um desafio a ser enfrentado pelo professor, haja vista que, ele ainda tem que lidar com o restante da sala. Destacamos a importância do diagnóstico precoce, como forma de dar subsídio ao aluno disléxico no seu processo de aprendizagem, uma vez que quanto mais cedo for identificado o distúrbio melhor será o desempenho e a integração da criança no âmbito escolar. No tocante aos métodos empregados para trabalhar com crianças disléxicas, podemos concluir que não há um só método especifico que atenda às necessidades de todos os alunos, já que cada indivíduo reage de maneira diferente. Cabe, portanto ao professor buscar o método que melhor se adeque a cada criança e a cada situação. Neste ínterim, concluímos que a dislexia se constitui em um processo de dificuldade de aprendizagem do aluno, ligado a causas genéticas e neurológicas. Por fim, ressaltamos a importância de escolas inclusivas, com profissionais capacitados, capazes de observar o comportamento de cada criança, de forma a favorecer um diagnóstico nos primeiros anos de sua vida acadêmica. Também é de extrema importância o papel da família no que tange a observação do comportamento da criança, visto que o processo de alfabetização não acontece exclusivamente na escola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Maria da Silveira Rodrigues. In CAMARA JR. Mattoso. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Edição da “Organização Simões” Rio. 1953 FARACO, Carlos Alberto. Escrita e alfabetização. LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 16 ed. Editora Ática. 2004 MARTINS, Vicente. Como descobrir um disléxico (2001). MASSI, Gisele. Dislexia ou processo de aquisição da escrita? Distúrbios da comunicação. São Paulo, 2004. RUBINO, Rejane. Estilos da clínica, 2008. Vol. XIII nº 24, 84-97 SILVA, Thais Cristófaro. Fonética e fonologia do português. Ed. Contexto 1999. SOARES, Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Editora Autêntica, 1998 < http//www.Planetaeducação.com.br/portal/artigo.asp? artigo=1228> acesso em 18/ 03/ 2015