FACULDADE BATISTA MACAENSE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

ABUSO ESPIRITUAL

 

 

GISIANE SILVA DE MELLO

 

 

 

 

 

 

 

 

Macaé - FABAMA

Julho 201

 

 

GISIANE SILVA DE MELLO

ABUSO ESPIRITUAL

Artigo de conclusão de curso apresentado ao Curso de Teologia da Faculdade Batista Macaense – requisitos para obtenção de título de teóloga. Macaé, 2014.

Orientadora:

 Prof. Dr. Carlos Rego

 

Macaé

2014

 

Resumo

 

Esse artigo tem como pretensão expor o autoritarismo dos líderes religiosos, mais especificamente do pastor, que tem se esquecido da essência de seu chamado e tem usado a sua posição de maneira errada tornando-se ditador de normas, abusador de poder, ferindo suas ovelhas, em muitos casos de forma tão profunda, que as mesmas necessitam de tratamento psicológico para terem essas feridas ao menos cicatrizadas. Esse tema, ao contrário daquilo que se pensa, não é um tema recente, contudo, há pouco tempo que se fala mais abertamente sobre o autoritarismo pastoral. Por conta desse motivo, esse artigo irá apresentar um pouco mais acerca desse tema tão relevante e que merece ser abordado com toda seriedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

Abuso espiritual é o uso da posição de liderança ou do poder para seduzir, influenciar e manipular as pessoas a fim de alcançar interesses próprios. Os praticantes do abuso espiritual são muito hábeis para passar a impressão de que o que querem é do interesse de Deus e da sua obra quando, na realidade o que buscam é seu próprio interesse.

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêem a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores" (Mateus 7: 15). A partir desse texto bíblico nota-se que as pessoas têm sido alertadas quanto aos falsos profetas, que se fingem de pastores, mas não passam de lobos cruéis que não tem amor nem cuidado pelas ovelhas. “Pastores choram pelas suas ovelhas; lobos fazem suas ovelhas chorar” (LUDOVICO, 2014, p. 1).

Alguns pastores levados pelo “poder” se esquecem do exemplo de Cristo e se tornam verdadeiros ditadores de conduta, donos da verdade e que não admitem serem contestados. “Pastores são ensináveis; lobos são donos da verdade” (LUDOVICO, 2014, p. 1).

Jesus enquanto esteve entre os homens, serviu de exemplo para todos a sua volta, Jesus sabia como ninguém distinguir autoridade de autoritarismo, sendo manso e humilde de coração. Jesus explanava sobre o modo que os homens deveriam ser semelhantes a ele: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” (Mateus 11: 29)

O problema é que alguns pastores colocam um fardo muito grande sobre suas ovelhas e elas ao invés de encontrarem descanso, acabam por muitas das vezes sendo feridas em suas almas. Por esse motivo este trabalho tem como objetivo denunciar esse autoritarismo, mostrar a forma que esse autoritarismo ocorre a fim de ajudar na prevenção para que muitas vidas sejam “salvas” desses abusadores.

 

 

 

O que é abuso espiritual?

A definição de abuso espiritual consiste no uso da posição de liderança ou do poder para seduzir, influenciar e manipular as pessoas a fim de alcançar interesses próprios.

CÉSAR (2009) define o abuso espiritual como o encontro entre uma pessoa fraca e uma forte, em que a segunda usa o nome de Deus para influenciar a outra e levá-la a tomar decisões que acabam por diminuí-la física, material ou emocionalmente.

 

Onde acontece mais freqüentemente esse autoritarismo?

Esse autoritarismo acontece mais comumente em igrejas neopentecostais e pentecostais, devido na maioria das vezes o líder ter mais autonomia, além de poder apelar para supostas profecias ou revelações para legitimar seu domínio sobre a vida dos fiéis.

ROMEIRO (2005) adverte que a obediência ao líder não pode ser cega, pois todo ensino deve ser confrontado com as verdades bíblicas, para evitar desvios de rota. Muitos sofrimentos poderiam ser evitados dentro das igrejas se os fiéis tivessem mais preparados para reconhecer os líderes abusadores ou o ambiente propício para formá-los.

 

Características do abuso espiritual

- Liderança autoritária;

-Imagem positiva;

-Anulação das críticas.

