A religiosidade para a escola ou a religiosidade na escola.

Janete Aparecida Vieira.

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo investigar a ação pedagógica na disciplina do Ensino Religioso, a interação dos alunos, o objeto de estudo e a metodologia aplicada em sala de aula na educação básica. Foram pesquisados dois profissionais atuantes, sendo um de escola estadual outro de escola privada confessional do município de Ponta Grossa. Foi investigada a formação desses profissionais, os critérios para contratação nas escolas onde trabalham frequência e a aceitação dos educandos, bem como a influência do Ensino Religioso na formação do individuo. Instigar a formação continuada oferecida por cada instituição, como vem sendo discutido o Ensino Religioso nas escolas. Lei que ampara essa disciplina, quem era o profissional em outros períodos na história e quem são ou deverá ser o educador contratado para a docência de Ensino Religioso. O trabalho foi dividido em dois capítulos sendo que no primeiro abordado a questão histórica, juntamente com a legislação que o ampara. No segundo capítulo realizamos a análise dos dados e por ultimo, nas considerações finais, suscitamos algumas reflexões necessárias à prática desta disciplina.

Palavras - chave: ensino religioso, prática, formação.

ABSTRACT

The present research had as objective to investigate the educational action in the Religious Teaching subject, the students' interaction, the study object and the methodology applied in classroom in primary education. Were researched two acting workers, one of whom was from state school and other one was from confessional private school in Ponta Grossa. Was investigated the vocational trainning of those workers, the criteria for the recruitment in the schools where they work, frequency and the acceptation of the students, as well as the influence of the Religious Teaching in the individual formation. To motivate the continuous formation offered by each institution, how has been discussed Religious Teaching at schools. Law that support this subject, who was the worker in other periods in History and who is or will have to be the recruited educator to teach Religious Teaching. The assignment was divided into two chapters, the first one approached the historical question, together with the legislation that support it. In the second chapter we analyze the data and lastly, in final consideration, we raise some necessary reflections for the practice of this subject.

Keywords: Religious Teaching, Practice, Vocational Trainning.

INTRODUÇÃO

A esperança de um futuro melhor está e sempre estará nas mãos dos jovens. Educá-los é missão dos pais ou responsáveis que um dia também foram jovens.

A escola faz têm um papel primordial servindo de ponte entre a família e o futuro, e, de preferência um futuro promissor.

O dinheiro nunca deixou de ter o seu valor, pois precisamos dele para nossa sobrevivência, para ter um lar aconchegante, uma alimentação saudável, vestimentas adequadas, saúde, lazer, estudos e uma família bem estruturada, com base sólida.

Mas tudo isso não teria importância nenhuma, sem amor, sem paz, e, sem respeito, amizade, dignidade, enfim sem um deus seja ele do jeito que for, mas que nos alicerce como rochas.

Uma sociedade capitalista, onde as pessoas estão preocupadas com o acumulo de bens materiais, onde a violência predomina, a cada dia mais atrocidade, crimes na maioria das vezes contra inocentes, na maioria das vezes sem defesa, respeito pelo outro é algo que não faz parte do cotidiano da grande maioria.

Não existem palavras para explicar tanta atrocidade, muitos questionamentos pairam no ar, sem respostas, sem explicações.

Desenvolver um trabalho junto às escolas dentro da diversidade cultural centralizando a questão humana, focar a valorização de cada cultura para o vivermos sem guerras,

Como desenvolver um trabalho de conscientização, valorização do eu e do outro, conhecer a importância da contribuição de cada povo com sua cultural dentro da diversidade.

A frieza com que alunos tratam educadores e vice-versa é espantoso, poucos conhecem as leis, mas estão sempre bem interados sobre os direitos, principalmente os deles,os deveres somente quando convém e para quem convém.

O poder aquisitivo fala mais alto, eu pago, ou seja, meus pais pagam então eu posso, a educação adquirida no seio da família, é muito pouco, e que quando existe, fica de lado.

Falta conscientização, falta educação pautada no transcendente.

Na sociedade do século XXI predomina a moralidade do oportunismo, onde falcatruas e jeitinhos são sinônimos de esperteza.

Uma geração prepotente, onde alguns, sem esperanças de reverter essa clientela, já profetizam que muitos não têm mais jeito.

O intuito deste trabalho foi investigar a relação aluno/professor na disciplina do Ensino Religioso, a ação efetiva do ensino religioso, a socialização, a convivência com o outro, com o diferente.

A sala de aula é apenas um espaço onde o educador busca dar continuidade aos valores enraizados pela família, ampliar a bagagem que cada educando carrega consigo.

O professor é um mediador da paz dentro da diversidade cultural, com suas experiências, sua competência e habilidade, desenvolvendo trabalhos em grupos, seminários, discussões enfatizando o deferente.

Nenhuma disciplina vem pronta para o professor, onde ele apenas elabore seu plano de aula e o coloque em prática. É preciso investigação principalmente sobre seu aluno, sua história, assim com certeza poderá o educador desenvolver trabalhos na diversidade.

O Ensino Religioso como outras disciplinas requer pesquisa, investigação, exige habilidade e competência dobrada do profissional que atua em sala de aula, jogo de cintura, aula atrativa que busque prender atenção de seus alunos, transforme a aula de Ensino Religioso num momento de prazer.

Este trabalho tem como objetivo principal instigar a ação pedagógica na disciplina do ensino religioso em sala de aula, na comunidade escolar, como ele se efetiva.

Investigar realmente o trabalho do educador de Ensino Religioso, como ele vem sendo discutido nas escolas, sua contribuição para a formação do indivíduo, quem são os profissionais que atuam no ensino religioso, qual sua graduação, seu comprometimento como é feita a contratação desses educadores nas instituições educacionais.

Junqueira nos diz que:

Este profissional há de ser uma pessoa consciente de que a afetividade e inteligência são indissociáveis. Em decorrência disto, deve cuidar das relações interpessoais nas turmas com as quais trabalha. Portanto, um profissional que assume a perspectiva de um permanente aprendente. (2002, p.123)

Dessa maneira investigamos como acontece a oferta de formação continuada, quem oferta, e como é a participação dos educandos em sala de aula, se é aceita e com que proporção.

