Não é difícil nos depararmos com pessoas que mesmo sendo "alfabetizadas" não conseguem compreender mensagens simples, como uma carta, um aviso, um anúncio de jornal. Ou ainda, com universitários de variadas áreas- humanas, exatas- que sentem dificuldade ao interpretar textos ou enunciados de questões numa prova, em concursos, o que os leva a obterem resultados bem abaixo do desejado.

A partir daí, chega-se a uma conclusão:

Compreensão envolve muito mais que decodificação. De nada adianta saber a formula que se utiliza para resolver determinado problema se não se sabe como solucioná-lo. É preciso, primeiramente, compreender o que se pede, montar o problema, utilizando as devidas fórmulas, para finalmente se chegar a resposta. Do mesmo modo, não basta saber ler para entender o que está sendo lido. Mas o que será que está acontecendo? O sistema educacional brasileiro não está conseguindo alfabetizar de maneira adequada à sua população?

No Brasil, uma grande parcela da população é funcionalmente analfabeta, ou seja, além dos considerados "analfabetos", incapazes até mesmo de assinar o próprio nome, existem os que mesmo com a capacidade de decodificar letras e números, não possuem a habilidade de interpretar textos e de fazer operações matemáticas.

De acordo com o INAF (Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional) existem três níveis distintos de alfabetização funcional: rudimentar, básica e plena, que são medidas através das habilidades que uma pessoa possui em matemática (numeramento) e leitura/escrita (letramento), o que, de fato nos interessa. O quadro abaixo relaciona os níveis de alfabetização com as determinadas funções:

 

Leitura/Escrita

 

Nível Rudimentar

Localiza uma informação simples em enunciados de uma só frase, um anúncio ou chamada de capa de revista, por exemplo.

 

Nível Básico

Localiza uma informação em textos curtos ou médios (uma carta ou notícia, por exemplo), mesmo que seja necessário realizar inferências simples.

 

Nível Pleno

Localiza mais de um item de informação em textos mais longos, compara informação contida em diferentes textos, estabelece relações entre as informações (causa/efeito, regra geral/caso, opinião/fato). Reconhece a informação textual mesmo que contradiga o senso comum.

 

Somente o nível pleno é considerado satisfatório, pois, permite que a pessoa possa utilizar com autonomia a leitura como meio de informação e aprendizagem, tornando-se um elemento independente dentro da sociedade e de qualquer grupo, já que têm meios suficientes para argumentar, questionar, reinvidicar e até mesmo para se informar sobre determinado assunto.

No entanto, o nível de alfabetização de nosso país encontra-se bem distante dessa realidade. Segundo dados do INAF (Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional) o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população, 30% no nível 1 e 38% no nível 2. Somando os 7% da população que é totalmente analfabeta, temos que 75% dos brasileiros não possuem o pleno domínio da leitura, ou seja, apenas 25% estão no nível 3 de alfabetização.

A esse fato está ligado uma série de fatores: a baixa qualidade de ensino ofertada nas escolas( tanto pública quanto privada); o baixo salário e a desvalorização dos professores,o que acaba desmotivando-os; a aprovação automática; a falta de hábito de leitura da população, entre outros.

Entretanto, todos esse fatores gira em torno de um único elemento: O professor, afinal é esse profissional que recebe a difícil missão de educar, e que, de certa forma, podemudar essa realidade. O papel de alfabetizar funcionalmente, apesar de professores de todas as áreas ( Física, Matemática, Biologia) poderem contribuir, é quase sempre atribuído ao professor de Português, já que este trabalha diretamente com a questão da leitura e escrita. A diferença maior entre este e os demais professores está no meio e nos instrumentos utilizados para chegar a isso.

O estudo da linguagem, baseado na leitura, produção e interpretação de textos, no conhecimento de aspectos gramaticais e de funcionamento da língua é o meio que dispõe o professor de português na formação do aluno. Consequentemente, o seu instrumento de trabalho são os materiais escritos- textos, poesias,crônicas- e a tão temida gramática.

O fato é que nem sempre esses professores fazem uso de tais recursos de maneira adequada, ao invés de abordarem metodologias de incentivo à leitura, limitam-se a reproduzir o que está contido no livro didático, enchem seus alunos com regras de concordância, crase, listas de exercícios sobre sintaxe e por aí vai. Mas, isso não quer dizer que os professores sejam os únicos e verdadeiros responsáveis pelo mau desempenho do aluno. Ao contrário disso, estes também sofrem as consequências de uma má qualificação, reforçada pela visão estigmatizada do ensino de português voltado para exploração da gramática.

No entanto, apesar de todas essas deficiências, é possível sim melhorar onível de leitura, escrita e o desempenho do aluno de um modo geral. Para isso, caberia ao professor adotar algumas medidas como:

·Escolher conteúdos de interesse dos alunos e materiais de leitura que apresentem valor funcional, estimulem a imaginação dos alunos e o gosto pela leitura;

·Criar contextos voltados para o cotidiano do aluno, nos quais as competências de linguagem se relacionem e se desenvolvam;

·Incentivar a produção coletiva, individual através de projetos, oficinas, jogos e competições;

·Respeitar o conhecimento intuitivo do aluno, valorizar o que ele já sabe do mundo, da vida, acrescentando-lhe informações.

Porém, antes de tudo isso, é preciso entender que não se pode exigir do aluno o hábito da leitura, nem a sua total compreensão, se o próprio professor não os estimula e não oferece subsídios para a aquisição deste hábito.