Os líderes abusadores são autoritários e levam os fiéis a acreditarem que serão honrados pelo Senhor ao serem submissos a seus lideres, ainda que os mesmos possam até estar errados.

Esses líderes abusadores ainda contam com uma imagem positiva que eles mesmos criam, com o objetivo de levarem as ovelhas a pensarem que eles agem corretamente.

Os lideres abusadores ainda não aceitam críticas, pregam que qualquer pessoa que não concorde com aquilo que é pregado pelo líder é rebelde e deve ser punida.

Convite ao abuso

O regime autocrático centrado na figura carismática do pastor predomina nas igrejas mais novas, em especial nas pentecostais e neopentecostais surgidas nos últimos trinta anos. Estas igrejas são constituídas num sistema hierárquico que consiste num verdadeiro convite ao abuso religioso. Não deve-se generalizar, pois nesse meio tempo também surgiram igrejas sérias, fundadas por homens de Deus, com único objetivo de pregar o verdadeiro evangelho e ganhar almas para o Reino de Deus.

ROMEIRO (2005) escreveu no livro "Decepcionados com a Graça":

Em termos de governo, o neopentecostalismo verticalizou a igreja. O líder forte no topo da pirâmide, que não presta contas a ninguém, que toma decisões sozinho em questões financeiras e doutrinárias, acaba tirando das pessoas a oportunidade de funcionarem como um corpo, como deve ser a igreja. Em tais circunstâncias, os abusos se multiplicam. Alguns líderes religiosos têm dificuldade de administrar o poder.

Por ter uma organização mais democrática, com estabelecimento de conselhos e assembléias, as igrejas protestantes históricas são um pouco menos tentadas nessas áreas, embora não estejam imunes.

 

 

 

As vítimas do abuso

 

Os abusos espirituais acontecem com freqüência, e deixam um expressivo número de pessoas traumatizadas e que não querem nem ouvir falar em igreja evangélica. Inclusive não é difícil encontrar essas vitimas. Alguns que sofreram desse abuso criaram comunidades na internet com o objetivo de se ajudarem, e ainda há outros que estão sendo tratados em consultórios de psicanálise. O abuso deixa marcas profundas, traumas psicológicos, depressão e até doenças graves são relatadas pelas vitimas.

CÉSAR (2005) traz em seu livro alguns relatos que ilustram as consequências do abuso pastoral e uma delas pode ser lida abaixo :

Adriano era um profissional com futuro promissor. Advogado formado pela prestigiada Universidade de São Paulo, a USP, ele ainda ocupava a função de obreiro na igreja que frequentava. Aspirava ao pastorado – o que, conforme a própria Bíblia é uma excelente opção para o crente. Fiel ao seu líder espiritual, Adriano costumava seguir seus conselhos e determinações à risca, entendendo que desta forma estava agradando a Deus. Chegou a fazer um voto público de lealdade ao dirigente. "Ele fazia uma espécie de mantra em torno do versículo que diz que quem honra o profeta recebe galardão de profeta", lembra. Gradativamente, o jovem obreiro passou a negligenciar suas responsabilidades fora da igreja, como o trabalho e o cuidado com a família, tudo em prol daquele seu voto. Submetia-se a condições duras, enquanto o pastor não se furtava a luxos como mesas fartas e carros importados. A mulher e os dois filhos de Adriano acabaram abandonando-o, não suportando o controle exercido pelo pastor sobre sua vida. Frustrado, o advogado fraquejou na fé, envolveu-se com outras mulheres e acabou engravidando uma delas.
A vida do rapaz virou do avesso. Hoje, Adriano aguarda o nascimento do bebê inesperado e preocupa-se com o baixo orçamento e a impossibilidade de rever constantemente os filhos, que vivem com sua ex-mulher. ‘É uma loucura o dano que meus filhos sofreram por causa disso tudo. Não há indenização que pague o que esse pastor causou em minha vida’, desabafa.

 

 

Alguns mecanismos utilizados para exercer o autoritarismo

- Tudo pela visão

O pastor diz ter recebido uma visão de Deus para a igreja e se preocupa tanto em implantar essa visão que se esquece de cuidar das suas ovelhas. Aquele que não concorda com aquela visão é deixado de lado. A visão se torna mais importante que o próprio evangelho.

