Este trabalho mostra a presença do imaginário nos contos populares presentes na obra Visagens e Assombrações de Belém, de Walcyr Monteiro. Trataremos das narrativas como elemento de propagação da identidade cultural. Apesar de o contexto urbano ser caracterizado pela criação de um estilo de vida tecnologizado, ainda percebemos a presença viva de um imaginário repleto de crendices e lendas que remetem ao extraordinário, ao misterioso e sobrenatural. Tencionamos tratar da narrativa oral, pois ela apresenta-se como um dos mais importantes recursos de propagação da cultura amazônica. Nossa pesquisa será realizada na análise dos contos narrativos da obra supramencionada.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo estudar a presença do imaginário nos contos populares encontrados na obra Visagens e Assombrações de Belém, de Walcyr Monteiro, e ressaltar a importância do gênero narrativo oral e da referida obra como instrumento de propagação da cultura regional amazônica. O ato de narrar acompanha o homem muito antes da escrita. O ser humano pode ser considerado um narrador por excelência, um narrador nato, pois a partir do momento em que ele desenvolve a linguagem torna-se capaz de narrar os acontecimentos de seu cotidiano ou histórias já ouvidas, diminuindo ou acrescentando em seus relatos alguns detalhes. Tal habilidade irá depender de sua intenção, imaginação ou de sua capacidade de absorver e transmitir informações. Através da pesquisa bibliográfica procurou-se atestar que o conto popular – elemento essencial do livro – nasceu de uma tradição, baseada na oralidade, de contar histórias. Além disso, nossa pesquisa sugere que a partir do livro de Walcyr Monteiro podemos entender a literatura e as narrativas orais como um valioso instrumento de preservação visto que são o suporte da memória coletiva e individual, pois o escritor tencionou manter nos relatos coletados traços da oralidade que retratam os costumes e as crenças do povo paraense. Antes do lançamento da obra Visagens e Assombrações de Belém, o autor – que também é jornalista – começou a narrar em 1972 aos domingos em A Província do Pará as histórias de visagens e assombrações, com o intuito de registrá-las para a posteridade, permitindo aos mais velhos recordá-las e aos mais jovens conhecê- las, evitando, dessa maneira, que elas se perdessem inteiramente ao longo do tempo. A aceitação do público foi imediata e logo o autor passou a receber muitas cartas parabenizando-o pelo seu trabalho. Dentre dezenas de contos coletados, Walcyr Monteiro selecionou vinte e cinco considerados por ele mais representativos na intenção de evitar a repetição de temas e publicou-os em 1986 na primeira edição do livro Visagens e Assombrações de Belém. 3 O CONTO POPULAR COMO UM GÊNERO DA NARRATIVA ORAL Através das narrativas as civilizações antigas, que ainda não conheciam a escrita, adquiriam conhecimentos e os transmitiam preservando dessa maneira a sua cultura. De acordo com Durand (1986) foi assim que Aristóteles - filósofo grego - repassou a seus discípulos as suas concepções sobre Lógica e Filosofia. As tradições esotéricas das religiões de Mistérios entre os gregos baseavam seus ensinamentos na oralidade. Segundo Schuré (2011) Orfeu, Pitágoras, Hermes, dentre outros, mestres iniciados nestes mistérios, construíram o seu saber religioso por meio da oralidade, visto que somente aqueles que pertenciam ao círculo esotérico poderiam receber informações sobre as doutrinas e símbolos. Portanto, a linguagem oral constituía para essas comunidades elemento fundamental da preservação de seus ensinamentos. De acordo com Peter Burke (1500-1800) foi no final do século XVIII e início do XIX, momento em que a cultura popular tradicional estava começando a desaparecer, que o povo (folk) se converteu em um tema de interesse para os europeus intelectuais do movimento conhecido como romantismo. Esse interesse por diversos tipos de literatura tradicional era, ele mesmo, (o povo), que faziam parte de um movimento ainda mais amplo, que se pode chamar a descoberta do povo em todas as suas manifestações culturais, seja no campo religioso, nas festas populares, e nas próprias manifestações literárias. Burke (1500- 1800). Burke (1500-1800) destaca que houve uma série de razões que justificavam o repentino interesse pelo povo e sua cultura nesse momento especifico da história europeia entre elas temos: razões estéticas, razões intelectuais e razões políticas. Resumindo a cultura desenvolvida pelo povo interessava por ser considerada um tanto exótica. O Gênero literário se caracteriza a partir do ato de relatar histórias, a narrativa é baseada na segunda voz, isto é, refere-se sempre a fatos e acontecimentos exteriores. Também pode ser entendida como ato e processo de produção do discurso narrativo, que deve envolver, necessariamente um narrador enquanto sujeito responsável por esse processo. 4 O processo narrativo pode se dar através da caracterização (exteriorização) de ambientes, personagens, etc., do foco narrativo (ponto de vista) que estabelece um distanciamento entre o narrador e o objeto do relato; e da dinâmica temporal (tempo) que pode ser acelerada pelo “devir cronológico” ou lenta por conta do discurso utilizado. Na narrativa oral as histórias geralmente passam por modificações ao longo das narrações. Isso é possível porque além de o ato de fala ser algo que nunca se repete, o emissor, ou seja, o contador, coloca em seu enunciado parte de sua subjetividade. O receptor, por sua vez, também torna-se livre para readaptar a história e repassá-la usando sua força expressiva. Cada um à sua maneira vai fazendo com que uma mesma história gere muitas narrativas diferentes. Por esse motivo a narrativa oral é caracterizada como um texto de muitas vozes. Fruto do imaginário coletivo, o conto popular é uma das modalidades da narrativa oral e um dos gêneros literários mais antigos. Adotado já nos séculos XVI e XVII por muitos autores, entre eles Voltaire e Cervantes, o conto popular ainda hoje é apreciado por muitos leitores atraídos pelo enredo que adota o fantástico ou o psicológico como tema.

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