A PESQUISA CONSISTE NUM COMPROMISSO INTRÍNSECO AO OFICIO DE MESTRE

 

Claudia Zajac Dudar

O livro “Metodologia do Ensino Superior” de Kieckhoefel (2010) vem contribuir para inquietar e despertar o interesse pelo estudo e o desejo pelo conhecimento, “atributos” indispensáveis ao ofício do professor. Um conhecimento que alia uma formação integral – atenta ao mundo e às suas diversas manifestações culturais, sociais e políticas – a um sólido conteúdo teórico que respalda a reflexão sobre o professor em sala de aula no contexto do Ensino Superior abordando as temáticas: pesquisa, planejamento, as tendências pedagógicas que balizam a sua práxis e a formação do professor. São aspectos centrais ao professor que busca a excelência em suas aulas.

A pesquisa é elemento fundamental no processo de formação dos professores propiciando o progresso intelectual dos indivíduos. Surge com base em uma pergunta, que deve ter sentido ao sujeito que pesquisa para poder se doar de forma intensa, remetendo-se à busca de respostas que venham de forma a contribuir para seu desenvolvimento profissional e pessoal.

Importante salientar que a pesquisa deve despertar o interesse do pesquisador. Advindo que a relação entre professor e acadêmico que pesquisa, deve ser construída de afetividade e respeito, não deixando que a monotonia habite o espaço de aprendizagem. Pois é um processo de ensino-aprendência, recíproco em busca da transformação.

Neste ínterim, há processos (ritos) para a sua elaboração, que muitas vezes assustam os estudantes antes mesmo de começarem a realizá-la. Os aspectos de formatação são necessários, mas, contudo, o que deve ser observado no primeiro momento é a qualidade da pesquisa e a relação entre o sujeito que pesquisa. Conforme afirma Kieckhoefel (2010, p.07): “Conceber a pesquisa e o sujeito que pesquisa nessa dimensão torna esse processo profícuo, pois contribui para a emancipação do ser e dos saberes que a realidade faz emergir”.

A pesquisa volta-se para a melhoria da prática, assentando-se no desafio do aprender a aprender, é o processo que deve aparecer em todo o trajeto educativo para renovar as ideias, práticas e revelar olhares ainda não vistos e caminhos ainda não trilhados. Só assim teremos como argumentar um questionamento, deixando de ser apenas ouvintes, sujeitos passivos, consumidores de pensamentos professados pelos outros, como ressalta Demo (apud KIECKHOEFEL, 2010) todo cidadão que souber manejar a sua emancipação, não permanecerá na condição de objeto das pressões alheias.

Saímos de “cidadãos de direito” para o “direito dos consumidores”, somos “aceitos” entre nossos pares a partir da palavra de ordem “ter” – o significado da palavra “ser” ficou fora da moda no seio dessa nova organização social: quem não tem, não é e não está indivíduos talentosos se perdem por falta de oportunidades e incentivo, ficando assim excluídos.

Para um processo de aprendizagem significativo é preciso que haja o planejamento por parte do professor, sendo assim, preparar ações – flexíveis e possíveis - a serem realizadas, com procedimentos e objetivos a alcançar.

O planejamento tem sido mal utilizado por muitos educadores que o consideram apenas uma obrigação a ser cumprida, algo que se faz para atender às exigências da instituição e o realizam como mais uma atividade burocrática, sem qualquer relação com o dia a dia da sala de aula.

Sendo que o planejamento é um processo contínuo, dinâmico e reflexivo, deve ser concebido, assumido e colocado em prática o que se planejou, momento de reflexão e ação, fazendo parte importante desse processo registrar, aproximando assim o dizer e o fazer dos professores adquirindo maior consistência.

Através do planejamento, que os objetivos são estabelecidos e a avaliação funcional realizada, analisando se os objetivos foram alcançados ou não. Não sendo possível medir toda a aprendizagem, mas amostra dos resultados alcançados, por isso, deverá ser realizada de modo extenso. Portanto, se torna um conjunto coordenado de ações com propósito de formar os sujeitos e conseguir avaliar/visualizar resultados.

É importante observar a realidade dos sujeitos para que o planejamento atenda às suas necessidades, pois podemos abrir mão de nossas convicções em prol de um benefício que pode ser útil para a maioria, estabelecendo assim, uma relação interpessoal e aprender intrapessoalmente. Visto que ele é concebido com propriedade quando parte de algo que inquieta e é importante para os sujeitos, mas nunca para um só (trabalho coletivo).

