A PRATICA PEDAGOGIA NO PENSAMENTO DE PAULO FREIRE

 Adelma Costa - (Mestranda em Educação) - UDE 

 RESUMO

Este trabalho tem um discurso ético voltado para a prática educativa, contido nas proposições pedagógicas de Paulo Freire, de onde foi identificado que nas proposições pedagógicas de Freie tem um discurso ético para o fazer-agir educativo, procurando explicar um padrão ético-pedagógico para a prática educativa.

 Palavras – chave: Prática educativa, Fazer – agir educativo, Ético-pedagógico.

 

 RESUMEN

Este trabajo tiene un discurso ético vuelto para la práctica educativa, contenido en las proporciones pedagógicas de Paulo Freire, donde fue identificado que en las proporciones pedagógicas de Freira hay un discurso ético para el hacer actuar educativo, procurando explicar un padrón ético pedagógico para  la práctica educativa.

 Palabras  clave: Práctica educativa, Hacer actuar educativo, Ético pedagógico.

  

INTRODUÇÃO

              A prática educativa nos coloca diante de asserções e concepções várias acerca do homem, tais como: o seu sentir, o seu pensar, o seu agir. Assim, tais asserções e concepções convergem para a problematização do homem: seus fins, o seu processo de humanização e hominização. Estando no mundo, o homem se faz dia-dia até a sua morte.

À eticidade da prática educativa teremos que adentrar na teorização em torno da relação educativa, tomando como referências os fins almejados, a metodologia e seus pressupostos. Temos que recorrer a teoria da educação, a reflexão pedagógica. Contudo, há uma amplitude de reflexão pedagógica dada a multidimensionalidade da prática educativa.

            Recai sobre as proposições pedagógicas do educador pernambucano Paulo Reglus Neves Freire, a qual tornará como referencial para a nossa reflexão acerca da prática educativa e das proposições pedagógicas.

            Paulo Freire, considerado por muitos o maior educador brasileiro, desde seus primeiros escritos acerca da prática educativa, contemplou os aspectos éticos inerentes à relação educativa.

           

ENGAJAMENTO ÈTICO-PEDAGÓGICO

             O processo formativo de postura éticas do cidadão, do indivíduo, do sujeito remete para o engajamento ético, compreendido como o movimento de busca, no mundo já estabelecido, das nossas pretensões de ser, da nossa aproximação de determinadas formas de ser e existir que julgamos mais própria. Aliás, entre outros significados possíveis atribuídos ao termo engajamento, derivado do verbo engajar, logo uma ação dos indivíduos sobre algo ou alguém, encontramos o seguinte: participação ativa em assuntos ou circunstâncias de relevância social e política, passível de manifestação intelectual pública, de natureza teórica, artística ou jornalística, ou em atividade prática no interior de grupos organizados, movimento ou partidos.

        

 ÉTICA

           A existência humana está marcada pela busca de sentido, pelo pensar a realidade. Ao mesmo tempo, impõe-se ao homem pensar-se como sendo partícipe atiço e passivo desta mesma realidade. Modificamos e somos modificados pela realidade, atribuímos sentidos a este processo incessante de mudança de sentidos. A busca de sentido para a existência remete o homem a escolher caminhos, possibilidades. O homem caminha entre as opções possíveis.

Assim, o agir humano é passível de avaliações dos argumentos e normas que justificam as decisões tomadas. Das nossas decisões devem emergir sentimentos de aceitação social e inserção em padrões de normalidade e, ao mesmo tempo, satisfação pessoal (VÁSQUEZ, 2000, p.23 ). O agir humano requesta a existência de padrões emanados da convivência e pautados na reciprocidade que permite o exercício da liberdade.

 

 PEGAGOGIA DE PAULO FREIRE

             A prática educativa está pautada em um conjunto de compreensões de homem e de mundo, bem como de destinação humana no mundo. Assim, compreendemos que a reflexão pedagógica emerge da reflexão antropológica, sociológica e ética em torno da prática educativa. Tais compreensões constituem os fundamentos das proposições pedagógicas e são entendidas como a base ou alicerce que sustenta as proposições ou, dito de outra fora, a informação primária e elementar para a compreensão das proposições pedagógicas.

            Nas proposições pedagógicas freireanas o conhecimento é problematizado, quanto à sua origem, como processo dialógico. Quanto à essência, Freire evidencia o caráter social e político do conhecimento, tomando-o como produto da atividade cultural do homem. Ao tratar das formas de conhecimento, percebemos que há um transito entre saber científico-filosófico e saber popular. O valor conferido ao conhecimento consiste em tomá-lo como encontro histórico-dialético das subjetividades humanas sobre a realidade objetiva.

            O diálogo, uma das principais categorias das proposições freireanas, manifesta a condição de produção do conhecimento. O encontro de intenções de apreensão da realidade compreende a essência do diálogo. “existir humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novos pronunciar. (...) O diálogo é este encontro dos homens mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu” (FREIRE, 1987, p.78).

