Resumo

Este artigo faz parte do Estágio I em Pedagogia da Universidade de Caxias do Sul, tendo como objetivo analisar a importância da afetividade e do vínculo professor e aluno para a criança, podendo contribuir para a aprendizagem. Diante disso, são analisadas primeiramente as concepções de afetividade segundo Wallon e Piaget e sua importância e contribuições para o desenvolvimento da criança. Posteriormente, é abordada a afetividade na escola e o papel do professor na construção do vínculo professor e aluno sendo fundamental para a criança.

Introdução

A realização desta pesquisa surgiu da necessidade apresentada em dada escolade Educação Infantil do município de Caxias do Sul, no período em que realizei as observações do Estágio I em Pedagogia. Nessa escola, pude observar a troca frequente de professores em cada turma, desde as turmas de berçário até as turmas do último ano do maternal, além de professores fortemente influenciados por problemas externos à sala de aula, como por exemplo, o possível fechamento da escola, criando um ambiente negativo em que a criação de vínculos entre professor e aluno está altamente desfavorável eprejudicada.

A partir da observação e da situação problema detectada, vi por necessidade a importância de aprofundar estudos sobre o tema afetividade e a criação de vínculos entre professor e aluno, em que os mesmos são de extrema importância para o desenvolvimento moral e cognitivo da criança, além de facilitarem a aprendizagem, auxiliarem na formação do caráter, no desenvolvimento da autonomia e na própria adaptação.

No primeiro subtítulo, destaco as conceituações sobre afetividade a partir do olhar de Wallon e Piaget, e a sua importância, como ela pode ser compreendida e expressa, suas contribuições para o desenvolvimento humano, aqui especificada na fase da infância. Já no segundo subtítulo, o foco se volta para a escola. Apresento a importância da afetividade e da formação de vínculos entre professor e aluno, pois é um processo contínuo e diário em que o professor deve estar focado em sua turma de alunos, não deixando fatores externos prejudicarem os laços afetivos que devem ser criados.

Teóricos como Wallon e Piaget são trazidos para dar base a este estudo. Wallon vê a afetividade como domínio das emoções e das experiências do indivíduo com o meio em que vive. Os dois autores afirmam que a afetividade e a cognição não podem andar separadas, sendo vitais para o desenvolvimento, principalmente na infância. 

1.Afetividade: concepções de Wallon e Piaget

Todos nós somos afetados pelo meio no qual vivemos, seja através do olhar de alguém, de algo que nos chama a atenção, como por exemplo, um objeto ou algumacena e até mesmo por informações obtidas. Mas também, somos afetados por sensações internas, como a ansiedade, o medo, a alegria, o desejo, a motivação, entre inúmeras outras, e assim respondemos a essas sensações de alguma forma. A todos esses estímulos que podem nos afetar de forma positiva ou negativa, e também a ação do homem, como reagimos sobre eles, podemos chamar de afetividade, algo primordial para o desenvolvimento do serhumano.

A afetividade oportuniza o ser humano revelar os seus sentimentos, sejam eles positivos ou negativos, como por exemplo, de alegria, raiva, amor, ódio, prazer, dor, entre inúmeros outros, em relação a outras pessoas e objetos. A afetividade cria laços e relações profundas, não somente fundada por sentimentos, mas sim por atitudes.  Atitudes essas que fazem a relação perdurar ou não. Wallon considera que o desenvolvimento estará completo quando integrado ao meio em que vive, com os aspectos afetivo, cognitivo emotor: 

Jamais pude dissociar o biológico e o social, não porque o creia redutíveis entre si, mas porque, eles me parecem tão estreitamente complementares, desde o nascimento, que a vida psíquica só pode ser encarada tendo em vista suas relações recíprocas. (Wallon citado por Werebe; Nadel-Brulfert, 1986, p.8). 

Wallon (1986), um dos principais estudiosos que falam sobre a afetividade, nos diz que a vida psíquica do ser humano é dividida em três dimensões: a motora, a afetiva e a cognitiva e essas dimensões atuam de maneira integrada, uma dependendo da outra. Ele afirma também que o processo de desenvolvimento depende não só da própria capacidade do indivíduo, como também das interações com o meio e os estímulos recebidos porele.

Na criança, a afetividade predomina nos primeiros anos de vida, como forma de se expressar e relacionar-se com as pessoas. O adulto faz a mediação dessa relação com o meio, sendo ele essencial para seu desenvolvimento cognitivo e construção de identidade, interferindo de forma direta na vida do ser humano, desde a infância até a vida adulta, como nos diz Wallon:

O meio é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder a suas necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e, depois, psicomotoras. Não é menos verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de novos meios, novas necessidades e novosrecursosque aumentam possibilidades de evolução e diferenciação individual. A constituição biológica da criança, ao nascer, não será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias de sua existência, da qual não se exclui sua possibilidade de escolha pessoal... Os meios em que vive a criança e aqueles com que ela sonha constituem a "forma" que amolda sua pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente. (Wallon, 1975, pp. 164, 165, 167)

Para Wallon (1975), a afetividade pode ser observada de três modos: através da emoção, do sentimento e também da paixão. Elas aparecem logo cedo e vão se desenvolvendo durante toda a vida do indivíduo, sendo a emoção a primeira manifestação da afetividade. Já o sentimento pode ser relacionado com a cognição, assim como a paixão pode ser relacionada como busca de um objetivo, sendo manifestada quando dominamos nossosmedos.

Assim, entende-se que a afetividade é compreendida como domínio das emoções, dos sentimentos, das experiências vividas, das experiências do indivíduo com o meio em que vive, das relações com o outro, enfim, de todas as suas vivências individuais ou coletivas acompanhadas de qualquer tipo de emoção esentimento.

Para Jean Piaget (1926), a afetividade se dá como agente motivador da ação cognitiva e que afetividade e razão estão interligados um com o outro, pois, a afetividade seria o combustível para realizarmos algo e a razão nos possibilitaria a reconhecer nossos desejos, identificar nossos sentimentos e assim termos um resultado positivo em nossas ações. Ela não é compreendida somente pelas emoções e sentimentos, mas também pelas vontades e desejos próprios das crianças, tendo como objetivo aadaptação.

Wallon (1975), afirma que a afetividade corresponde a uma das fases de maior importância e também mais ancestrais do desenvolvimento humano ligada diretamente com a inteligência. A aprendizagem ocorre a partir de situações que interligam a afetividade e a inteligência. O maior desenvolvimento da inteligência se dá pelas construções afetivas, assim como, as construções afetivas dependem do desenvolvimento intelectualpróprio.

Destaca-se também que a afetividade pode ser compreendida como conhecimentos adquiridos por meio das vivências, através das interações com o coletivo, onde podemos nos comunicar, transmitir emoções e sentimentos, valores, desejos, comportamentos diferentes, conviver com a diversidade cultural, enfim,tudoque possa nos afetar diretamente e aos outros, contribuindo para o processo de aprendizagem.

Wallon e Piaget destacam que a afetividade e a cognição não podem andar separadas. A afetividade deve estar presente na vida de todos os seres humanos em qualquer fase da sua vida, sendo vital para o desenvolvimento, mas principalmente na infância. Na fase escolar ela destaca-se pelo vínculo professor e aluno sendo essencial para o aprendizado.

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