O planejamento é uma necessidade em todos os campos da atividade humana, tanto pessoal como profissional, sendo que na área educacional é visto muito mais que sonho e desejo, é a possibilidade de efetivar na prática o nosso modo de pensar e fazer educação, pautados em princípios práticos, teóricos e metodológicos, como afirma o autor Kieckhoefel (2010, p.18): “Com esse olhar, professor e acadêmicos saem ganhando!”.

Apontado às tendências educacionais, ou seja, tradicional, tecnicista, libertadora, crítico-social e metadisciplinar, cabe ao professor construir sua prática embasada nelas, elas são elementos norteadores e não “receitas” prontas. O educador deve estar a par destas tendências ao problematizar suas questões do cotidiano e ao pensar sua prática, sem, contudo estar firmemente preso a uma delas, devendo procurar o melhor de cada uma, seguindo uma aplicação cuidadosa que permita avaliar sua eficiência.

Um dos momentos mais relevantes no processo de ensino e aprendizagem, que tem ocupado lugares de destaque nas análises e projetos de reformulações dos currículos escolares é o processo avaliativo, uma prática antiga, mas, atualmente necessita de mudanças, pois vivemos numa época onde a assimilação passiva deve ser substituída pela assimilação crítica do saber.

Considerando a avaliação um meio a ser utilizado pelos professores para o aperfeiçoamento do processo de aprendizagem, como momento de reflexão crítica sobre a realidade, deve funcionar como suporte ao trabalho educativo, sendo que o melhor método de avaliação é o método de refletir(se) em sua prática, percebendo as dificuldades do trabalho para resolvê-los/reformular. Pois a avaliação é feita para mudar. É uma complexa temática, estudada há décadas, mas que não tem na prática do dia a dia todo esse olhar a ela direcionado, ou seja, pensamos muito a respeito, mas não fazemos tudo isso eis o nosso desafio!

Atualmente vivemos em constantes processos de mudanças no contexto educacional, precisando nos perceber como professores reflexivos da nossa prática. O princípio da formação, inicial e continuada são elementos chaves e estratégicos de transformação e articulação da ação (docente) com o meio (escola) e da interação das significações partilhadas.

Destarte, que a formação inicial, a formação acadêmica e a formação continuada do profissional docente é pensar na própria identidade do professor como agente mediador do conhecimento, não devendo pensar o trabalho do professor como um trabalho mecânico e reprodutor dos meios sociais, sendo preciso modificar as estruturas de sua formação inicial para que daí partam as mudanças necessárias à educação em nosso país.

Nesse sentido, o processo de formação dos professores tem todo um contexto histórico, principalmente no que tange as tendências pedagógicas adotadas, advindo que o educador desmistifique essas concepções arcaicas que ainda estão enraizadas. O processo de formação docente expressa essa amplitude necessária do conceito de (re)construção desse profissional/sistema.

A formação continuada vem como ajuda para desenvolver, ampliar e caracterizar o conhecimento do futuro profissional, permitindo avaliar o potencial e a qualidade da inovação educativa que deve ser introduzida nas instituições. Desenvolvendo habilidades básicas no âmbito das estratégias de ensino em um contexto determinado, do planejamento, do diagnóstico e da avaliação, proporcionando as habilidades e competências para que o educador tenha a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimento, mas sem limitar-se a ele.

Refletindo diante deste texto tão maravilhoso do autor Kieckhoefel (2010), percebo e reconheço que o conhecimento é vivo, em constante transformação, que requer um professor que, como diria Freire (1996, p. 32), se reconheça como um pesquisador, afinal: “Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”.

O nosso compromisso como educador está alicerçado na ação do dia a dia, no chão da escola, no cotidiano da sala de aula, na materialidade das nossas reflexões críticas a partir da nossa prática cotidiana, no desejo da mudança, mesmo que ela seja mínima no momento.

Com destaque para o lado humano do autor Kieckhoefel (2010) quando ele menciona em seu texto a ideia que o faz “continuar neste caminho de professorar”. Assinalo que os professores comprometidos com a sua prática têm o entendimento do seu “inacabamento” (expressão utilizada por Paulo Freire) como ser humano e consequentemente como professor. Freire (1996, p.106) corrobora a afirmação quando diz: “me movo como educador porque, primeiro, me movo como gente”. Sendo assim, o que vislumbro é que a prática pedagógica do professor autor Kieckhoefel esteja alicerçada no seu posicionamento diante do mundo. 

Sobre a formação do professor ainda cito Freire (1996. p. 25) na qual ele nos lembra de que ensinar,

                                        Não é transmitir conhecimento, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

 

REFERÊNCIAS

 

FREIRE. P. Pedagogia da autonomia: saberes necessário à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 KIECKHOEFEL, Leomar. Metodologia do Ensino Superior. Massaranduba: IESAD, 2010.