-Medo nos membros

Alguns líderes colocam medo em seus membros, usando frases do tipo: “Se você não der o dizimo, Deus mandará o devorador, o gafanhoto para destruir o que é seu”; “A rebeldia é como pecado de feitiçaria” e outras coisas do gênero. O uso de versículos fora do contexto, neste caso são utilizados constantemente para validar as estranhas doutrinas da liderança.

-Cobertura espiritual

Concede ao líder uma posição de autoridade e responsabilidade espiritual sobre todos os membros de sua igreja. Quem sair de sua cobertura fica sem defesas contra o inimigo, Deus se quer ouve suas orações.

-O ungido do Senhor

Em muitas igrejas o pastor é tratado como mediador entre Deus e os membros, porém esse conceito está incorreto, uma vez que só existe um mediador que é Jesus Cristo e por meio de Jesus todos possuem livre acesso a Deus, não havendo necessidade de nenhum outro.

 

Tipos de pastores abusadores

Há uma diversidade de tipos de pastores que podem cometer abuso espiritual. Aqui serão abordados apenas dois tipos, que constam no livro “Outra espiritualidade”.

Pastor - lobo: esse é um tipo muito perigoso, que são lobos vestidos de pastores. São corrompidos, uns de forma consciente outros de forma enganada. Corrompidos na alma, mente, coração, no entendimento da verdade. São pastores que só pensam neles mesmos, só querem ver seus interesses, buscam alcançar seus próprios objetivos, implantar sua visão particular e desenvolver seu projeto pessoal de poder.

            Eles atuam no ramo da religião, no segmento evangélico, mas que estão absolutamente distantes do Evangelho de Jesus. Distantes de sua mensagem, de seu espírito, de seu caráter, de seus propósitos, de seus valores e de seus conteúdos mais profundos. São os maiores geradores de feridas, uma vez que abusam da fé de suas ovelhas, são os maiores abusadores do rebanho.

Pastor - ovelha: estes são ovelhas vestidos de pastores. Apesar de serem cristãos sinceros, jamais deveriam ter sido investidos da autoridade pastoral por não possuírem chamado para o pastoreio. Ainda que tenham boa intenção e desejem seguir e servir a Deus com integridade e sinceridade, não foram chamados pelo Espírito Santo, ou seja, o Espírito Santo jamais os constituiu pastores, foram colocados por decisões humanas.

Nesses líderes falta autoridade divina, coração, alma de pastor e entranhas de pastor, receberam o título, mas não o mais importante, a unção de Deus para o cargo. E essa não pode ser forjada, inventada ou manipulada. Seriam ótimos crentes, ótimos pregadores do evangelho, mas são péssimos pastores.  Estes geralmente são inseguros e querendo mostrar sua autoridade, exageram e passam a dirigir a igreja ditatoriamente.

Tipos de abusos

De acordo com CÉSAR (2005) autora do livro “Feridos em nome de Deus, há três tipos de abuso espiritual: abuso de poder, abuso financeiro e, o abuso psicológico.

A seguir, CÉSAR  abordar mais profundamente essas formas de abuso em uma entrevista concedida a revista virtual Cristianismo Hoje:

CRISTIANISMO HOJE – Em sua opinião, quais são os principais tipos de abuso espiritual e suas características?
MARÍLIA CAMARGO CÉSAR – O livro fala de abuso de poder, de abuso financeiro, mas mostra as nuances do abuso que julgo mais sutil e difícil de identificar, mas bastante devastador da mesma forma, que é o abuso de ordem psicológica ou emocional. O líder impõe sua visão de mundo sobre a ovelha, e esta a aceita como uma ordem divina que precisa ser obedecida, sob pena de punição. O pastor diz, por exemplo, que o discípulo deve casar-se com determinada pessoa, porque teve uma "visão" de que esta era a vontade de Deus para a sua vida. Não importa que não haja, a princípio, nada em comum que possa unir aquele casal. E o fiel obedece. O pastor fala para uma mulher que apanha sistematicamente de seu marido que ela deve fidelidade a ele, porque isso é bíblico. Ou então fala para uma pessoa com uma doença grave que ela ainda não foi curada porque está fraquejando na fé. Todos esses são exemplos reais de pessoas que só se recuperaram emocionalmente após muitas horas de psicoterapia. E, claro, após deixarem essas igrejas.