A disciplina do Ensino Religioso há muito tempo participa dos currículos escolares no Brasil e, em cada período histórico, assumiu diferentes características legais e pedagógicas.

Se analisarmos através de uma linha do tempo, veremos que em cada período de sua existência, teve ampara da lei e que muitos educadores leigos ou não já se preocupavam com a questão curricular.

Hoje como outrora o Ensino Religioso é de vital importância para formação do cidadão, pode-se dizer que é base para uma vida alicerçada em um deus.

O presente trabalho é composto por dois capítulos o primeiro intitulado:

"A RELIGIOSIDADE PARA A ESCOLA" ou "A RELIGIOSIDADE NA ESCOLA"

No primeiro fizemos uma retrospectiva histórica e uma breve análise do Ensino Religioso no Brasil.

No segundo capítulo com embasamento teórico apresentamos a análise da coleta de dados, a formação dos professores atuantes na educação básica tanto nas escolas estaduais quanto em escolas privadas, como é o profissional de Ensino Religioso.

Fizemos uma analise geral, tanto da visão de cada educador, quanto ao comportamento, comprometimento com seus alunos enquanto professores de Ensino Religioso.

Analisamos também conforme o olhar dos educadores a influência do Ensino Religioso na formação do cidadão.

Outro objetivo desse trabalho, é explicitar a seriedade dos profissionais que atuam nas escolas com ensino religioso, a metodologia aplicada dentro da diversidade, buscando uma interação entre seus educandos e deixando claro o valor de toda cultura sem distinção de raça ou cor, religião etc. Junqueira nos diz:

"Ao longo das primeiras décadas do século XX o Brasil sofreu grandes transformações, onde o regime republicano foi compreendido diferentemente, o país ampliou seu espaço urbano, industrial promovendo uma nova organização social. Conseqüentemente a educação e a relação com as tradições religiosas também. Entretanto a discussão sobre o Ensino Religioso nâo foi superada, persistindo uma compreensão de ensino da religião na perspectiva de homogeneização cultural." (2002, p.11)

Percebe-se na atualidade, uma maior preocupação com o Ensino Religioso, especificamente no que diz respeito ao profissional, sua formação, habilidade, competência e compreensão sobre o Ensino Religioso, como trabalhar, a metodologia a ser aplicada e a interação professor/aluno e vice versa.

 

A RELIGIOSIDADE PARA A ESCOLA

            1.1 CONCEITUANDO ENSINO RELIGIOSO

A palavra religião vem do latim: religioso, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare, (ligar, unir, vincular). A religião é um vinculo entre o mundo profano e o sagrado (CHAUl, 2000). Dentre as finalidades da experiência religiosa destacamos:

  • Proteger os seres humanos contra o medo da Natureza, nela encontrando forças benéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras;
  • Dar aos humanos um aceso à verdade do mundo, encontrando explicações para a origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos próprios humanos;
  • Oferecer aos humanos a esperança de vida após a morte, seja sob forma de re-encantamento perene, seja a forma de reencarnação purificadora, seja sob a forma da imortalidade individual, que permite o retorno do homem ao convívio direto com a divindade, seja sob a forma de fusão do espírito do morto no seio da divindade.
  • As religiões da salvação, tanto as de tipo judaico-cristão quanto as de tipo oriental, prometem aos seres humanos libertá-los de pena e da dor da existência terrena;
  • Oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja ela física ou psíquica;Garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade estabelecida pela sociedade.
  • Em geral, os valores morais são estabelecidos pela própria religião, sob a forma de mandamentos divinos, isto é, a religião re-elabora as relações sociais existentes como regras e normas, expressão da vontade dos deuses ou de Deus, garantindo a obrigatoriedade da obediência a elas, sob pena de sanções sobrenaturais. (DCNER., 1997, p. 21).

Nessa perspectiva o Ensino Religioso "é uma reflexão crítica sobre a práxis que estabelecem significados" (PCNs, 1997, p.21). Na última década, o Ensino Religioso tem passado por um processo de transformação. O que era antes uma disciplina menor, é agora uma área de conhecimento reconhecida na legislação.

O Ensino Religioso Escolar está condicionado pelo Projeto Político Pedagógico da Escola, pelas grandes opções de base que se fazem no sentido da trans e interdisciplinaridade.

Uma escola que educa as novas gerações em todas as suas dimensões: física, química, social, política, econômica, cultural, certamente

também a dimensão religiosa. Isto porque elas vêm de famílias e de comunidades que estão imbuídas fortemente pela dimensão religiosa.

Todos os indicadores estatísticos revelam que as pessoas têm em grande consideração a dimensão religiosa em suas vidas. Até mesmo para entender nosso país do ponto de vista histórico, há que se ter uma visão das instituições religiosas que estiveram e estão presentes na História do Brasil e do Mundo.

A LEI N. 5.692, de 11 de agosto de 1971 - coloca a necessidade de incluir a disciplina de Ensino Religioso nos estabelecimentos de ensino, em seu art. 7° - Parágrafo único a disciplina de Ensino Religioso de matrícula facultativa constituíra disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1o e 2o graus. Seu foco centra-se nos valores humanos;

Com matrícula facultativa, sem apresentar uma proposta curricular clara e ainda pela falta de cursos próprios aos professores para atuarem nos estabelecimentos de ensino, o horário dessa disciplina ficava a mercê da escola em utilizá-lo ou não. O que se viu, durante muito tempo, foram alguns voluntários que desenvolviam atividades nas escolas, cuja maioria eram pertencentes à religião católica, mantendo o foco catequético da década de 70.

Na LEI N. 9394, de 20 de dezembro de 1996 - Art. 33 coloca o Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

 

§ 1 Os sistemas de ensino regulamentam os procedimentos para a definição do conteúdo do Ensino Religiosos e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2 Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso (alterado pela lei 9475/97).