            Assim, o conhecimento em Freire emana da situação relacional dos homens. Daí emerge a compreensão do conhecimento como essencialmente sendo produto das relações sociais, histórica e culturalmente estabelecidas. Os contextos sociais, econômicos, políticos e culturais sugestionam as formas possíveis e conhecimento. A historicidade do conhecimento confere provisoriedade e, por conseqüência, mutabilidade ao conhecimento, sempre superável,  posto que é histórico. Aqui, intervêm os fundamentos sociopolíticos de suas proposições: os homens são seres que produzem o conhecimento a partir dos seus condicionamentos sociais.

            Um novo pensar freireano: a criticidade, que deve reger o ato de conhecer. Ao estabelecer uma diferença entre o homem e os demais animais, o educador pernambucano enfatiza a reflexibilidade do conhecimento humano que busca, além da constatação da realidade, a identificação das múltiplas relações e inter-relações existentes na realidade.

            Em se tratando desse pensar, José Hailton Bezerra Lyra afirma: conforme Paulo Freire, à proporção que o homem age sobre a realidade objetiva em que se encontra e toma consciência de atuar sobre ela, assumindo-a como objeto do próprio conhecimento e, ao mesmo tempo, procurando responder aos desafios dela emanados, cada vez mais as relações homem-mundo são plenas de criticidade.

            Da criticidade do ato de conhecer, no pensamento pedagógico de Freire, emerge mais uma categoria relevante: a conscientização. Esta categoria do pensar freireano, por sua vez,  está concatenada com o método dialético assumindo por Freire para abordar a prática educativa e produzir suas proposições pedagógicas.

            Freire valoriza o conhecimento como encontro das subjetividades, ou melhor, o conhecimento como intersubjetividades: “Daí que a função gnosiológica não possa ficar reduzida à simples relação do sujeito cognoscente com o objeto cognoscível. Sem relação comunicativa entre sujeitos cognoscentes em torno do objeto cognoscível desapareceria o ato cognoscitivo” (FREIRE, 1977, p.65). O valor humanista é atribuído pelo educador pernambucano ao conhecimento como produtor de encontro, solidariedade, comunhão entre os sujeitos cognoscentes, entre os homens.

     

FUNDAMENTO ANTROPOLÓGICO-FILOSÓFICO

 O discurso pedagógico emerge da compreensão de homem e de mundo, bem como da compreensão de destinação humana no mundo. Assim, ao examinarmos as proposições pedagógicas de Paulo Freire, encontramos um relevante ponto, a concepção de homem freireana, isto é, o fundamento antropológico das suas proposições pedagógicas.

Em um artigo publicado na Revista Paz e Terra², em 1969, Freire chama a atenção dos leitores para o fato de “não poder existir uma teoria pedagógica, que implica em fins da ação educativa, que esteja isenta de um conceito de homem e de mundo”.

            Sendo assim, já nos primeiros escritos freireanos, encontraremos uma concepção de homem existencial, não-limitado aos condicionantes do tempo e do espaço. Freire aponta a vocação ontológica dos homens e das mulheres para “ser-mais” através da superação dos condicionantes espaciais e temporais. Tal movimento do homem no mundo estabelece a vida cultural e a participação na história. A situação existencial ou o “estar-presente-no-mundo”, quando refletida, propicia a tomada de consciência da temporalidade, espacialidade e as possibilidades de transcendência humana. “A possibilidade humana de existir-forma acrescida de ser – mais do que vive, faz do homem um ser eminentemente relacional. Estando nele, pode também sair dele.” (FREIRE, 2001, p.10).

            O homem interpreta a realidade e age em função dessa interpretação, logo, a atuação humana e humanizante no mundo emergem dos aspectos da realidade – homem e mundo – estruturados e significados por cada homem de forma coletiva. È no âmbito da cultura que o homem se forma, enquanto humano, e confere significado humano às suas intervenções no mundo.

            O homem educável e educador, posto que inconcluso, histórico e cultural, produz práticas educativas dialeticamente, isto é, produz conhecimento numa relação sujeito-objeto mediada pela consciência de si e do mundo. Permanentemente constitui-se e constitui o mundo através de suas relações. Há uma unidade dialética em que o sujeito está vinculado ao objeto e o objeto ao sujeito, teoria à prática e prática à teoria , homem ao mundo e mundo ao homem.

 

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² Paulo Freire. O papel da educação na humanização. Revista Paz e Terra 09, 120-134, out, 1969.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Preliminarmente, cabe apontar que a tentativa de sistematizar o discurso ético, voltado pra a prática de educador, contida nas proposições pedagógicas freireanas, intenciona problematizar alguns aspectos para o aprofundamento das reflexões pedagógicas, pertinentes à temática da ética pedagógica.

            Uma questão ética, que precisa ser refletida pelos educadores, diz respeito aos limites éticos para a ação do educador: o que pode e o que não pode o educador fazer na relação com os educandos.

 

REFERÊNCIAS

REIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terraa, 1987.
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Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

_________  Extensão ou comunicação? 10. ed. Trad. Rosisca Darcyh de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

VÁSQUEZ, A.S. Filosofia da Práxis. Ética. 20. ed. Trad. João Dell’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

LYRA, J. H. B. A evolução do conceito de conscientização no pensamento de Paulo Freire. Rio de Janeiro, 1979.109f. Dissertação (Mestrado em Educação) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.