RESUMO

As escolas públicas brasileiras há anos vêm enfrentando dificuldades no que concerne aos índices de repetência e fracasso escolar. A abordagem equivocada de conteúdos, avaliações quantitativas que buscam indicadores de evolução intelectual do aluno sem priorizar suas habilidades e aptidões naturais. A partir desta problemática buscamos nos aprofundar em uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, com enfoque na aprendizagem significativa e o que ela pode acrescentar de melhorias a prática docente, quais foram os primeiros pensadores sobre o assunto e o que teóricos como Ausubel, Lev Vygotsky e Jean Piaget têm a acrescentar em nossas práxis enquanto educadores. Nossa pesquisa tem o intuito de esclarecer para o leitor e educador quais caminhos, propostas e técnicas educacionais podem ser abordadas e oferecidas aos alunos de maneira lúdica e prazerosa sem frustrar ou desvalorizar os que por algum motivo se destacam de maneira peculiar dos demais educandos.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa bibliográfica tem como objetivo refletir sobre o modelo de avaliação escolar implantado em nosso país, que busca verter em indicadores numéricos o sucesso ou o fracasso dos alunos, desestimulando-os a continuar sua jornada acadêmica.

O presente estudo buscou debruçar-se sobre a teoria sociointeracionista de Lev Vygotsky, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget e os estudos sobre a aprendizagem significativa do pesquisador norte-americano David Paul Ausubel com o objetivo de fazer uma comparação dialógica entre o modelo atual de ensino das escolas públicas brasileiras e o que versa a teoria dos pensadores supracitados sobre o assunto.

Nosso sistema público de ensino tem falhado e como consequência tem marginalizado muitos jovens e crianças que não são estimulados da maneira adequada dentro da sala de aula. Crianças e jovem que não se identificam com os temas tampouco os conteúdos pré-estabelecidos, e por consequência são exclusos do sistema social por não se sentirem parte dele.

Enquanto pesquisadores e estudiosos do assunto, refletimos sobre o que temos valorizado ou desvalorizado dentro das salas de aula, quem são os nossos alunos e quais são os seus anseios e inseguranças. Até que ponto o sistema vigente de avaliação escolar tem atrapalhado muitos docentes na hora de fazer um exame mais cauteloso sobre o desempenho do seu aluno em sala de aula e quais caminhos o jovem deve seguir para encontrar sua realização pessoal enquanto aprendiz. Nos capítulos subsequentes falaremos mais sobre o tema, esmiuçando os pontos positivos e negativos do modelo de avaliação escolar vigente.

  1. A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E SEUS PRIMEIROS PENSADORES

Quando pensamos em aprendizagem, imaginamos a figura de um professor transmitindo seu conhecimento para uma sala de aula repleta de crianças com fisionomias diferentes, modelos familiares diferentes, personalidades diferentes e todas elas recebendo informações sobre o mesmo tema. Logo imaginamos que em um ambiente de aprendizagem como a sala de aula, o processo de assimilação é homogêneo de unilateral. Mas, na realidade cada ser humano possui uma habilidade própria de assimilar informações e desenvolver novas habilidades cognitivas.

Logo, mediante o cenário citado acima, surgem os questionamentos: Por que sempre há alunos ditos bons e alunos ruins em sala de aula? Que parâmetros os classificam desta maneira? Quais conteúdos possuem um real significado para o educando?

O pesquisador David Paul Ausubel (1918-2008) tornou-se conhecido após propor o conceito de Aprendizagem Significativa.

Filho de imigrantes judeus, nascido na cidade de Nova Iorque, durante o período escolar Ausubel enfrentou dificuldades em se adequar ao modelo educacional behaviorista, que era o método adotado nas escolas norte-americanas.

Quando adulto, formou-se em medicina psiquiátrica, entretanto dedicou parte de sua vida profissional e acadêmica voltado para o estudo da psicologia educacional.

Seu discípulo e professor Joseph D. Novak, o mesmo, foi responsável por debruçar-se sobre a teoria de Ausubel e refinar a tese sobre Aprendizagem Significativa. Assim como Ausubel, o professor Novak também contribuiu academicamente para a disseminação dos estudos voltados para a Aprendizagem Significativa.

Segundo o Professor Marco Antônio Moreira, podem-se distinguir três tipos gerais de aprendizagem: a cognitiva, a afetiva e a psicomotora. A aprendizagem cognitiva é aquela que resulta na organização de informações na mente do ser aprendiz. A aprendizagem afetiva está relacionada à sensações vividas como: prazer, dor, alegria, tristeza, ansiedade etc. Algumas experiências afetivas acompanham as cognitivas. A aprendizagem psicomotora envolve respostas musculares que ocorrem mediante treino e prática, mas algumas aprendizagens cognitivas são importantes para a aquisição das habilidades psicomotoras(MOREIRA,1999, p.152).