Deixando claro que as orientações para a adesão a alguma crença religiosa são responsabilidade da família e das comunidades religiosas e não atribuição do Ensino Religioso;

O Ensino Religioso é uma área do conhecimento e parte integrante da Base Nacional Comum, conforme a Resolução n°. 2 de 7 de abril de 1998 do Conselho de Educação Básica.

 

1.2 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS

Na década de 70, as mudanças pelas quais vinham passando a política, a sociedade, à religião e a própria educação, já apontavam para a necessidade de se encontrar um caminho que melhor respondesse aos anseios do povo.

Neste contexto surge a Pedagogia Libertadora, cujo grande expoente é Paulo Freire. A Pedagogia Libertadora tinha a preocupação em libertar as pessoas de toda opressão, e acabou também por exercer influência na definição de conteúdos e metodologia do Ensino Religioso. (SME/Curitiba - Currículo Básico, 1997 - 2000)

Mesmo nascendo num período em que a Pedagogia Tecnicista era o ponto central da educação, a Educação Religiosa sempre teve o compromisso de despertar o ser humano crítico, participativo, fraterno, liberto de preconceitos, ignorância, elementos mais presentes na Pedagogia Libertadora.

Na década de 80, os educadores envolvidos com o Ensino Religioso, assim como as demais disciplinas, repensam a educação com base na proposta da Pedagogia Histórico-Crítica.

Sob a influência de Vygotsky que preconiza a importância das interações sociais no desenvolvimento de processos psicológicos, o enfoque no diálogo e na alteridade, torna-se hoje ponto de referencia para a pedagogia religiosa.

Vygotsky afirma que dominar o sistema de signos produzidos culturalmente, configura a forma de consciência do indivíduo sobre a realidade; o indivíduo muda e, a sua linguagem se altera.

Durante o estudo de signos e símbolos religiosos se opera na consciência do indivíduo uma nova possibilidade de compreender o mundo e as diferentes Culturas e Tradições Religiosas. "Quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento" (SME de CURITIBA - Currículo Básico, 1997 - 2000).

Não basta que o aluno conheça apenas a sua realidade , pois ele viverá a realidade sócio interacionista, onde a diferença e a variedade configuram a realidade maior.

Portanto, é necessário o uso do conhecimento religioso para compreender a relação com o outro e como ele faz uso do seu próprio conhecimento.

Outra influência pedagógica no Ensino Religioso, hoje, é a teoria dos Sistemas, a visão da globalidade, onde a teia de inter-relações é o fundamento básico para a manutenção do equilíbrio dos sistemas.

Muito se ouve falar da ecologia humana, sobre o diálogo interespécies, ou ainda o enfoque do novo paradigma: O CUIDADO (Boff, 1993). Para a pedagogia religiosa este novo paradigma é referencial básico para o tratamento didático dos conteúdos.

A vida cuidando da vida, o respeito à pluralidade, o enfoque dado ao sagrado enquanto meio de proteção e estabelecimento de um ethos nas relações do humano para com o humano, do humano com outras formas de vida, ou seja, abrangendo a relação inter espécies.

Compreender que os mitos pessoais ou coletivos se traduzem em ações e na construção da própria história e acercar-se da linguagem religiosa que é essencialmente simbólica, proporcionar ao indivíduo uma maior abrangência de consciência, de saber e, portanto, oportunizar o manejo culto deste conteúdo nas relações, assim o Ensino Religioso conforme Diretrizes Curriculares para Educação Religiosa - ASSINTEC propõe:

 

  • Compreender as relações do homem com o Transcendente.
  • Abordar o conhecimento religioso com a fundamentação na experiência, na pesquisa e na vivência coletiva, unindo dessa forma, a experiência pessoal à experiência social.

 

  • Buscar o saber (informação sobre o fenômeno religioso), o viver (prática de valores humanistas), integrando a pessoa em seus aspectos: ter (horizontal) com o ser (vertical).

 

  • Integrar as dimensões do ser humano: racional, intuitivo, poético, ético, estético, místico, espiritual, transcendente e outras.

 

  • Proporcionar espaço para a interiorização, sensibilização e reflexão crítica da realidade social, política, econômica, cultural e a religiosa.

 

  • Desenvolver a consciência crítica e também a criatividade e a religiosidade.

 

  • Utilizar a linguagem formal e científica para aprofundar conhecimentos e a linguagem simbólica para compreender categorias intuitivas, como os mitos, os símbolos, os ritos e os arquétipos expressos pelos povos.

 

  • Dar à ciência e à tecnologia uma dimensão ética.

 

  • Educar para a paz, com base no respeito e reverência ao Transcendente presente em si e no outro. (2002, P. 15-16)

1.3 - O ENSINO RELIGIOSO, UMA ÁREA DA EDUCAÇÃO.

O Ensino Religioso possui uma história que o colocou por muito tempo numa via de mão única: ser um elemento evangelizador na escola. Isso fez            com que seu lugar no espaço escolar ficasse distanciado dos demais saberes e de "certas obrigações" pedagógicas, assumindo por vezes o papel de apêndice na educação dos alunos.

Diante desta realidade, o professor assumia funções e atividades de diversas ordens: catequista, apaziguador, disciplinador, orientador espiritual.

 

 

1.3.1 A DISCIPLINA - ENSINO RELIGIOSO

Não se pode negar a trajetória do Ensino Religioso no Brasil, mas, diante da sociedade atual, esta disciplina requer uma nova forma de ser vista e compreendida no currículo escolar (Diretrizes Curriculares do Ensino Religioso Curitiba, 2007), A função básica da escola é a socialização do conhecimento historicamente produzido e acumulado pela humanidade.

A escola deve instruir o educando favorecendo-lhe o desenvolvimento integral, ou seja, contemplando todos os aspectos da pessoa: físico, mental, emocional, intuitivo, espiritual, racional e social.

