O tema é de tal abrangência, que corremos o risco de permanecer em nível de generalidade prejudicial à formulação de recomendações práticas, caso focalizemos todo universo de pessoas que se relacionam no trânsito: pedestres, motoristas e passageiros de veículos automotores, assim como, motociclistas e ciclistas, e seus eventuais passageiros. Pouco sabemos sobre essas duas últimas categorias, constituídas de jovens, que hoje correm elevado risco de acidente em nossas cidades.

Como Presidente da Associação Brasileira de Pedestres- ABRASPE, falaremos um pouco sobre os que andam a pé, particularmente das crianças e dos idosos. Na qualidade de repetidores do que lemos, principalmente sobre estudos e pesquisas feitos no exterior, e de atentos observadores de nossa realidade, esperamos identificar problemas e formas mais humanas de conviver com eles.

Mais do que isso, entendemos que nossa missão aqui é a de despertar em seus corações o desejo de mudar seus próprios comportamentos, tornando-os co-responsáveis pelo processo de humanização de nossos espaços públicos.

Pouca gente tem coragem de falar, principalmente as autoridades, mas a falta ou diminuição no rigor na fiscalização e penalização dos infratores de trânsito tem contribuído de maneira significativa para o aumento e agravamento dos acidentes de trânsito. Os acidentes tem aumentado, mas um fator importante é que eles tem vitimizado mais seriamente as pessoas. Ações com fins políticos e eleitoreiros, obrigação de informar onde está localizado os equipamentos eletrônicos de ficalização, preocupações apenas com engarrafamentos e congestionamentos, falta de punibilidade e verdadeiras campanhas educativas são alguns exemplos do que estamos nos referindo. Diversos estudos evidenciam a necessidade da implementação de ações educativas para o trânsito, considerando-se que o comportamento humano é apontado como fator determinante dos acidentes de trânsito. Este
trabalho apresenta uma discussão da atuação da educação e do ensino formal na formação de valores de cidadania relacionados ao comportamento humano no trânsito, e investiga o comportamento no trânsito de estudantes de engenharia.

Um dos fatores que favorece a ocorrência dos acidentes de trânsito é o volume do tráfego, como comprovado em diversos estudos (TAPIA GRANADOS, 1998). O carro tornou-se, após a Segunda Guerra Mundial, um artigo de consumo. Sua produção mundial anual entre 1950 e 1995 cresceu de 11 para 53 milhões,

A deficiência do transporte público e o aumento populacional são alguns dos fatores que incentivam a utilização do carro Fatores econômicos podem também influenciar o uso do automóvel, como o preço do combustível.

Os acidentes de trânsito além de representarem um problema para a saúde, correspondem a um custo anual de 1 a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para os países menos desenvolvidos. No caso do Brasil, o custo social e material dos acidentes de trânsito é próximo de 1% do PIB. os principais custos em função dos acidentes de trânsito correspondem a dano de propriedade, perda de produtividade no trabalho, despesas
médicas e perda de produtividade no lar, As deficiências físicas provenientes
de acidentes de trânsito trazem prejuízos financeiros, familiares, de locomoção e
profissionais, entre outros. Alguns condutores colocam os seus interesses próprios acima da coletividadeUm estudo organizado pelo Conselho Regional de Psicologia 10°Região (MACEDO, 2005) aponta seis fatores humanos determinantes dos acidentes detrânsito: ignorância, desobediência, emoção, valores, personalidade e lentidão de raciocínio. Embora seja observado o aumento do número de
veículos em todo o mundo, o sistema viário e o planejamento urbano não acompanham estecrescimento, favorecendo os conflitos pela disputa de espaço e influenciandosignificativamente a ocorrência dos acidentes de trânsito

A avaliação do comportamento humano no trânsito deve contemplar os processos
psicológicos que atuam durante a condução do veículo: percepção e atenção, que permitem
perceber a situação e as condições de trânsito; a interpretação e a avaliação das informações
obtidas; a tomada de decisão mais adequada; e a execução da decisão, com rapidez e precisão.
Esses processos psicológicos são modulados pela personalidade, inteligência, estilos
cognitivos, motivação, aprendizagem, experiência e memória

A regulamentação de trânsito e as punições das infrações são usualmente implementadascomo medida de prevenção de comportamentos que possam induzir a ocorrência de acidentes.
O reflexo de sua redução com o aumento do número de autuações é observado
internacionalmente. Contudo, é necessária a certeza da punição, por meio da presença dosagentes de trânsito em caso de comportamentos irregulares. Os países que reduziramsignificativamente o número de acidentes de trânsito possuem procedimentos rigorosos defiscalização. Este procedimento é mais efetivo, do que os altos valores das multas aplicadas, No Brasil, o condutor que cometer uma infração é penalizadolegalmente, de maneira a inibir novas infrações, Contudo, esse instrumento perde a sua eficácia na falta de fiscalização.
"A maneira como as pessoas reagem ao risco nem sempre reflete sua probabilidade. Por exemplo, a probabilidade de morrermos vitimados por um ataque terrorista em um avião é pequena, se comparada com a probabilidade de morrermos em um acidente de ônibus que faz o trajeto até o aeroporto. A, maioria dos viajantes, contudo, está mais preocupada com o possível ataque terrorista" .A agressividade, o descontentamento, o desprezo pelas leis e pelaautoridade, a pressa exagerada podem nos levar a julgamentos e decisõesirracionais e estúpidas, arriscando a nossa vida e a dos outros. O argumento socrático, segundo o qual o homem segue a sua razão sempre, já foi anulado por uma série de acidentes estúpidos.