UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

CENTRO DE FILOSOFIA LETRAS E EDUCAÇÃO – CFLE

CURSO: LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

DISCIPLINA: CURRÍCULOS, SABERES E AÇÃO DOCENTE

PROFESSOR: GÉRISON KÉZIO

ACADÊMICA: ANA ELISA ALVES DE FREITAS

ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO O INSUPORTÁVEL BRILHO DA ESCOLA

SOBRAL, 7 DE JUNHO DE 2012

A escola nos dias de hoje passa por alguns problemas referentes a própria gestão, na forma de ver e tratar o aluno, bem como sua metodologia de ensino para com os alunos. Podemos perceber claramente a escola ainda muito voltada para o ensino tradicional, que tratam as crianças como adultos em miniatura, esquecendo-se do seu processo de formação física e psicológica, das experiências ainda não vividas e da maturidade ainda não alcançada e que precisa ser trabalhada em vários aspectos.

Esse problema acontece não só aqui no Brasil, mas em todos os países de primeiro mundo, já que o ser humano é universal e possui as mesmas limitações em qualquer parte do mundo. Para Russeau, as crianças devem ser trazidas para o meio mais saudável possível, ou seja, deve conviver ao máximo com outras crianças de sua faixa etária – de preferência em um ambiente campestre - para não se contaminar com os pensamentos dos adultos.

A grande verdade é que esse respeito ao desenvolvimento físico e psíquico da criança deve prevalecer perante as tantas mentalidades rígidas e cruéis de certos professores em seu método de ensinar. Existe, pois, uma grande diferença entre educar e ensinar. Educar é disciplinar, controlar os ímpetos, os desejos; ensinar por sua vez, é repassar os saberes adquiridos com muito esforço para a nova geração da humanidade, para que esta possa futuramente contribuir de forma eficaz visando à melhoria da qualidade de vida do bem comum.

Trazendo para a realidade atual do ensino, um dilema que o professor enfrenta hoje em sua sala de aula é justamente adequar a sua maneira de ensinar perante todas as cobranças do sistema, que ignora as particularidades de cada ser humano e exige a todo custo resultados e metas inatingíveis e fora da situação dos alunos. Tratam a criança apenas como mais um número e esquecem de trabalhar seu emocional, ou procurar outras formas de desenvolver outras habilidades que proporcionem seu amadurecimento e, consequentemente, sua aprendizagem, mesmo que demore mais um certo tempo.

Toda essa cobrança da gestão escolar recai em cima do professor, que se sente sufocado diante de tantos projetos a serem cumpridos e resultados a serem mostrados, quando o que importa realmente é a aprendizagem, que ocorre de forma individual e em tempos diferentes de criança para criança. O professor fica nesse impasse, onde não sabe se segue fielmente o que o currículo manda ou se foge um pouco da rotina e estabelece e aprimora a sua própria forma de ensinar, de acordo com o conhecimento que tem de cada aluno, agindo conforme suas necessidades.

Acredito que o ideal seria mesclar as duas vertentes acima, humanizando a aprendizagem, sondando realmente as principais dificuldades em qualquer aspecto, para depois de conhecer as necessidades de cada criança poder explorar as metas. Não podemos esquecer contudo daqueles alunos que não acompanham os outros e sempre acabam marginalizados do conhecimento e até da maioria das vivências em sala. É com essas crianças que devemos nos preocupar, procurando a melhor pedagogia para lidar com ela, perceber qual são suas habilidades e trabalhar em cima delas, incentivando-as e deixando-as a vontade para interagir com os conteúdos repassados e a partir daí apreender conhecimentos.

Outro impasse referente à formação de nossas crianças e jovens é a influência tão forte que as mídias produzem em sua forma de pensar, de agir e de se relacionar, apontando-se principalmente para a televisão. O que fazer para capacitar os alunos e alertá-los quanto ao perigo de viver uma para realidade e esquecer-se dos seus valores e de sua criticidade perante a vida e suas escolhas? Como os governantes devem se comportar diante dessa “cultura vazia” e cheia de futilidades que bombardeiam a capacidade intelectual do aluno e o acomoda de maneira tão triste?

O que falta realmente são governantes que se importem com o ensino de uma forma séria e comprometida, a fim de formar cidadãos não somente a nível de conhecimentos didáticos, mas de maneira que eles absorvam os valores  necessários para se tornarem homens e mulheres de caráter, de honra. É preciso não só educar, mas ensinar de verdade, preocupar-se com o futuro de seus alunos, que serão os homens de amanhã, aqueles que tomarão as decisões a nível individual e coletivo.

Uma outra razão que é responsável pela crise da educação nos países desenvolvidos e até no Brasil é o fato de acreditar que só existe uma  forma de ensinar, forma essa desprendida do material curricular e da relação professor aluno, em cada sala de aula de maneira especial. Se saber ensinar vale mais do que saber muito, os professores não precisariam saber além do que lhes é imposto no currículo, mas é devido à sede de conhecimento do aluno e do próprio professor, que não se cansa de doar-se e de conhecer o mundo e a realidade em que vive, que é preciso transpor os limites do currículo e acima de saber ensinar, também saber muito para melhor ensinar.