Assim a escola deve possibilitar condições para aprendizagens múltiplas, nesse sentido:

Conhecer significa captar e expressar as dimensões da comunidade deforma cada vez mais ampla e integral. Assim, entendendo a educação escolar como um processo de desenvolvimento global da consciência e da comunidade entre educador e educando, à escola compete integrar dentro de uma sensorial, o intuitivo, o afetivo, o racional e o religioso (PCNs - Ensino Religioso, p. 29).

A escola é um espaço privilegiado de construção de conhecimentos, expansão da criatividade, desenvolvimento da humanização, vivência de valores universais, promoção do diálogo inter-religioso, valorização da vida e educação para a paz.

Sendo assim, não pode ignorar a importância da disciplina Ensino Religioso como "parte integrante da formação básica do cidadão". (LDB 9394/96-art. 33).

Através de uma metodologia que atenda todos os aspectos ou dimensões do educando, o Ensino Religioso tem em vista o compromisso com a transformação social e histórica diante da vida e do Transcendente.

 

E dessa forma, contribui para estabelecer novas relações do ser humano com os outros, com a natureza e com o sagrado. Através da observação, reflexão e informação sobre o fenômeno religioso presente no contexto social do educando e no mundo.

Portanto, conforme as Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso para o Ensino Fundamental colocam que essa disciplina visa:

Proporcionar aos educandos a oportunidade de identificação, de entendimento, de conhecimento, de aprendizagem em relação às diferentes manifestações religiosas presentes na sociedade, de tal forma que tenham a amplitude da própria cultura em que se insere. Essa concepção deve favorecer o respeito à diversidade cultural religiosa, em suas relações éticas e sociais diante da sociedade, fomentando medidas de repúdio a toda e qualquer forma de preconceito e discriminação e o reconhecimento de que, todos nós, somos portadores de singularidade. (2006, p.53)

Possibilitando o diálogo e respeito na convivência com as diferenças. Dessa forma o Ensino Religioso como disciplina requer um tratamento didático- pedagógico adequado, de acordo com as exigências de ensino escolar. Permitindo aos educandos refletirem e entenderem como os grupos sociais se constituem culturalmente e como se relacionam com o sagrado. Para COSTELLA, o Ensino Religioso:

Não pode prescindir da sua vocação de realidade institucional aberta ao universo da cultura, ao integral acontecimento do pensamento e da ação do homem: a experiência religiosa faz parte desse acontecimento, com os fatos humanos, pertencem ao universo da cultura e, portanto, tem uma relevância cultural, tem uma relevância em sede cognitiva. (2004, p.14)

1.4 - OBJETOS DE ESTUDO

Cada disciplina possui seu próprio objeto de estudo. O Ensino Religioso compreende um conjunto de fatos, acontecimentos, manifestações e expressões tanto de ordem material como espiritual, e que envolvem o ser humano na sua busca e relação com o Transcendente. Essa busca e relação pode ter caráter individual e comunitário.

O fenômeno religioso acontece no universo de uma cultura, é influenciado por ela e, por sua vez, também influencia a cultura.

Tal fenômeno é inerente ao ser humano e tem como pressuposto a Transcendência, a qual está na raiz de toda a produção cultural.

Portanto, o objeto de estudo do Ensino religioso é o estudo das diferentes manifestações do sagrado no coletivo. Busca explicitar a experiência que perpassa as diferentes culturas expressas tanto nas religiões mais sedimentadas, como em outras mais recentes. Segundo Otto (1992) o sagrado é uma categoria de interpretação e avaliação a priori, e, como tal, somente pode ser aplicada ao contexto religioso.

O sagrado, como parte da dimensão cultural influência a compreensão de mundo e a maneira como o homem religioso vive o seu cotidiano. Aquilo que é encantador para alguns é normal e corriqueiro para outros.

A partir de seu objeto de estudo pode perceber que o Ensino religioso numa perspectiva pedagógica, busca superar as aulas de religião, através de um enfoque de entendimento com base cultural sobre o sagrado, de modo a promover um espaço de reflexão na sala de aula em relação à diversidade religiosa.

 

IDENTIDADE:

  • O Ensino Religioso como parte integrante da vida escolar é um processo de observação, reflexão e informação sobre o fenômeno religioso, a partir do contexto social e cultural do educando. É um processo interativo entre educador e educando, na busca de realização enquanto seres humanos, inseridos numa sociedade, onde devem ser reconhecidos e respeitados como cidadãos.
  • Deve criar uma abertura ao diálogo inter-religioso, na perspectiva dos valores universais, comuns a todas as Tradições Religiosas, tendo por base a alteridade e o direito à liberdade de consciência e opção religiosa.

LINGUAGEM:

Do ponto de vista didático cada disciplina possui uma linguagem própria. O Ensino Religioso também possui uma linguagem pedagógica e não eclesial. Seu conteúdo deve ser traduzido em termos pedagógicos, facilitando a compreensão dos educandos.

Superar preconceitos e discriminações requer lidar com valores como: alteridade, respeito e direito à diferença. Nesse processo, a escola por ser um espaço aconfessional tem uma função importante, pois, nela convivem alunos de crenças, costumes e origens diferentes, com mentalidades e visões de mundo também diferenciadas. Sendo assim, a linguagem do Ensino Religioso deve ter as seguintes características, conforme DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO RELIGIOSA ASSINTEC:

 

  • Pedagógica: adequada ao universo escolar, capaz de traduzir e decodificar o conteúdo facilitando a compreensão e assimilação do conhecimento.
  • Dialógica: aberta ao diálogo, de forma a atender a pluralidade e promover a troca de informações.
  • Questionadora: que facilite uma reflexão crítica, sem pretender ser a verdade absoluta sobre os assuntos abordados.
  • Cativante: que desperte o interesse pelos temas e o entusiasmo em aprender.
  • Otimista: que estimule o encantamento pela vida e a disponibilidade em construir um mundo de paz. (2002, p. 19-20)

 

1.5 - OBJETIVOS GERAIS:

Os objetivos gerais estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso (1997, p. 30-31) são:

  • Proporcionar o conhecimento e a compreensão do fenômeno religioso (o sagrado), a partir das experiências religiosas percebidas no contexto sócio cultural do aluno.