Como prevenir o abuso espiritual

Cuidado com frases do tipo: “Você ainda não recebeu nossa visão”;

“Isso é uma verdade espiritual que você ainda não tem condições de entender”;

“Abençoe-me e você será abençoado”; “Não toque no Ungido do Senhor”.

Além disso, é preciso ter um relacionamento intimo com Deus. Conhecer a Deus e pedir direção ao Espírito Santo que conduz os filhos de Deus em seus caminhos e não os deixam ser enganados.

Muitos fiéis veneram seus pastores, o que é errado, pois eles são humanos e erram, questionar o que o pastor diz não é rebeldia. Não se pode aceitar as verdades do pastor como verdades absolutas, só existe uma verdade absoluta: Jesus.

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14: 6 )

Quando Deus convida as pessoas ao arrependimento de seus pecados Ele deseja que as mesmas não sejam mais escravas do pecado.

“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado”.(João 8: 34)

Só existe uma forma de ser livre, livre do pecado, livre do autoritarismo pastoral, livre da religiosidade e de tudo que prende o homem, Deus chamou o homem para a liberdade, e para alcançar a liberdade é necessário conhecer a verdade, e como já foi citado acima, Jesus é essa verdade.

            “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João 8: 32)

 

Pessoas tem se deixado ser escravizadas por ditadores que deveriam ser pastores por conta de não conhecerem a Deus, o “Deus” que elas conhecem não o Deus Vivo, o Deus dos exrcitos que dá a vitoria para seu povo, porque se essas pessoas conhecessem a Deus de forma completa e da forma como Ele próprio se revela, através de sua Palavra (Bíblia), certamente muitas feridas seriam evitadas por conta do autoritarismo e abuso espiritual. Conclui-se que enquanto não se chegar a maturidade espiritual, esse problema irá permanecer.

“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Oséias 6:3)

 

 

 

 

 

 

Considerações Finais

 

Conclui-se que tem ocorrido um distanciamento do evangelho puro e simples ensinado por Jesus. Pastores tem se valido de seu chamado vocacional para programar uma ditadura ministerial, edificada com base nos seus próprios interesses em detrimento da vontade de Cristo.

Este estudou evidenciou as consequências negativas de um pastoreio desvirtuado. Norteados segundos os princípios deste mundo, o ministério pastoral pode gerar na vida das pessoas, destruição de do corpo de Cristo em aspectos sociais, espirituais e psicológicos.

É necessário que o povo de Deus, cristãos que entregaram sua vida a Jesus, busquem intimidade com o Senhor para assim conhecer a vontade de Deus para suas vidas e se libertarem das amarras deste mundo, até mesmo da igreja corrompida. E possa assim, segundo a direção de Deus encontrar uma igreja que objetiva alcançar os desígnios do Senhor, com um pastor que siga o exemplo do Mestre Jesus, o qual afirmou: "O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas". João 10:11.

 

 

 

 

 

 

 

                             

 

 

 

 

 

 

 

Bibliografia

Bíblia Online. Disponível em:<http://www.bibliaonline.com.br/>. Acessado em: 23/06/011.

LUDOVICO, O. 2014. Sobre Pastores e Lobos.  Boletim da Capelania, Teresina-PI, nº 14, [1-2], 2014 Disponível em: <http://www.stne.com.br/wp-content/uploads/N%C2%BA-14-07-08.14.pdf >. Acessado em: 30 jul. 2014.

BRANDÃO, J. Pastores que Oprimem. Cristianismo Hoje. Disponível em: <http://www.cristianismohoje.com.br/interna.php?id_conteudo=641&subcanal=31>. Acessado em: 14 jun. 2011.

CÉSAR, M. Feridos em Nome de Deus. Mundo Cristão. São Paulo, 2009.

D’ ARAÚJO FILHO, C. F. Igreja comunidade do Carisma. São Paulo: Sepal, 1998.

KIVITZ, E. R. Outra espiritualidade. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

PETERSON, E. ; DAWN, M. O pastor desnecessário. Rio de Janeiro: Mundo Cristão, 2001.

_____. A vocação espiritual do pastor. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

ROMEIRO, P. Decepcionados com a graça.São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

_____. Super Crentes. 2 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.