Vivemos em um país onde a educação avançou, se é que podemos assim dizer, no sentido de tirar as crianças da rua e do trabalho infantil para pô-las na escola. O problema é que a enorme carência de professores obrigou o sistema a diminuir consideravelmente o tempo e a qualidade de sua formação, e o que vemos nas escolas é um ensino muito superficial e restrito a um mínimo de estudantes que prestam atenção, pois o professor não tem domínio de sala e nem de conhecimento, o que agita os alunos de uma maneira bem intensa.

Essa forma de se trabalhar (muitos alunos para poucas salas e poucos professores mal formados) deveria ser revista por todo corpo docente, os que gerem o sistema educacional como um todo e os próprios políticos, procurando soluções viáveis, qualificando a formação profissional e o salário do professor, para que de maneira gradual, a educação, ou melhor dizendo o ensino possa ser levado a sério, de fato.

Os professores precisam a cada momento avaliar sua forma de ensinar, atentar para os possíveis problemas de aprendizagem, melhorar seus métodos e comunicar as insistentes dificuldades ao seu núcleo gestor. A gestão escolar (coordenadores, diretores e secretários) devem agir em conjunto buscando capacitações para os professores, e outros tipos de melhorias, traçando um plano de ação eficaz para superar as metas já alcançadas, incluindo sugestões e soluções dos problemas. Cabe ao governo avaliar suas prioridades e atender as necessidades em comum, distribuindo sabiamente as verbas e comprometendo-se em dispor de todo o aparato para que realmente o progresso aconteça.

 O aluno deve aprender por si próprio o conhecimento, para que este se fixe melhor em seu interior e ele seja capaz de usar com autonomia e bom senso os conhecimentos que dispõe. O aluno dependente do professor nunca vence na vida, sempre está à espera de migalhas e não aprofunda seus saberes. A curiosidade do aluno e o estímulo do professor são de extrema importância para o crescimento intelectual do aluno, bem como sua maturidade pessoal.

Claro que para a obtenção de conhecimento é de extrema importância a orientação do professor, um profissional experiente no assunto, que direciona o aluno para o seu objetivo, mas o professor não pode “caminhar” pelo aluno, é preciso que este se descubra como ser humano e desenvolva suas habilidades através do auto-conhecimento e das relações sociais, que firmam laços e fortalecem os talentos de cada um.

O importante de tudo é que a escola se concentre em seu principal papel, que sempre foi o de ensinar, de transmitir as gerações futuras em pouco tempo o que a humanidade demorou séculos para descobrir. É preciso reivindicar esse direito, diante da artificialidade do currículo escolar. Conquistar a criança e cativá-la, mostrando as belezas do conhecimento, desafiando-a de maneira saudável e sempre incentivadora, sabendo que o conhecimento é por si só, libertador.

Questionário com os professores

1)    Qual o problema na forma de ensinar hoje?

 R 1) Encaro como maior problema o próprio sistema, que muitas vezes nos priva de educar a partir da necessidade de cada criança, e nos obriga a “lutar contra o tempo” para alcançar metas.

R 2) Percebo hoje que o professor se sente dentro de um sistema em que a cobrança é cada vez mais presente, há inúmeros projetos a serem cumpridos para se atingir apenas um objetivo quando  na verdade o que importa é ter um diagnóstico positivo do aluno, e não se leva em conta o esforço do professor.

R 3) O grande engano nas salas de aula é ainda aquela visão superficial do ensino, onde os professores fingem que ensinam, usando meramente o livro didático e os alunos fingem que aprendem.

2)    Como você observa o impacto do ensino tradicional na formação da criança?

R 1) No ensino tradicional tínhamos o professor como o detentor do conhecimento e o aluno apenas como o receptor de informações. Hoje o aluno tem liberdade pra se expressar, participar, interagir, e é aí que a aprendizagem se torna mais eficaz. Percebemos também que no ensino tradicional o centro era o professor, e hoje é o aluno, que muitas vezes é indisciplinado sendo a causa de muitos problemas.

R 2) As crianças acabam sendo forçadas a sempre mostrar o melhor. O custo emocional muito alto é oriundo do modelo de eficiência adotado hoje pela maioria as escolas. A escola atual atenta apenas para a formação acadêmica e não faz valer a palavra “educação”, no sentido de não educar as crianças no contexto de cada uma.

 R 3) Se por um lado o ensino tradicional faz as crianças se sentirem pressionadas e submissas ao ponto de prejudicar toda a aprendizagem, , por outro disciplina os alunos e aprofunda os conhecimentos através da metodologia tradicional.

3)    Para você, qual seria o modelo de escola ideal?

R 1) Seria a escola que cumprisse com seu objetivo de transformar o ser humano. Deveria ser o lugar onde as pessoas conseguem ter uma outra visão de mundo, para melhor atuar nele. Acredito na metodologia da escola integral, essa é de fato transformadora, pois atenta em deixar o aluno por mais tempo no ambiente educacional.

R 2) Acredito que uma escola ideal seria aquela em que o aluno pudesse permanecer em tempo integral para que desenvolvesse suas possíveis inteligências múltiplas e assim encontrar seu lugar no mercado de trabalho.

R3) Seria a escola que propusesse ao aluno a possibilidade de se expressar livremente, sendo ele mesmo, sem esquecer porém de suas obrigações, mas cativando e desenvolvendo habilidades para que ele se auto conheça e seja capaz de escolher o caminho que quer trilhar.

 

Referências bibliográficas

Pombo. O. (2003). O insuportável brilho da escola.