 

  • Refletir sobre o sentido da vida e sobre os questionamentos existenciais.

 

  • Analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e manutenção das diferentes culturas.

 

  • Formar para o exercício consciente da cidadania e convívio social baseado na alteridade e respeito às diferenças.

 

  • Promover o diálogo inter-religioso.

 

  • Superar e desfazer toda forma de preconceitos.

 

  • Educar para a paz.

 

1.6 - CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO:

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) a avaliação é parte integrante do processo ensino/aprendizagem e tem como função alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica.

O caráter da avaliação no Ensino Religioso parte do principio de inclusão e não de exclusão. O aluno se auto-avalia e é avaliado para tomar consciência sobre o que já aprendeu, ou seja, dos avanços atingidos na aprendizagem e saber onde deve investir mais esforços para melhorar e superar as dificuldades.

Ao professor a avaliação permite conhecer o progresso do aluno e objetiva rever, reorganizar e recriar a sua prática e seus instrumentos utilizados no trabalho pedagógico.

Para a escola a avaliação possibilita diagnosticar as dificuldades e limites da ação pedagógica, além de definir prioridades.

Portanto, a avaliação no Ensino Religioso é processual e permeia toda a prática no cotidiano da sala de aula,

Numa etapa inicial a avaliação tem o caráter investigativo, permite ao professor conhecer o que os alunos já sabem sobre o conteúdo a ser trabalhado, levanta dados para que possa conduzir a ação pedagógica de forma adequada, serve para encaminhar a construção do conhecimento, permitindo ao aluno passar do senso comum para um conhecimento mais elaborado.

O seguinte momento da avaliação deve ser pensado e organizado de forma sistemática conforme os conteúdos significativos e selecionados com a interação de construir o conhecimento.

Esta etapa avaliativa pode ser efetivada através de registros em tabelas, gráficos, listas, análise das produções, atividades onde se pretende avaliar a aprendizagem de conteúdos específicos, auto-avaliação escrita ou oral na qual o aluno pode conhecer o seu progresso na aprendizagem.

A última etapa consiste na aferição dos resultados que assinalam o nível de aprendizagem que se espera dos alunos sobre os conteúdos significativos. Este mapeamento de resultados informa se o ensino atingiu as metas conforme o ciclo ou série.

                É importante lembrar que a disciplina do Ensino religioso está num processo de implementação nas escolas, e que,O ato de avaliar é um dos fatores que poderá contribuir para sua legitimação como um dos componentes curriculares" (DCEREF, 2006, p. 73).

1.7 - METODOLOGIA:

A metodologia do Ensino Religioso deve ser dinâmica permitindo a interação, o diálogo e uma postura reflexiva perante a vida e o fenômeno religiosos. Sugestões metodológicas para o encaminhamento de aula no E.R:

Harmonização - sugere-se iniciar a aula realizando uma breve atividade de sensibilização para criar um clima harmonioso, favorável ao diálogo entre os educandos, possibilitando a vivência da afetividade e humanização (PCN/ E.R, 1997).

Propor um momento de cumprimentos, abraços, formação do abraço grupal, movimentação numa roda ao ritmo de música clássica ou étnica, exercícios corporais alongamento e respiração, entre outros.

Observação, reflexão e informação - são passos que se entrelaçam, se interligam, numa dinâmica, num movimento circular constante, portanto não são estanques e nem isolados (PCN / E.R. 1997).

Tem a intencionalidade de promover o entendimento e a decodificação do fenômeno religioso, de forma progressiva, permitindo ao aluno abrir a sua visão, desfazer-se de preconceitos, discernir e perceber a unidade na diversidade das tradições religiosas, como, a defesa da vida, a promoção da paz e a necessidade da transcendência.

A observação visa à sensibilização para o mistério e a leitura da linguagem mítico-simbólica. Pode-se organizar uma exposição de símbolos, livros sagrados, ilustrações e fotos para serem analisados pelos alunos.

Se possível, visitas programadas aos templos, igrejas, museus e lugares sagrados da comunidade, para colher dados e informações sobre o tema abordado.

                A reflexão é o espaço para o diálogo, oportunidade para o educando manifestar o seu pensamento e a sua opinião sobre o conteúdo em estudo. Poderá ser orientado através de perguntas, problematizações respeitando a liberdade do aluno, e articulando a conversação de modo a evitar juízos e atitudes preconceituosas.

Os esclarecimentos do educador, a troca de experiências entre os alunos, a pesquisa, a leitura de textos, o filme, a internet, são algumas fontes de informação que subsidiam o processo de construção e reconstrução do conhecimento.

O compromisso com a vida - alunos em grupos organizados ou numa participação coletiva, com a orientação do professor, a partir do tema abordado, poderão propor atitudes que favorecem o convívio social.

 

COMO ERA O PROFISSIONAL DO ENSINO RELIGIOSO:

As mudanças sociais, culturais e educacionais, com o passar do tempo, provocaram inquietações em alguns educadores, professores de Ensino Religioso, que se viam excluídos do direito de participar ativamente do projeto educacional de suas instituições, dos direitos legais de educadores e da valorização de sua área (disciplina) junto aos demais saberes.

Essas inquietações conduziram a organização dos professores e pesquisadores de Ensino Religioso, chegando tal articulação a proporcionar-lhe um novo papel: o direito de área de conhecimento aos demais saberes do currículo escolar.

 

QUEM DEVE SER O PROFISSIONAL DO ENSINO RELIGIOSO HOJE:

                               Segundo a LDB 9394/96, supõe que o profissional de Ensino Religioso, seja portador de um diploma de nível superior. No entanto, a Deliberação 01/06 do CEE/PR estabelece normas para o Ensino Religioso no Estado do Paraná. No seu artigo 6 0 estabelece que:

Art. 6o Para o exercício da docência no ensino religioso, exigir-se-á, em ordem de prioridade:

I - nos anos iniciais:

a ) - Graduação em Curso de Pedagogia, com habilitação para o magistério dos anos iniciais; b - graduação em Curso Normal Superior;

c ) -  Habilitação em Curso de nível médio - modalidade Normal, ou equivalente.