Cada indivíduo possui experiências singulares, o que torna o ser humano único em suas vivências. Partindo desta premissa, observamos que os níveis de habilidades e competências de cada indivíduo são variáveis e estão em constante desenvolvimento. O educador necessita ter a sensibilidade e o comprometimento de conhecer as potencialidades do seu pupilo, para a partir deste diagnóstico, traçar metas de desenvolvimento do aprendiz.

De acordo com Moreira (1999) a teoria de Ausubel versa que o que trás real influência para a aprendizagem são os conhecimentos prévios do aluno. Desenvolver as potencialidades do educando, baseando-se naquilo que ele já conhece, explorando novas possibilidades, sempre ancorado em um conhecimento anterior.

O aluno sente real interesse quando as abordagens propostas em sala de aula têm haver com seu dia-a-dia, sua realidade existencial. Aprendizagem significativa é encontrar sentido para sua própria existência, se identificar com o que é oferecido por parte do professor.

“A aprendizagem ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos ou novas proposições relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz” (AUSUBEL, 1980 apud MOREIRA, 1999, p.153).

Para que o professor trabalhe sob o prisma de aprendizagem real e não camuflada por testes de memorização e simulação, é conveniente que o docente saiba articular os conteúdos com situações problema onde o aluno terá que utilizar e desenvolver suas competências baseando-se no que foi proposto anteriormente e termos de conteúdos trabalhados.

De acordo com Moreira (1999) a avaliação é uma ferramenta útil como veículo de verificação, mas o professor necessita de cautela ao utilizar parâmetros avaliativos. Cada aluno possui um tempo e um potencial diferenciado.

A principal dificuldade encontrada nos espaços escolares da atualidade está relacionada à valoração e classificação dos aprendizes com base em testes homogêneos como: exercícios escritos de avaliação, desenvoltura do aluno ao apresentar seminários, interação do aprendiz com os colegas, etc.

Cabe ao professor possuir sensibilidade para diversificar seus critérios avaliativos um a um, observando as especificidades e o grau de importância dos conteúdos propostos. 

  1. A APRENDIZAGEM SOB O OLHAR DE JEAN PIAGET

A teoria de Piaget não é exatamente uma “Teoria da Aprendizagem” Piaget dedicou-se a estudar sobre o desenvolvimento mental. Como a mente humana processa novas informações e se desenvolve.

Piaget preferia falar em “Aumento do conhecimento, analisando como isso ocorre: só há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação” (PIAGET,1977 apud MOREIRA, 1999, p.102).

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget é vasta e seria complexo esmiuçar em apenas um capitulo todas as especificidades de seu trabalho. Mas, resumindo a grosso modo o que diz a teoria de Piaget, o processo de aprendizagem possui três etapas distintas: assimilação, acomodação e equilibração.

Em cada uma dessas etapas o indivíduo é o agente da aprendizagem e não o paciente. Ele age sobre o objeto de conhecimento e monta esquemas mentais de assimilação. Após assimilar o objeto de conhecimento ocorre o processo de acomodação e após a acomodação mental acontecer vem o processo de equilibração. Segundo Piaget (1977), após concluída a equilibração, a mente já está pronta para receber novos objetos de conhecimento e repetir o mesmo processo.

Do mesmo modo que Ausubel defende um ensino baseado em ancoragem de novos conhecimentos sob conhecimentos prévios do aprendiz, Piaget versa que “Experiências acomodadas dão origem, posteriormente, a novos esquemas de assimilação e um novo estado de equilíbrio é atingido” (PIAGET, 1977 apud MOREIRA, 1999, p.100).

Os objetos de conhecimento devem ser proporcionais ao nível de desenvolvimento cognitivo do aprendiz, assim como o objeto a ser assimilado deve conter alguma significação. O objeto a ser assimilado não pode ser discrepante. Segundo Moreira (1999) muitas vezes os esquemas de ação da criança não conseguem assimilar determinada situação. Neste caso, o organismo desiste ou se modifica.

Os níveis de desenvolvimento cognitivo variam de indivíduo para indivíduo, assim sendo, cada ser humano possui um ritmo e um grau de experiência diferenciado. As variáveis que vão determinar as peculiaridades de desenvolvimento mental de cada pessoa, são os fatores: idade, maturação orgânica e  vivência.

Piaget (1977) afirma que o desenvolvimento mental da criança pode ser identificado tomandopor base os esquemas de assimilação que ela utiliza.

O corpo humano possui um tempo de maturação. Determinados aspectos do desenvolvimento cognitivo só irão alcançar sua plenitude na adolescência e fase adulta. O professor enquanto orientador do aprendiz precisa ter conhecimento sob o perfil social e orgânico do seu aluno. Certos tipos de linguagem só serão úteis na primeira infância ou serão entendidos apenas na adolescência. Não seria sensato tratar adolescentes com uma linguagem infantil assim como não seria adequado tratar crianças como pequenos adultos.

“Não há dúvidas de que certo número de condutas depende mais ou menos dos primórdios do funcionamento de alguns aparelhos ou circuitos: é o caso da coordenação, da visão e da preensão cerca dos 4,5 meses de vida” (PIAGET, 1977, p.132).

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