II - nos anos finais:

a) - formação em cursos de licenciatura na área das Ciências Humanas, preferencialmente em Filosofia, História, Ciências Sociais e Pedagogia, com especialização em Ensino Religioso;

b) - formação em cursos de licenciatura na área das Ciências Humanas, preferencialmente em Filosofia, História, Ciências Sociais e Pedagogia;

Art. 7º As mantenedoras desenvolverão programas de formação de Parecer da Câmara de Legislação e Normas CEE n.° 01/ docentes para o ensino religioso, de acordo com os pressupostos.

Os conteúdos selecionados para a disciplina do Ensino Religioso, para as Escolas Públicas Estaduais no Estado do Paraná, têm como referência os conteúdos estruturantes, que se desdobram em conteúdos específicos, que permearão sempre o seu objeto de estudo o sagrado, conforme o quadro a seguir:

Conteúdos estruturantes

                                                                     


Conteúdos específicos


5a série

  • Respeito à Diversidade Religiosa
  • Lugares Sagrados
  • Textos orais e escritos
  • Sagrados Organizações Religiosas

6a série

  • -Universo Simbólico Religioso
  • Ritos

 

  • Festas Religiosas

 

  • Vida e Morte

 

Os conteúdos apresentados contemplam as diversas manifestações do sagrado entendidos como integrantes do patrimônio cultural e poderão ser enriquecidos pelo professor.

Na seqüência verificaremos como se efetiva essas questões nas escolas.

A RELIGIOSIDADE NA ESCOLA

O PROFESSOR DO ENSINO RELIGIOSO

Não se pode negar a trajetória do Ensino religioso no Brasil diante da sociedade atual, esta disciplina requer uma nova forma de ser vista e compreendida no currículo escolar. Para tanto o professor desta disciplina deve adequar-se a esse novo contexto.

Conforme Deliberação 01/06 do Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná (CEE/PR) - Uma questão ressaltada por esse órgão é sobre a formação que o professor de ensino religioso deve ter para assumir essa disciplina. Fica assim definido:

  • Para os anos iniciais do Ensino Fundamental o professor deverá ser graduado em curso de Pedagogia, com habilitação para o magistério dos anos iniciais;
  • Os formado no curso normal superior e ainda os habilitados no curso de nível médio - modalidade Normal, ou equivalente.
  • Para os anos finais, deverão assumir os formados em cursos na área de ciências humanas, preferencialmente em Filosofia, História, Ciências Sociais e Pedagogia, com especialização em Ensino Religioso;
  • Caso não tenham profissionais com este perfil, são admitidos os licenciados na área das ciências humanas, preferencialmente em Filosofia, História, Ciências Sociais e Pedagogia sem o quesito da especialização.

Um elemento muito importante sobre os cursos de especialização em Metodologia do Ensino Religioso, é a precisa observação nas disciplinas oferecidas nestes cursos, pois há os que assumem a perspectiva confessional que privilegiam, por exemplo, a não aceitação do ensino da bíblia, pois caracterizam a formação prosélita. Fator esse que vai contra a legislação nacional e os objetivos da disciplina em questão.

Diante da dificuldade do Estado do Paraná possuir um quadro docente para o Ensino Religioso na perspectiva do artigo 33 da LDBEN (9394/96) o Conselho Estadual de Educação no artigo sétimo desta deliberação enfatiza que as mantenedoras desenvolverão programas de formação de docentes para o ensino religioso, de acordo com os pressupostos do Parecer da Câmara de Legislação e Normas CEE n.° 01/06.

Assim como estabelece o referencial, os conteúdos do ensino religioso serão definidos na proposta pedagógica dos estabelecimentos, obedecendo ao preceituado pelo artigo 33 da Lei n.° 9.394/96, no artigo oitavo do mesmo texto.

O ensino religioso é um componente curricular do Ensino Fundamental, os conteúdos e os seus profissionais assumem uma perspectiva da escola, cabendo às comunidades religiosas realizarem sua educação doutrinal e ritualística (JUNQUEIRA, 2007).

Fica assim estabelecido na DELIBERAÇÃO N° 01/06 que tem como relator DOMÊNICO COSTELLA:

O Conselho Estadual de Educação do Paraná, no uso de suas atribuições, considerando o que dispõe o artigo 210, § 1°, da Constituição Federal e o artigo 183, § 1°, da Constituição do Estado do Paraná, as disposições constantes no artigo 33 da lei n° 3994/96, com a redação dada pela Lei n° 9.475/97 e, considerando ainda, o Parecer n° 01/06, que a esta se incorpora.

DELIBERA

Art. 1° O ensino religioso a ser ministrado nas escolas de ensino fundamental do Sistema Estadual de Ensino do Paraná obedecerá ao disposto na presente deliberação.

Art.2° Os conteúdos do ensino religioso oferecido nas escolas subordinam-se aos seguintes pressupostos:

a) da concepção interdisciplinar do conhecimento, sendo a interdisciplinaridade um dos princípios de estruturação curricular e da avaliação;

b) da necessária contextualização do conhecimento, que leve em consideração a relação essencial entre informação e realidade;

c) a convivência solidária, do respeito às diferenças e do compromisso moral e ético;

d) do reconhecimento de que o fenômeno religioso é um dado da cultura e da identidade de um grupo social, cujo conhecimento deve promover o sentido da tolerância e do convívio respeitoso com o diferente;

e) de que o ensino religioso deve ser enfocado como área do conhecimento em articulação com os demais aspectos da cidadania. Garantindo uma leitura pedagógica, superando uma visão relacionada à religião, acentuando o olhar da escola.

               

Nesta perspectiva em vista de garantir o que está na Constituição brasileira (Art. 210.# 1º) -  o ensino religioso é de oferta obrigatória por parte do estabelecimento;

sendo facultativo ao aluno. Garantindo que o aluno, ou seu responsável, deverá manifestar sua opção em participar das aulas de ensino religioso ou não, mas caso o aluno se inscreva, só poderá se desligar por manifestação formal, sua ou do responsável.

Para os estudantes que não optarem pela participação nas aulas do ensino religioso, caberá à escola providenciar atividades pedagógicas adequadas aos mesmos sob a orientação de professores habilitados (JUNQUEIRA, 2007).

Diante do exposto fomos verificar através da coleta de dados onde contamos com a participação de dois professores que atuam com essa disciplina. Optamos por escolher um profissional da Rede Pública Estadual de Ensino que denominaremos como (P 1) e outro da Rede Particular de Ensino (P2).

A entrevista realizada foi composta de doze perguntas1.

O Profissional (P1) é licenciado em história; especialista em história do Paraná e possui mestrado em ciências sociais, professor de ensino religioso há 5 anos.

O Profissional (P 2) é Bacharel em filosofia, professor de ensino religioso há 4 anos.

Questionamos sobre o procedimento para a escolha do profissional nas instituições onde trabalham com Ensino Religioso a resposta foi:

"A escolha é feita através de concurso público e deve apresentar no ato da contratação diploma de graduação; em primeiro lugar assume os licenciados ou que possuem especialização na disciplina, não havendo pessoal habilitado chama-se os Licenciados em História, Filosofia, Pedagogia, Ciências Humanas". (P1)

Na instituição privada o procedimento é outro, "o procedimento é feito através da análise de currículo, entrevista e aula teste". (P2).

 

[1] Vide Apêndice

Perguntamos aos entrevistados qual série é ofertado o Ensino Religioso na escola onde atua:

"A oferta é para as 5as e 6as séries, porém de matrícula facultativa, instigamos ainda a interação dos alunos em sua aula, o mesmo respondeu que, jamais teve algum problema de aceitação, ao contrario, todos gostam muito do Ensino Religioso" (P 1).

Confirmou o que determina a Lei. Na escola privada:

"O Ensino Religioso é ofertado em todas as séries desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, faz parte da grade curricular e conforme o "P.P.P".  da escola, até a 8a série os alunos são obrigados a participarem das aulas". (P2)

Perguntamos aos entrevistados se a participação dos alunos nas aulas é obrigatória?

"Não, reunimo-nos com os pais no inicio do ano e deixamos claro que é facultativo, porém enfocamos a importância, os valores éticos, morais. A história das religiões, como veio se desenvolvendo dentro do processo histórico da humanidade e, então eles decidem se seus filhos assistem ou não as aulas de ensino religioso". (P1)

"Até a 8a série é obrigatório à participação dos alunos segundo o P.P.P da escola e poderá acontecer reprovação dependendo do aluno" (P 2)

Perguntamos aos profissionais como a escola articula o trabalho com os alunos?

"Uma vez que todos freqüentam sem problemas, mesmo sendo, colocadas, essas questões aos pais no inicio do ano, conforme relato anterior, não precisa articular" (P1).

"Todos freqüentam, desenvolvo um trabalho dentro da diversidade cultural, enfatizando teoria do conhecimento sobre as religiões e proporciono discussões sobre o assunto, assim a aula fica mais gostosa, eles adoram e não preciso articular". (P 2)

Pela entrevista percebe-se que esses profissionais desenvolvem um trabalho com competência e habilidade, com carinho, por isso conseguem reter a atenção dos alunos, despertando o interesse pelo Ensino Religioso, para Junqueira o professor é um:

[1] Projeto Político Pedagógico.

"facilitador no processo de busca de conhecimento que deve partir do aluno. “Cabe ao professor organizar e coordenar as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidade e habilidades intelectuais”. (2002, p. 111)

Concordo com o autor, pois o professor é uma ponte entre o conhecimento e o aluno. Conforme relato dos profissionais entrevistados, tanto a escola estadual quanto escola privada, tem mostrado uma preocupação importantíssima com a questão do Ensino Religioso, oportunizando formação adequada, cada uma dentro de suas possibilidades.

Perguntamos aos profissionais se o ensino religioso vem sendo discutido nas escolas? De que maneira?

"sim, tanto que hoje nas escolas confessionais (aquela que desenvolve trabalho conforme a opção religiosa do aluno ou seu responsável), ê prerrogativa falar das histórias das religiões". (P1)

"Reunimos-nos uma vez por mês em Curitiba na rede do Sagrado Coração de Jesus (todos os professores) e durante o ano acontecem mais quatro encontros. São mais ou menos 300 participantes, estamos preparando material para coordenar curso de formação para educadores de ensino religioso, exclusivamente da rede, será somente para os nossos educadores, pelo menos por enquanto". (P2)

Interrogamos se no ponto de vista desses profissionais eles acreditam que o ensino religioso interfere na formação do cidadão? Ambos disseram que sim.

"Sim, principalmente na atualidade, devido ao conflito entre a fé e a razão, conflito desde a modernidade. Intensificado na atualidade devido ás inúmeras ofertas materiais que o mundo do consumo oferece”. (P 1)

"Sim, proporciona o conhecimento do diferente, não como o certo ou errado, o ensino religioso é a base para a paz, nas 6as desenvolvo trabalho enfocando diferentes religiões no oriente e no ocidente. Enfatizo sempre que Deus permeia até um objeto, conhecendo o diferente e analisando a importância, mostrando o respeito pela cultura do outro". (P 2)

Junqueira nos diz que:

"Entre as características da formação do cidadão está a possibilidade de cada um expressar-se livremente, podendo apresentar suas idéias em todos os campos. Uma das conseqüências desta liberdade é a mudança de referencial, ou seja, de uma sociedade homogênea para a convivência com o pluralismo sócio cultural religioso".(2002, p.21)

Concordamos com a fala dos professores e do autor, pois todo individuo precisa de um alicerce, de algo que oriente que caminho seguir, que decisão tomar, e ainda se têm livre arbítrio, cada um decide o que fazer, para onde ir, como se comportar, porém deve sempre lembrar a responsabilidade por seus atos e com as conseqüências dos mesmos. Segundo o mesmo autor:

Muitas vezes é através da religião que o homem se define no mundo e para com seus semelhantes. É a religião que empresta um sentido e constitui para seus fiéis uma fonte real de informações. Ela funciona como um modelo para o mundo, pois para os crentes a religião orienta as ações e apresenta explicações a questões vitais (De onde vim? Para onde vou? Qual o sentido da existência?) (JUNQUEIRA, 2002, p. 21)

No decorrer da entrevista, investigamos sobre a metodologia aplicada nas duas escolas e, apesar de serem realidades muito diferentes, a surpresa foi que, mesmo um dispondo de mais recursos que o outro ofertado pela instituição, ambos desenvolvem atividades muito parecidas, às quais pudemos analisar o comprometimento de cada profissional com seus alunos, visando o ser humano que cada um é, sem distinção.

"Solicito pesquisa na comunidade onde a escola está inserida, sobre diferentes religiões, entrevista com lideres de cada religião, instigando como acontece o culto, procuro sempre trabalhar todas no mesmo nível. Investigamos também a participação da mulher na sua religião, pois na evangélica a mulher pode ser pastora, conduzir o culto. Na católica, por exemplo, somente o padre poderá celebrar a missa, mas o ministro da eucaristia e o diácono poderão celebrar "A PALAVRA" segundo o livro sagrado que é a bíblia. Trabalho com produção de texto, oportunizando troca de informações, cada fala sobre a sua religião. Trabalho com textos bíblicos que não enfoque uma única religião, textos sobre valores éticos, história das religiões, texto que mostra a mentalidade do povo daquela época, ex: Grécia antiga - Europa medieval, comparando um tempo com o outro e trazendo para a atualidade. Trabalho também questões ambientais, enfocando o respeito pelo meio ambiente, casa do ser humano, não temos o direito de destruí-lo".P1)

"A metodologia aplicada deve ser orientada pelo material didático preparado pela própria instituição, através de banco de dados, cada professor da rede prepara a sua aula e lança no sistema interno da instituição disponibilizado para os demais colegas que trabalham com ensino religioso. Contamos atualmente com onze entidades responsável pelo grupo de estudo, uso também livros, revistas, jornal etc, para produção de textos, nos orientamos muito pelos trabalhos escritos do escritor” Sérgio Rogério Azevedo Junqueira “(P 2).

Antes mesmo de instigar a importância do Ensino Religioso na relação professor/aluno e vice versa, pelos relatos até o presente momento, já esperávamos, um resultado positivo, e isso realmente se confirmou.

"Com certeza aproxima, tem um olhar diferente em relação um ao outro, consegue-se mais respeito dos alunos nas aulas de ensino religioso”. (P 1)

"Muita importância, desenvolve o carisma exclusivamente e aproxima com facilidade e respeito um do outro". (P 2)

Qual é o objeto de estudo da proposta curricular do ensino religioso?

"o ser humano, na perspectiva de fazer aflorar a fé, os valores etc.”.(P1)

"o fenômeno religioso". (P 2)

Nesse sentido, mas com perspectivas diferentes percebe-se que as respostas dos educadores pesquisados estão coerentes com o que estabelece as Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso para o Ensino Fundamental (2007), definem como objeto de estudo o sagrado como foco do fenômeno religioso, por contemplar algo presente em todas as manifestações religiosas.

Com todos esses relatos e percebendo o compromisso que cada um desses profissionais assumiu com seus educandos especificamente do Ensino Religioso, quando perguntamos sobre a reação dos alunos em relação à disciplina, a resposta só poderia ser positiva.

"Em geral gostam muito, não se recusam para fazerem as pesquisas e são muito participativos”. (P 1)

"Procuro sempre preparar uma aula gostosa, usando algum texto sobre diferentes religiões, por ex; em uma de minhas turmas, é formado por alunos espíritas, cristãos e wicca, o educador tendo jogo de cintura sempre consegue prender a atenção e sendo assim posso dizer que reagem bem, com aceitação” (P 2).

Também procuramos investigar como é ofertada aos professores formação continuada para trabalharem essa disciplina e quem a oferta, as respostas foram:

"Sim, ocorre nas reuniões pedagógicas ofertadas pela SEED/PR, para todas as escolas e em encontros específicos em Faxinai do Céu, nas reuniões pedagógicas os professores aproveitam e trocam experiências para elaborarem os planos de curso, o Estado também promove palestras, organiza grupos de estudos, cursos periódicos, porém este último é recente"(P1)

"Sim, conforme respostas anteriores a outras perguntas, a própria instituição oferta e confecciona o seu material didático, oferta cursos, palestras e seminários" (P 2)

Diante das colocações feitas pelos entrevistados percebe-se que ambos buscam assumir o ensino religioso como uma disciplina que está contemplada na matriz curricular e com conteúdos, metodologia e sistema avaliativo bem definidos na proposta curricular com todas as suas complicações que são inerentes ao trabalho pedagógico.

Frisa-se nas falas dos entrevistados a responsabilidade e comprometimento que ambos possuem com o seu trabalho, fator esse que desperta o interesse e a participação dos alunos nas aulas. Portanto, é preciso ousar, quebrar rotinas, inventar e acreditar.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais.1997. CHAUl, Marilena. Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. COSTELLA, Domênico. O fundamento epistemológico do ensino religioso. In: COSTELLA, Domênico. Câmara de Legislação e Normas: Deliberação 01/06. JUNQUEIRA, Sérgio; Wagner; Raul. (Orgs.) O ensino religioso no Brasil. Curitiba: Champaggnat, 2004.

JUNQUEIRA, Sérgio . O processo de escolarização do Ensino Religioso no

Brasil/Sérgio Junqueira. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

OTTO, R. O sagrado. Lisboa: Edições 70,1992.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso para o Ensino

Fundamental. Versão Preliminares. Curitiba:SEED/PR, 2006.

REVISTA DE EDUCAÇÃO AEC. Ano 34, n° 136 julho/setembro 2005 Brasili: AEC

2005.